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‘Aos 37 anos, nunca fiz sexo consensual’: as imigrantes que não podem denunciar estupros e assédio sexual:fabian ruiz fifa 22
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Pela primeira vez na vida, as irmãs não tinham que se preocupar com o que iriam comer – mas outras preocupações surgiram. "Não era uma vida boa. Eu sofri muito", diz Grace. Ela efabian ruiz fifa 22irmã sofriam abuso físico, verbal e sexualfabian ruiz fifa 22seu marido constantemente. Também foram obrigadas a participarfabian ruiz fifa 22cerimônias rituais que, segundo ele acreditava, iriam ajudar emfabian ruiz fifa 22carreira política – como tomar sanguefabian ruiz fifa 22animais.
As jovens podiam contar apenas com elas mesmas. Tinham medofabian ruiz fifa 22que, se falassem sobre isso,fabian ruiz fifa 22família fosse sofrer consequências. "Nosso marido era um homem poderoso", diz Grace.
Depoisfabian ruiz fifa 22dois anosfabian ruiz fifa 22casamento, Grace efabian ruiz fifa 22irmã não aguentavam mais. Elas então pediram socorro a um tio, que prometeu ajudá-las a sair do país. Ele conseguiu vistos temporários e passagensfabian ruiz fifa 22ida para Londres, e as levou para o aeroporto.
Na chegada à capital da Inglaterra, um velho amigo do tio as recebeu no aeroporto, cuidou delas e as apresentou a amigos seus da igreja - a maioria, imigrantes do oeste da África. Sem dinheiro nem lugar para ficar, sem visto e sem poder exercer nenhum trabalho legal, as duas irmãs acabaram indo morar com famílias que conheceram através dessa igreja.
Abuso no Reino Unido
"Famíliasfabian ruiz fifa 22imigrantes, que também são pobres e trabalham por muitas horas, procuram por jovens mulheres solteiras para cuidarem das crianças e da casa", diz Grace. "Minha irmã e eu morávamos com famílias diferentes. Dependíamos deles para comer, vestir, para tudo."
Grace não tinha um quarto. Tinha que esperar todos irem dormir para então poder se deitar no sofá da sala. Tinha pouca privacidade e faziafabian ruiz fifa 22tudo para não incomodar a família.
Rapidamente, descobriu que não estava segura. "O chefe da família ia para a sala à noite, quando todo mundo estava dormindo. E começou a abusar sexualmentefabian ruiz fifa 22mim. Ele sabia que eu não tinha nada e nenhum lugar para ir. Na época eu não sabia nada sobre a legislação inglesa. Não podia procurar a polícia, porque tinha medofabian ruiz fifa 22ser presa ou deportada. Ele dizia: 'para quem você vai contar?'."
Quando as crianças da família atingiram a idade escolar, Grace foi informadafabian ruiz fifa 22que não era mais necessária na casa e que teria que sair. Então, foi para a casafabian ruiz fifa 22outra família. Ao longofabian ruiz fifa 22vinte anos, viveufabian ruiz fifa 22maisfabian ruiz fifa 22uma dúziafabian ruiz fifa 22lares –fabian ruiz fifa 22quase todos, foi estuprada. "Eu dormia no chão oufabian ruiz fifa 22sofás. Os homens me visitavam à noite e me tocavam. E quase sempre me estupravam", diz ela.
"À noite, quando possível, eu tentava bloquear a porta do cômodo com móveis, para impedir os homensfabian ruiz fifa 22entrarem. Às vezes funcionava, às vezes não. De manhã, na frente da mulher e das crianças, eles agiam como se nada tivesse acontecido."
Sua irmã estavafabian ruiz fifa 22situação similiar. Em 2008, foi se encontrar com um homem que conheceu na internet, mas nunca mais voltou. "Foi o inferno para mim", diz Grace, que ligou para hospitais e pediu para amigos preencherem um registrofabian ruiz fifa 22desaparecidos na polícia - como não tinha documentos, Grace tinha medofabian ruiz fifa 22ir até a polícia ela mesma. Até agora, dez anos depois, ela ainda não conseguiu encontrar a irmã.
Se sentindo mais sozinha do que nunca, Grace continuou pulandofabian ruiz fifa 22casafabian ruiz fifa 22casa. Até que, cinco anos atrás, não encontrou mais emprego. "Eu estava sem casa. Por muitas semanas, dormifabian ruiz fifa 22bancosfabian ruiz fifa 22praça. Ou, quando sentia medofabian ruiz fifa 22ficar sozinha, eu ia para um ônibus noturno e ficava nele a noite inteira. Eu passava o dia pedindo trocados ou sentadafabian ruiz fifa 22livraria ou parques".
Até que um dia, diz Grace, um milagre ocorreu. "Um homem veio até mimfabian ruiz fifa 22um parque. Eu o tinha conhecido logo que me mudei para o Reino Unido. Ele disse: 'Você envelheceu, Grace'. Eu respondi: 'É, eu sei'. 'Então ele disse que havia pessoas que poderiam me ajudar. E que existem lugares que podiam sim me dar apoio. E falou que me levaria a um deles".
O velho conhecido levou Grace para um centrofabian ruiz fifa 22refugiados no centrofabian ruiz fifa 22Londres. Lá, a história dela foi ouvida cuidadosamente pela equipe, que ofereceu ajuda para resolver os seus problemas.
#MeToo inspirou mudança
Em uma sala com 35 mulheres africanas que buscavam asilo no Reino Unido, entre elas Grace, Marchu Girma contou que atrizesfabian ruiz fifa 22Hollywood estavam acusando o promotorfabian ruiz fifa 22cinema Harvey Weinsteinfabian ruiz fifa 22assédio sexual. Depois da revelação do caso, milharesfabian ruiz fifa 22mulheres -fabian ruiz fifa 22todas as profissões - começaram a compartilhar suas próprias históriasfabian ruiz fifa 22abuso e assédio sexual com a hashtag #MeToo.
