De crime a arte: a história do grafite nas ruasroleta shopeeSão Paulo:roleta shopee
Nos anos seguintes, ele encheu os muros da capitalroleta shopeeararas e frangos que pediam Diretas Já, o slogan do movimento por eleições diretas no final da ditadura.
Vallauri influenciou outros artistas a ocuparem as ruas da capital paulista e a dataroleta shopeesua morte - 27roleta shopeemarçoroleta shopee1987 - é lembrada como o Dia do Grafite no Brasil.
O aniversárioroleta shopee30 anos da data,roleta shopee2017, criou nos artistas a expectativaroleta shopeeque este seria um anoroleta shopeevalorização do trabalho que fazem na cidade.
No entanto,roleta shopee14roleta shopeejaneiro, o novo prefeito da capital paulista, João Doria Jr. (PSDB), anunciou que seria apagados os painéis da avenida 23roleta shopeeMaio, como parte do programa "São Paulo Cidade Linda".
A decisão provocou críticas dos artistas e dividiu opiniões entre especialistasroleta shopeearte urbana.
Grafitódromo
Com a polêmica gerada após a ação, a Secretaria da Culturaroleta shopeeSão Paulo afirmou que pretende cria uma área para grafiteiros e muralistas no bairro da Mooca, na zona lesteroleta shopeeSão Paulo, chamadaroleta shopeegrafitódromo. Segundo Doria, assim como a arte fica nos museus, o grafite também deve ficarroleta shopee"lugares adequados".
A ideia é inspiradaroleta shopeeWynwood, um bairroroleta shopeeMiami que abriga painéis e muraisroleta shopeearte urbana, assim como a vendaroleta shopeeprodutos licenciados para viabilizar o negócio.
"Doria não precisa olhar para Miami para intervir nas artesroleta shopeerua. O mundo é que olha para nós. São Paulo sempre foi a capital do grafite mundial", afirma Rui Amaral, autor do primeiro grafite pintado à mãoroleta shopeeSão Paulo,roleta shopee1982.
Para o artista plástico Jaime Prades, que também fez parte da primeira geraçãoroleta shopeegrafiteiros, o grafitódromo representa um limite para liberdaderoleta shopeeexpressão. "É uma visão paternalista que quer impor o que considera 'certo'. Logo, o grafite é algo errado, que tem que ser contido e controlado", diz.
"Mas nesse caso, não seria mais grafite, já que a alma do grafite é interagir com a cidade livremente."
A prefeitura também informou que criará um programaroleta shopeegrafite, que terá início com a criação, na rua Augusta, do Museuroleta shopeeArteroleta shopeeRua (MAR), no qual 150 artistas terão seus painéis expostos por até três meses.
"Criar um distrito para o grafite pode ser interessante, pois daria total liberdade para aqueles artistas exercitaremroleta shopeearte. Seria necessário verificar quais seriam estes critérios para estabelecer o local certo. Eles teriam que ser ouvidos e a população também", defende o arquiteto João Graziosi, professorroleta shopeeArquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie.
Graziosi diz, no entanto, que a criação do grafitódromo não deve excluir outros locais da cidade possíveis para os murais e grafites. "Os painéis da 23roleta shopeemaio, assim como a parteroleta shopeebaixoroleta shopeeviadutos e uma sérieroleta shopeeparedes cegas existentes na cidade ficaram bem melhores com a intervenção artística, por exemplo. Acho que deveriam continuar a existir."
Já para a arquiteta e professora Ana Cláudia Scaglione Veiga Castro, da Faculdaderoleta shopeeArquitetura e Urbanismo da USP, "a ideiaroleta shopeegrafitesroleta shopee'lugares adequados' pareceria inadequada se não fosse trágica".
"Trata-seroleta shopeeuma espécieroleta shopeeaçãoroleta shopeemarketing que busca dar visibilidade a essa ideiaroleta shopeeprefeito-gestor, aquele que administra a cidade como se esta fosse uma empresa. Nesse caso, o 'gerente' da empresa quer dar um exemplo para seus 'funcionários e clientes'roleta shopeeque não se deve sujar as paredes."
Grafite x pichação
A discussão sobre o grafite como arte ou como vandalismo, segundo Rui Amaral, reflete o modo como cada gestão pública entende essas intervenções urbanas.
A autorização para fazer intervenções na avenida 23roleta shopeeMaio, por exemplo, era pedida pelos artistas desde a gestãoroleta shopeeJânio Quadros (1986 a 1989), mas foi autorizada somente no fim da gestãoroleta shopeeFernando Haddad (PT),roleta shopee2016.
"A avenida 23roleta shopeeMaio foi o ápice do movimento artístico urbano paulistano", relembra Amaral, que é responsável pelas gravuras do buraco da av. Paulista, desenhados pela primeira vez,roleta shopeeforma ilegal,roleta shopee1989 e legalizadosroleta shopee1991 pela gestãoroleta shopeeLuiza Erundina (PT).
