Geoengenharia solar: por que cientistas se mobilizam contra ideia apoiada por Bill Gates para conter aquecimento global:cbet vs bmet
E também é realidade a monumental tarefacbet vs bmetlimitar o aumento da temperatura global a 1,5°C e a ameaça no horizontecbet vs bmetcatástrofes climáticas como rotina no mundo.
Na última segunda-feira (4/4), o braço das Nações Unidas voltado para a mudança climática divulgou um novo relatório, que traz um ultimato: é agora ou nunca para mudar uma perspectivacbet vs bmetsecas severas, calor extremo, enchentes devastadoras e extinçãocbet vs bmetmassacbet vs bmetespécies.
Se objetivos traçados não forem alcançados e as mudanças tiverem resultados apenas modestos, a temperatura média no mundo vai subir numa faixa entre 2,1°C e 3,5°C.
Alguns especialistas alertam que a geoengenharia solar pode ganhar força como solução nesse momentocbet vs bmetdesespero, mesmo com a possibilidadecbet vs bmetgerar efeitos colaterais irreversíveis na parte ambiental e perigosos na política - a técnica poderia ser usada como uma imprevisível armacbet vs bmetguerra.
Outros afirmam que não se pode abrir mãocbet vs bmetpesquisar saídas diante da urgência da mudança climática - linhacbet vs bmetraciocínio adotada por Bill Gates ao falarcbet vs bmetgeoengenharia.
Em janeiro deste ano, maiscbet vs bmet60 cientistascbet vs bmetvários países lançaram uma iniciativa para que seja simplesmente proibido o desenvolvimento da técnica, que só foi estudadacbet vs bmetsimulaçõescbet vs bmetcomputador e necessitacbet vs bmettestescbet vs bmetcampo.
O abaixo-assinado diz que, alémcbet vs bmetpotenciais resultados desastrosos, a geoengenharia solar não resolve completamente o problema do aquecimento global - um ponto admitido por partidários do conceito.
E poderia desviar atenção da obrigação mais importante e que vem sendo ignorada: acbet vs bmetreduzir sensivelmente as emissões do dióxidocbet vs bmetcarbono (CO2) que retém o calor na atmosfera.
A BBC News Brasil conversou com cinco cientistas do Brasil e dos EUA, entre críticos e defensores, para explicar as implicações da geoengenharia solar.
Como funciona a geonengenharia solar?
Há diferentes técnicas que são classificadas como geoengenharia solar, incluindo algumas com intervenção sobre as águas dos oceanoscbet vs bmetvez da atmosfera.
O princípio da técnica mais debatida hoje, no entanto, se inspiracbet vs bmetgrandes erupções vulcânicas e se chama injeçãocbet vs bmetaerossol na estratosfera.
Em 1991, o monte Pinatubo, nas Filipinas, promoveu a segunda maior irrupçãocbet vs bmetum vulcão no século 20. Deixou maiscbet vs bmet800 mortos e 10 mil desabrigados, alémcbet vs bmetum rastrocbet vs bmetdestruição.
Um fenômeno natural também foi constatado: as lavas e cinzas expelidas pelo Pinatubo fizeram com que toneladascbet vs bmetdióxidocbet vs bmetenxofre na estratosfera atuassem como uma espéciecbet vs bmetespelho para os raios solares.
"Quando você tem muitas e muitas toneladascbet vs bmetfuligem e partículas sólidas lá na alta atmosfera, a radiação solar encontra esses aerossóis ao penetrar na atmosfera e ela é refletidacbet vs bmetvolta para o espaço. A radiação solar não consegue passar e atingir a superfície da Terra, que teria a temperatura elevada", diz Tércio Ambrizzi, professor do Institutocbet vs bmetAstronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidadecbet vs bmetSão Paulo (USP).
Os cientistas notaram que os efeitos da atividade vulcânica do Pinatubocbet vs bmet1991 levaram a uma quedacbet vs bmet0,5°C na temperatura global nos anos seguintes - uma taxa considerada significativa.
"A ideia da geoengenharia solar é injetar aerossóis na estratosferacbet vs bmetforma a inibir esse influxocbet vs bmetenergia solar. E com isso você estaria induzindo um resfriamento", afirma Ambrizzi.
"A gente sabe que a razão do desparecimento dos dinossauros foi a quedacbet vs bmetum meteorito. Junto, há a teoriacbet vs bmetque o impacto provocou uma sériecbet vs bmetexplosões vulcânicas pelo planeta gerando uma camadacbet vs bmetaerossol que impediu a entrada da radiação solar e baixou a temperatura global."
Para tentar reproduzir o fenômeno, a ideia é construir aeronaves especiais para atingir a estratosfera (numa faixa a cercacbet vs bmet20-30 kmcbet vs bmetaltitude) e despejar compostos químicos, como sulfatos e variações.
Esse objetivo é considerado bastante exequível do pontocbet vs bmetvista tecnológico.
Outro fator da geoengenharia solar vendido como vantagem é o custo do empreendimento: US$ 10 bilhões anuais nas estimativas mais altas - um valor baixo se comparado aos prejuízos futuros derivados do aquecimento global, calculados já na casa dos trilhões.
