‘Está tudo nasport x ponte pretacabeça’: o preconceito contra doenças cuja causa é emocional e não física:sport x ponte preta

Dra. Suzanne O'Sullivan

Crédito, Suzanne O'Sullivan

Legenda da foto, Neurologista Suzanne O'Sullivan se interessou pelas doenças psicossomáticas quando verificou que não havia uma causa física para os sintomassport x ponte pretavários dos seus pacientes

Sucessivas lavagens não aliviaram a dor e a irritação dos olhos, nem lhe devolveram a visão.

Os examessport x ponte pretaYvonne nos seis meses seguintes, no entanto, tiveram o mesmo resultado: a cegueira não tinha nenhuma causa física.

Os médicos concluíram então que a deficiência visual dela erasport x ponte pretaorigem psicossomática. Ou seja: era a manifestação físicasport x ponte pretaestresse emocional.

Arte do corpo humano

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Legenda da foto, A neurologista escreveu um livro premiadosport x ponte pretaque relata sete casos que tratou no seu consultório

Livro premiado

Yvonne foi uma das primeirassport x ponte pretauma longa relaçãosport x ponte pretapacientes com problemas psicossomáticos que a O'Sullivan viusport x ponte preta20 anossport x ponte pretacarreira.

A história dela e asport x ponte pretaoutros seis pacientes estão no livro It's All in Your Head: True Stories of Imaginary Illness ("Está tudo nasport x ponte pretacabeça: Histórias reaissport x ponte pretadoenças imaginárias", em tradução livre), escrito pela médicasport x ponte preta2015.

A obra ganhou no ano passado o prestigiado prêmio literário britânico Wellcome Book Prize.

Homem

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Legenda da foto, As doenças psicossomáticas são imaginárias, mas os seus sintomas são reais

A neurologista falou sobre o livro na 11ª edição do Hay Festival, um dos eventos literários anuais mais importantes do mundo hispânico, que acontece até o próximo dia 29 na cidadesport x ponte pretaCartagena, na Colômbia.

Os outros pacientes, que chegaram ao seu consultório frustrados após procurarem diversos especialistas que não conseguiram chegar a um diagnóstico, apresentavam sintomas tão graves quanto ossport x ponte pretaYvonne: alguns estavamsport x ponte pretacadeirassport x ponte pretarodas, outros tinham inflamações, se queixavamsport x ponte pretadores, paralisia, desmaios e convulsões.

Doenças que todo mundo pode ter

Esses pacientes tinham algosport x ponte pretacomum: a faltasport x ponte pretauma explicação médica para seus sintomas. E a grande maioria se negava a aceitar que a doença erasport x ponte pretaorigem psicológica.

Mas não foi por acaso que eles procuraram a O'Sullivan.

É uma situação que se repetesport x ponte pretaquase todos os consultórios, disse a especialista à BBC Mundo, o serviçosport x ponte pretaespanhol da BBC.

"Dedico grande parte do meu tempo a pacientes com convulsões e,sport x ponte pretageral, um terço das pessoas que atendo sofresport x ponte pretaconvulsõessport x ponte pretaorigem psicológica. Mas,sport x ponte pretaacordo com estudos,sport x ponte pretaoutras especialidades médicas um terço dos pacientes também apresenta sintomassport x ponte pretaordem psicológica", disse O'Sullivan.

Estas doenças não são um mal típico da sociedade contemporânea - embora a internet ajude com a grande quantidadesport x ponte pretainformação disponível sobre enfermidades e seus sintomas - nem fazem distinção entre ricos e pobres.

"Isso acontecesport x ponte pretatodo o mundo", afirma a neurologista.

Ela lembrou que um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), feito há alguns anos, demonstrou que a incidênciasport x ponte pretadoenças cujos "sintomas carecemsport x ponte pretaexplicação médica" é praticamente idênticasport x ponte pretaquase todos os países, independentementesport x ponte pretaserem desenvolvidos ousport x ponte pretadesenvolvimento e do acesso da população aos serviçossport x ponte pretasaúde.

Sintomas reais

Foi exatamente essa proporção alarmante que fez a neurologista se interessar pelo assunto e, mais tarde, contarsport x ponte pretaexperiência no livro.

A obra é um relato humano e cheiosport x ponte pretacompaixão das históriassport x ponte pretaalguns dos seus pacientes e das dificuldades da neurologistasport x ponte pretatrabalhar nessa área da medicina, estigmatizada pela sociedade.

Suzanne O'Sullivan

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Legenda da foto, 'Todos lidamos com o estressesport x ponte pretaformas diferentes', diz O'Sullivan

"Nosso corpo produz o tempo todo sintomas físicossport x ponte pretaresposta a emoções. Muita gente fica com as mãos trêmulas ao fazer uma apresentaçãosport x ponte pretapúblico, outras pessoas sentem o coração disparar se estão ansiosas e há ainda as que ficam coradas quando sentem vergonha", diz O'Sullivan.

"É algo que acontece com todos nós. Mas eu não poderia dizer por quesport x ponte pretaalguns indivíduos esse mecanismo decide criar uma patologia. O que ocorre é que todos lidamos com o estressesport x ponte pretaformas diferentes", continua.

Também não conseguimos escaparsport x ponte pretatais sintomas da mesma forma que evitamos uma gripe (usando mais agasalhos no frio) ou uma lesão muscular (aquecendo o corpo antessport x ponte pretacorrer).

