'Eu era neonazista até ser presa e me apaixonar por uma negra':esporte bet365 app

Angela King
Legenda da foto, Angela King escondia a sexualidade para participaresporte bet365 appgruposesporte bet365 appextrema-direita | Foto: Mark Seliger

À medida que o grupo bebia, ia se tornando mais barulhento e agressivo. Uma briga começou depois que um homem que pedia uma bebida foi ofendido pelo namoradoesporte bet365 appKing.

"Ele disse algo sobreesporte bet365 apptatuagem, e foi isso. Não precisouesporte bet365 appmais nada para o meu namorado começar a brigar", diz.

Tatuagens
Legenda da foto, Tatuagens dela inspiradas na mitologia nórdica e usadas por movimentosesporte bet365 appsupremacistas brancos | Foto: Angela King

King e outra mulher do grupo agarraram a companheira do homem e a agrediram no banheiro.

O grupo fugiu depoisesporte bet365 appouvir que alguém chamou a polícia. Eles acabaram se dirigindo a uma lojaesporte bet365 appvídeos pornôs - diziam que a pornografia "não era benéfica para a raça branca".

"Um dos homens entrou com uma pistola apontada para o balconista e roubou o dinheiro da registradora", lembra ela. O balconista era judeu.

Família conservadora

King, a mais velhaesporte bet365 apptrês crianças, foi criada numa família bastante conservadora do sul da Flórida. Ela estudouesporte bet365 appuma escola batista privada - e cara - e participavaesporte bet365 appatividades da Igreja Católica toda semana.

Mas ela tinha um segredo que a deixava confusa, irritada e ressentida. "Desde muito cedo eu me sentia uma anormal porque pessoas do mesmo sexo me atraíam", conta.

A jovem escondiaesporte bet365 appidentidade sexual. "Eu sabia que tinha que manter isso para mim. Minha mãe costumava dizer, 'eu nunca vou pararesporte bet365 appte amar... desde que você nunca traga um negro ou uma mulher para casa'."

Angela King
Legenda da foto, Ela sofreu bullying quando era criança e se tornou uma jovem violenta | Fotos: Angela King

King começou a ir para a escola pública aos 10 anos, quandoesporte bet365 appfamília se mudou. Ela sofria com a perseguiçãoesporte bet365 appcolegas por estar acima do peso e tinha baixa autoestima. Mas quando o bullying verbal se tornou físico, ela finalmente rebateu.

"Quando eu tinha 13 anos, uma menina abriu a minha blusa na frenteesporte bet365 apptoda a turma", lembra. "Eu estava experimentando um sutiã e me senti completamente humilhada. Explodi com a raiva que segurava há tanto tempo."

King revidou e percebeu que a violência lhe deu um sensoesporte bet365 appcontrole que nunca tinha sentido antes. Ela então se tornou a valentona da escola e da vizinhança.

Após o divórcioesporte bet365 appseus pais, ela eesporte bet365 appirmã ficaram com a mãe, enquanto seu irmão foi viver com o pai. Para se sentir parteesporte bet365 appalgo, a adolescente se juntou a um grupoesporte bet365 appadolescentes que gostavamesporte bet365 apppunk rock e começavam a flertar com o neonazismo. Eles eram conhecidos como "fresh cuts", termoesporte bet365 appinglês usado para designar as pessoas que têm um novo corteesporte bet365 appcabelo - mas também aos novos skinheads.

"Eu me juntei a eles porque eles aceitaram minha violência e minha raiva sem questionar."

Racismo e brigas

O grupo colava panfletos racistas à noite pela vizinhança e começava brigas com qualquer um que o desagradasse.

King achou que tivesse encontrado o caminho certo - muitasesporte bet365 appsuas visões refletiam o racismo casual e o preconceito que ouviaesporte bet365 appcasa. Ela estava orgulhosaesporte bet365 appsua nova identidade e a usava "como um manto".

