A triste históriabet vitóriaamor da mulher que, vestidabet vitóriahomem, pode ter sido a 1ª médica da América Latina:bet vitória
Mas na tardebet vitória6bet vitóriafevereirobet vitória1824, o doutor Favez foi levado a um tribunal. Na ocasião, um grupobet vitóriamédicos ameaçava submetê-lo a um exame físico ordenado pelo juiz.
Ele fora foi denunciado pela própria mulher, que assegurava que o respeitado médico, o venerado cirurgião e fiel marido não era quem ele dizia ser.
Quando os médicos e policiais estavam prestes a cumprir a ordem do juiz, Enrique Favez os interrompeu e contou a verdade: ele era, na verdade, um mulher.
Exame minucioso
Mesmo após dizer que não era um homem, o corpobet vitóriaFavez foi examinado parte por parte,bet vitóriaforma minuciosa.
O processo judicial contra o médico está no Arquivo Nacionalbet vitóriaCuba, onde é possível ler o relatório do exame.
A pessoa examinada, diz o documento, "é dotadabet vitóriatodas as partes pudendas próprias do sexo feminino", para então concluir: é uma "mulher real e perfeita". O doutor Enrique era, na verdade, Enriqueta Favez.
Não se sabebet vitóriaque momento exato a mulher deixoubet vitóriase identificar ebet vitóriase vestir como Enriqueta.
O historiador cubano Julio César González Pagés é autorbet vitóriaPor Andar Vestidabet vitóriaHomem, obra considerada uma investigação completa sobre a apaixonante vidabet vitóriaFavez. O autor diz que mudança aconteceubet vitóriaalgum momento do início do século 19.
"Há documentação histórica que mostra que Enriqueta esteve casada com um soldado do exércitobet vitóriaNapoleão, que morreu. Tiveram um filho, que também morreu poucos dias depois do nascimento. A partirbet vitóriaentão, ela começou a se vestirbet vitóriahomem e assumir uma identidade masculina", contou Pagés à BBC Mundo, o serviçobet vitóriaespanhol da BBC.
Vestindo calça e trajes militares, Enriqueta seguiu o marido na guerra e, quando ele morreu numa batalha, ela assumiu o lugar dele na linhabet vitóriacombate.
Segundo pesquisou Antonio Benítez Rojo para o romance biográfico Mulherbet vitóriaTrajebet vitóriaBatalha, ainda vestidabet vitóriahomem, Favez estudou Medicina na Universidadebet vitóriaParis, uma profissão que à época era destinada exclusivamente a homens. Também serviu como médico militar durante a Campanha Russa, quando as tropas napoleônicas invadiram Moscou.
"Quando viaja para América, ocorre um processo muito interessante, porque se converte na primeira mulher a exercer a medicinabet vitóriaterrabet vitóriaCuba, senão na América Latina", diz Pagés.
Para ele, Favez pode ter sido a primeira médica formada a atuar não somentebet vitóriaCuba comobet vitóriatoda a América Latina.
A britânica Elizabeth Blackwell é reconhecida internacionalmente por ter sido a primeira mulher a se formarbet vitóriamedicina nos Estados Unidos. Ela nasceubet vitória1821, quando Favez já consultava e operava pacientesbet vitóriaCuba.
Mas Favez não foi a única a mudarbet vitóriaidentidade para estudar e exercer medicina no século 19. A irlandesa Margaret Ann Bulkley também se vestiubet vitóriahomem e se passou por James Miranda Steuart Barry para cursar Medicinabet vitóriaEdimburgo, na Escócia. Como homem, ela por anos atuou como médico militarbet vitóriadiferentes colônias do Império Britânico, primeiro na África e, depois, no Caribe.
"Outro elemento que merece destaque é que ela era cirurgiã. Quando fez uma prova para revalidar o título, era um dos três cirurgiões do Caribe naquela época", observa o historiador Pagés.
Com as bênçãos da Igreja
A relaçãobet vitóriaFavez com Juanabet vitóriaLeón e o casamento das duasbet vitóriaum altar, com todos os ritos da Igreja Católica, também representam um episódio inusitado para a época, para a região e para a história.
