'Prisioneira do nome': quem foi Svetlana Alliluyeva, a filhabet365onlineStálin que fugiu aos EUA:bet365online
"Ela esteve à sombra do nome do pai por toda a vida", diz Rosemary Sullivan, autora da biografia "A filhabet365onlineStálin: a extraordinária e tumultuada vidabet365onlineSvetlana Alliuyeva" (em tradução livre). A obra recebeu o prêmio Plutarchbet365onlineBiografiabet365online2016.
De acordo com Sullivan, que pesquisou sobre a vidabet365onlineSvetlana durante quatro anosbet365onlinevários países e entrevistou dezenasbet365onlinefamiliares, amigos e conhecidos, a filhabet365onlineStálin era, apesarbet365onlinetudo, uma lutadora.
"Era uma mulher com imaginação, apaixonada pela escrita, frustrada e prisioneira da proteção que era dada ao nomebet365onlineseu pai. Mas nunca deixoubet365onlinese rebelar contra isso. Sua determinação era impressionante", contou Sullivan à BBC Mundo, o serviçobet365onlinelíngua espanhola da BBC.
"Pequena mariposa"
Svetlana nasceubet365online26bet365onlinefevereirobet365online1926. Foi a filha caçulabet365onlineStálin. Herdou o cabelo ruivo e os olhos azuisbet365onlinesua avó materna, Olga.
Era considerada a princesa do Kremlin, apesarbet365onlinedizer quebet365onlinevida ali foi bastante modesta. Demonstraçõesbet365onlineafeto eram raras na família, e a felicidade não reinava na casa.
Mas Stálin tinha um afeto especial porbet365onlinefilha, a quem chamavabet365online"pequeno pardal" ou "pequena mariposa". "A única pessoa que conseguia amolecer Stálin era Svetlana", contou uma amiga da mãe da menina, Nadya,bet365onlineacordo com Sullivan.
Svetlana tinha apenas seis anos e meio quandobet365onlinemãe se suicidou - marcando um antes e um depois na vida da menina. Adulta, Svetlana chegou à conclusãobet365onlineque o suicídio derivou da sensação da mãebet365onlinenão ter como escapar da crueldadebet365onlineseu pai.
O jogo do poder
Stálin pareceu ter entendido o impacto psicólogico sofrido porbet365onlinefilha depois da mortebet365onlineNadya.
Alémbet365onlinechamá-la com apelidos no diminutivo, o que o líder soviético entendia ser um sinalbet365onlineafeto, Stálin criou um jogo entre eles, que perdurou até que Svetlana chegasse aos 16 anosbet365onlineidade.
Quando ela pedia algo ao pai, ele respondia: "por que você está pedindo? Dê uma ordem, e eu farei imediatamente". Ela estava no comando, e ele era seu secretário.
Svetlana lhe deixava bilhetes com suas ordens pregadas na parede perto do telefone, e no escritório do líder. Outros "secretários"bet365onlinemenor hierarquia do Kremlin também participavam do jogo, como os ministros Lazar Kaganovich e Vyacheslav Molotov. Na verdade, eles não tinham outra opção a não ser jogar.
Os anos escolaresbet365onlineSvetlana coincidiram com o período do culto à personalidadebet365onlineStálin na União Soviética. Sua imagem estava por toda parte. "Lênin era nosso ídolo, e Marx e Engels nossos apóstolos". Stálin, porbet365onlinevez, sempre tinha razãobet365onlinetudo, "sem exceção", contou Svetlana, segundo narra a biografia.
Antesbet365onlinemorrerbet365online2011, Svetlana criticou o atual presidente russo Vladimir Putin por estar, segundo ela, revivendo a prática do cultobet365onlinepersonalidade adotada por seu pai.
Desapariçãobet365onlinepessoas
Svetlana lembra-sebet365onlineque embet365onlineinfância não podia entender como as pessoas "simplesmente desapareciam", sem deixar explicações.
Em 1939, o Comissariado do Povo para Assuntos Internos (NKVD) desapareceu com a babábet365onlineSvetlana, Alexandra Andreevna, por considerá-la "pouco confiável".
Svetlana rogou ao pai que não a levassem. "Meu pai não suportava me ver chorando", disse Svetlanabet365onlineumbet365onlineseus livros. "Talvez fosse a única coisa que ele não aguentasse", analisa Sullivan.
"A vida uma pessoa podia depender inteiramentebet365onlineuma palavra do meu pai", escreveu Svetlana. De fato, durante o período stalinista, estima-se que expurgos políticos e sucessivas fomes causadas por mudanças no regime agrícola tentam resultado na mortebet365onlineaté 10 milhõesbet365onlinepessoas.
