Programa nuclear do Irã: como EUA ajudaram o país a iniciar polêmico plano atômico:vbet results

Visita à Casa Blanca do xá do Irã

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Em dezembrovbet results1954, durante o governo Eisenhower, o xá do Irã evbet resultsesposa, a rainha Soraya, visitaram a Casa Branca

O programa nuclear iraniano foi considerado uma questão bastante relevante durante os mandatos dos presidentes americanos George W. Bush, Barack Obama e Donald Trump. Embora com enfoques muito diferentes, os três presidentes tentaram deter o programa, receando que o Irã desenvolvesse armas nucleares — o que alteraria o equilíbriovbet resultspoder no Oriente Médio e, segundo muitos especialistas, poderia incentivar a proliferaçãovbet resultsarmas nucleares na região.

Esses esforços prosseguem atualmente, no mandato do presidente Joe Biden.

Em 29vbet resultsnovembrovbet results2021, representantes dos EUA, Reino Unido, França, Rússia e China (que formam o grupo conhecido como P5, ou as cinco potências com podervbet resultsveto no Conselhovbet resultsSegurança da ONU), além da Alemanha, retomaramvbet resultsViena o diálogo com o Irã para tentar restabelecer o Planovbet resultsAção Integral Conjunto assinadovbet results2015 sobre o programa nuclear iraniano (JCPOA, na siglavbet resultsinglês).

Mas a delegação americana não participou diretamente da mesavbet resultsnegociações, permanecendovbet resultsum hotel próximo ao local onde as reuniões eram realizadas, sendo informada regularmente sobre os progressos atingidos.

Barack Obama e John Kerry

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Legenda da foto, O governo Barack Obama dedicou quase dois anos às negociações do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano

O JCPOA, que o governo Obama levou 20 meses para negociar, foi desfeito quando o governo Donald Trump decidiu abandoná-lovbet results2018. Agora, para permitir que os Estados Unidos participem novamente das negociações, o Irã exige a suspensão das sanções impostas contra o país asiático.

Paradoxalmente, todo esse quebra-cabeças teve origem exatamente nos EUA, pois o programa nuclear iraniano foi iniciado graças a uma iniciativa americana na décadavbet results1950.

'Átomos para a Paz'

Tudo começou com um discurso do então presidente americano Dwight Eisenhower.

No dia 8vbet resultsdezembrovbet results1953, perante a Assembleia Geral da ONU, Eisenhower abordou a ameaça representada pelo uso da tecnologia nuclear com fins bélicos — que, já há vários anos, não era mais monopólio dos Estados Unidos — e dos riscosvbet resultsproliferação, à medida que cada vez mais países aprendessem a produzir bombas atômicas.

O então presidente americano afirmou que era necessário ir alémvbet resultsprocurar a redução dessa ameaça e sugeriu que essa tecnologia fosse colocada a serviço da humanidade.

"Não é suficiente retirar as armas [nucleares] dos soldados. É preciso colocá-las nas mãosvbet resultspessoas que saibam como eliminar seu aspecto militar e adaptá-las à arte da paz", segundo ele.

Ele então propôs a criaçãovbet resultsuma agênciavbet resultsenergia atômica, subordinada às Nações Unidas e encarregadavbet resultsprojetar formas para que o material nuclear "sirva aos propósitos pacíficos da humanidade", aplicando a energia atômica para atender a diversas necessidades,vbet resultsáreas como a medicina ou a agricultura.

"Um objetivo especial seria fornecer eletricidadevbet resultsabundância às regiões do mundo com escassezvbet resultsenergia", indicou Eisenhower.

Einsehower durante la presentaciónvbet resultsemitir los sellos postales con el motivovbet resultsla iniciativa Átomos para la Paz.

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Legenda da foto, Os Estados Unidos chegaram a emitir selos postais celebrando a iniciativa Átomos para a Paz

A ideia era que as potências capazesvbet resultsproduzir material nuclear o fornecessem para a agência da ONU, que o manteriavbet resultssegurança e o entregaria para pesquisadores, a fimvbet resultsverificar os usos pacíficos dessa energia.

O discursovbet resultsEisenhower foi a semente da criação da IAEA, mas também daria início a uma iniciativa conhecida como Átomos para a Paz, segundo a qual os EUA ofereceriam educação e tecnologia a paísesvbet resultsdesenvolvimento, para ajudá-los no uso pacífico da energia atômica.

Tirando o gênio nuclear da lâmpada

Menosvbet resultsum ano depois desse discurso perante a ONU, os EUA alteraramvbet resultsLeivbet resultsEnergia Atômica para permitir a exportaçãovbet resultstecnologia e material nuclear para outros países, desde que eles se comprometessem a não fazer uso dessa assistência para desenvolver armas nucleares.

Em agostovbet results1954, Eisenhower alterou a Leivbet resultsEnergia Atômica para permitir a exportaçãovbet resultstecnologia nuclear.

Crédito, Biblioteca Presidencial Dwight Eisenhower

Legenda da foto, Em agostovbet results1954, Eisenhower alterou a Leivbet resultsEnergia Atômica para permitir a exportaçãovbet resultstecnologia nuclear

Em marçovbet results1955, o governo Eisenhower deu um passo adiante e autorizou a Comissãovbet resultsEnergia Atômica dos Estados Unidos a fornecer, para países do chamado "mundo livre", quantidades limitadasvbet resultsmaterial fissionável, alémvbet resultsassistência para a construçãovbet resultsreatores nucleares.

"O objetivo dessas exportações era manter a liderança global dos EUA, reduzir a influência soviética e garantir o acesso ao fornecimentovbet resultsurânio e tório estrangeiro", segundo Peter R. Lavoy, que foi diretorvbet resultsPolíticasvbet resultsCombate à Proliferação Nuclear do Pentágono,vbet resultsum artigo publicado pela organização americana Arms Control Association.