Apesar disso, nada foi feito poresporte bet365 appescola. Durante uma aulaesporte bet365 appciência, ela colocou a bandeira da suásticaesporte bet365 appum modeloesporte bet365 appuma base lunar que ela construiu - e que ficou exposto por semanas antesesporte bet365 appalguém notar.

Embora o modelo tenha sido retirado, King ganhou um B (nota entre 80 e 89 no sistema americano) depois queesporte bet365 appmãe argumentouesporte bet365 appdefesaesporte bet365 appsua liberdadeesporte bet365 appexpressão. Seus pais não se opuseram às suas crenças.

Meninas raspam cabeçaesporte bet365 appjovem
Legenda da foto, King (à dir.) raspa a cabeçaesporte bet365 appuma menina que namorava um skinheadesporte bet365 appseu grupo | Foto: Angela King

King foi expulsa da escola quando tinha 16 anos e começou a trabalharesporte bet365 apprestaurantesesporte bet365 appfast food. Sua mãe também a expulsouesporte bet365 appcasa porque passou a criar muito problema - ela passou a dormiresporte bet365 appcarros e sofásesporte bet365 appamigos.

Em 1998, King se envolveu no roubo à lojaesporte bet365 appfilmes pornôs. Em seguida, fugiu para Chicago com seu namorado, que era procurado por outro crimeesporte bet365 appódio.

Semanas depois, porém, ela foi presa e levada para uma prisão federalesporte bet365 appMiami.

Angela antes e após ser presa
Legenda da foto, Ela foi condenada por rouboesporte bet365 appfevereiroesporte bet365 app1999 | Fotos: Angela King

Uma improvável amizade

Na cadeia, pela primeira vez a jovem conviveuesporte bet365 appmaneira tão próxima com pessoasesporte bet365 appculturas e experiências diferentes.

"As pessoas sabiam por que eu estava lá - eu recebia olhares e comentáriosesporte bet365 appreprovação. Entendi que iria passar meu tempo lá encurralada, brigando", diz.

O que King não esperava era estabelecer uma amizade com uma mulher negra.

"Eu estava na áreaesporte bet365 apprecreação fumando quando uma jamaicana me disse: 'Ei, você sabe jogar cribbage?'"

King não tinha ideiaesporte bet365 appcomo funcionava esse jogoesporte bet365 appcartas. Mas esse foi o começoesporte bet365 appuma improvável amizade que a levou a ir deixar suas convicções racistas.

A partir daí, ela foi ampliando seu círculoesporte bet365 appamizades e passou, inclusive, a fazer parteesporte bet365 appum grupoesporte bet365 appjamaicanas.

"Até então eu não tinha conhecido nenhuma pessoaesporte bet365 appcor, e lá estavam essas mulheres que faziam perguntas difíceis, mas me tratavam com compaixão", diz.

Angela na prisão
Legenda da foto, Jovem se tornou amigaesporte bet365 appum grupoesporte bet365 appmulheres jamaicanas na prisão | Foto: Angela King

King foi sentenciadaesporte bet365 app1999 a cinco anosesporte bet365 appprisão. Conheceu então uma jamaicana com quem não se deu muito bem no início. Logo, porém, elas foram percebendo que tinham experiências parecidas. E com o tempo perceberam que seus sentimentos iam além da amizade. "Percebi que tínhamos nos apaixonado. E pensávamos: 'como afinal isso aconteceu?'."

"Passamos muito tempo juntas e dividimos uma cela por um tempo. Ficou bastante sério, mas tínhamos que manter o segredo."

Aquele era o primeiro relacionamento gayesporte bet365 appambas. A namoradaesporte bet365 appKing acabou enviada a uma prisãoesporte bet365 appTallahassee, capital da Flórida, e elas passaram a se escrever via intermediários. O relacionamento acabou meses depois, quando King foi transferida para a mesma prisão.

