Flora Tristán: a vida extraordinária da sindicalista feminista que inspirou até Karl Marx:betsul como sacar
Então, por que escrever outro livro sobre ela, como acababetsul como sacarfazer a autora Brigitte Krülic, professora da Universidadebetsul como sacarParis-Nanterr ?
"Flora Tristán é uma personalidade excepcional do século 19, não só porque é mulher, mas também porque é uma mulher que resume todas as dificuldades ligadas ao destino das mulheres na primeira metade desse século e depois disso", disse a autora à BBC News Mundo (serviçobetsul como sacarespanhol da BBC).
"Ao mesmo tempo, ela é um exemplobetsul como sacaruma capacidade incomumbetsul como sacarcomo superar essas dificuldades."
"Ela é precursorabetsul como sacarmuitas coisas: sindicalismo, feminismo, a exigênciabetsul como sacarliberdade para que as mulheres evoluam no espaço público sem serem incomodadas. Além disso, ser francesa e peruana é uma ponte entre dois mundos."
Para a especialistabetsul como sacarhistória das ideias políticas, Flora Tristan é uma personalidade extremamente interessante.
"Flora Tristán é uma filha espiritual e política da Revolução, parte daqueles pensadores que viveram a ondabetsul como sacarchoque da Revolução Francesa, seja para condená-la ou pensarbetsul como sacarsuas consequências ou tentar cumprir suas promessas."
Mas havia algo além disso.
"Ela não apenas escreveu e estabeleceu marcos, mas teve uma vida dignabetsul como sacarum romancebetsul como sacaraventura. Ela era irresistível: eu precisava olhar mais a fundo como essa franco-peruana viveubetsul como sacarvida, lutou suas batalhas e escreveu."
O começo
Flora nasceubetsul como sacar7betsul como sacarabrilbetsul como sacar1803.
"Seu pai era uma personalidade da aristocracia crioula peruana", diz Krülic. Sua mãe era uma francesa que havia fugido para Bilbao, na Espanha, durante a Revolução.
"No começo, tudo parecia um contobetsul como sacarfadas."
Sua casabetsul como sacarParis era frequentada por personalidades como Simón Bolívar, o futuro libertadorbetsul como sacarcinco nações; o escritor e filósofo Simón Rodríguez, e o naturalista Aimé Bonpland.
Mas logo tudo isso mudou.
"Aos 4 anos, ela perdeu o pai e ficoubetsul como sacaruma situaçãobetsul como sacarque acumulou todos os problemas e todas as desvantagens."
Embora seus pais tivessem se casado diantebetsul como sacarum padre na Espanha, o procedimento não era válido para as autoridades e leis francesas, pois eles não haviam se casado no civil.
Portanto, ela não foi reconhecida como herdeira legalbetsul como sacarseu pai, cujo irmão era vice-rei do Peru. "Como mulher, bastarda, órfã e pobre, ela não teria educação."
Mas Flora era autodidata.
De mal a pior
Aos 17 anos, ela casou-se com seu patrão, André-François Chazal, um homem violento que a deixou quatro anos depois com dois filhos para criar e uma terceira a caminho. Essa terceira filha era Alina, que viria a se tornar mãebetsul como sacarartista francês Paul Gaugin.
Assim, começou uma luta desesperada pelo divórcio, que durou 14 anos.
Ela saiubetsul como sacarcasa e passou a viver como se fosse uma fugitiva. Flora precisou se esconder e trabalhar o máximo que podia para sustentar seus filhos, mesmo sem o apoiobetsul como sacarsua mãe — para quem uma mulher que abandonava o marido era pior que uma prostituta.
Segundo seu próprio relato, depoisbetsul como sacarrealizar vários trabalhos, ela conseguiu um emprego com uma família inglesa com quem viajou pela Europa e visitou o Reino Unido pela primeira vez.
Ela voltaria para a Françabetsul como sacar1839 ebetsul como sacar1840 publicaria Passeiosbetsul como sacarLondres, obrabetsul como sacarque denunciava as desigualdades que presenciara, culpando os aristocratas e o sistema capitalista por tal injustiça. O livro se tornou um dos textos fundamentais do incipiente movimento socialista.
Mas nem esse livro nem todos os outros que ela escreveu provavelmente teriam visto a luz do dia se não fosse pela viagem que realizoubetsul como sacar1833.
