Por que temos sotaque? 8 curiosidades sobre as línguas:virtual da bet365
Veja algumas delas, comentadas por Bizzocchivirtual da bet365entrevista à BBC News Brasil:
Por que temos sotaque?
Bizzocchi ressalta que o mais complexo, ao se aprender um segundo idioma, é reproduzir a pronúncia: é muito difícil se livrar do sotaque.
"Mas por que é tão difícil perder o acento nativo quando se fala outro idioma? Por que é mais fácil dominar o léxico e a gramáticavirtual da bet365uma língua do quevirtual da bet365fonética?", questiona o linguista.
Ele próprio explica que, segundo as teorias linguísticas predominantes (que detalharemos mais abaixo), acredita-se que as crianças já nasçam com uma aptidão à linguagem, embora não tenham, obviamente, nenhum repertóriovirtual da bet365palavras ou conhecimentovirtual da bet365pronúnciasvirtual da bet365idiomas.
Mas, "graças aos chamados neurônios-espelho (células do cérebro que permitem o aprendizado por imitação), a criança é capazvirtual da bet365imitar com progressiva precisão os sons vocais emitidos pelos adultos àvirtual da bet365volta", diz o linguista.
"Isso significa que ela sabevirtual da bet365que posição e lugar deve manter a língua para realizar um som, apenas observando os adultos, sem que ninguém precise lhe explicar."
A criança vai, então, aprendendo a reconhecer nuances mínimas na formavirtual da bet365falar e no sons das palavras.
O problema é que a formavirtual da bet365emitir os sons da nossa língua nativa fica cristalizada na nossa mente. É bastante difícil, então, aprender novas formasvirtual da bet365posicionar, ao mesmo tempo, a língua, o lábio e os dentes para produzir os novos tiposvirtual da bet365sonsvirtual da bet365um idioma estrangeiro.
E quanto aos sotaques dentrovirtual da bet365um mesmo idioma, como o português? A mesma lógica se aplica parcialmente, diz Bizzocchi, com a vantagemvirtual da bet365que não é preciso aprender uma nova gramática ou vocabulário.
"Para imitar bem um sotaque, o principal nem é falar — é ter um bom ouvido para perceber as sutilezas" daquela formavirtual da bet365falar, explica.
Quando os humanos começaram a falar?
Bizzocchi explica que há duas teorias principais sobre a origem das línguas:
Uma teoriza que haveria existido uma língua inicial, falada na África entre 200 mil e 30 mil anos atrás; já a segunda sustenta que várias populações humanas começaram a falar ao mesmo tempo, como uma propriedade evolutiva do cérebro.
A linguagem é uma capacidade única dos humanos, que define a nossa espécie, diz o autor. Mas precisar ao certo quando os sons produzidos pelos humanos viraram uma fala articulada e conexa "talvez seja a grande questão da linguística", ainda sem resposta definitiva, diz o autor à reportagem.
"Em algum momento da nossa espécie, a linguagem verbal articulada emergiu como uma função biológica vantajosa à sobrevivência, que passou desde então a ser transmitida geneticamente."
Essa é a ideia defendida pelo influente intelectual Noam Chomsky, para quem a aptidão linguística é inata — um atributo biológico do ser humano, registradovirtual da bet365nossas mentes mesmo antes do nascimento. Essa é, também, a teoria predominante atualmente.
Há, porém, quem desafie essa hipótese: o linguista Daniel Everett passou a defender que a linguagem é uma invenção humana (e não uma característica inata) depoisvirtual da bet365estudar a tribo indígena brasileira pirahã.
Em entrevista à BBC News Brasilvirtual da bet3652019, Everett disse não descartar o valor da genética na linguagem, mas defendeu que é preciso considerar o papel da cultura humana no desenvolvimento dos símbolos, que porvirtual da bet365vez levam às línguas.
Aldo Bizzocchi sustenta, porvirtual da bet365vez, que estudos recentes da neurociência e das ciências cognitivas dão força à tese do "inatismo linguístico"virtual da bet365Chomsky.
"Mas temosvirtual da bet365dar crédito a Everett, porque ainda tem muito a ser pesquisado e entendido" sobre os primórdios da linguagem, agrega.
A capacidadevirtual da bet365expressar o que não está diante dos nossos olhos
Uma parte importante da linguagem é a capacidadevirtual da bet365expressar coisas "ausentes" — como coisas passadas, futuras, hipotéticas ou abstratas.