Angela depois da prisão
Legenda da foto, Angela foi soltaesporte bet365 app2001 e se formouesporte bet365 appsociologia e psicologia | Foto: Angela King

Uma nova vida

Quando King foi solta,esporte bet365 app2001, estava determinada a não cair nos mesmos erros.

Como queria conhecer outras pessoas gays, começou usar as ferramentasesporte bet365 appbate-papo online. "Eu fui muito honesta sobre o meu passado. Me aceitaram na comunidade gay, percebi que não estava sozinha."

A jovem foi estudar Sociologia e Psicologiaesporte bet365 appuma faculdade comunitária - queria entender seesporte bet365 appexperiência com o extremismo era comum. Em 2004, fez contato com o Centro do Holocausto e sentou-se com uma sobrevivente da tragédia causada pelos nazistas para contaresporte bet365 apphistória.

"Ela era muito severa, mas depois olhou nos meus olhos e disse: 'Eu te perdoo'."

Angela com Eah Roth
Legenda da foto, Angela com a sobrevivente do Holocausto Leah Roth | Foto: Angela King

King dá palestras pela organização desde então. Eesporte bet365 app2011 foi a uma conferência internacional onde encontrou outros ex-extremistas.

"Estava animadaesporte bet365 appencontrar pessoas que se envolveramesporte bet365 appviolência extremista e se afastaram daquilo. Eu não estava sozinha", conta.

Ela conheceu americanos que fundaram um blog chamado Life After Hate ("vida depois do ódio") para compartilhar experiências. Juntos, eles decidiram criar uma ONG para ajudar pessoas a deixar comunidadesesporte bet365 appextrema-direita.

Mãosesporte bet365 appAngela
Legenda da foto, Hoje, ela está removendo suas tatuagens racistas com laser | Foto: Angela King

"Não é algo que você possa simplesmente dizer: 'Eu mudeiesporte bet365 appideia'. Há repercussões sérias e até violentas contra os que tentam se afastaresporte bet365 appalgo assim", diz ela.

"Toda a vidaesporte bet365 apppessoasesporte bet365 appgrupos extremistas giraesporte bet365 apptorno disso. Tudo emesporte bet365 appvida tem que ser mudado, desde a maneira como pensam às pessoas com quem elas estão ligadas e até as tatuagens que usam."

Supremacistas brancos reunidos na Universidadeesporte bet365 appVirgíniaesporte bet365 app11esporte bet365 appagosto

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Supremacistas brancos reunidosesporte bet365 appCharlottesvilleesporte bet365 app11esporte bet365 appagosto,esporte bet365 appprotesto que provocou violência

Um grupoesporte bet365 appcercaesporte bet365 app60 ex-extremistas se apoiam mutuamente. Os recentes atosesporte bet365 appviolênciaesporte bet365 appCharlottesville, na Virgínia, foram particularmente difíceis para eles.

"Eventos recentes podem trazer à tona culpa e vergonha", afirma King. "Estamos mais ocupados do que nunca, e esgotados."

A ONG Life After Hate teve corteesporte bet365 appfinanciamentoesporte bet365 appjunho, na administração Donald Trump, mas King diz que doaçõesesporte bet365 apptodo o mundo ajudaram a compensar a perda.

Integrantes da Life After Hate
Legenda da foto, Angela King com outros fundadores da ONG Life After Hate | Foto: Life After Hate

Enquanto isso, a ex-neonazista também transformouesporte bet365 appvida pessoal. O relacionamento com seus pais melhorou - King acredita que eles hoje aceitam o fatoesporte bet365 appela ser gay. Ela também começou a se perdoar por seus erros.

"Eu tenho muita culpa sobre quem eu era e pelas coisas que eu fiz para machucar outras pessoas e a mim mesma. Mas não teria começado esse trabalho se não tivesse vivido aquelas experiências."

King está removendo suas tatuagens antigas com laser, um processo que começou depois que ela deixou a prisão. Está cobrindo os símbolos racistas desgastados por novas imagens.

Uma frase que agora cobre seu pulso diz: '"O amor é a única solução".