'Luta deve continuar sem armas', diz ex-guerrilheira que foi perseguida pelas Farc:aposta gratis aviator betano

Crédito, Débora Silva

Legenda da foto, Sandra diz ter deixado as Farc porque estava "sem saída" e quer entrar na política para lutar por direitosaposta gratis aviator betanoex-combatentes

Após quatro anosaposta gratis aviator betanonegociaçõesaposta gratis aviator betanoHavana, Cuba, e três fracassosaposta gratis aviator betanogovernos anteriores, os dois lados estabeleceram as bases para iniciar o processoaposta gratis aviator betanopaz - que precisará ser confirmado no plebiscito nacional deste domingo.

Segundo as pesquisas, o "sim" lidera. Para que o acordo seja ratificado, o governo necessita do apoioaposta gratis aviator betanopelo menos 13% dos eleitores registrados da Colômbia, ou cercaaposta gratis aviator betano4,5 milhõesaposta gratis aviator betanopessoas.

As Farc inclusive afirmaram no sábado que vão indenizar materialmente as vítimas do conflito, no âmbito do acordo.

Mas a resistência dos grupos conservadores, liderada pelo ex-presidente Álvaro Uribe, divide a sociedade colombiana. Para eles, o acordo favorece as Farc e prevê sentenças "muito reduzidas" para ex-guerrilheiros que cometeram crimes graves. Eles também criticam a anistia para crimes considerados mais leves e a autorização para que ex-membros das Farc sejam eleitos.

Os apoiadores do acordo reforçam que a guerra já causou muitos estragos e que o voto pelo "sim" é um passoaposta gratis aviator betanodireção à construção da paz.

"Chegou a horaaposta gratis aviator betanocolocar um fim nessa guerra e continuar nossa luta sem armas", opina Sandra, que pretende ingressar na política para "lutar por direitosaposta gratis aviator betanoex-combatentes".

'Limbo'

Quando se entregou às autoridades colombianas,aposta gratis aviator betano2003, Sandra não tinha a intençãoaposta gratis aviator betanodeixar o grupo.

Ela havia pedido autorização às Farc para "deixar a selva temporariamente para tratar uma gripe mal curada". Aproveitou a licença temporária para visitaraposta gratis aviator betanofilha, fruto da relação que teve com um guerrilheiro quando ainda servia como miliciana na cidade.

Sua saída prolongada da selva causou desconfiançaaposta gratis aviator betanoparteaposta gratis aviator betanomembros do grupo, que começaram a persegui-la. Ao mesmo tempo, ela estava sendo caçada pelas autoridades.

"Fiquei num limbo jurídico, sem saber o que fazer", relembra Sandra. Na época, a política do então presidente Álvaro Uribe para o conflito era a saída militar, e não negociada. As alternativas à luta armada eram a rendição ou a morte.

"Sem saída", ela se entregou às autoridades e se incorporou ao programaaposta gratis aviator betanoreintegração social estabelecido pelo governo colombiano para incentivar as deserções.

Crédito, AFP

Legenda da foto, Acordoaposta gratis aviator betanopaz assinado por governo e guerrilha na segunda-feira precisará ser ratificadoaposta gratis aviator betanoplebiscito

Carta às Farc

O primeiro contatoaposta gratis aviator betanoSandra com a guerrilha ocorreu aos 11 anosaposta gratis aviator betanoidade, quando decidiu escrever uma carta para um comandante das Farc, solicitando ingresso voluntário.

Fazer parte das fileiras das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, o maior grupo rebelde do país, era uma formaaposta gratis aviator betano"fugir da realidade que estava vivendo", relembra Sandra, hoje com 36 anos.

De origem camponesa, ela cresceu numa comunidade indígena no departamentoaposta gratis aviator betanoCauca, território com grande incidência guerrilheira.

Crédito, Débora Silva

Legenda da foto, Saídaaposta gratis aviator betanoSandra da floresta para se recuperaraposta gratis aviator betanodoença e visitar filha foi interpretada como deserção por membros da guerrilha

Criada pelos avós, teve uma infância marcada por pobreza e trabalho duro. Mas o que levou a jovem a deixaraposta gratis aviator betanocasa foi a violência sexual que sofreu desde pequena. "Os abusos vieramaposta gratis aviator betanoquatro ou cinco pessoas muito próximas à minha família", relata Sandra.

"Começou quando eu era muito pequena e foi até meus 11 anos, quando tomei a decisãoaposta gratis aviator betanome defender."

Não demorou muito até queaposta gratis aviator betanocarta fosse respondida por um comandante das Farc. "Ele disse que eu era muito jovem, teria que esperar."

Enquanto esperava, Sandra tornou-se ativista e passou a defender o direito e o acesso ao territórioaposta gratis aviator betanosua comunidade indígena. Em protestos e assembleias, conta a ex-guerrilheira, aprendeu sobre a política e a história da Colômbia.

Aos 17 anos, quando "finalmente" foi recrutada pelas Farc, o desejoaposta gratis aviator betanoentrar para a guerrilha continuava forte, mas suas razões haviam mudado. Agora, desejava combater para "mudar a realidade do país".

"Eu achava que a pobreza que eu vivia era a única que existia", diz Sandra. "Mas foi nas montanhas da Colômbia que eu presenciei a real miséria que existe no meu país."