"Uma hipótese aventada pelos cientistas évirtual da bet365que a linguagem surgiu como uma exaptação do cérebro, isto é, um desenvolvimento colateral e acidental que não tinha função previamente determinada — até encontrar uma: pensarvirtual da bet365maneira 'desconectada', ou seja,virtual da bet365coisas que não estão na nossa frente neste exato momento", aponta Bizzocchi.
Expressar coisas que não estejam presentes, por sinal, é uma grande diferença dos humanosvirtual da bet365relação a outros animais: um macaco, por exemplo, pode se comunicar com outro a respeitovirtual da bet365uma banana que esteja na frente deles. Mas não terá o que comunicar caso a banana não esteja ali.
O 'não' mudou tudo na linguagem
Essa abstração da realidade só é possível graças à criação do "não", "um conceito extremamente primitivo e ao mesmo tempo extremamente complexo", explica Bizzocchi. Conceito, aliás, que pode estar na raizvirtual da bet365coisas muito significativas, como as religiões.
"Como o 'não' inexiste na natureza,virtual da bet365criação trouxe inúmeras consequências para o modo como vemos o mundo e concebemos nós mesmos", detalha o linguista.
"O 'não' permitiu conceber o nada (e daí a ideia religiosa da Criação) e o infinito (que é o que não tem fim)."
virtual da bet365 Como as línguas mudam virtual da bet365 — virtual da bet365 ou desaparecem
Bizzocchi ressalta que as línguas têm duas características aparentemente contraditórias entre si: são mutáveis e imutáveis ao mesmo tempo.
Imutáveis porque nenhuma pessoa consegue, por vontade e por conta próprias, mudar um idioma. Mas mutáveis porque vão se adaptando,virtual da bet365temposvirtual da bet365tempos, às necessidadesvirtual da bet365comunicaçãovirtual da bet365seus falantes. "Se não mudasse,virtual da bet365pouco tempo estaria divorciada da sociedade que deve servir", explica o linguista.
Ele lista quatro fatores importantes que fazem as línguas mudarem: o passar do tempo; a distância geográfica (em dois grupos falantesvirtual da bet365uma mesma língua que estejam distantes entre si, a língua vai evoluirvirtual da bet365forma diferentevirtual da bet365cada um deles), a divisãovirtual da bet365classes sociais (que faz com que indivíduos se expressemvirtual da bet365formas particulares a seus grupos) e os diferentes ambientes sociais (que cria jargões, gírias e expressões ligados a cada grupo, como o jurídico, o político, o dos economistas, o dos surfistas…).
Um fator extra é a "lei do mínimo esforço", que faz a gente naturalmente simplificar ao máximo o que falamos. É assim que "vossa mercê" se transformouvirtual da bet365"vosmecê", depoisvirtual da bet365"você" e oralmente muitas vezes é substituída pelo "cê".
Mas as línguas também desaparecem — e esse pode ser o destinovirtual da bet365metade das maisvirtual da bet3656 mil línguas existentes hoje ao longo dos próximos cem anos, segundo a Unesco (braço da ONU para a cultura).
"A maioria (desaparecerá) por não ter o statusvirtual da bet365idioma nacional, sendovirtual da bet365muitos casos línguas ágrafas (sem grafia),virtual da bet365comunidades tribais, como é o casovirtual da bet365274 línguas indígenas brasileiras", explica Bizzocchi. "A causa dessa extinçãovirtual da bet365massavirtual da bet365línguas é a pressão dos idiomasvirtual da bet365cultura, seja o idioma nacional do país ou o inglês como língua global."
Isso é lamentável, diz ele, por várias razões.
"Em primeiro lugar, pelo interesse científico que elas despertam: algumas das questões básicas da linguística estão longevirtual da bet365estar inteiramente resolvidas. E essas línguas ajudam a saber quais elementos da gramática e do vocabulário são realmente universais, isto é, resultantes das características do próprio cérebro humano. (...) Quando uma língua morre, perde-se para sempre uma peça desse intrincado quebra-cabeças."
Um exemplo disso vemvirtual da bet365um idioma falado por uma pequena população na Colômbia e, portanto, ameaçadovirtual da bet365extinção. O curioso desse idioma é que ele não tem pronomes pessoais, como eu, tu, ele…
"Acreditava-se que todas as línguas do mundo tinham pronomes pessoais, mas esse idioma jogou por terra toda essa teoria", aponta Bizzocchi. "O que mostra como a ciência é uma obravirtual da bet365aberto."