"Decidi ir para o Peru e refugiar-me no seio da minha família paterna, esperando encontrar lá uma posição que me fizesse voltar a entrar na sociedade", escreveu elabetsul como sacarPeregrinaçõesbetsul como sacarumaPária,betsul como sacar1838.
Peru
Comobetsul como sacarum romancebetsul como sacaraventuras, conta Flora, a ideia da viagem surgiu depoisbetsul como sacaruma conversa casualbetsul como sacarum albergue parisiense com um capitão chamado Zacarías Chabrié.
Em suas viagens, Chabrié havia conhecido a poderosa família Tristán, chefiada por don Pío Tristán y Moscoso, irmão mais novo do paibetsul como sacarFlora. O capitão sugeriu que ela escrevesse uma carta para ele.
A resposta do tio demorou a chegar e, embora não prometesse nada, ele enviou dinheiro para que ela fosse visitá-losbetsul como sacarArequipa.
Embora fosse incomum e perigoso uma mulher viajar desacompanhada naquela época, Flora atravessou o oceano sozinha, acompanhada por 18 homens.
Ela foi recebida na casa majestosa da família e desfrutoubetsul como sacarmuito conforto nos 8 mesesbetsul como sacarque esteve no Peru. Mas mesmo assim seu tio deixou claro que ainda a considerava uma bastarda e que ela não teria direito a nenhum bem da família.
"Fiquei sozinha, completamente sozinha, entre duas imensidões: a água e o céu", diz a última páginabetsul como sacarPeregrinaçõesbetsul como sacaruma Pária, livrobetsul como sacarmemórias sobrebetsul como sacarjornada.
Foi entre essas "duas imensidões" que ele finalmente se encontrou.
Ela havia partidoda França como uma lutadora e rebelde que sonhavabetsul como sacarrecuperar seu lugar perdido na aristocracia. Mas retornou ao paísbetsul como sacar1834 como uma revolucionária determinada a conquistar com a força das palavras um lugar justo para todos na sociedade.
'A senhora está viajando sozinha?'
Desde o início ela tinha uma visão clarabetsul como sacarcomo o mundo poderia ser melhor.
Sua visãobetsul como sacarmulheres independentes era ambiciosa, o que ficou claro jábetsul como sacarseu primeiro livro, Da necessidadebetsul como sacaracolher mulheres estrangeiras,betsul como sacar1835.
Nele, "ela imagina maneirasbetsul como sacarajudar as mulheres a viajar", afirma Krülic.
"Quando uma mulher chegava a um hotel, a pergunta mais comum era 'Madame está viajando sozinha?', algo obviamente condenável: uma mulher que viaja sozinha é considerada uma aventureira, ou até mesmo uma 'mulherbetsul como sacarvida ruim'."
"Flora mesma foi acusada quando esteve sozinhabetsul como sacarum hotel: 'Provavelmente é porque ela quer receber amantes', disseram."
"O que Flora reivindica é o direito das mulheresbetsul como sacarserem anônimas,betsul como sacarpoderem fazer tudo o que não é proibido — ir a um hotel, ao banco, a um museu — sem serem julgadas."
"E esse problema da visibilidade das mulheres, da liberdade das mulheres no espaço público, infelizmente ainda não foi completamente resolvido."
Finalmente livre
Em 1837, ela publicou Petição para a Reintegração do Divórcio, detalhando uma das causas pela qual mais lutou, bem como pela abolição da penabetsul como sacarmorte.
Mas foi Peregrinaçõesbetsul como sacarumaPária que lhe abriu as portas dos salões parisienses.
Em Arequipa, no entanto, a obra causou uma rejeição tão forte que houve uma queima pública do livro, pois suas descrições do Perubetsul como sacarmeados do século 19 ofenderam seus anfitriões no país.
Mais tarde, a obra foi reavaliada pelos historiadores peruanos e, nas primeiras décadas do século 20, foi acolhida como literatura peruana.
Na medidabetsul como sacarque ficava mais famosa, Flora voltou a cairr na mirabetsul como sacarseu marido.
Chazal perseguiu-a nas ruas e a espancou. Tentou tomar a custódia dos filhos na Justiça. Alina precisou ser escondida depoisbetsul como sacarter sido sequestrada pelo pai.
