América Latina deve ter 'lideranças mais fracas e ciclos políticos mais curtos', diz analista argentino:candy casino

Presidentes Pedro Pablo Kuczynski, Michel Temer e Maurício Macri

Crédito, AFP l Reuters

Legenda da foto, Analista colocacandy casinoquestão a forçacandy casinoPKK, no Peru, Temer, no Brasil, e Macri, na Argentina, para fazer mudanças

candy casino Marcelo Cavarozzi - Acho que existem pontoscandy casinocomum no casocandy casinoBrasil e Argentina. Mas o Peru é diferente: nesta eleição, como na anterior, as forças políticas queriam impedir que (a candidata) Keiko Fujimori chegasse à Presidência. Muitos votaramcandy casinoPedro Pablo Kuczynski (conhecido como PPK) para que Keiko não ganhasse - e ele, como seus antecessores ao longo da história peruana, será um presidente fraco, sem capacidadecandy casinomudar nada.

candy casino BBC Brasil - Por quê? Pelo resultado eleitoral?

candy casino Cavarozzi - Ele foi eleito sem apoiocandy casinoforça partidária, com um Congresso opositor (a maioria do Parlamento é ligada a Keiko), e curiosamente, apesarcandy casinoser um liberal apoiado pelo eleitoradocandy casinodireita, recebeu apoio da esquerda. O Peru tem uma história diferente do Brasil e da Argentina, que têm trajetóriascandy casinoEstados mais consolidados.

Marcelo Cavarozzi

Crédito, Daniel Amaya

Legenda da foto, Marcelo Cavarozzi avalia que América latina passa por um períodocandy casinotransição na política

candy casino BBC Brasil - Mas apesarcandy casinoperfis diferentes, nos três casos - Brasil, Argentina e Peru - os resultados foram mais apertados nas últimas eleições. Foi o eleitor que mudou? Por que um líder já não reúne mais a maioria dos votos como ocorreu até recentemente?

candy casino Cavarozzi - No Peru não havia nenhum líder que aglutinasse nada, nenhuma figura forte. Mas o problema, e nisso os três países se parecem, é que apesarcandy casinoa pobreza ter caído, a desigualdade se manteve. E quando o pobre é menos pobre e o rico é mais rico, essa percepção da desigualdade persistente gera indignação e rejeição política.

candy casino BBC Brasil - Decepção do eleitor com a política?

candy casino Cavarozzi - Mais que decepção, existe um desencanto com a política. E por mais que nestes anos tenham ocorrido melhoras para os setores populares, essa profunda desigualdade social contribui para a seguinte percepção: 'estou melhor graças ao meu esforço'.

candy casino BBC Brasil - Qual écandy casinopercepção hoje sobre a América Latina?

candy casino Cavarozzi - Sou pessimista. No início do século, parecia haver alternativas. (O ex-presidente colombiano Alvaro) Uribe era uma alternativa. De direita, mas uma alternativa. Mais claramente o PT, no Brasil, os Kirchner, na Argentina, o chavismo (na Venezuela). Evo (Morales), na Bolívia, apesarcandy casinoEvo estar indo muito melhor que o restante. Eles simbolizavam a mensagemcandy casinoque a política pode fazer algo. O fracasso destas experiências leva à pergunta: 'e agora, o quê'? Acho que estamos num períodocandy casinolonga transição, para onde não sabemos.

Michel Temer ao ladocandy casinoHenrique Meirelles

Crédito, AFP

Legenda da foto, Cavarozzi considera difícil que Temer termine seu mandato

candy casino BBC Brasil - Qual écandy casinoopinião sobre o Brasilcandy casinohoje, com Michel Temer na Presidência e Dilma Rousseff afastada?

candy casino Cavarozzi - Me parece complicado que Temer termine o mandatocandy casinodois anos. Evidentemente, antes, ele tem que conseguir o impeachment (de Dilma). Mascandy casinopouco tempo, ele já perdeu três ministros, incluindo ocandy casinoTransparência.

candy casino BBC Brasil - Vamos para um caminho mais democrático?

candy casino Cavarozzi - Acho que o risco que temos na América Latina, e por isso sou pessimista, é que a gente tenha mudanças rápidas, que nenhuma etapa política seja consolidada. Que é o que ocorre no Peru. Lideranças fracas e a dificuldade ou impossibilidadecandy casinoum líder fazer sucessor. Ciclos políticos curtos.