Até 2011, o grafiteroleta shopeeedifícios públicos era considerado crime ambiental e vandalismoroleta shopeeSão Paulo. A partir daquele ano, somente a pichação continuou sendo crime.
De um modo geral, a pichação - que costuma trazer frasesroleta shopeeprotesto ou insulto, assinaturas pessoais ouroleta shopeegangues - é considerada uma intervenção agressiva e que degrada a paisagem da cidade. O grafite, porroleta shopeevez, é considerado arte urbana.
Para o sociólogo Alexandre Barbosa Pereira, pesquisadorroleta shopeeAntropologia Urbana da Unifesp, a dissociação entre grafite e pichação contribuiu para que o grafite começasse a ser aceito, mas apenas como formaroleta shopeecombate ao picho.
O pesquisador lembra que uma das justificativas da gestão Doria para apagar os painéis da 23roleta shopeeMaio era a presençaroleta shopeepichação sobre eles.
"O grafite, mais associado à arte, é mais facilmente entendido como formaroleta shopeeação do Estado e mesmo do mercado, já a pichação, execrada pela maioria da população, é uma máquinaroleta shopeeguerra, nômade e difícilroleta shopeeser capturada. Assim, fica mais fácil criminalizar esta e mesmo criar certo pânico moralroleta shopeetorno dela como formaroleta shopeemarketing político e publicidade pessoal."
Outro efeito da decisãoroleta shopeelegalizar somente o grafite, segundo Rui Amaral, é a confusão entre os conceitosroleta shopeegrafite, pichação e muralismo.
De acordo com o artista, foi o que aconteceu na decisão do atual prefeitoroleta shopeeapagar os painéis da avenida 23roleta shopeeMaio. "O que havia na 23roleta shopeeMaio eram murais, e não grafite. Os murais são painéis autorizados e encomendados", afirma.
"(A artista plástica japonesa naturalizada brasileira) Tomie Ohtake também tem painéisroleta shopeeespaços públicos e duvido que a gestão pública mexeria na obra dela sem consultar os responsáveis."
A artista plástica Bárbara Goys, autoraroleta shopeeum dos painéis apagados da 23roleta shopeeMaio, diz que ação contra as obras é "um tiro no pé". "Por trásroleta shopeeum grafite existe uma história que não pode ser ignorada", diz.
"A própria capital criou um guia mapeando os grafites na cidade. Não sei como será agora, talvez tenham que refazer este guia. E, infelizmente, agora a avenida 23roleta shopeeMaio perde o títuloroleta shopeemaior mural a céu aberto da América Latina."
Do erudito ao popular
Qual é exatamente a origem do grafiteroleta shopeeSão Paulo? Para acadêmicos, ele é fruto dos jovens do movimento hip hop que nasceu na periferia da capital. Mas para alguns dos pioneiros da arteroleta shopeerua na cidade, o grafite paulistano nasceuroleta shopeemovimentos artísticos consagrados, que foram trazidos para um contexto público e urbano.
Segundo o sociólogo Sérgio Miguel Franco, os primeiros desenhos que apareceram na capital eram influenciados pelas culturas negra e latina e traziam consigo um traço marginal. "O grafite foi um espelho próspero para a cultura desenvolvida pelos jovensroleta shopeeorigem periférica da cidade."
Para o artista Prades, os 20 anosroleta shopeecensura e isolamento cultural imposto pela ditadura militar fizeram com que os grafiteiros que passaram a ocupar as ruas na décadaroleta shopee1980 se inspirassem na obra dos artistas plásticos da geração dos anos 1960.
"O pensamento que alimentava as açõesroleta shopeearte nas ruas era fruto da nossa tradição modernista, da anarquia antropofágica, da poética neoconcretista, da irreverência inspiradoraroleta shopeeFlavioroleta shopeeCarvalho, Waldemar Cordeiro, Lygia Pape, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Artur Barrio, Nelson Leirner, Mira Schendel e muitos outros", conta.
Prades era membro do Tupinãodá, um dos primeiros gruposroleta shopeeartistas grafiteiros do Brasil. O coletivo, responsável pela ocupação do Beco do Batman, na Vila Madalena, escolhia lugares públicos considerandoroleta shopeerelevância para a cidaderoleta shopeeSão Paulo.
"Evitamos sair por aí pintando nas paredes das casas das pessoas, não fazia sentido. Quando decidíamos pintar, escolhemos espaços públicosroleta shopeegrande impacto urbano", afirma.
"Era uma catarse, um gritoroleta shopeejovens artistasroleta shopeeuma geração esmagada pela brutalidade insana e truculenta da ditadura. Artistas que não trilharam o caminho da formalidade e que, ao perceberem a dificuldaderoleta shopeeencaixar-se no sistema da arte, procuraram encontrar o seu próprio espaço."