O espião da KGB que assumiu identidadefan tan cassinomenino morto aos 10 anos e viveu o 'sonho americano':fan tan cassino

Jack Barsky

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Albert Dittrich nasceu na antiga Alemanha Oriental e hoje é cidadão americano com o nomefan tan cassinoJack Barsky

Em entrevista à BBC, o homem que hoje carrega um passaporte com esse nome admite quefan tan cassinohistória não parece muito plausível - mesmo no contexto da Guerra Fria.

Mas, como conta no livrofan tan cassinomemórias Deep Undercover, publicado recentemente,fan tan cassinoversão foi checada minuciosamente pelo FBI, a polícia federal americana. E, até onde se sabe, ela é verdadeira.

Alemanha Oriental, 1970

Tudo começoufan tan cassinomeados da décadafan tan cassino1970, quando Dittrich, que se preparava para se tornar professorfan tan cassinoquímicafan tan cassinouma universidade na Alemanha Oriental, foi recrutado pela KGB e enviado a Moscou para receber treinamentofan tan cassino"como se comportar como um americano".

Sua missão? Dittrich teriafan tan cassinoir viver, sob uma identidade falsa, junto dos "inimigos capitalistas". Ele seria partefan tan cassinoum grupofan tan cassinoagentesfan tan cassinoelite conhecidos como "ilegais". "Fui enviado aos Estados Unidos para me estabelecer como cidadão e fazer contatos, se possível, com pessoas da elite, particularmente políticos", contou.

Essa "aventura tola" (como ele a qualifica hoje) "era bastante atraente para um jovem arrogante e inteligente, seduzido pela ideiafan tan cassinoviajar para o exterior e viver acima da lei".

Ele desembarcoufan tan cassinoNova Yorkfan tan cassino1978, aos 29 anos, sob o nomefan tan cassinoWilliam Dyson, cidadão canadense. Dyson viajara via Belgrado, Roma, Cidade do México e Chicago. Após cumprirfan tan cassinomissão, "desapareceu".

Durante o primeiro anofan tan cassinoque viveu nos Estados Unidos, o alemão tratoufan tan cassinoconstruirfan tan cassinoidentidade americana. Após passear por um cemitério, um funcionário da embaixada soviéticafan tan cassinoWashington forjou para o espião uma certidãofan tan cassinonascimento.

Agora, ele era Jack Barsky. Autoconfiante, falando inglês americano quase perfeito e com US$ 10 mil no bolso, explicou às pessoas que não tinha documentos porque tinha tido "um começo difícil na vida"fan tan cassinoNew Jersey e havia abandonado o colégio e trabalhado durante anosfan tan cassinouma fazenda remota antesfan tan cassinodecidir "dar uma nova chance à vida" e voltar para Nova York.

Vivendofan tan cassinoum quartofan tan cassinohotelfan tan cassinoManhattan, Barsky conseguiu uma carteirinha da biblioteca local, depois, uma carteirafan tan cassinomotorista e, finalmente, o documentofan tan cassinoseguridade social - essencial para que ele conseguisse um emprego.

Sem diplomas ou um histórico escolar, no entanto, o espião tevefan tan cassinotrabalhar inicialmente como entregador, circulando por áreas exclusivasfan tan cassinoManhattan. "Esse trabalho acabou ajudando na minha americanização, porque interagia com pessoas que não se importavamfan tan cassinosaberfan tan cassinoonde eu vinha, qual era minha história e para onde eu estava indo."

"Pude observar e ouvir e fiquei mais familiarizado com os costumes americanos. Então, nos primeiros dois ou três anos, não me fizeram muitas perguntas."

Barsky se empenhavafan tan cassinoagradar os chefes. Ziguezagueava por Nova York,fan tan cassinomissões cujo objetivo era despistar agentes inimigos que porventura estivessem no seu encalço.

Semanalmente,fan tan cassinotransmissõesfan tan cassinorádio oufan tan cassinocartas com escrita secreta (por exemplo, usando tinta invisível a olho nu), enviava notícias sobre seu progresso. Ttambém deixava microfilmesfan tan cassinovários parques da cidade, onde coletava,fan tan cassinotemposfan tan cassinotempos, latas contendo dinheiro ou passaportes falsos que usavafan tan cassinosuas viagens a Moscou.

A cada dois anos, o espião voltava à Alemanha Oriental, onde viviamfan tan cassinoesposa Gerlinde e seu filho Matthias. Os dois não tinham ideia das atividades reaisfan tan cassinoBarksy. Achavam que ele trabalhavafan tan cassinouma missão secreta e muito bem paga no Cazaquistão.

Sem Passaporte

De forma geral, o comando da KGB estava muito satisfeiro com o progressofan tan cassinoBarsky, exceto por ele ainda não ter conseguido um passaportefan tan cassinoseu nome.

Em umafan tan cassinosuas primeiras visitas ao órgão emissor do documento, foi orientado a preencher um formulário que requeria, entre outras informações, o nome da escola onde cursara o nível secundário. "Eu tinha uma história, mas não podia ser comprovada. Então, se alguém decidisse checar, saberia que eu não existia."

