Em vezbet365 como funcionam as apostasremédio contra Aids, fábrica financiada pelo Brasilbet365 como funcionam as apostasMoçambique produzirá analgésico:bet365 como funcionam as apostas
O motivo principal da mudança é que a nevirapina, cuja tecnologiabet365 como funcionam as apostasprodução o Brasil transferiu para Moçambique, ficou ultrapassada. Já foi muito importante no combate ao HIV, mas, à medida que o projeto da fábricabet365 como funcionam as apostasantirretrovirais demorava para sair do papel, foi sendo substituída por outras drogas mais modernas e eficazes. Hoje, é raramente usada nos dois países.
"Produzir nevirapina sozinha é desperdiçar recursos, vai ser farinha. Já não se usa a nevirapina isolada no tratamento", diz a médica Sheila Cassamo, responsável pela áreabet365 como funcionam as apostasHIV da direçãobet365 como funcionam as apostassaúdebet365 como funcionam as apostasMaputo, capital moçambicana. "Está obsoleta como droga", completa Adele Benzaken, diretora do Departamentobet365 como funcionam as apostasVigilância, Prevenção e Controle do HIV/Aids, do Ministério da Saúde brasileiro.
Jorge Mendonça é diretorbet365 como funcionam as apostasFarmanguinhos, unidade da Fiocruz responsável pela parceria com a SMM. Ele não participou da concepção do projeto, mas faz mea culpa.
"A indústriabet365 como funcionam as apostasmedicamentos é muito agressiva. Um novo medicamento, uma nova abordagem, uma nova descoberta podem mudar o mercado completamente. Se fosse possível voltar atrás, talvez poderíamos não ter apostado tantas fichasbet365 como funcionam as apostasque essa seria uma fábrica para antirretrovirais. Tinha que ser uma fábrica para atender a saúde pública moçambicana."
Além da nevirapina, os planos eram que a fábrica produzisse outros dois antirretrovirais, mas isso não aconteceu. E se tivesse ocorrido, faria pouca diferença. Os dois também são pouquíssimo usados hoje.
Mendonça advoga pela importância do Brasil continuar financiando a fábrica: "O que está sendo investido lá não é nenhuma fortuna, é uma pequena contribuição para terminar esse projeto".
'É um trabalho com muito mérito'
Hoje, o Brasil não tem tecnologia para produzir os remédios mais modernos usados no tratamento contra a Aids. Por isso, não há como transferir esse conhecimento para Moçambique.
O paracetamol foi, então, a alternativa encontrada para que a fábrica não fechasse, o que desperdiçaria todo o investimento feito até agora pelos dois países.
É um medicamento barato, mas com muita saída. A ideia, então, é que o analgésico dê sustentabilidade econômica para a SMM e permita a ela fabricar outros produtos, como anti-hipertensivos.
O técnico Govene ainda não contou a ninguém sobre a mudança, porque acha que as pessoas não vão gostar da notícia. É o que ocorreu com a médica Cassamo: "Paracetamol? Desculpa, né! Se fosse uma fábricabet365 como funcionam as apostasantibióticos,bet365 como funcionam as apostasantifúngicos... Mas paracetamol é algo que nós temos. Acho que nunca tivemos faltabet365 como funcionam as apostasparacetamol. Não é questãobet365 como funcionam as apostassaúde pública".
Já ao saber que a fábrica também poderia produzir anti-hipertensivos, Cassamo aprovou a ideia. "Mas tem que ser os medicamentos que a gente toma", acrescentou.
O presidente do conselhobet365 como funcionam as apostasadministração da SMM, Evaristo Madime, defende o projeto. "Não vejo como um fracasso, porque temos resultados concretos. Temos uma fábrica bem instaladabet365 como funcionam as apostasMoçambique. Temos moçambicanos que sabem produzir medicamentos. Temos um portfóliobet365 como funcionam as apostasremédios - limitado, é verdade, mas temos um portfólio. Não é um trabalho que se possa desprezar, tem muito mérito."
