Como era o 'Natal' antes do nascimentobonus gratis casas de apostasJesus:bonus gratis casas de apostas

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Crédito, Domínio Público/ WikiCommons

Legenda da foto, Quadro 'Natividade',bonus gratis casas de apostasGiorgione, 1507 (reprodução da obra foi recortada)

Em um tempobonus gratis casas de apostasprecária ciência ebonus gratis casas de apostasexagerada observação dos fenômenos naturais, o sinal era claro: a luz solar renascia nesse momento, aumentandobonus gratis casas de apostastempo e intensidade a cada dia desde então. E era o que propiciaria a agricultura da nova safra, a alimentação do ano vindouro.

No livro Religions of Rome, os historiadores Mary Beard e John North lembram que o período dedicado a celebrar o solstício era todo devotado a um deus — Mitra —, durava uma semana e era permeado por celebrações entre as famílias, com trocasbonus gratis casas de apostaspresentes e comilanças típicas. Nada diferente do Natal contemporâneo, portanto.

Oriundo da mitologia persa, Mitra era o deus da sabedoria, representando a luz, o bem sobre o mal.

Aos poucos, no mundo romano, foi dividindo espaço com outra divindade, Saturno: afinal, se era o começobonus gratis casas de apostasum "novo" sol, nada mais natural do que render graças àquele que era o deus da agricultura.

Mas Mitra também era a divindade que se confundia com o próprio Sol: combonus gratis casas de apostascarruagem, viajava ele todos os dias pelo céu com o objetivobonus gratis casas de apostasiluminar e espantar as forças das trevas.

Nascimentobonus gratis casas de apostasJesus

O 25bonus gratis casas de apostasdezembro se torna oficial, portanto, no século 3 da nossa era — mas ainda sem nenhuma alusão a Jesus.

A culpa recai sobre o imperador romano Lúcio Domício Aureliano (214-275). Ele, que havia ascendido hierarquicamente depoisbonus gratis casas de apostasengrossar as fileiras do exército romano, decidiu institucionalizar a festa que já era muito celebrada pelos militaresbonus gratis casas de apostasRoma.

"Tinha um forte apelo junto aos soldados a filiação, do pontobonus gratis casas de apostasvista religioso, à divindade do Sol Invictus", comenta o o historiador André Leonardo Chevitarese, autor de, entre outros, A Descoberta do Jesus Histórico, e professor do Programabonus gratis casas de apostasPós-Graduaçãobonus gratis casas de apostasHistória Comparada do Institutobonus gratis casas de apostasHistória da Universidade Federal do Riobonus gratis casas de apostasJaneiro (UFRJ).

Em sociedades basicamente dependentes dos ciclos da natureza ebonus gratis casas de apostasum período carentebonus gratis casas de apostasconhecimento científico para justificar as mudanças do tempo, fazia muito sentido que divindades e celebrações tivessem,bonus gratis casas de apostasseu cerne, o objetivobonus gratis casas de apostasjustificar os bons e os maus resultados das safras.

"Houve muitas festasbonus gratis casas de apostasnascimentobonus gratis casas de apostasgrandes personagens e personagens míticos e algumas datas coincidentes com equinócios e solstícios. E mudançasbonus gratis casas de apostasestações no ano agrícola sempre eram alegremente celebradas", diz o filósofo e teólogo Fernando Altemeyer Junior, professor da Pontifícia Universidade Católicabonus gratis casas de apostasSão Paulo (PUC-SP).

"Semear e colher era o ritmo da vida ebonus gratis casas de apostascelebrar natal, aliás, palavrabonus gratis casas de apostascorruptela para nascimento", acrescenta ele.

Então é Natal

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Legenda da foto, Quadrobonus gratis casas de apostasLorenzo Lotto,bonus gratis casas de apostas1523

Em paralelo a esse contexto, cresciabonus gratis casas de apostastamanho e importância aquela nova religião, no início uma seita judaica perseguida, depois uma nova doutrina. O cristianismo. Seu mito fundador era uma figura nascidabonus gratis casas de apostasBelém, província romana na Judeia, no Oriente Médio. A data exata? Ninguém sabia naquela época, ninguém sabe ainda hoje.

"Não se tinha clareza, certeza, nenhuma documentação categórica no sentidobonus gratis casas de apostasdizer a databonus gratis casas de apostasque Jesus nasceu", afirma Chevitarese.

