Rachel, Irina, Mónica: 'as identidades que me fizeram sobreviver ao Holocausto':curso 365bet

Um passaportecurso 365betRachel quando criança
Legenda da foto, Nascida Rachel, Mónica não sabe até hoje a datacurso 365betseu nascimento | Foto: Arquivo pessoal

Minha história não é só minha, já que eu fui um dos casoscurso 365betsobreviventes do Holocausto. E por isso conto e vou continuar contando,curso 365betpalestras para crianças e para professores, porque só assim a história não se repetirá, apesarcurso 365betna realidade percebermos que, infelizmente, ela vive se repetindo. Vou contar do início.

A minha mãe estava grávidacurso 365betmim quando foi levada pelos nazistascurso 365betcasa,curso 365betLida,curso 365betBelarus, com meu pai e minhas duas irmãs. Lida tinha sido invadidacurso 365bet1939 pelo Exército Vermelho (soviético) ecurso 365bet1941 pelo exército nazista.

Até 1939, pelo que me contou minha irmã sobrevivente, a vida era belacurso 365betLida. A família vivia numa casa grande, com meus pais, minhas duas irmãs e minha avó, e as férias eram numa casacurso 365betveraneio. Mas tudo mudou para sempre.

Gueto

Os paiscurso 365betMónica
Legenda da foto, Os paiscurso 365betMónica entregaram filhas na tentativacurso 365betsalvá-las; uma delas não escapou da morte no campocurso 365betconcentração | Foto: Arquivo pessoal

A invasão nazista foicurso 365betjunhocurso 365bet1941. Em agosto daquele ano, minha família e eu, na barriga da minha mãe, fomos levados para um gueto, o Guetocurso 365betLida. Minha irmã mais velha, Ester, tinha dez anos, e Neja, oito.

Eu nasci no guetocurso 365betalguma data no fimcurso 365bet1941. E, quando tinha três meses, meu pai aproveitou uma distração da vigilância, me passou por um buraco e me levou até um carro onde uma mulher nos esperava. Seicurso 365bettudo isso porque Ester me contou. E hoje, como mãe e avó, estremeço a cada vez que penso na situação que meu pai e minha mãe viveram.

Logo depois a mulher me entregou a um casal, o casal Shipula, que não tinha filhos e me batizou como Irina Shipula. Meu primeiro nome, Rojele Mowszowicz, tinha sido apagado. Fiquei com essa família até o fim da Segunda Guerra,curso 365bet1945. Mas naquele período, tios e primos meus tentaram escapar e não sobreviveram à pior tormenta que abalou a Humanidade.

A mala vermelha com a qual Mónica chegou ao Uruguai
Legenda da foto, Mónica chegou ao Uruguai com uma malinha vermelha e um livro sobre menina que, como ela, nasceucurso 365betcondições extraordinárias | Foto: Arquivo pessoal

Um dia, quando meus pais estavam com minhas irmãs, minha avó e um primo no gueto, os nazistas pediram que fossem formadas duas filas. Os da fila da direita foram levados para uma fossa comum e metralhados. Os da esquerda sobreviveram algumas horas mais. Meus pais e minhas irmãs estavam na fila da esquerda. Minha avó, três tios e meu primo, junto com outros 5,6 mil judeus, foram para a fila da direita.

Depois daquele dia, meus pais entenderam que deveriam salvar também as minhas irmãs. Após muito sufoco, eles conseguiram entregá-las a famílias não judias.

'Insuportável'

Primeiro foi Ester. Meu pai a entregou a dois homens poloneses. Ele deu a eles dinheiro e endereçoscurso 365betfamiliares nossos na Argentina e nos Estados Unidos, esperando que assim as três filhas um dia se encontrassem.

Ester, que tinha dez anos, entendeu que na nova casa não podia falarcurso 365betidish e nem chorar. Mas para Neja, que tinha oito anos, a situação foi muito mais difícil. Ela chorava pedindo para ver nossos pais. A família que a tinha acolhido acabou levando-acurso 365betvolta ao gueto.