De 'revolucionário' a 'dorbet365 como funcionam as apostascabeça'
A ideia brasileirabet365 como funcionam as apostascriar uma fábricabet365 como funcionam as apostasantirretrovirais na África surgiu,bet365 como funcionam as apostas2003, da combinaçãobet365 como funcionam as apostasduas realidades. Primeiro, Moçambique era um dos países mais afetados pelo HIV no mundo - hoje, tem a oitava maior prevalência do vírus. Segundo, o Brasil tinha - e continua a ter - uma políticabet365 como funcionam as apostascombate ao vírus que é considerada modelo. O projeto propunha, então, unir necessidade e experiência.
Era o início do governo Lula ebet365 como funcionam as apostasuma nova política externa, orientada para o aumento das relações Sul-Sul - entre Brasil e África, inclusive. Os principais eixos eram incrementar os laços econômicos, com aumentobet365 como funcionam as apostasexportações e expansãobet365 como funcionam as apostasempresas brasileiras, e realizar projetosbet365 como funcionam as apostascooperação, para auxiliar o desenvolvimento dessas regiões.
"Quando o Brasil criou esse projeto (da fábricabet365 como funcionam as apostasantirretrovirais), estávamos vivendo um momento muito bom no país. Muita gente concordava que tínhamos uma dívida simbólica com a África, por causa da escravidão, e que naquele momento havia condiçõesbet365 como funcionam as apostaspagar", afirma Mendonça, da Farmanguinhos.
O governo brasileiro propagava quebet365 como funcionam as apostaspresença na África era diferente das relações das Norte-Sul, apresentadas como uma parceria entre ex-exploradores (as antigas metrópoles europeias e os países ricos) e ex-explorados (ex-colônias), perpetuando uma dinâmicabet365 como funcionam as apostasdependência. Já o Brasil seria um parceiro, um irmão.
A fábricabet365 como funcionam as apostasantirretrovirais se encaixou perfeitamente nessa disputa simbólica. Moçambique recebe os medicamentos antirretroviraisbet365 como funcionam as apostasgraça, por meiobet365 como funcionam as apostasdoações do Norte, via Fundo Globalbet365 como funcionam as apostasCombate à Aids e do Planobet365 como funcionam as apostasEmergência para Alívio da Aids do Presidente dos Estados Unidos (Pepfar). A proposta do projeto brasileiro era se contrapor a esse tipobet365 como funcionam as apostascooperação, que dá o peixe. Em vez disso, o Brasil pretendia ensinar a pescar.
Por um lado, a proposta foi vista como uma ideia revolucionária. Por outro, foi encarada pelo Itamaraty como uma enorme dorbet365 como funcionam as apostascabeça. Se desse errado, poderia manchar a imagem que o Brasil queria construir,bet365 como funcionam as apostasparceiro solidário da África.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um entusiasta do projeto. Nas suas visitas ao continente africano - foram 34bet365 como funcionam as apostasoito anosbet365 como funcionam as apostasgoverno -, sempre citava a fábricabet365 como funcionam as apostasantirretrovirais como um exemplo da solidariedade brasileira.
"O fatobet365 como funcionam as apostasnós estarmos construindo a primeira fábricabet365 como funcionam as apostasmedicamento genérico para combater a Aids no continente africano pode ser anunciado quase como uma revolução. Esta fábrica, na horabet365 como funcionam as apostasque ela estiver produzindo, vai libertar o povobet365 como funcionam as apostasMoçambiquebet365 como funcionam as apostasficar subordinado a laboratórios, normalmente dos países desenvolvidos", discursou o então presidentebet365 como funcionam as apostasvisita à naçãobet365 como funcionam as apostas2010.
Procurado pela BBC Brasil, o líder petista não se manifestou.
13% da populaçãobet365 como funcionam as apostasMoçambique tem HIV
Estima-se que 13% da populaçãobet365 como funcionam as apostasMoçambique viva com HIV. Para comparação, no Brasil a incidência ébet365 como funcionam as apostas0,4%. Mas apesar do altíssimo númerobet365 como funcionam as apostasinfectados, o vírus ainda é um tabu.
