O que você precisa saber sobre a terapia que previne o HIV, que começará a ser oferecida no Brasil:
Participam da primeira fase da oferta do medicamento Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, RioJaneiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Manaus, Brasília, Florianópolis, Salvador e Ribeirão Preto. De acordo com o Ministério da Saúde, o programa será gradativamente expandido para todo o país. Além do SUS, o medicamento deve ser comercializado na rede privada.
De acordo com o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, 827 mil pessoas têm HIV no país e 40 mil casos são registrados todos os anos. Os grupos onde as infecções mais crescem são homens que fazem sexo com homens,15 a 24 anos, e idosos acima dos 60.
Para Gianna, ter a PrEP como mais uma políticaprevenção ajudará o governo a reduzir custos lá na frente. "Não tenho dúvidas que iremos evitar várias infecções. E o custoproteger alguém por um tempo é muito menor do que ter pessoas infectadas depois. É muito mais vantajoso para o SUS," afirma.
Além do Brasil, países como Estados Unidos, Canadá, França e Reino Unido também adotaram a PrEP. O Brasil, no entanto, é um dos poucos que oferecerá a terapia no serviço públicosaúde.
Ao todo foram investidos US$ 1,9 milhão para o primeiro ano do programa. Inicialmente, o governo espera atender cerca7 mil pessoas.
Como a terapia funciona
O medicamento que o Brasil irá utilizar é o Truvada. É necessário acompanhamento médico, já que ele pode causar problemas renais e perdamassa óssea.
O Truvada é uma combinaçãoum único comprimidoduas drogas antigas já usadas no tratamento do HIV - o tenofovir associado à emtricitabina - e evita a infecção naqueles que ainda não foram contaminados pelo vírus.
O medicamento não barra a entrada do vírus no organismo, mas age no seu processomultiplicação dentro das célulasdefesa. É esse uso da máquina humana pelo HIV que, ao longo dos anos, destrói o sistema imunológico do indivíduo.
Quando tomado ininterruptamente, o medicamento bloqueia uma enzima chamada transcriptase reversa e, ao fazer isso, quebra o processoreprodução do vírus dentro das células.
O medicamento demora,média, sete dias para fazer efeito nos homens e 20 dias nas mulheres, segundo o Ministério da Saúde. Portanto, sexo sem proteção nesse período com uma pessoa infectada pode gerar contaminação.
O remédio também não pode ser abandonadouma hora para outra. A recomendação é que seja tomado ainda por quatro semanas após a última relação sem preservativo, para evitar a possibilidadeinfecção.
Como será feita a distribuição
A partirdezembro, a terapia estará disponívelserviços do SUS que já trabalham com prevenção do HIV, como CentrosTestagem e Aconselhamento (CTA) ou ServiçosAssistência EspecializadaHIV (SAE).
O medicamento poderá ser acessado gratuitamente por pessoasgrupos considerados vulneráveis. Mas fazer parteum desses grupos não é garantiaobtenção.
De acordo com o Ministério da Saúde, aqueles que sentem a necessidade da terapia irão passar por uma análise com profissionais da saúde, na qual serão considerados práticas sexuais, compromisso com a adesão ao medicamento e númeroparceiros sexuais, entre outros fatores.
Aqueles que aderirem à PrEP precisarão passar por acompanhamento médico, com exames regularessaúde, alémtestagens para o HIV a cada três meses, e orientação frequente sobre comportamento sexual seguro.
De acordo com o governo, a terapia deverá ampliar o acesso aos serviçossaúdeuma população que nem sempre é acompanhada por eles.
"Ao buscar o serviçosaúde para utilização da PrEP, a pessoa é acolhida pelo serviçosaúdeuma forma mais ampla, recebendo todas as orientações sobre a importânciase prevenirtodas as infecções sexualmente transmissíveis, além do HIV", disse o ministérionota.
O medicamento também deve ser disponibilizado para venda privada, com a necessidadeapresentaçãoreceita médica. Cada frasco com 30 comprimidos - o suficiente para um mês - custará R$ 290.
Até o momento, apenas o Truvada tem cadastro na Anvisa para ser usado na PrEP. Novas versões genéricas devem chegar no mercadobreve. "Espera-se que no futuro próximo outros fabricantesgenéricos do mesmo medicamento possam também comercializar no país", afirmou o Ministério da Saúde.
Qual deve ser a rotina do paciente
De acordo com a Gilead, a companhia fabricante, o medicamento pode ser tomado por longos períodostempo.
No entanto, é necessário acompanhamento médico porque o Truvada pode causar problemas renais, alémperdamassa óssea. Outros efeitos colaterais reportados por estudos com participantes voluntários foram náusea, dorcabeça e perdapeso.
Antesiniciar o uso, é necessário passar por consulta médica. "É necessário fazer alguns exames, incluindo testeHIV, teste para Hepatite B e avaliação da função renal, alémoutros que o médico julgar necessários. Mas os três acima são mandatórios", afirma Anita Campos, diretora médica da farmacêutica para os países da América do Sul.
Também é necessário testagens regulares do HIV durante o uso do medicamento. Se houver infecção no período, é preciso interromper a terapia e entrar com antirretrovirais para evitar que o vírus fique resistente às drogas para tratamento.
"Se a pessoa tomar e não souber que está infectada, o vírus pode ficar resistente, porque o tratamento tem uma terceira droga (além das duas que estão no Truvada)", explica Campos.