"Não podemos evitar os sintomas físicos diantesport x ponte pretauma situaçãosport x ponte pretaestresse", explica a médica.

"O que podemos fazer é evitar que eles se transformemsport x ponte pretaalgo incapacitante. Você pode reconhecer os sintomas e alterar a resposta do seu organismo."

Embora não exista uma causa física, não se deve duvidar que os sintomas são reais para o paciente e que a consequência deles pode ser uma incapacidade devastadora.

'Você não tem nada'

E é justamente a faltasport x ponte pretauma origem física que historicamente fez a medicina subestimar esse tiposport x ponte pretadistúrbio.

Ilustraçãosport x ponte pretaduas cabeças

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Legenda da foto, O'Sullivan admite que a medicina tem subestimado os problemas psicossomáticos

Isso também pode ser visto na linguagem dos médicos ao falar sobre os males psicossomáticos.

"Se uma pessoa tem um problema, mas os seus exames são normais, costumamos dizer que ela não tem nada", afirma O'Sullivan.

"Nós, médicos, somos treinados para nos concentrarmos nas doenças, para encontrá-las. Quando examinamos um paciente, estamos preocupadossport x ponte pretanão deixá-las escapar. Se atendo alguém e não percebo que a pessoa tem uma doença, isso vai gerar muitas recriminações", acrescenta.

A atenção dos médicos está tão concentrada nas doenças que, quando elas são descartadas, seu trabalho é dado por encerrado.

E foi a faltasport x ponte pretaatenção e importância dada a esses males que contribuiu para criar um estigmasport x ponte pretatorno das doenças psicossomáticas.

Por isso, é muito difícil para o paciente aceitar o diagnóstico, que geralmente é recebido como se fosse um insulto.

Um diagnóstico que ninguém quer ouvir

Mas até que ponto essa não é uma saída fácil para rotular qualquer doença para a qual a medicina ainda não tem uma resposta?

Esse é o temor mais comum dos pacientes, segundo O'Sullivan.

Homemsport x ponte pretacadeirasport x ponte pretarodas

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Legenda da foto, A médica conta ter recebido no seu consultório pacientes que chegaram a ficar paralisados por causasport x ponte pretaproblemas psicossomático

"No entanto, o diagnóstico é extremamente preciso. Em neurologia é muito fácil fazer medições do sistema nervoso. Há uma grande diferença entre alguém com uma paralisia ou uma convulsão psicossomática e alguém com uma doença no cérebro", explica.

"Isso permite que o médico faça um diagnóstico confiável."

Mas quando há a suspeitasport x ponte pretaque uma doença possa ser psicossomática, o processo é outro: "A doença vai se revelando, trazendo evidências objetivas com o passar do tempo".

Por outro lado, estudos a longo prazo demostraram que o percentualsport x ponte pretadiagnósticos equivocados ésport x ponte pretaapenas 4%.

Terapia nem sempre resolve

A maior parte dos pacientes que aparece no livrosport x ponte pretaO'Sullivan foi encaminhada ao seu consultório por um psiquiatra.

No entanto, a neurologista explica que o tratamento psiquiátrico ou psicológico não é necessariamente indicadosport x ponte pretatodos os casossport x ponte pretadoenças psicossomáticas.

Casalsport x ponte pretaterapia

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Legenda da foto, Nem todo distúrbio psicossomático deve ser encaminhado para psicólogos ou psiquiatras, segundo a neurologista

"O tratamento dependesport x ponte pretacada indivíduo e das causas dos sintomas. Em algumas pessoas, os sintomas surgem depoissport x ponte pretaum trauma psicológico. Neste caso, a indicação ésport x ponte pretaterapia psicológica ou psiquiátrica", explica.

"Mas, para outros pacientes, os sintomas não estão relacionados a um trauma específico. Podem estar ligados à maneira como encaram uma lesão ou uma doença", acrescenta.

"Assim, essas pessoas não precisamsport x ponte pretaajuda psicológica profunda, massport x ponte pretauma terapia física que as ajudem a treinar seu corpo para retornar à vida normal ousport x ponte pretaterapia cognitiva-comportamental para superar o medo que sentemsport x ponte pretavoltar a viver sem a doença."

Construindo uma ponte

Embora o tratamento das doenças psicossomáticas fuja do campo da neurologia, O'Sullivan não pretende se dedicar à psiquiatria.

"O problema é que esses pacientes não vão a um psiquiatra, porque seus sintomas são físicos. Eles procuram o clínico", diz a neurologista.

"Por isso, precisamossport x ponte pretamédicos que façam uma ponte entre a neurologia e a psiquiatria. Precisamossport x ponte pretaneurologistas que estejam interessados neste problema, já que é a eles que os pacientes procuram."

Neste sentido, ela afirma que nos últimos cinco anos houve um crescimento do interesse entre os neurologistas, o que pode trazer avanços para o conhecimento na área, criar uma aceitação maior do problema e assim, aos poucos, poderá diminuir o estigma.

A históriasport x ponte pretaYvonne - a paciente com cegueira emocional que despertou o interessesport x ponte pretaO'Sullivan pelas doenças psicossomáticas - teve um final feliz.

Depoissport x ponte pretaseis mesessport x ponte pretatratamento psiquiátrico e terapia familiar, ela finalmente voltou a enxergar.