De ídolo a vilão
Stálin tinha orgulhobet365onlinesua filha quando pequena. Ela se tornou uma "guerreira do comunismo".
Já adulta, Svetlana refletiu que o comunismo soviético "exigia a censurabet365onlinequalquer pensamento privado por meio da hipnosebet365onlinemassas". Ela chamava a ideologiabet365onlineseu paibet365online"mentalidade dos escravos".
Na adolescência, Svetlana se tornou mal-humorada, ingênua e mimada, segundo a biografia.
A ingenuidade, porém, duraria pouco: aos 16 anos ela descobriu como se deu a morte da mãe. Isso a fez criar um asco profundo do pai, a quem reverenciava até então.
Quase paralelamente, Svetlana se apaixonou por Aleksei Kapler, um escritor judeu muito popular à época, e bem mais velho que ela. Pouco tempo depois, ele acabou preso.
Foi nesse momento que ela "entendeu que só seu pai poderia ter feito isso, e começou a se dar contabet365onlinequem era Stálin", conta Sullivan à BBC.
Esses acontecimentos "estouraram a bolha" das ilusões da filha sobre Stálin. "Meus olhos se abriram e não pude voltar à cegueira", escreveu Svetlanabet365online1981,bet365onlineacordo com Sullivan.
A vidabet365onlinecasada
Depoisbet365onlinedeixar o Kremlin, Svetlana começou a ter alguma independência.
Enquanto estudava História na Universidadebet365onlineMoscou, ela conheceu Grigori Morozov, com quem se casou. Aos 19 anos, ela teve um filho, Josef.
Segundo os familiares, "Svetlana não era uma mãe carinhosa". Os parentes também costumavam dizer que ela "nunca aprendeu o que era uma mãe".
Svetlana e Grigori se separarambet365online1947. Esse seria o primeirobet365onlinequatro divórcios ebet365onlinediversos relacionamentos amorosos embet365onlinevida.
Solidão
Depois do divórcio, Svetlana voltou a viver sob as asasbet365onlineseu pai, apesarbet365onlinenão se relacionarem muito e não se encontrarem quase nunca. Na verdade, Stálin só conheceu o neto quanto este já tinha quatro anosbet365onlineidade.
Apesar da rejeiçãobet365onlineSvetlana ao pai, ela sempre acreditou que,bet365onlinealguma forma, ele a amava, conta Sullivan.
Em 1949, Stálin pediu a ela que se casasse com Yuri Zhdanov, filhobet365onlineum colaborador muito próximo do líder soviético Andrei Zhdanov, que havia morrido. Cansadabet365onlineresistir aos pedidos, ela aceitou. Um ano depois nasceu a segunda filha, Katya, mas o casamento durou pouco mais que isso.
Pai mau, filha má
A vida pessoalbet365onlineStálin sempre esteve envoltabet365onlineum mantobet365onlinemistério e intrigas, inclusivebet365onlinelenta agonia e morte no mêsbet365onlinemarçobet365online1953.
Quando o pai morreu, Svetlana sentiu uma mistura contraditóriabet365onlinedor e alívio, e choroubet365onlinefrente aos servidoresbet365onlineStálin. "Eles sabiam que eu fui uma filha má e que meu pai foi um mau pai. Mas ele me amoubet365onlinetodas as formas, do mesmo jeito que eu o amei", escreveu Svetlana, segundo disse Sullivan.
A soluçãobet365onlineSvetlana para manter-se juntobet365onlineseus filhos e ficar a salvo do regime soviético foi rejeitar a política e passar a viver no anonimato. O governo soviético a proibiubet365onlinefalarbet365onlinepúblico sobre seu pai. Tudo que se relacionava a Stálin era propriedade do Estado, inclusive Svetlana.
Em setembrobet365online1957, Svetlana decidiu adotar o nome da mãe, Alliluyeva. Dizia que o som metálicobet365online"Stálin" a entristecia.
Salva pelo amor
Apesar do anonimato, a vida amorosabet365onlineSvetlana continuava agitada. Ela via o casamento como uma espéciebet365onlineescapebet365onlinesua vida anterior.
Depois da morte do pai, Svetlana começou a escrever suas memórias, que ela mandaria para fora do país como formabet365onlineprotegê-las do Estado soviético.
Em 1963, ela conheceu o político indiano Brajesh Singh,bet365onlineMoscou. Mais uma vez, se apegou à ideia do casamento. Mas o governo não a permitiu que registrasse a união.
Singh morreria no mesmo ano. Svetlana, então, recebeu uma permissão extraordinária para levar as cinzasbet365onlineseu falecido amante à Índia.