Mas Stephen M. Gardiner, da Universidade do Estadocbet vs bmetWashington, que estuda questões éticascbet vs bmetproblemas ambientais e o impacto sobre as gerações futuras, diz que é consenso "entre cientistas responsáveis" que o conceito é ainda altamente especulativo.
"Mesmo que nós decidíssemos impulsionar fortemente as pesquisas nesse campo, seria uma corrida contra o relógio para desenvolver algo que seria colocadocbet vs bmetprática apenas daqui a décadas e inevitavelmente com grandes riscos."
Para Gardiner, a crescente atenção sobre a geoengenharia solar é produto do desespero que está tomando conta daqueles que estão conscientes da catástrofe climática no horizonte.
"Está saindo do controle. É difícil saber lidar com os fracassos persistentes das abordagens convencionais, como os acordos (climáticos)cbet vs bmetKyoto e Paris. Portanto, as pessoas estão começando a se agarrar a qualquer coisa. Mesmo ideias altamente especulativas, inerentemente arriscadas e potencialmente desestabilizadoras geopoliticamente como essa começam a ter atenção."
O professor da Universidadecbet vs bmetWashington diz que a geoengenharia solar envolveria uma profunda concentraçãocbet vs bmetpoder político e necessitariacbet vs bmetnovas instituições globais mais poderosas e mais éticas do que as que temos hojecbet vs bmetdia.
"Sem isso, quem manejaria o poder da geoengenharia? Parece inevitável que dessa forma seria uma superpotência, que criaria conflitos com outras grandes potências", afirma Gardiner.
Ambrizzi, da USP, diz que "você não tem o controlecbet vs bmetonde vão os aerossóis injetados na atmosfera. Porque na alta atmosfera há fluxoscbet vs bmetventos, há uma circulação intensa na estratosfera. Sem esse controle, você pode desestabilizar regiões que estão equilibradas".
"Suponha que o Brasil resolva fazer esse experimento, mas a Argentina, não. As temperaturas médias começam a cair aqui, mas aumentamcbet vs bmetterritório argentino ou diminuem muito mais do que as atuais. O governo argentino não deu consentimento para isso. Imagine, por exemplo, que o país perde toda acbet vs bmetproduçãocbet vs bmetvinho e resolve processar o Brasil."
Ele também aponta o alto graucbet vs bmetincerteza existente nos atuais modeloscbet vs bmetprevisãocbet vs bmettempo e clima, reforçando o carátercbet vs bmetimprevisibilidade da geoengenharia solar no estágio que se encontra.
Em defesa da pesquisa
David Keith, professorcbet vs bmetfísica aplicada ecbet vs bmetpolíticas públicas na Harvard Kennedy School, é um dos principais nomes citados quando se fala no tópico.
"Minha leitura é que há forte evidênciacbet vs bmetque a geoengenharia solar poderia reduzir significativamente alguns riscos climáticos na segunda metade deste século", diz Keith.
"Modelos climáticos mostram consistentemente que uma combinaçãocbet vs bmetcortecbet vs bmetemissões ecbet vs bmetuma geoengenharia solar uniforme e consistente reduziria mais as temperaturas médias e máximas do que o cortecbet vs bmetemissões sozinho."
"Dada a evidênciacbet vs bmetque a elevação adicionalcbet vs bmet1°C no calor prejudica mais as regiões mais quentes do planeta e dado que os mais pobres e mais vulneráveis estão concentradoscbet vs bmetregiões quentes, parece provável que a geoengenharia solar seria particularmente efetivacbet vs bmetreduzir os riscos nesses lugares", complementa.
Holly Jean Buck, autora do livro After Geoengineering - Climate Tragedy, Repair and Restoration (Após a Geoengenharia - Tragédia Climática, Reparação e Restauração,cbet vs bmettradução livre), defende as pesquisas por causa dos riscos que estão sendo oferecidos pela mudança climática.
Ela concorda que é preciso entender quais seriam os impactos da geoengenharia solar sobre o planeta e que são necessários muitos estudos antescbet vs bmetcolocar a técnicacbet vs bmetprática.
"Entretanto, o abaixo-assinado [contra o desenvolvimento da técnica] pede por medidas que impactariam a habilidadecbet vs bmetuma pesquisa ser financiada, conduzida e avaliadacbet vs bmetforma transparente."
Ambos reconhecem que há o riscocbet vs bmeta geoengenharia solar tirar o foco do principal, o corte das emissõescbet vs bmetcarbono, e que a técnica só funciona como um complemento para esse objetivo.
'Paliativo'
Emilia Wanda Rutkowski, professora da Faculdadecbet vs bmetEngenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, foi uma das signatárias do documento que pede uma moratória no desenvolvimento da geoengenharia solar.
"Tentar achar uma solução sem que se modifique a essência do problema [do aquecimento global] não é uma soluçãocbet vs bmetfato. É um paliativo. E todo paliativo tende a mostrar um problema mais à frente que você não conseguiu perceber na hora da emergência", diz Rutkowski.
Ela diz que está se "empurrando com a barriga" a questão. "Então por que não se começa pelo que se sabe que é a causa essencial?"
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