O bairro da Venezuela onde as mães assumiram o poder e acabaram com a violência:sistema betano

Yanara Tovarsistema betanoCatuche

Crédito, BBC Mundo

Legenda da foto, Yanara Tovar é uma das mães que participou do processosistema betanopaz; hoje, seu filho não é mais um criminoso

"Não é que tenham ficado amigos, mas já não estão se matando", explica Tovar.

A solução

Durante as últimas décadas, crimes desse tipo transformaram a Venezuelasistema betanoum dos países mais inseguros do mundo.

Os quase 18 mil homicídios contabilizados pela Procuradoria-Geral da República no ano passado, metade do número divulgado por ONG especializadas, revelam uma nação assolada pela violência.

A maioria desses assassinatos se deusistema betanobairros populares,sistema betanomeio à luta por prestígio e pelo controlesistema betanoterritórios e onde as festas das sextas-feiras, um instrumento para demonstrar supremacia, podem terminarsistema betanomassacres.

Catuche,sistema betanoCaracas

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Legenda da foto, Em Catuche, próximo do centro da capital venezuelana, bandossistema betanoduas localidades estavamsistema betanoguerra

Alguns analistas atribuem a violência na Venezuela a uma ruptura do vínculo afetivo entre as mães e seus filhos, que se dá por diferentes motivos e tem como consequência a entrada desses jovens no mundo do crime.

"A família popular venezuelana é matriarcal, porque, diante da ausência ou intermitência da figura paterna, é a mãe quem impõe regras à vida familiar", explica o sacerdote jesuíta Alejandro Moreno, talvez o pesquisador do país que mais conheça os problemas dos bairros mais pobres.

Assim, o distanciamento entre a mãe e o filho faz com que os jovens se tornem criminosos. Ao mesmo tempo, Moreno argumentasistema betanoseu trabalho acadêmico que a solução para o poblema pode estar nas próprias mães venezuelas.

Essas mulheres seriam uma formasistema betanofazer com que os adolescentes deixassemsistema betanocopiar o "modelo do malandro", como são chamados os criminosos que integram estes bandos.

"Se você dá o controle do bairro para essa mãe, isso gera uma reação nos seus filhos, e foi isso que aconteceusistema betanoCatuche."

Mediadorasistema betanopaz

Catuche, bairrosistema betanoCaracas

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Legenda da foto, Doris Barreto mediou o acordo entre as mãessistema betanoCatuche

De fato: no bairro, as mães deixaramsistema betanoser cúmplices da violência e passaram a atuar como gestoras da paz.

Doris Barreto chegou a Catuche nos anos 1990, enviada por outro conhecido sacerdote jesuíta e atual reitor da Universidade Católica Andrés Bello, Francisco José Virtuoso.

A assistente social administra desde no bairro então a sede da organização católica Fé e Alegria.

"Tinha pânico quando cheguei. Os malandros paravam na porta da fundação para ver quem eu era. Passar por eles me dava calafrios", diz ela.

"Mas, uma semana depois, consegui que passassem a me dar bom dia, e, com o tempo, fui me dando contasistema betanoque, na verdade, eles queriam trabalhar pela comunidade, que consideravamsistema betanofamília, mas era preciso canalizar essa vontade."

Sentadasistema betanouma salasistema betanojantar que serve como salasistema betanoaulas, Barreto repete uma frase dita pelos rapazes que a marcou: "Para acabar com a violência, não é com a gente que você deve falar, mas com as velhas fofoqueiras". Ou seja, suas mães.

Catuche,sistema betanoCaracas

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Legenda da foto, O bairro venezuelano era um focosistema betanocriminalidadesistema betanoum dos países mais violentos do mundo

Barreto lembrou dessa frase quando uma dessas mães, que havia acabadosistema betanoter um filho mortosistema betanoum desses confrontos, propôs realizar uma assembleia entre os habitantessistema betanoLa Quinta e Portillo na fundação.

Acoselhada pelo padre Virtuoso, a assistente social aceitou, mas pediu que só a mães comparecessem. "Fizemos a reunião com umas dez mãessistema betanocada lado. Nesse dia, choramos, rezamos e nos abraçamos", recorda.

Em conjunto, decidiram que os integrantes dos bandos firmariam um acordosistema betanopaz com quatro pontos principais:

  • Quem descumprir o acordo será convocado para uma reunião;
  • Quem descumpri-lo três vezes será denunciado para a polícia;
  • Não se pode trazer estranhos para o bairro;
  • Não se pode acender isqueiros nas ruas (um sinal para abrir fogo contra o inimigo).

Barreto guardou o documentosistema betanoque o acordo foi firmado. Desde então, ninguém foi denunciado.

O valor da fofoca

Mas foram convocadas reuniões. Uma delas foi por causasistema betanoAdrián, filhosistema betanoYanara Tovar, que abre esta reportagem. Foi ela quem sugeriu a realização da assembleia a Barreto.

"Um dia chegou até mim uma fofocasistema betanoque meu filho estava vendendo drogas. Então, pedi às minhas comadres para investigarem, e elas confirmaram", conta ela.

"Logo, foi realizada uma reunião com ele sem minha participação. Deram uma semana para se desfazer da droga, e ele não voltou a vender."

Um jovem risonho e magro, com o rosto marcado por cicatrizes, Adrián trabalha hoje como motoboy.

Catuche,sistema betanoCaracas

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Legenda da foto, Processosistema betanopaz foi registrado por jovenssistema betanoum dos muros do bairro

A pedidosistema betanosua mãe, não solicitei uma entrevista a ele. "Adrián nunca tinha demonstrado intençãosistema betanoser um malandro", garante Tovar. "Mas o ambientesistema betanoque vivem esses rapazes exige isso deles. É a lei das ruas."

Ela admite: ainda que a violência tenha sido erradicadasistema betanoCatuche, o bairro não é imune aos problemas que vêm do restosistema betanoCaracas, considerada a cidade mais violenta do mundo.

"Às vezes, os rapazes entramsistema betanoconfronto com pessoassistema betanooutros bairros, mas já dissemos a eles que isso é um problema deles e da polícia", diz ela.

"Não podemos controlar toda a cidade, mas, ao menos aqui, não vamos permitir que deixem mais mães órfãs."

E, assim, essas mães conseguiram algo que nenhuma autoridade venezuelana havia conseguido: a obediência dos malandros.