A lutaapostas para fazer hojeargentino para denunciar o próprio pai por crimes da ditadura:apostas para fazer hoje

O grupo Histórias Desobedientes
Legenda da foto, Verna integra grupo que reúne 25 filhosapostas para fazer hojeex-repressores da ditadura | Foto: Arquivo pessoal
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"Há muito tempo eu desconfiava que meu pai tinha cometido crimes na ditadura militar. Nas conversasapostas para fazer hojecasa, ele demonstrava conhecer detalhes demais dos crimes cometidos naquele período horrível. Mas quando eu perguntava por que ele sabia tanto, respondia que eram as enfermeiras que lhe contavam.

Meu pai era médico do Exército argentino. E com o passar dos anos, baseado no que ele mesmo me dizia, passei a questioná-lo com tom mais critico, eapostas para fazer hojeacusação.

Nossa relação foi ficando cada vez mais tensa. Duas conversas foram aos gritos. Em 2009, eu já tinha certezaapostas para fazer hojeque ele tinha participado dos crimes. Mas não sabia como. Não tinha os fatos concretos. Além disso, como filho, acho que queria manter a dúvida dianteapostas para fazer hojealgo tão pavoroso.

Então,apostas para fazer hojemeadosapostas para fazer hoje2013,apostas para fazer hojemais uma conversa tensa, ele admitiu que tinha cometido os crimes. Não lembro as palavras exatas que usei para que admitisse isso. Mas naquele encontro lembrei o que meu pai tinha contado a um familiar e as respostas anteriores que tinha me dado cada vez que abordei o assunto. Foi impossível para ele negar o que tinha feito. E até que me disse: 'foi isso mesmo'.

Como médico, meu pai participava dos crimes da ditadura injetando sedativos nas pessoas que seriam jogadas vivas ao rio ou ao mar. Eram anestesias que as deixavam imediatamente paralisadas, mas respirando. E quando elas estavam assim, as jogavam dos 'voos da morte', como ficaram conhecidos.

Meu pai cometeu outros crimes. Ele também participava dos sequestros dos opositores, dos militantes sociais e políticos. Foram 30 mil desaparecidos no nosso país. A ditadura genocida sequestrava e fazia essas pessoas desaparecerem.

Mãesapostas para fazer hojeMaio fazem protesto
Legenda da foto, Mães da Praçaapostas para fazer hojeMaio foram a primeira organização civil que denunciou o desaparecimentoapostas para fazer hojejovens durante o regime militar na Argentina | Foto: Daniel Garcia

Depois daquela conversaapostas para fazer hojemeadosapostas para fazer hoje2013, ele disse a um familiar que não estava arrependido. E ainda acrescentou que tinha participadoapostas para fazer hojeum caso específico que teve muita repercussão aqui na Argentina.

Em 1979, quatro pessoas foram sequestradas e também receberam as injeçõesapostas para fazer hojeanestesia. Elas foram jogadasapostas para fazer hojeum riacho, uma simulaçãoapostas para fazer hojeum acidenteapostas para fazer hojecarroapostas para fazer hojeuma ponte. As quatro morreram.

Como médico militar, meu pai estava sempre armado. Isso até passar para a reserva,apostas para fazer hoje1983, com o retorno da democracia no país. E além desses crimes genocidas, certa vez ele apareceuapostas para fazer hojecasa com uma maletaapostas para fazer hojeprimeiros-socorrosapostas para fazer hojemédico que não era dele. Que eraapostas para fazer hojeuma das vítimas da ditadura. Eu perguntei porque estava com duas maletas, e me respondeu que tinha sido um presente. Que uma das maletas tinha sidoapostas para fazer hojeum subversivo.

Na minha casa, as palavras que ele usava eram chamativas, como 'subversivo'. Eram palavrasapostas para fazer hojeum genocida. Era um discurso ideológico para eliminar os que eram opositores ao regime militar. Uma vez, disse que os opositores eram mortos porque, quando eram presos e soltos, ficavam ainda piores.