Maurício Macri

Crédito, AFP

Legenda da foto, Dificuldadecandy casinoCristina Kirchnercandy casinoencontrar sucessor 'favoreceu eleiçãocandy casinoMacri'

candy casino BBC Brasil - Uma fragilidade da política?

candy casino Cavarozzi - Exatamente. Nenhum projeto político que consiga ser consolidado.

candy casino BBC Brasil - Nacandy casinovisão, a política se enfraquece e a democracia também?

candy casino Cavarozzi - Claro. (São) democracias frágeis, que não conseguem se consolidar, mas sem ameaças do passado, como as militares.

candy casino BBC Brasil - Como são as democracias frágeis?

candy casino Cavarozzi - Não é que vai haver ruptura democrática macro, mas sim rupturas micro da democracia, como no México, onde por exemplo muitos territórios são governados por "máfias", quadrilhas, que fazem o que querem, e o Estado não demonstra capacidade política para recuperá-los.

O risco que temos hojecandy casinomuitos países da América Latina é mantermos uma crostacandy casinolegalidade democrática, mas que no fundo inclui estas máfias, estes governos paralelos e que têm a ver com a vida cotidiana das pessoas.

candy casino BBC Brasil - Um desgoverno?

candy casino Cavarozzi - Governos paralelos. E com Estados tão fracos, com políticos encurralados que dependem semprecandy casinoganhar a próxima eleição para continuar com apoio para governar.

candy casino BBC Brasil - O senhor acha que esses fatores estão vinculados - fragilidade da política, 'governos' paralelos e o desencanto eleitoral com a política?

candy casino Cavarozzi - Claramente. O eleitor percebe que a política não é capazcandy casinomelhorar acandy casinovida cotidiana, não é capazcandy casinoresolver questões fundamentais, como a segurança pública ecandy casinovida econômica.

candy casino BBC Brasil - O eleitor destes países ficou mais exigente? Mais informado?

Pedro Pablo Kuczynski

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Voto útil para evitar que Keiko Fujimori chegasse à Presidência ajudou Kuczynski a se eleger, diz Cavarozzi

candy casino Cavarozzi - Na minha opinião, não existe um eleitor comum, mas sim diferentes setores que votam por diferentes motivos. Eu acho que, no geral, o nívelcandy casinoinformação sobre a política, se você olhar as pesquisas regionais, mostram quecandy casinotodos os países é maior o desinteresse pela política. Isto é clarocandy casinotoda a América Latina.

Existe um desencanto com a políticacandy casinotodo o continente. Não importa se o governo foi ou écandy casinoesquerda oucandy casinodireita. Existe uma crise generalizada da política que ocorre também no Chile, onde o índicecandy casinoabstenção nas eleições é altíssimo e isso também está ligado ao desencanto com a política.

candy casino BBC Brasil - Quais seriam as razões para este desencanto?

candy casino Cavarozzi - Muitos setores da população constatam que a ação do Estado não mudacandy casinovida cotidiana. "O que faz o Estado?", perguntam. E se soma a isso a questãocandy casinoque praticamente todos os governos são corruptos, sejamcandy casinodireita ou esquerda, e acho que neste sentido a corrupção prejudica mais os governos que se dizem progressistas.

candy casino BBC Brasil - O que o senhor chamacandy casinogoverno progressista?

candy casino Cavarozzi - Quando (Hugo) Chávez, Lula, os Kirchner, Evo e (Rafael) Correa (do Equador) chegaram ao poder, muitos analistas, principalmente americanos, disseram que havia uma "guinada à esquerda da América Latina". Isso foi, pra mim, uma invenção. Tanto no Brasil como na Argentina houve algum movimento na política social, mas não se tocou (no sistema). Quando foram feitas as negociações estranhas envolvendo a Petrobras? Na décadacandy casino1990 e antes. Mas o PT não mudou (o esquema).

Há uma percepção generalizadacandy casinoque todos os políticos são corruptos, o que não é verdade. Certamente existem alguns que não são corruptos. É muito difícil hoje que um político se livre desta acusação. "Você está na política porque fará algocandy casinocorrupção".

candy casino BBC Brasil - Se o eleitor está decepcionado com o Estado, que não melhoracandy casinovida, e com os políticos porque os associa à corrupção, para onde caminhamos?

candy casino Cavarozzi - O panorama na América Latina é tétrico. Porque qualquer caminho político adotado não consegue convencer a maioria do eleitoradocandy casinoque a política serve.

Acho que, no caso do Brasil e da Argentina, os resultados também foram influenciados por erros na escolha dos candidatos. De parte tanto do PT, no Brasil, quantocandy casinoCristina Kirchner aqui na Argentina. Todos sabíamos que Dilma era uma candidata fraca, inclusive como resultadocandy casinosua primeira Presidência e pelo fatocandy casinoela ter sido eleita na primeira vez porque contava com o então prestígiocandy casinoLula.

Mas quando a situação ficou mais critica, ficou mais evidente que Dilma é uma pessoa pouco carismática, incapaz das negociações políticas, as quais Lula administrava bem, como no caso da relação com o PMDB ecandy casinooutros. No casocandy casinoCristina, do peronismo, e do chavismo existe outra dificuldade, acandy casinoencontrar sucessor.