Isabel tem 45 anos, oito deles guardando o segredobet365 como funcionam as apostasque é soropositiva. Nunca revelou para família ou amigos.
"Tenho receiobet365 como funcionam as apostascontar. Acho que algum dia vou falar para os meninos", diz, fazendo referência aos filhos já adultos, ambos HIV negativo. Seu verdadeiro nome também faz parte do sigilo - Isabel foi como ela escolheu ser chamada na reportagem.
A moçambicana estábet365 como funcionam as apostastratamento há cinco anos, desde que a imunidade do seu corpo começou a baixar. É na hora das novelas brasileiras, muito popularesbet365 como funcionam as apostasMoçambique, que ela toma o remédio, às escondidas.
Todos os meses, ela vai ao Centrobet365 como funcionam as apostasSaúde José Macamo, um dos maioresbet365 como funcionam as apostasMaputo, para buscar os frascos. "Se não fosse gratuito, eu não teria como pagar a medicação." Faxineira,bet365 como funcionam as apostasrenda mensal ébet365 como funcionam as apostas4 mil meticais (cercabet365 como funcionam as apostasR$ 200).
Hoje, 60% dos soropositivosbet365 como funcionam as apostasMoçambique têm acesso ao tratamento antirretroviral. Ainda é longe da metabet365 como funcionam as apostas90% estabelecida pela Organização Mundial da Saúde, das Nações Unidas. Mesmo assim, o número é considerado positivo, já que as terapias só começaram a ser oferecidas no paísbet365 como funcionam as apostas2003 - sempre pagas com dinheiro da doação Norte-Sul.
Agora, o desafio para expandir o acesso é identificar os pacientes e distribuir a medicação por todo o país. Remédios antirretrovirais não faltam.
Medicamento brasileiro ficou ultrapassado
O Centrobet365 como funcionam as apostasSaúde José Macamo, onde Isabel se trata, tem 6 mil pacientes com HIV.
A equipe responsável pela farmácia da unidadebet365 como funcionam as apostassaúde fez cara feia quando a reportagem da BBC Brasil pediu para ver um frascobet365 como funcionam as apostasnevirapina. "Esse medicamento sai muito pouco, vai dar trabalhobet365 como funcionam as apostasencontrar". Ali, apenas 5 pacientes, entre todos os 6 mil, tomam o fármaco que o Brasil transferiu para Moçambique.
"No momentobet365 como funcionam as apostasque foi acordada a transferênciabet365 como funcionam as apostastecnologiabet365 como funcionam as apostasproduçãobet365 como funcionam as apostasantirretrovirais, o portfólio que o Brasil tinha para transferir se ajustava às necessidadesbet365 como funcionam as apostasMoçambique. Todavia, a partirbet365 como funcionam as apostascerta altura, Moçambique passou a adotar outra linhabet365 como funcionam as apostastratamento", explica Madime, da SMM.
A nevirapina começou a ser produzida no Brasil, pela Fiocruz,bet365 como funcionam as apostas2001. Foi usada durante 16 anos. Agora, ficou tão ultrapassada quebet365 como funcionam as apostasretirada do SUS estábet365 como funcionam as apostasdiscussão. É tomada por apenas 1% das pessoasbet365 como funcionam as apostastratamento no Brasil. Entre as desvantagens estão efeitos tóxicos no fígado e a necessidadebet365 como funcionam as apostastomar comprimidos duas vezes por dia, na maioria das vezes combinados com outra medicação, o que dificulta a adesão do paciente ao tratamento.
Hoje, a principal drogabet365 como funcionam as apostascombate ao HIVbet365 como funcionam as apostasMoçambique é a tripla, um único comprimido diário com três componentes, sendo o principal deles o Efavirenz. É esse o coquetel usado por Isabel, por exemplo.