Ela veria seus filhos pela última vezbet365online1966. Josef tinnha então 18 anos, e Katya, 16.
O sonho americano
Uma vez na Índia, Svetlana acabou se apaixonando pelo país. O filhobet365onlineSingh, que então trabalhava na cidade americanabet365onlineSeattle, sugeriu a ela que viajasse para os Estados Unidos, com a finalidadebet365onlineobter a cidadania americana e poder, assim, voltar à Índia mais tarde.
Silenciosamente, Svetlana começou a sonhar com essa possibilidade.
Em um impulso, ela entrou na embaixada americanabet365onlineNova Déli e anunciou que tinha a intençãobet365onlinedesertar da União Soviética. Isso ocorreu no dia 6bet365onlinemarçobet365online1967.
Naquele momento, o governo dos Estados Unidos sequer sabia que Stálin tinha uma filha.
O momento da chegadabet365onlineSvetlana não poderia ser pior. Em outros períodos da Guerra Fria, ela poderia ter se tornado uma ferramentabet365onlinepropaganda valiosa para os Estados Unidos. Masbet365online1967, os dois países estavam num momentobet365onlinedistensão: negociavam até a construçãobet365onlineembaixadas.
Foram horas decisivas, nas quais decisões precisavam ser tomadas rapidamente para não levantar suspeitas sobre a ausênciabet365onlineSvetlana.
Um oficial da CIA, a agênciabet365onlineinteligência dos EUA, foi encarregadobet365onlinelevar Svetlana aos EUA. O agente, Roberto Rayle, se tornaria um grande amigo da filhabet365onlineStálin até o fim da vida dela.
A deserçãobet365onlineSvetlanabet365onlinecompanhiabet365onlineum agente da CIA foi notíciabet365onlinetodo o mundo.
Para os soviéticos, Svetlana foi a desertora mais significativa do regime.
Se Stálin estivesse vivo, teria sido executado como castigo. Mas naquele momento o paibet365onlineSvetlana já estava morto há 14 anos, frisa Sullivan.
Vida nova
Svetlana chegou aos Estados Unidos no dia 21bet365onlineabrilbet365online1967 e se tornou escritora.
Em pouco tempo, os ganhos com a publicaçãobet365onlineseu primeiro livro, Vinte cartas, a tornaram milionária. Ela doou grande partebet365onlinesua fortuna a organizaçõesbet365onlinecaridade, inclusive um hospital na Índia com o nomebet365onlineBrajesh Singh.
Enriquecer foi talvez o pior destino, analisa Sullivan, pois várias pessoas se aproximaram dela nos EUA atrás do dinheiro.
Além disso, o governo soviético tentava vender a ideiabet365onlineque Svetlana tinha sido sequestrada. Não podia aceitar que ela havia fugido livremente, diz a escritora.
"Não podem crer que um indivíduo, uma pessoa, um ser humano, possa tomar uma decisão por si mesmo... Quando veem que todo o trabalho que tiveram durante 50 anos foibet365onlinevão e que as pessoas ainda têm vontade própria, se enfurecem muito", disse elabet365onlineentrevista a jornalistas nos Estados Unidos,bet365online1967.
Nem tudo que reluz é ouro
Svetlana passou do silêncio total da União Soviética a um país onde existia imprensa livre - na qualbet365onlinevida era discutida.
"As pessoas acreditam mais nas mentiras ditas sobre mim do que no que eu escrevo ou digo. O nome do meu pai é muito odiado, e eu vivo embaixobet365onlinesua sombra", disse Svetlana, segundo a biografia.
Nos EUA, Svetlana criticava o governo soviético, as decisõesbet365onlineseu pai e as ideias do líder soviético Vladimir Lênin.
"Lênin foi o fundadorbet365onlineum sistema baseado num partido, no terror e na supressão dos desertores... todos os esforços para melhorar a imagembet365onlineLênin e transformá-lo num santo são inúteis", disse ela.
Esse tipobet365onlinedeclaração irritou o governo da URSS, quebet365online1969 retirou dela a cidadania soviética e a condenou por "má conduta e por difamar a cidadania", algo que seu próprio pai havia tornado crimebet365online1938.
Mudança constante
A buscabet365onlineSvetlana por amor não morreu quando ela deixou a União Soviética.
Em abrilbet365online1970, ela se casou novamente, dessa vez com o prestigiado arquiteto americano Wesley Peters. A união ocorreu três semanas depoisbet365onlineeles se conhecerem. Svetlana mudoubet365onlinenome novamente para Lana Peters, e os dois tiveram uma filha, Olga,bet365online1971.
"Sem Olga, Svetlana provavelmente não teria sobrevivido", disse Sullivan à BBC Mundo.