"Não sabemos com precisão nem o anobonus gratis casas de apostasque ele nasceu, muito menos o dia. As informações que nos chegaram, dos evangelhos, forambonus gratis casas de apostasmuito tempo depois [da vida do próprio Jesus], escritas por volta do ano 70 [de nossa era], cercabonus gratis casas de apostas40 anos depois do 'evento Jesus Cristo'. E temos algumas informações ali que não batem historicamente com aquilo que sabemos historicamente", explica o historiador, filósofo e teólogo Gerson Leitebonus gratis casas de apostasMoraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Chevitarese lembra que, ao analisar as narrativas antigas, é possível reconhecer que quando as comunidades cristãs "tomaram a decisãobonus gratis casas de apostascorrer atrás desses dados", eles já haviam sido perdidos.

"Não se tinha mais como recuperar minimamente qualquer história no sentido do factual nascimentobonus gratis casas de apostasJesus", acrescenta.

"Não sabemos a data exata do nascimentobonus gratis casas de apostasJesus, o filhobonus gratis casas de apostasMaria e José, o nazareno", resume o filósofo e teólogo Fernando Altemeyer Junior, professor da Pontifícia Universidade Católicabonus gratis casas de apostasSão Paulo (PUC-SP).

Os imperadores romanos e o Natal

Se Aureliano efetivou a comemoração ao Sol Invictus, é preciso lembrarbonus gratis casas de apostasdois outros imperadores romanos que contribuiriam para a criação do Natal tal e qual conhecemos hoje. Flávio Valério Constantino (272-337) e Flávio Teodosio (346-395).

Enquanto o primeiro permitiu o exercício do cristianismo, o segundo tornou a religião cristã a oficialbonus gratis casas de apostasRoma, conforme pontua Moraes.

"O que acontece nesse pêndulo histórico é que o cristianismo sai da condiçãobonus gratis casas de apostasreligião marginal,bonus gratis casas de apostasseita perseguida, e se torna religião oficial do império", enfatiza o professor da Mackenzie.

Então nada mais natural do que, entendendo Jesus como a "luz da vida", sobrepôr a festabonus gratis casas de apostasseu nascimento àquela comemoração pelo Sol Invictus, que nada mais era do que o renascimento do sol — já que o solstício indica que, a partir daquele dia, o sol diário fica cada vez "maior".

"Na narrativa, a ideiabonus gratis casas de apostasassociar Jesus a uma luz, à luzbonus gratis casas de apostasuma estrela que ilumina os caminhos, tem sentido. Assim, a partir da segunda metade do século 3 há um profundo diálogo entre experiências religiosas e esse é um movimento interessantíssimo para o cristianismo", comenta Chevitarese.

Desta forma, o 25bonus gratis casas de apostasdezembro como Natal não foi algo "inventado", mas sim algo "convencionado", como bem esclarece o sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

"Os antigos romanos celebram, na data, o solstíciobonus gratis casas de apostasinverno no hemisfério norte, a festa do Sol Invicto. Os cristãos, desde os primeiros séculos, associaram Jesus à luz que vem para iluminar a humanidade e tirá-las das trevas", afirma.

"Assim, a identificação com o Deus Sol era bastante natural à mentalidade da época. Já havia, nas pregaçõesbonus gratis casas de apostasSão Paulo, por exemplo, a noçãobonus gratis casas de apostasque o 'Deus verdadeiro' cristão já era intuído e estava presente nos panteões da Antiguidade", prossegue.

"As primeiras igrejas cristãs também usavam muitas vezes materiais recolhidosbonus gratis casas de apostastemplos pagãos, para mostrar que as antigas crenças não haviam simplesmente sido abandonadas, mas sim integradas e superadas por uma mais verdadeira", diz ele.

"Uma festa da natureza foi reapropriada pelos cristãos dando um novo significado a ela pelo nascimento do Filhobonus gratis casas de apostasDeus", acrescenta Altemeyer Junior.

Quando, afinal, nasceu Jesus?

A verdadeira databonus gratis casas de apostasnascimento do Jesus histórico é um mistério que jamais será revelado, acreditam pesquisadores.

Não há registros da época e os relatos mais precisos que foram preservados, os evangelhos, não se atentaram — ou não conseguiram atentar — para detalhes deste tipo.

"O que Mateus e Lucas [os dois dos quatro evangelistas que narram o nascimentobonus gratis casas de apostasJesus] fizeram foi muito mais um olhar teológico, contando o nascimentobonus gratis casas de apostasJesus à luzbonus gratis casas de apostasparalelos com outros nascimentos divinos", contextualiza Chevitarese.

"Assim, Jesus ganharia característicasbonus gratis casas de apostasfilhobonus gratis casas de apostasDeus,bonus gratis casas de apostasum homem divino,bonus gratis casas de apostasalguém diferente, poderoso, milagreiro, exorcista. Seu nascimento já denunciava que ele era alguém diferenciado", acrescenta ele.