Com medofan tan cassinoser desmascarado, juntou seus documentos e saiu do local, fingindo estar indignado com a burocracia excessiva.

Nova York

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O jovem da KGB chegou a Nova York no fim dos anos 1970

Sem acesso a um passaporte, Barsky tinhafan tan cassinose limitar a fazer operações menos importantes. Ele diz que seus feitos, enquanto espião, foram "mínimos".

Ele identificava possíveis recrutas para a KGB, fazia relatórios sobre "o astral" da naçãofan tan cassinomomentos críticos (por exemplo, a derrubada,fan tan cassino1983,fan tan cassinoum avião coreano pelos soviéticos, aumentando tensões entre a União Soviética e os Estados Unidos).

Uma vez, voou para a Califórnia ao encalçofan tan cassinoum desertor. Anos mais tarde, descobriu, aliviado, que o homem - um professorfan tan cassinopsicologia - não tinha sido morto.

Barsky também fez um poucofan tan cassinoespionagem industrial, roubando softwares da empresa onde trabalhava e enviando o material,fan tan cassinomicrofilme, para Moscou.

Apesar da natureza um tanto quanto mediana das missões que fazia, Barsky tinha a impressãofan tan cassinoque apenas o fatofan tan cassinoestar lá, no campo inimigo, sem o conhecimento das autoridades americanas, já bastava para Moscou.

Inspirados no mito dos "grandes ilegais" os heróicos agentes secretos russos que tinham ajudado os soviéticos a vencer os nazistas durante a Segunda Guerra, os chefes da KGB achavam importante manter pessoas no território americano caso houvesse uma guerra.

A União Soviética começou a usar agentes "ilegais", que viviam na Europa sob identidades falsas, a partirfan tan cassino1919. Ao contrário dos agentes "residentes", que vivemfan tan cassinopaíses legalmente como diplomatas, os ilegais não têm imunidade contra processos criminais caso sejam presos.

Segundo o arquivo Mitrokhin, o primeiro ilegal foi enviado aos Estados Unidosfan tan cassino1921. Entre ilegais famosos estão Rudolf Abel, desmascarado como espião soviético nos Estados Unidosfan tan cassino1957, e Richard Sorge, que, durante a Segunda Guerra, no Japão, dizia ser um jornalista nazista.

Anos mais tarde, Barsky descobriu que fizera partefan tan cassinouma "terceira geração"fan tan cassinoilegais soviéticos. Hoje, sabe-se que os ilegais continuaram infiltrados até bem depois da décadafan tan cassino1980.

A KGB (siglafan tan cassinorusso para Comitêfan tan cassinoSegurançafan tan cassinoEstado) foi dissolvidafan tan cassino1991, com o colapso da União Soviética. A maioriafan tan cassinosuas funções está hoje a cargo do FSB, o Serviço Federalfan tan cassinoSegurança.

Recentemente,fan tan cassino2010, dez agentes russosfan tan cassinomissõesfan tan cassinolonga duração para espionar políticos foram desmascarados, entre eles, a espiã Anna Chapman.

Barsky é bastante crítico ao se refereir aos seus antigos chefes. Eles eram muito "inteligentes, crémefan tan cassinola créme", mas pareciam mais preocupadosfan tan cassinofazer a missão parecer um grande sucesso para impressionar a cúpula da KGB, disse.

fan tan cassino Plano B

Barsky

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Barsky (quarto à direita) sentiu-sefan tan cassinocasa com os colegasfan tan cassinotrabalho da Met Life

Incapazfan tan cassinoconseguir um passaporte e participarfan tan cassinocírculos sociais frequentados por tomadoresfan tan cassinodecisões, Barsky foi estudar para conseguir um diploma e, aos poucos, subir na ordem social até um pontofan tan cassinoque pudesse coletar informações úteis. Esse era o plano B. Uma missão "quase impossível", na opinião ele.

Barsky foi o primeirofan tan cassinosua turma no cursofan tan cassinoCiências da Computação do Baruch College,fan tan cassinoNova York. E foi trabalhar como programador na companhiafan tan cassinoseguros Met Life Insurance.

Como muitos espiões antes dele, Barsky aos poucos começou a questionar seus conceitos a respeito do mundo ocidental. O mundo que ele via não era o sistema "do mal", à beira do colapso econômico, que havia sido descrito para ele. "Não era nada do que tinham nos ensinado. Queria odiar as pessoas e o país, mas não conseguia."

Claro que ele jamais poderia admitirfan tan cassinosimpatia pelo inimigo capitalista perante seus chefes na KGB. Mas havia um outro segredo, bem maior, que ele guardava:fan tan cassino1985, tinha se casado com uma imigrante illegal da Guiana. Os dois tinham uma filha, Chelsea. Ou seja, o espião tinha agora duas famílias e sabia que, um dia, teriafan tan cassinofazer uma escolha.