Línguas se influenciam mutuamente
Bizzocchi explica que, desde os primórdios da humanidade, as línguas sempre se misturaram e se miscigenaram.
"Os empréstimos linguísticos, sobretudo osvirtual da bet365palavras, são muito mais frequentes do que supõem (ou gostariam) os puristas", diz o linguista.
Até muitas palavras que não parecem "estrangeiras" na verdade foram influenciadas ou herdadasvirtual da bet365outras línguas. É o casovirtual da bet365futebol, chofer, buquê….
"Palavras não têm fronteiras. Por isso, são inúteis as iniciativasvirtual da bet365certos puristasvirtual da bet365combater os estrangeirismos", defende Bizzocchi.
"Primeiro, porque eles entram na nossa língua sem pedir licença e, depois que entraram, é quase impossível pô-los para fora. Segundo, porque salvo no casovirtual da bet365modismos inconsequentes, quando importamos uma palavra é porque, no fundo, precisamos dela."
'Deletar' e 'acessar': a real origemvirtual da bet365algumas palavras 'inglesas'
Outra curiosidade, argumenta o linguista, é que algumas palavras que soam como anglicismos — ou seja, parecem ter sido importadas da língua inglesa — na verdade têm origem no latim, a língua "mãe" do português.
É o casovirtual da bet365deletar (que vem deletum) e acessar (acessum), diz ele.
Há também palavras que soam "inglesas", mas na verdade têm origem no francês, prossegue Bizzocchi.
"Na Idade Média, era a língua dos francos e não a dos bretões que dominava a Europa", escreve ele. Essa influência se faz sentirvirtual da bet365várias palavras hoje da língua inglesa.
"Os substantivos tennis, pudding, budget e interview ocultam numa grafia exótica os antigos vocábulos franceses tenez, boudin, bougette e entrevue".
Os mitos da origemvirtual da bet365algumas palavras
A linguística e a etimologia — estudo das línguas e das palavras, respectivamente — são ciências relativamente novas, com 200 anos ou menos, explica Bizzocchi.
Assim como a biologia classifica animais e plantas, a linguística reconstrói a história dos idiomas e os classificavirtual da bet365famílias conhecidas. E o etimólogo tem como trabalho pesquisar documentos antigosvirtual da bet365busca das primeiras ocorrências escritasvirtual da bet365uma palavravirtual da bet365determinada língua.
Mas muitas vezes se constroem mitos sobre a origemvirtual da bet365algumas palavras, sem rigor científico. "É o caso daquela lenda urbana segundo a qual aluno, do latim alumnus, tem esse nome porque representa uma pessoa sem luz (a=não + lumen=luz) a quem os mestres darão conhecimento. Pura balela!", escreve o linguista.
"Uma análise mais rigorosa e pautada no método científico revelará que alumnus provém do verbo latino alere, 'alimentar, fazer crescer', mais o sufixo -umnus."
Outro mito, segundo o autor, évirtual da bet365que o português e outros idiomas românicos são línguas "machistas" por usar o plural no masculino para se referir a um grupo (com as palavras "eles", "todos" etc).
"Na verdade, a razão pela qual usamos o gênero masculino para nos referir a homens e mulheres não é ideológica, mas fonética (relacionada aos sons das palavras)", ele argumenta.
No latim, inicialmente se usava um gênero neutro para se referir a um conjuntovirtual da bet365indivíduosvirtual da bet365diferentes sexos.
"Quando, por força da evolução fonética, as consoantes finais do latim se perderam, as terminações do masculino e do neutro se fundiram", resultando nas palavras que hoje comumente terminamvirtual da bet365a (no feminino) e o (no masculino). "Ou seja, o nosso gênero masculino é também neutro e complexo."
Para concluir, vale lembrar que cada língua, diz Bizzocchi, reflete uma visão particularvirtual da bet365mundovirtual da bet365cada cultura.
Ele dá o exemplovirtual da bet365"neve", que "para um brasileiro, é apenas gelo", mas que, "na língua inuíte, dos esquimós do Alasca, recebe maisvirtual da bet365dez denominações diferentes conforme a consistência ou espessura".
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