Foi só depois que Chazal feriu Flora gravemente com um tiro que ele foi preso. Finalmente Flora e Alina estavam livres.
Alguns anos depois, "de uma forma extremamente ousada e premonitória", diz Krülic, Flora examinaria a questão do consentimento amoroso e da liberdadebetsul como sacarmovimento das mulheres no espaço público.
"Ela levantou uma noção que, no século 19, era completamente tabu: a do consentimento. Naquela época, nem homens nem mulheres estavam interessados nisso. E ela não se limitou à necessidadebetsul como sacara mulher dizer 'sim'."
"Ele questionou quais as condições sob as quais o sim é dito... Haveria a opçãobetsul como sacarse dizer 'não'? Ela perguntou porque ela mesma viveu isso: ela consentiubetsul como sacarse casar aos 17 anos, mas poderia ter feito outra coisa?"
Quase 180 anos apósbetsul como sacarmorte, essa noção ainda é temabetsul como sacardebates. E é um dos motivos que levou Krülic a escrever seu livro.
Seres humanos
"Flora Tristán não é apenas uma mulher mal casada que quase foi morta pelo marido", declara.
"Sua personalidade e seu trabalho vão muito além: ele desenvolveu uma sériebetsul como sacarideias extremamente inovadoras e interessantes."
Embora nas décadasbetsul como sacar1960 e 1970 Flora Tristán tenha sido reconhecida como pioneira do feminismo e do movimento sindical, Krülic considera que "há uma profunda injustiça" no fatobetsul como sacar"sua contribuição para o pensamento político e social não ter sido apenas minimizada, mas praticamente ignorada".
Até mesmo Karl Marx, que a reconheceu como "precursorabetsul como sacarelevados ideais", não a citoubetsul como sacarseu Manifesto Comunistabetsul como sacar1848, embora conhecesse "sua ideiabetsul como sacarque, além das particularidadesbetsul como sacarprofissão, sexo, origem geográfica, localização, a classe trabalhadora constitui uma entidade única que tem interesses comuns".
"Marx pegou essa ideia, desenvolveu-a, teorizou-a, respaldou-a combetsul como sacarimensa cultura filosófica e econômica, com os meios intelectuais que tinha, mas Flora não."
"Foi uma ideia extremamente forte, poderosa e originalbetsul como sacarFlora Tristán. Por que ele não a citou como os outros se, na verdade, foi a ideia dela que desempenhou um papel desencadeante para ele?"
"Eu acho que há duas razões principais."
A primeira, segundo Krülic, é simples: ela era uma mulher e ele um homem do seu tempo.
A segunda é uma diferençabetsul como sacarexpressão.
"Ela tinha o vocabulário dos autores românticos. Ela lia muito, tinha uma cultura vasta e estava imbuídabetsul como sacarpensamento cristão, totalmente dissociada da Igreja e anticlerical, mas não antirreligioso, e isso era um ponto fundamentalbetsul como sacardiscordância com Marx."
Mas embora "Marx escreva sobre os trabalhadores e seu admirável trabalho conceitual, a verdade é que requer estudo; não é uma leitura, como diz Flora, para os trabalhadores".
Seu estilo era mais concreto.
"Ela sabia que os trabalhadores tinham uma jornadabetsul como sacartrabalho muito longa, que muitos não sabiam ler e que tinham que ser abordadosbetsul como sacaruma linguagem simples que os incitasse à ação.
"Isso também foi muito inovador e a diferenciou dos socialistasbetsul como sacarsua época".
E ela colocou essa ideiabetsul como sacarprática.
Ela se autodenominou "apóstola do Sindicato dos Trabalhadores" ebetsul como sacarabrilbetsul como sacar1844 fez uma viagem pela França, sendo perseguida pela polícia da época.
Seu fervor foi profundamente apreciado.
Quando morreubetsul como sacarBordeaux seis meses depois, incapazbetsul como sacarterminarbetsul como sacartour pela França, as pessoas por quem havia lutado gravaram as palavrasbetsul como sacarseu túmulo: "Em memória da senhora Flora Tristán, autorabetsul como sacar'A União Trabalhadora', os trabalhadores gratos. Liberdade, Igualdade, Fraternidade, Solidariedade".
- Texto originalmente publicadobetsul como sacarhttp://vesser.net/geral-63614378