Esse dia chegoufan tan cassino1988, dez anos após ele ter chegado aos Estados Unidos. De repente, recebeu ordensfan tan cassinovoltar para casa. Moscou suspeitavafan tan cassinoque o FBI estava na pista do espião.

fan tan cassino A E fan tan cassino scolha

Barsky sabia o que tinhafan tan cassinofazer: pegar o passaporte canadense e a carteirafan tan cassinomotorista falsos e sair do país. Não obedecer seria quase suicídio. Mas ele hesitava. Será que conseguiria deixarfan tan cassinofilha adorada, ainda bebê, para trás - e para sempre?

A KGB, no entanto, estava perdendo a paciência com ele. Uma manhã,fan tan cassinouma estaçãofan tan cassinometrô, recebeu uma mensagemfan tan cassinoum espião residente no país: "Volte para casa ou será morto".

O espião começou a procurar uma saída. Ele sabia que seus chefes tinham muitos preconceitosfan tan cassinorelação ao mundo ocidental. Moscou temia, por exemplo, um alastramento pela União Soviética da Aids - algo que, na visão dos russos, os americanos, comfan tan cassinocultura permissiva, "mereciam ter". Então, ele bolou um plano.

"Escrevi uma carta,fan tan cassinoescrita secreta, dizendo que não voltaria, porque tinha contraído Aids, e a única formafan tan cassinoconseguir tratamento era ficar nos Estados Unidos. Também disse aos russos que não desertaria nem revelaria qualquer segredo. Simplesmente desapareceria e tentaria recuperar minha saúde."

Depoisfan tan cassinoviver com medo durante meses, Barsky começou a relaxar. "Achei que tinha escapado. Não havia sinal nem do FBI nem da KGB."

Barsky (ao centro) comfan tan cassinofamília

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, O espião, ainda bebê, entre os pais

Um dia, no entanto, seu passado voltou para assombrá-lo. O arquivista da KGB Vasili Nikitich Mitrokhin, que desertoufan tan cassino1992 (após a queda do regime comunista), passou ao Ocidente uma vasta quantidadefan tan cassinoinformações sigilosas - entre elas, a verdadeira identidadefan tan cassinoJack Barsky.

Durante três anos, o FBI monitorou os movimentos do espião. Os investigadores chegaram até a comprar uma casa vizinha à dele, na tentativafan tan cassinoverificar se ele ainda estava na ativa.

No final, foi o próprio Barsky quem entregou o jogo durante uma discussão comfan tan cassinoesposa, Penelope. O FBI havia colocado grampos na casa do espião e a conversa foi gravada.

"Estávamos na cozinhafan tan cassinocasa, e eu tentava salvar nosso casamento, explicando o tamanho do sacrifício que tinha feito para ficar com Chelsea e com ela. Então, disse: 'aliás, quer saber o que eu fiz? Eu sou alemão. Trabalhava para a KGB. Eles me disseram para voltar para casa, mas eu fiquei aqui com vocês, e isso foi muito perigoso para mim. Esse foi o meu sacrifício'."

O apelo não funcionou - Barsky e a esposa acabaram se separando. E a confissão do agente secreto deu ao FBI as provasfan tan cassinoque precisavam para prendê-lo. O espião foi paradofan tan cassinouma noite, a caminhofan tan cassinocasa, após passar por um pedágio na Pennsylvania.

Após sair do carro, foi abordado por um homem vestido à paisana e segurando uma carteira do FBI. "Agente especial Reilly, FBI. Queremos converser com você." "Eu sabia que a brincadeira tinha chegado ao fim", disse Barsky. Ainda assim,fan tan cassinotípico estilo James Bond, perguntou : "Por que vocês demoraram tanto?"

Em interrogatórios, Barsky acabou dando a Joe Reilly e seus colegas a maior quantidade possívelfan tan cassinoinformações a respeito das operações da KGB. Mas temia ser mandado para a prisão e se preocupava com o futuro da família americana.

O espião teve sorte. Depoisfan tan cassinoser avaliado por um detectorfan tan cassinomentiras, foi liberado. E o que é ainda mais surpreendente, o FBI disse que ia ajudá-lo a conseguir um passaporte americano.

Joe Reilly tornou-se seu melhor amigo e até visitou os pais do verdadeiro Jack Barsky, agora bastante idosos. O casal concordoufan tan cassinomanter sigilo sobre o fatofan tan cassinoque a identidade do filho havia sido roubada.

Hoje, Barsky é casado pela terceira vez e tem mais uma filha, ainda pequena. Encontrou Deus, frequenta a igreja e conseguiu inclusive se reconectar com o filho Matthias, que deixou para trás, na Alemanha. Sua ex-esposa alemã, no entanto, recusa contato com ele. "Finalmente posso viver a vida que sempre quis. Tenho muita sorte."

Talvez a grande ironia na históriafan tan cassinoJack Barsky seja o fatofan tan cassinoque ele só conseguiu cumprir a missão que a KGB deu a ele - obter cidadania e passaporte americanos - com a ajuda do FBI. "Até que eu gostariafan tan cassinome encontrar com um dos caras com quem trabalhei e dizer, 'Viu só? Consegui!'."