"Até onde se sabe, não havia casos públicosbet vitórialesbianismo na América Latina, e também são as primeiras mulheres que se casam com a benção da igrejabet vitóriatoda a hispanoamérica", observa Pagés.
Mas, segundo o historiador, diferentes pesquisas conduzidasbet vitóriaCuba sobre Favez tentaram justificar que não se tratavabet vitóriauma personagem lésbica. Pagés argumenta, contudo, que, quando se lê a sentença do juiz, "não resta dúvida que havia uma autentica relação lésbicabet vitóriaconsentimento mútuo".
No entanto, foi a própria mulher que delatou a verdadeira identidade do marido às autoridades. Mas por que? "Aparentemente, uma empregada da casa chegou um dia e Favez estava bêbado, sobre a cama, com a camisa desabotoada, e com os seios à mostra. A partir daí, começaram os rumores e parece que Juana, temendo o que poderia acontecer com ela e as pressões da própria família, decidiu fazer a denúncia", responde Pagés.
Na denúncia, que está no Arquivo Nacionalbet vitóriaCuba, Juanabet vitóriaLeón argumentou que se casou com Enriqueta por ser órfã e desamparada, apesarbet vitóriaque foi impossível "suspeitar que os planos desse monstro eram dirigidos a profanar os sacramentos".
Juanabet vitóriaLeón acusou Enriquetabet vitóriater consumado "artificialmente" o matrimônio,bet vitóriaforma que "a decência não lhe permite descrever". Disse ainda que, ao mentir sobre a identidade, o marido se aproveitou dela "do modo mais cruel e detestável, abusando da boa fé, candura e inexperiência".
Pagés acredita que as razõesbet vitóriaJuana foram além que o temor.
"Se no século 21 assumir a sexualidade ainda é algo que custa muitobet vitóriamuitos lugares da América Latina, imagina no século 19. É uma decisão contraditóriabet vitóriaJuanabet vitóriaLeón, mas compreensível", avalia o historiador.
Após o longo processo judicial, "o mais escandalosobet vitóriaCuba no século 19",bet vitóriaacordo com Pagés, Enriqueta Favez foi definitivamente expulsabet vitóriatodos os territórios da América hispânica.
De Enriqueta a Magdalena
Favez deixou Cuba e o passado obscuro marcado por um escândalo sexual e uma trágica historiabet vitóriaamorbet vitóriameadosbet vitória1824. Seguiu rumo a Nova Orleans (EUA). Ninguém foi se despedir dela no porto.
Segundo os pesquisadores, a história perdeu seus rastros por muito tempo, até que uma carta - cujo nome Magdalena aparecia como remetente - foibet vitóriabarco dos EUA para Havana, e seguiu a cavalo até Baracoa. A destinatária do documento era Juanabet vitóriaLeón, que havia morrido anos antes.
Magdalena era uma monja médica que primeiro se apresentou como parteira e depois passou a atender doentes na congregaçãobet vitóriacaridade São Vicentebet vitóriaPaulo. Ela jamais soube se a carta dela chegou às mãos da destinatária.
Tratava-sebet vitóriauma carta desesperadabet vitóriaamor, na qual ela suplicava para verbet vitóriaesposa novamente. Mas que nunca foi respondida.
"Uma das opções que lhe foi dada foi se livrar do pecado entregando a própria vida à Igreja e, desde então, ela se dedicou a cuidar dos doentes, mas continuou, logicamente, sendo lésbica, e está documentado que tentou retornar a Cuba para se reencontrar com a esposa", diz Pagés.
Mas Enriqueta Favez jamais pisou na ilha novamente.
Morreubet vitória1856, vestindo o hábito das filhas da caridade, e foi enterrada com ritos católicosbet vitóriaum cemitériobet vitóriaNova Orleans.
Em 2005, o furacão Katrina fez uma rota similar àbet vitóriaFavez quando cruzou Guadalupe, devastou o lestebet vitóriaCuba e seguiu com destino a Nova Orleans.
Katrina também destruiu o túmulobet vitóriaFavez, a mulher que teve que se vestirbet vitóriahomem para ser a primeira médica da América Latina.