"Não falamosbonus gratis casas de apostasdata, porque data mesmo nunca se chegou a um consenso", acrescenta o pesquisador.

"Historiadores suspeitam que Jesus possa ter nascido no fim do governobonus gratis casas de apostasHerodes, o Grande, portanto entre o ano 6 e 4 antes da Era Comum. Imagina que loucura: Jesus nasceu 'antesbonus gratis casas de apostasCristo'. Só com o passar do tempo se assumiu a data do 25bonus gratis casas de apostasdezembro", conclui.

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Legenda da foto, Adoração dos Pastores,bonus gratis casas de apostasAgnolo Bronzino

Quando o cristianismo se oficializou como religião romana, uma sériebonus gratis casas de apostasconcílios passaram a ocorrer para organizar as regras da doutrina. Foi quando apareceu pela primeira vez essa questão do Natal.

"No século 4 ocorreram grandes concílios da igreja definindo dogmas e datas importantes. Foi aí que tivemos a fixação do que a gente chamabonus gratis casas de apostasNatal. Substituir [uma celebração que já havia] era uma prática comum", diz o historiador Moraes.

Essa oficialização coube ao papa Júlio Primeiro (?-352). No anobonus gratis casas de apostas350 ele publicou um decreto substituindo a veneração ao Deus Sol pela data do nascimentobonus gratis casas de apostasJesus. Foi a maneira que ele encontrou para suprimir as festas pagãsbonus gratis casas de apostasinverno.

"O cristianismo soube dialogar e se aproveitar das interações culturais com outros campos religiosos. É isso que o fez sobreviver: essa capacidadebonus gratis casas de apostasse transformar para continuar sendo o que ele era", analisa Chevitarese.

"E é isso que faz com que ele sobreviva ainda hoje, todos os dias, se transformando para continuar sendo o que ele é."

"Jesus como Sol Invictus seria absolutamente representativo se colado a Jesus viesse também a data do dia 25bonus gratis casas de apostasdezembro", compara o historiador.

"Foi uma data ressignificada, a ressignificação culturalbonus gratis casas de apostasuma festa. O cristianismo construiu sob uma base já existente", concorda Moraes.

"A data já era celebrada por outros povos, da antiguidade oriental aos gregos e romanos. E como o cristianismo nasceu no Império Romano, essa data acabou sendo apropriada pelos cristãos. Não da noite para o dia."

Para o sociólogo Ribeiro Neto é preciso atentar para o fatobonus gratis casas de apostasque "existe uma estratégia comunicativa bem conhecida e praticada na sociedade moderna, mas que sempre existiu". "É mais fácil ressignificar práticas e costumes já arraigados na vida do povo do que criar novos costumes e novas práticas", ressalta ele.

"Por exemplo, quase todas as celebrações que marcam momentosbonus gratis casas de apostaspassagem na vida das pessoas, como formaturas e posses, e festas cívicas, com seus desfiles e pompas, emulam gestos semelhantes realizados pelas religiões", diz o sociólogo.

"Mas, além disso, o cristianismo baseia-se na premissabonus gratis casas de apostasque o coração do ser humano sempre anseia por Deus, mesmo que não o conheça ou mesmo o renegue. Sendo assim, para a lógica cristã era natural que a vindabonus gratis casas de apostasCristo já fosse intuída e até comemorada antes mesmobonus gratis casas de apostasseu nascimento. O renascer do sol na manhã ou a volta dos dias mais longos do ano após o solstíciobonus gratis casas de apostasinverno seriam sinais a animar a esperança dos seres humanosbonus gratis casas de apostasque um Deus viria a iluminar suas vidas, assim como o sol sempre volta depois da noite", acrescenta ele.

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Legenda da foto, Adoração dos Magos,bonus gratis casas de apostasEl Greco

Transformações atuais

Nesse sentido, é possível analisar que o Natal passou por novas ressignificações até chegar ao modelo atual — comercial e não necessariamente religioso.

"Hoje, é uma data consolidada e apropriada pela tradição capitalista. Ou seja: o cristianismo ressignificou o Natal, mas o Natal continua sendo ressignificado", analisa Moraes. "Continua apropriado pelas mais diversas culturas, por momentos históricos e vai ganhando outros significados ao longo do tempo."

"O cristianismo incorporou uma efeméridebonus gratis casas de apostascrenças anteriores e nesse sentido a gente comemora o Natal até hoje", prossegue. "Mas o Natal continua sendo transformado, ressignificado. Seja pelo modobonus gratis casas de apostasprodução capitalista, seja pela formabonus gratis casas de apostascelebração."

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