Também é o mais comum no Brasil, com maisbet365 como funcionam as apostas200 mil pacientes. Mas já está sendo substituído por uma solução mais moderna, o Dolutegravir, administrado a 60 mil pessoas. Ambos são importados.
"Essa é a historia natural das drogas. O HIV é um vírus mutante. Com o tempo, cria resistência aos antirretrovirais e é preciso adotar novos medicamentos", explica a brasileira Adele Benzaken. "Se a droga ficar entre nós por dez, 15 anos, já é um grande serviço."
Isabel sabe desse risco. "Eu estou saudável. Mas é uma coisa que me preocupa sempre. Não sei se vou continuar bem ou se,bet365 como funcionam as apostasrepente, não vou mais me levantar da cama. Porque acontece do corpo não aguentar mais o medicamento, não é doutora?", pergunta parabet365 como funcionam as apostasmédica. "Quem sabe um dia achem a cura."
Placebos embalados
A fábrica demorou tanto tempo para ficar pronta que o período dabet365 como funcionam as apostascriação coincide com o início e o fim do ciclo da nevirapina no Brasil.
Em 2003, durante a primeira viagembet365 como funcionam as apostasLula à África, foi assinado um protocolobet365 como funcionam as apostasintenções. Em 2007, a Fiocruz apresentou um estudobet365 como funcionam as apostasviabilidade e,bet365 como funcionam as apostas2009, o Congresso aprovou uma primeira doação para a instalação da fábrica.
A vontade do petista era inaugurá-la durante seu mandato. Mas não deu tempo. A fábrica não ficou pronta. Por isso, no seu último anobet365 como funcionam as apostasgoverno, 2010, ele planejou apenas uma visita ao local.
O problema era que ainda não havia o que ver, pois os equipamentos não haviam chegado. A solução encontrada foi enviar do Brasil, emprestada, uma máquina para embalar comprimidos,bet365 como funcionam as apostasum avião da Aeronáutica. Como os moçambicanos ainda não estavam treinados para manipular remédios, foram embalados placebos.
A inauguração oficial ocorreu dois anos depois,bet365 como funcionam as apostas2012, com a presença do então vice-presidente Michel Temer.
Desde então, a fábrica tem operado no modo piloto, treinando pessoal e documentando procedimentosbet365 como funcionam as apostasprodução e manejo dos fármacos.
Na áreabet365 como funcionam as apostasantirretrovirais, o principal resultado foi a embalagem da nevirapina brasileira,bet365 como funcionam as apostas2014. Também houve uma tentativabet365 como funcionam as apostasproduzi-la localmente,bet365 como funcionam as apostas2015, que não foi concluída.
Fabricados,bet365 como funcionam as apostasfato, foram Haloperidol (tratamentobet365 como funcionam as apostasproblemas psicológicos), Propranolol e Captopril (pressão alta). Todos entre 2015 e 2016. Neste ano, não houve nenhuma produção. A expectativa é que a fábrica volte a operarbet365 como funcionam as apostas2018, com o paracetamol.
Por nota, o Ministério da Saúde brasileiro informou que considera fundamental a conclusão do projeto, "que contribuirá significativamente para o fortalecimento do sistemabet365 como funcionam as apostassaúde público moçambicano".
O órgão também justificou a trocabet365 como funcionam as apostasmedicamentos: "Devido ao registrobet365 como funcionam as apostaspatentesbet365 como funcionam as apostasnovos medicamentos, avanços tecnológicos e, principalmente, mudanças na políticabet365 como funcionam as apostastratamento adotada pelo Ministério da Saúdebet365 como funcionam as apostasMoçambique, o portfóliobet365 como funcionam as apostasmedicamentos (da fábrica) sofreu alterações. O portfólio final contemplará a transferência tecnológica e a produçãobet365 como funcionam as apostasdez medicamentos, incluindo o paracetamol".
Dessa listabet365 como funcionam as apostasdez, além do paracetamol, três são antirretrovirais já descartados por Moçambique, três são os medicamentos que já foram produzidos na fábrica, mais um antiviral, um antianêmico e um diurético.