Somos todos vítimas'

Sua entrada oficial na guerrilha ocorreuaposta gratis aviator betano1997. Iniciou como miliciana, conta, e após dois anos foi transferida para a selva. Nas Farc, Sandra recebeu uma formação políticaaposta gratis aviator betanoinspiração marxista, aprendeu sobre igualdadeaposta gratis aviator betanogênero e chegou a se tornar comandante.

Sandra conheceu seu atual companheiro, Jhon Jairo Romero,aposta gratis aviator betanoBogotá, seis anos após desmobilizar-se. Na época, trabalhava como gestoraaposta gratis aviator betanoprojetos sociais e tinha como desafio reconciliar pessoas deslocadas pelo conflito, ex-guerrilheiros, ex-paramilitares e vítimas da guerra.

O primeiro contato do casal aconteceuaposta gratis aviator betanouma reunião comunitária. Sandra diz ter encontrado na históriaaposta gratis aviator betanoJhon semelhanças com aaposta gratis aviator betanoprópria trajetória.

Assim como Sandra, Jhon cresceu num território rural dominado por guerrilhas e teve uma infância na pobreza. A única diferença entre os dois, diz Sandra, é que ele optou por uma juventude longe das armas.

Aos 15 anos, Jhon e seu irmão fugiram para Bogotá para se proteger das Farc, que os perseguia com intençãoaposta gratis aviator betanorecrutá-los. Eles não imaginavam, porém, que a vida na capital seria outro tipoaposta gratis aviator betanobatalha.

"Chegaram aqui sem comida, moradia nem emprego e tiveram que começaraposta gratis aviator betanovida do zero", conta Sandra. Atualmente, o casal vive numa casa precáriaaposta gratis aviator betanotrês cômodos na periferiaaposta gratis aviator betanoBogotá, juntamente com suas duas filhas - além das duas filhas mais velhasaposta gratis aviator betanoSandra, que são frutosaposta gratis aviator betanosua relação anterior.

"A sociedade não entende que somos todos vítimas", diz Sandra. "Meu companheiro foi deslocado por causa das Farc e eu estou deslocada porque lutei para mudar a realidadeaposta gratis aviator betanomeu país", conta a ex-guerrilheira, que optou por não retornar ao seu territórioaposta gratis aviator betanoorigem por questãoaposta gratis aviator betanosegurança.

A aprovação do acordoaposta gratis aviator betanopaz no plebiscitoaposta gratis aviator betanodomingo, diz ela, aumentaria suas chancesaposta gratis aviator betanorevisitaraposta gratis aviator betanocidade natal.

Crédito, AP

Legenda da foto, Apesaraposta gratis aviator betanocelebrado pelo governo, acordoaposta gratis aviator betanopaz é criticado por "beneficiar as Farc", segundo grupos conservadores

Sociedade dividida

O governoaposta gratis aviator betanoJuan Manuel Santos alertou que não existe um plano B nem a possibilidadeaposta gratis aviator betanorenegociação com as Farc caso o "não" vença nas urnas. Mas a vitória do "sim" não significa que a paz será restabelecida na Colômbia da noite para o dia. O conflito marcou muitas vidas e deixou grandes sequelas na sociedade.

Para muitos colombianos, a possibilidadeaposta gratis aviator betanoum acordoaposta gratis aviator betanopaz, ironicamente, traz memórias sombrias do passado. Durante negociações na décadaaposta gratis aviator betano1980, membros da guerrilha se uniram ao partido político União Patriótica (UP) e milhares deles foram assassinados por grupos paramilitaresaposta gratis aviator betanoextrema direita.

Em umaposta gratis aviator betanoseus discursos recentes, Santos chegou a admitir publicamente o papel do governo nos assassinatos, reconhecendo que não foram tomadas medidas necessárias para prevenir o que muitos consideram um "genocídio político".

Já as sequelas causadas pelas Farc incluem sequestroaposta gratis aviator betanomilharesaposta gratis aviator betanopessoas, extorsão e tráficoaposta gratis aviator betanodrogas - meios que o grupo utilizou para financiar suas cinco décadasaposta gratis aviator betanoconflito.

Esses atos, que direta ou indiretamente tocaram muitas famílias, deixam colombianos divididosaposta gratis aviator betanoimportantes questões relacionadas ao acordoaposta gratis aviator betanopaz. A reintegraçãoaposta gratis aviator betanorebeldes à sociedade é uma delas.

Enquanto parte da população está otimista e acredita que o retorno dos guerrilheiros à vida civil trará mais benefícios do que problemas, muitos ainda estão preocupados com a ideiaaposta gratis aviator betanoviveraposta gratis aviator betanomeio a ex-combatentes.

Se o acordo for ratificado, aproximadamente 7 mil membros da Farc deverão entregar suas armas à ONU ao longo dos próximos seis meses.

"É importante que a sociedade se comprometa a não estigmatizá-los ou rejeitá-los", afirma Joshua Mitrotti, diretor da Agência Colombiana para Reintegração (ACR), entidade encarregadaaposta gratis aviator betanoassistir os desmobilizados no retorno a sociedade civil.

"Essa não é uma históriaaposta gratis aviator betanobons ou maus, e sim uma história complexa que nós colombianos vivemos", opina Mitrotti.