A nossa relação foi rompida naquela conversaapostas para fazer hojemeadosapostas para fazer hoje2013, quando meu pai admitiu os crimes. Mas no dia seguinte ele me ligou para saber se eu tinha contado para minha mulher. Depois disso, ficamos sem nos falar até pouco tempo - dias atrás, ele me telefonou para, ao meu ver, fazer ameaças. Também faz isso por meioapostas para fazer hojeconversas com parentes, cujos relatos chegam até mim.

Eu me afasteiapostas para fazer hojemuitos familiares. Primeiro, para evitar encontrá-lo, e ainda porque uma parte da minha família se recusa a saber, nega o que ocorreu. Acha que isso é um problema entre duas pessoas - no caso meu pai e eu. Mas isso não é um simples problema entre duas pessoas, é entre ele e a humanidade, na qual eles, os familiares, estão incluídos.

O advogado argentino Pablo Verna

Crédito, BBC

Legenda da foto, Paiapostas para fazer hojePablo Verna (foto) admitiu, segundo ele, ter injetado sedativos nas vítimas da ditadura | Foto: Arquivo pessoal

Hoje meu pai está livre, mas é investigado porque o denunciei na Secretariaapostas para fazer hojeDireitos Humanos poucos meses depois daquela nossa conversa. Agora o caso dele faz parteapostas para fazer hojeuma imensa apuração, levada adiante pelos defensores das vítimas na que ficou conhecida como 'megacausa contraofensiva', pela repressão e extermínio ocorridos no Campoapostas para fazer hojeMayo nos anos 1970 e 1980. O local foi um centro clandestinoapostas para fazer hojeprisão e extermínio horrível no nosso país.

Essa casa deixou poucos sobreviventes e provas. Meu problema hoje, como filho, é que, apesarapostas para fazer hojeter essas certezas contra meu pai, encontrei barreiras na legislação que me impedemapostas para fazer hojedenunciá-lo penalmente. No Códigoapostas para fazer hojeProcesso Penal da Argentina, existem dois artigos que proíbem que familiares denunciem e deem depoimento, já no processo, contra outros familiares.

Ou seja, não podem ser testemunhas contra outros familiares. Por isso, entramos com esse projetoapostas para fazer hojelei pedindo que essas proibições não sejam aplicadas para os casosapostas para fazer hojecrimes contra a humanidade. E assim nós, filhosapostas para fazer hojerepressores, poderemos denunciar nossos pais judicialmente, alémapostas para fazer hojeprestar depoimento contra eles nos julgamentos.

Nós do coletivo Historias Desobedientes, que somos filhos e filhasapostas para fazer hojegenocidas, vivemos nas nossas casas, com nossos pais, a imposiçãoapostas para fazer hojeum mandatoapostas para fazer hojesilêncio,apostas para fazer hojemaneira implícita ou explicita.

Os genocidas fizeram um pactoapostas para fazer hojesilêncio que cumprem até hoje. Eles não revelam o que fizeram e o que os outros militares fizeram. Mas depoisapostas para fazer hojemuitos anos, eapostas para fazer hojeconscientização do que aconteceu, e da nossa própria ética, decidimos levar as acusações adiante. Mas aí nos deparamos com esses artigos da legislação argentina.

Apresentamos esse projetoapostas para fazer hojelei no dia 7apostas para fazer hojenovembro na mesaapostas para fazer hojeentrada da Câmara dos Deputados. No nosso grupo, alguns já têm os pais mortos, outros condenados e outros, impunes.

No meu caso, espero que meu pai seja investigado. E que ele e os outros genocidas reflitam e tenham alguma dignidadeapostas para fazer hojeseus últimos anosapostas para fazer hojevida. Que deem um poucoapostas para fazer hojepaz a tantos familiares que não sabem qual foi o destinoapostas para fazer hojeseus parentes desaparecidos. E paz até para eles, genocidas. Porque eles também devem viver um infernoapostas para fazer hojesuas mentes e corações.

Nós, como coletivo, sabemos que nossa iniciativa, com esse projetoapostas para fazer hojelei, pode ajudar no contexto das investigações. Coisas que ouvimos nas nossas casas podem aportar no contextoapostas para fazer hojeque os crimes foram cometidos. Inclusive os casosapostas para fazer hojeroubo que as vítimas da ditadura sofreram.

Nossa iniciativa não dará resposta a tudo. Mas pode contribuir para acabar com a impunidade mantida pelos genocidas."