Svetlana matriculou Olgabet365onlineuma escola privada. Não queria ter contato com a educação pública nem com nada que tivesse a ver com o Estado.
Essa era também a desculpa dela para mudarbet365onlinecidade frequentemente. Na realidade, porém, ela tinha medobet365onlineestar sendo seguida.
"Em qualquer lugar que eu vá, seja a Austrália ou alguma pequena ilha, sempre serei uma prisioneira política do nome do meu pai", escreveu Svetlana a uma amigabet365online2009, segundo destacou Sullivan no livro.
Em 1978 a filhabet365onlineStálin conseguiu a cidadania americana. Já divorciadabet365onlinePeters, mudou-se com a filha Olga para a cidadebet365onlinePrinceton,bet365onlineNova Jersey.
Mesmo assim, Svetlana começou a notar que havia um forte sentimento anti-soviético nos EUA, e que as colegasbet365onlinesua filha nunca a convidavam para qualquer evento. "Será que Olga também viverá debaixo da sombra do avô?", perguntava-se ela.
Em buscabet365onlineoportunidades parabet365onlinecarreirabet365onlineescritora, e pensando na educaçãobet365onlineOlga, Svetlana mudou-se com a filha para a Inglaterra,bet365online1981.
Uma ligação inesperada
Já no Reino Unido, Svetlana recebeu uma ligaçãobet365onlineseu filho Josef, que estava doente e queria vê-la.
Ela decidiu então voltar à União Soviética, sem se preocupar com o fatobet365onlineque a visita poderia criar um novo incidente diplomático.
Por meiobet365onlineum decreto, a Corte Suprema soviética (o tribunalbet365onlineúltima instância do país) lhe devolveu a cidadania. O regime também confiscou os passaportes americanos dela ebet365onlinesua filha Olga.
Quando pisoubet365onlinesolo soviéticobet365online1984, Svetlana disse apenas que chegara "para reunir-me com meus filhos".
Para o governo soviético, o retorno da filha errantebet365onlineStálin representava uma peçabet365onlinepropaganda. A imprensa do mundo todo a questionou sobre a decisão. Mas, mais uma vez, nada saiu como ela esperava.
O encontro com Josef foi marcado pela frieza, e ela nunca voltaria a ver Katya. Sentiu-se perdida mais uma vez.
Além disso, Olga nunca seria bem aceita na União Soviética, e a própria Svetlana se transformaria numa espéciebet365onlinetroféu da propaganda do regime oubet365onlineuma pária, analisa Sullivan.
Svetlana começou a acreditar que o regresso tinha sido um erro terrível.
"Ela é a filhabet365onlineStálin. E, na verdade, já está morta. Não pode viverbet365onlineprópria vida. Não pode viver qualquer vida. Só existebet365onlinereferência a um nome", disse sobre si própria Svetlanabet365onlineuma entrevista recuperada por Sullivan.
Nova fuga
Em dezembrobet365online1984, depoisbet365onlineuma breve passagem pela Geórgia e uma internação por um problemabet365onlinesaúde, Svetlana e Olga conseguiram sair novamente da URSS. Svetlana, que já tinha 60 anos, voltou aos EUA. Olga foi para a Inglaterra.
Nessa época, as dificuldades financeiras da família aumentaram. Por algum tempo, Svetlana recebeu dinheiro cuja origem desconhecia, mas suspeitava que era da CIA. "Nunca fui espiãbet365onlineninguém e não posso viver da caridade da CIA", disse elabet365onlineuma entrevista.
Sem oportunidades nos EUA, ela decidiu tentar a sorte no mercado editorial da França, também sem sucesso. Acabou voltando para a Inglaterra, onde moroubet365onlinevários albergues.
Em 1991, Svetlana tentou suicídio, mas falhou.
A última mudança
Aos 71 anos, Svetlana decidiu voltar a morar nos EUA,bet365onlineWisconsin.
Temia ser deportada ou que, depoisbet365onlinesua morte, seu corpo fosse levado à Rússia. Contratou inclusive um advogado para garantir que seu filho Josef não tivesse acesso aos seus restos mortais.
Em 2011, foi diagnosticada com câncer terminal. Morreubet365onlineem 22bet365onlinenovembrobet365online2011, aos 85 anos. Sua filha Olga, que mudoubet365onlinenome para Chrese Evans, jogou as cinzas no oceano Pacífico.
"Vivi minha vida como pude (...) mas houve uma fatalidade. Você não deve reclamar do próprio destino, mas lamento que a minha mãe não tenha se casado com um carpinteiro", disse ela a um jornal britânicobet365online1990.