Pesquisa revela que mais brasileiros enxergam corrupção onde antes viam 'jeitinho':apps de aposta
Isso significa que as pessoas estão sendo menos éticas? Não necessariamente.
Para Danilo Cersosimo, diretor na Ipsos Public Affairs e responsável pela pesquisa, o dado é sinalapps de apostaque há mais transparência nas respostas.
"Estamos vivendo um momentoapps de apostatransformaçãoapps de apostavalores. Não significa dizer queapps de apostauma hora para outra todo mundo vai começar a agirapps de apostaforma correta", diz. "Mas o contexto faz com que todos tenham que admitir pequenos ou grande deslizes."
Cersosimo cita um contexto que estaria colocando todos "contra a parede" e destaca a importância da Lava Jato como símbolo do combate à corrupção. Segundo outra pesquisa da Ipsos,apps de apostaabril 75% dos entrevistados achava que a operação iria transformar o Brasilapps de apostaum país sério.
"Quando as pessoas começam a ver que ações contra corrupção vão dar resultado, elas começam, quase como obrigação moral, a rever seus conceitos."
Ao lado da Lava Jato, a crise econômica e a pioraapps de apostacondiçõesapps de apostavida da população influenciariam numa mudançaapps de apostacomportamento. Em tempos difíceis, explica Cersosimo, quando é necessário sair do consultório privado e entrar na fila do SUS, a revolta com os desvios do dinheiro público cresce. Isso porque as pessoas passam a sentir na pele os prejuízos que a corrupção acarreta aos serviços do Estado.
O reflexo disso chegaria nas pequenas atitudes do dia a dia e na ligação, ainda que incipiente, entre o cotidiano e a grande corrupção dos políticos.
"Em partes, a pessoa está refletindo que os R$ 20 pro guarda no final das contas ajudam a manter esse modelo deformado, onde o político corrupto desvia R$ 300 milhões."
Segundo Cersosimo, prova da transformação na cabeça dos brasileiros seria a quantidadeapps de apostaentrevistados que acreditam que o "jeitinho" não é uma coisa certa: o número passouapps de aposta54% para 67%.
Além disso, neste ano, mais pessoas definiram fazer gatoapps de apostaenergia elétrica e passar conversa no guarda para não pagar multas, por exemplo, como corrupção (64% e 56%, respectivamente) e não como "favor" ou "jeitinho".
Em 2014, essam porcentagens eramapps de aposta58% e 45%, respectivamente. Apenas "guardar lugar na fila para alguém que vai resolver um problema" continuou no mesmo patamar - 53% o consideram um "favor".
Jeitinho na crise
O protagonismo dado à Lava Jato pelo diretor da Ipsos no aumento da prática do "jeitinho" não é consenso. Especialistas consultados pela BBC Brasil diminuem a relevância da operação nos resultados da pesquisa.
Para Rita Biason, coordenadora do Centroapps de apostaEstudos e Pesquisas sobre Corrupção da Unesp, mais gente está admitindo o jeitinho por causa da difícil situação econômica do país. Segundo ela, quanto mais bens e serviços são tirados da população, maior será o usoapps de apostaestratégias "alternativas" para se conseguir o que se quer.
"Pode haver mais consciênciaapps de apostaque o ato é reprovável, mas dadas as atuais circunstâncias, a pessoa se vê obrigada (a isso). Ela perdeu o emprego, perdeu o convênio médico, vai para fila do SUS e vai achar um jeitoapps de apostaser atendida."
Ela explica que o "jeitinho" fica numa categoria intermediária entre o favor, que não gera transgressão, e a corrupção, quando há o completo desrespeito às leis.
Apesarapps de apostaser uma "zona cinzenta", Biason afirma que o brasileiro sabe diferenciá-lo da ilegalidade: o jeitinho seria pessoal, quase uma camaradagem, e a corrupção, institucional.
Apesarapps de apostahaver mais consciência sobre os problemasapps de apostaagir fora das regras, a professora não acha que os brasileiros estejam mais atentos na relação entre seus desvios cotidianos e a corrupção dos políticos, por exemplo.
"As pessoas não veem conexão entre Brasília e o dia a dia, a prática da cidadania e as negociações no âmbito político. São coisas muito distantes."
Nesse sentido, investigações e prisões seriam absorvidas pela população "como uma esponja" e moldariam suas opiniões, mas não suas ações.
Biason vê isso no aumento do númeroapps de apostaentrevistados que respondeu "para que a coisas funcionem é preciso que todos cumpram a lei". A proporção foiapps de aposta76%apps de aposta2014 para 82%apps de aposta2016.
"O fatoapps de apostaalguém ser crítico não significa que não praticará o jeitinho, porque, para ele, são duas coisas desconexas."
Processo mais longo
Mudarapps de apostafato o comportamento do brasileiro perante a corrupção exige mais do que operações da Polícia Federal, diz o sociólogo Alberto Carlos Almeida, autorapps de apostaA Cabeça do Brasileiro.
Segundo ele, o costumeapps de apostanão seguir regras é muito arraigado no país e uma alteração, mesmo que inicial, não aconteceapps de apostaalguns anos. Aindaapps de apostaacordo com o Ipsos, 74% dos entrevistados afirmam que já "deram um jeitinho"apps de apostaalgum momento da vida.
"Isso vai durar só enquanto acontece essa coisa mais midiática. (Uma transformação) não aconteceapps de apostadois ou três anos por causaapps de apostauma operação. Quantas dessas já tivemos?"
Para Almeida, a sequênciaapps de apostainvestigações é até negativa, porque aumenta a descrença da população na política, para a qual não há outras alternativas. É como se estivéssemos prendendo todos os líderes do sistema sem ter um plano B.
"O melhor seria uma mudança mais lenta. Um combate à corrupção mais gradualista, com passos mais sólidos e mais difícilapps de apostaretroceder (nas conquistas). Quando você acelera muito, corre o riscoapps de apostavoltar atrás."
Seria necessário, portanto, mudar as leis e os sistemasapps de apostacontrole e não apenas criar operaçõesapps de apostacombate. Uma reforma estrutural, diz Almeida, minaria as causas da corrupção.
A coordenador da pesquisa da ONG Transparência Brasil, Juliana Sakai, vai na mesma linha. Para ela, as instituições deveriam tornar mais difícil a práticaapps de apostaatos ilícitos.
"Está todo mundo assustado com a Lava Jato, mas ela mesmo tem poucos mecanismosapps de apostainvestigação. A maioria dos casos éapps de apostadelação,apps de apostaalguém que irrompe do sistema. É preciso mudar os mecanismos institucionais."
O sociólogo pondera que a aprovação dessas medidas no Congresso depende da pressão da população e que a melhoria das educação ajuda na criaçãoapps de apostacidadãos mais atuantes.
Os pacotes anticorrupção sugeridos por Dilma e pelo Ministério Público Federal, por exemplo, não foram para frente nas Casas.
"No fim, a educação é a chave. Pessoas mais educadas pressionam mais o sistema político", afirma Almeida.