"Eu me lembrofabian ruiz fifa 22quando contei para elas do #MeToo. Foi um momentofabian ruiz fifa 22surpresa. Subitamente, elas perceberam que não estavam sozinhas. Afinal, até mulheres brancas, poderosas e famosas tinham sofrido assédio", fala Girma. "Depois disso, (suas experiências) não eram mais um segredo vergonhoso que precisavam guardar para si mesmas". Girma é diretora da organização Mulheres para Mulheres Refugiadas, que trabalha com mulheres que estão buscando asilo no Reino Unido. Nascida na Etiópia, Girma também passou buscou asilo quando tinha 11 anos.
"As mulheres nos encontram pelo boca a boca, via igrejas, centrosfabian ruiz fifa 22detenção, instituiçõesfabian ruiz fifa 22caridade. Somos um espaçofabian ruiz fifa 22proteção para essas mulheres". Uma vez por semana, as imigrantes vão até a organizaçãofabian ruiz fifa 22buscafabian ruiz fifa 22conselhos, almoço, aulasfabian ruiz fifa 22inglês, artesanato, teatro e empoderamento.
O bate-papo sobre o #MeToo surgiufabian ruiz fifa 22uma dessas reuniõesfabian ruiz fifa 22empoderamento. Pela primeira vez, aquelas mulheres puderam falar sobre os abusos que tinham sofrido. Uma delas relatou ter feito faxina para um cliente que ordenou que ela se despisse e ficasse apenas com roupafabian ruiz fifa 22baixo antesfabian ruiz fifa 22começar o trabalho. Outras, como Grace, tinham históriasfabian ruiz fifa 22violência sexual. "Essa mulheres têm suportado um longo e contínuo ciclofabian ruiz fifa 22abuso - fugindo da violência sexual (nos seus paísesfabian ruiz fifa 22origem) e chegando a uma vidafabian ruiz fifa 22abuso na própria Inglaterra".
"Nós temos ouvido casosfabian ruiz fifa 22que mulheres vão reportar abusos e acabam detidas ou mesmo deportadas aos seus paísesfabian ruiz fifa 22origem - e, consequentemente, para as situações difíceis das quais estavam tentando escapar. O sistema impede essas mulheresfabian ruiz fifa 22reportar a violência e seus predadores sabem disso", fala Girma.
"O processofabian ruiz fifa 22asilo é falho e dificulta,fabian ruiz fifa 22vezfabian ruiz fifa 22ajudar, a vítimafabian ruiz fifa 22abuso e assédio sexual", fala Girma. "Se você ainda não tem os documentos, você não é considerada uma pessoa aos olhos da Justiça". A situação é ainda pior para aqueles que estão vivendo no país e ainda nem pediram asilo. De acordo com o Observatóriofabian ruiz fifa 22Migraçãofabian ruiz fifa 22Oxford, há centenasfabian ruiz fifa 22milharesfabian ruiz fifa 22migrantes irregulares ou ilegais no Reino Unido.
Estupro coletivo na África e assédio no Reino Unido
Já faz dez anos, mas Yanelle ainda tem pesadelos com a pior noite dafabian ruiz fifa 22vida. Dissidente política no Oeste da África, ela foi presa e vítimafabian ruiz fifa 22um estupro coletivo por um grupofabian ruiz fifa 22policiais, sob a mirafabian ruiz fifa 22uma arma.
Depois que foi solta, amigos do seu grupo político a ajudaram a migrar para Londres. Lá, encontrou emprego com famíliasfabian ruiz fifa 22uma igreja local. Assim como Grace, Yanelle recebeu um teto e comidafabian ruiz fifa 22troca do trabalhofabian ruiz fifa 22faxineira e babá das crianças da casa.
Mas, ao contráriofabian ruiz fifa 22Grace, Yanelle não foi estuprada. No entanto, seus patrões passaram a mão no corpo dela e a assediaram. "O que você vai fazer? Para quem você vai contar? Se você me acusar, a polícia vai lhe prender e lhe mandarfabian ruiz fifa 22volta para o seu país", disse um deles. Ao longofabian ruiz fifa 22anos, Yanelle teve que repelir tentativas como essa. Mas, na época, não imaginava que isso fosse assédio sexual.
Até que,fabian ruiz fifa 22outubrofabian ruiz fifa 222017, Yanelle participou do bate-papo do grupo Mulheres para Mulheres Refugiadas sobre o #MeToo. A jovem percebeu, então, que as abordagensfabian ruiz fifa 22homens sem seu consentimento e as passadasfabian ruiz fifa 22mãofabian ruiz fifa 22seu corpo não eram insignificantes.
"Eu nunca tinha falado sobre abuso antes do movimento #MeToo. Na minha cultura, não é comum falar sobre assédio tão livremente. Mas, quando vi mulheres importantes falarem sobre isso, minha cabeça mudou. Nós aprendemos que também tínhamos vivido experiênciasfabian ruiz fifa 22assédio", fala Yanelle, que está tentando obter o refúgio outra vez.
"Parece que nós mulheres estamos vivendo um momento da história onde a mudança é possível. E é importante que essa mudança seja estendida para as mulheres mais vulneráveis da nossa sociedade", fala Marchu Girma. "Nós precisamosfabian ruiz fifa 22vontade coletiva. A irmandade e a solidariedadefabian ruiz fifa 22gênero também devem chegar até mulheres como Grace e Yanelle".
*todos os nomes foram trocados para proteger a identidade das entrevistadas.
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