O último destino da minha irmãzinha Neja e dos meus pais foi o Campocurso 365betExterminiocurso 365betMajdanek, a poucos quilômetros da cidade polonesacurso 365betLublin, perto da fronteira com a Ucrânia. O guetocurso 365betJaludna,curso 365betLida, foi eliminadocurso 365bet1943.

Nunca saberei se meus pais e Neja morreram no transporte que os levou ao campocurso 365betextermínio, nas câmarascurso 365betgás ou nas fossas comuns. Ainda hoje, quando penso, sinto que qualquer que seja a resposta me parece insuportável.

Neja e Ester, irmãscurso 365betMónica
Legenda da foto, As irmãscurso 365betMónica: Neja (à esq.) não sobreviveu ao campocurso 365betconcentração; já Ester (à dir.) mora hojecurso 365betIsrael

É também claro para mim que logo depois do fim da Segunda Guerra e do Holocausto, nós judeus éramos nada, e seres sem destino. E este foi meu caso também.

Fui levada por meus parentes da casa da família que tinha me protegido, os Shipula. E passei por um périplo que me levou da Polônia à Suécia, onde fiquei quatro meses num orfanato da Cruz Vermelha, e dali para a casacurso 365betparentes no Uruguai - que me entregaram aos cinco anoscurso 365betidade aos tios que me criaram aqui na Argentina.

Foi no orfanato na Suécia que passaram a me chamarcurso 365betMónica. Da Polônia, eu tinha saído com um documento com nomecurso 365betRachela Mowszowicz e uma datacurso 365betnascimento inventada, 20curso 365betjunhocurso 365bet1941, quando na verdade eu ainda estava na barriga da minha mãe.

Vim para a América do Sul porque outros tios que me esperavam nos Estados Unidos não puderam me receber - eles foram informados que a cotacurso 365betjudeus recebidos no país já tinha sido atendida.

Cheguei a Montevidéu com uma malinha vermelha, com poucas roupas, um cavalinhocurso 365betmadeira, uma boneca e um livro editadocurso 365bet1941, quando nasci, chamado Tummelisa (A Polegarzinha), de Hans Christian Andersen, escritocurso 365betsueco, que fala sobre uma menina que, como eu, nasceucurso 365betcondições extraordinárias.

Guardo tudo até hoje.

Mónica quando era chamadacurso 365betIrina Shipula
Legenda da foto, Até o fim da Segunda Guerra Mundial, Mónica foi Irina Shipula | Foto: Arquivo pessoal

Passado e presente

Em 1947, eu já estava aquicurso 365betBuenos Aires com meus pais que me criaram, Jaime e Raquel, que não tinham filhos. Eles conseguiram documentos atestando que nasci na Argentina e que era filha deles. Mas para não contrariar as tradições judias do ashkenazim, que indica que não se deve colocar na criança o nomecurso 365betalguém vivo da mesma família, voltaram a me chamarcurso 365betMónica.

A minha vida inteira tive que dar explicações sobre a minha identidade. E acabei escrevendo um livro (lançadocurso 365bet2016 e chamado Todos mis nombres - "Todos os meus nomes") sobre o meu caso que, como repito, não é só meu.

Mónica visita Lida com filhos e sobrinhos
Legenda da foto, Mónica Dawidowicz (centro) voltou a Lida neste ano, acompanhadacurso 365betfilhos e sobrinhos | Foto: Arquivo pessoal

Como tive tantos pais, dediquei meu livro a eles. Pude saber dos detalhes do que aconteceu porque essa minha busca é permanente. Encontrei documentos e fotos nos arquivos na Suécia,curso 365betLida e nas conversas com familiares, como a minha avó na casa dos Shipula - meus pais nessa família morreram cedo.

Em junho passado, viajei com meus filhos e sobrinhos a Lida e sou da comissão diretiva do Museu do Holocausto aquicurso 365betBuenos Aires. Levei cinquenta anos para entender que sou sobrevivente do Holocausto.

Hoje vivo feliz. Na minha busca descobri certidões que revelam meus nomes, Rachel e Irina. E às vezes os dois nomes no mesmo documento. Mas podem me chamarcurso 365betMónica. E o sobrenome que uso atualmente é o do meu marido, Dawidowicz."