A Índia foi o primeiro país a receber assistência nuclear dos EUA. Outros beneficiários foram África do Sul, Israel, Turquia, Paquistão, Portugal, Grécia, Espanha, Argentina, Brasil e Irã.

Reator para Teerã

Em 5vbet resultsmarçovbet results1957, os EUA e o Irã, então governado pelo xá Mohamed Reza Pahlevi, assinaram um acordovbet resultscooperação para uso civil da energia atômica que, com o apoio da iniciativa Átomos para a Paz, definiu as bases da criação do programa nuclear iraniano.

Para Washington, Teerã traria mais um benefício no contexto da Guerra Fria. "Segundo documentos [da época]vbet resultsarquivo, o Irã não alinhado era considerado a basevbet resultsuma estratégiavbet resultsdissuasão contra a União Soviética e a iniciativa Átomos para a Paz serviria para solidificar a lealdade do Irã ao Ocidente", segundo o pesquisador Jonah Glick-Unterman,vbet resultsuma análise publicadavbet results2018 pelo centrovbet resultsestudos Wilson Center, com sedevbet resultsWashington.

Em 1967, os EUA forneceram ao Irã um reator nuclearvbet resultspesquisavbet results5 megawatts, alémvbet resultsuma certa quantidadevbet resultsurânio altamente enriquecido paravbet resultsoperação.

Akbar Etemad

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Legenda da foto, Akbar Etemad foi presidente da Organização Iranianavbet resultsEnergia Atômica, formadavbet results1974

Três anos mais tarde, o Irã ratificou o Tratadovbet resultsNão Proliferação Nuclear, comprometendo-se a não tentar obter nem desenvolver armas nucleares. Mas esse objetivo não havia sido totalmente descartado pelo xá.

"A ideia do xá na época era que, se o Irã fosse suficientemente forte e ele pudesse defender os interesses do país na região, ele não tentaria obter armas atômicas. Mas ele me disse que, se isso mudasse, precisaríamos 'tornar-nos nucleares'. Ele tinha issovbet resultsmente", declarou Akbar Etemad, considerado o pai do programa nuclear iraniano,vbet resultsentrevista à BBCvbet results2013.

Etemad foi presidente da Organização Iranianavbet resultsEnergia Atômica, fundadavbet results1974, e esteve à frente do desenvolvimento inicial do programa nuclear do seu país.

Naquele ano, Reza Pahlevi anunciou planosvbet resultsconstruçãovbet results23 instalaçõesvbet resultsenergia atômica, com capacidade para gerar cercavbet results23 mil megawatts,vbet resultsduas décadas. Ele também queria desenvolver o ciclo completovbet resultsproduçãovbet resultscombustível nuclear.

Mas havia um obstáculo importante: o Irã não tinha especialistas qualificados, necessários para fazer esse projeto avançar.

"Como o Irã não contava com grandes quantidadesvbet resultsindivíduos formadosvbet resultsfísica e engenharia nuclear, o reatorvbet resultsTeerã permaneceu improdutivo por quase uma década, por não contar com mãovbet resultsobra adequada paravbet resultsoperação", segundo a pesquisadora Ariana Rowberry,vbet resultsartigo publicado pelo centrovbet resultsestudos Brookings Institution, com sedevbet resultsWashington.

Xá Mohamed Reza Pahlevi e Richard Nixon

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Legenda da foto, O xá Mohamed Reza Pahlevi e o presidente norte-americano Richard Nixon,vbet results1969.

A ajuda americana também seria fundamental para superar esse obstáculo.

Em julhovbet results1974, as autoridades iranianas propuseram ao renomado Institutovbet resultsTecnologiavbet resultsMassachusetts (MIT, na siglavbet resultsinglês) a criaçãovbet resultsum programavbet resultsmestrado para estudantes selecionados pela Organização Iranianavbet resultsEnergia Atômica, que permitiu a formação das primeiras geraçõesvbet resultsengenheiros nucleares iranianos.

Esse programa educacional, que custou ao Irã cercavbet resultsUS$ 1,3 milhões (US$ 7,3 milhões, ou cercavbet resultsR$ 41 milhões,vbet resultsvaloresvbet resultshoje) nos seus dois primeiros anos, foi motivovbet resultsprotestos por partevbet resultsprofessores e estudantes do MIT, que acusavam o xávbet resultsviolar os direitos humanos e temiam que o programa contribuísse com a proliferaçãovbet resultsarmas nucleares.

De qualquer forma, esse acordo educacional e a colaboração nuclear entre Washington e Teerã terminaram pouco tempo depois, com a vitória da Revolução Iranianavbet results1979. Mas suas consequências persistiriam.

"Ninguém no MIT imaginava que os programas projetados para o xá cairiam rapidamente nas mãos dos revolucionários islâmicos. Ninguém acreditava que tantos estudantes e professores iranianosvbet resultsformação apoiariam a revolução", segundo relatado pelos especialistasvbet resultshistória da tecnologia Stuart W. Leslie e Robert Kargon,vbet resultsum artigo publicado sobre o tema.

A Universidadevbet resultsTecnologia Aryamehr (AMUT, na siglavbet resultsinglês), que foi formada à imagem do MIT, acabou por ser um grande centrovbet resultsatividadevbet resultsestudantes revolucionários.

Protesto durante a Revolução Islâmica

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Legenda da foto, A Revolução Iraniana pôs fim ao governo do xá e à cooperação com os Estados Unidos

Inicialmente, o novo regime, liderado pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, rechaçou os projetos nucleares do xá e, com isso, muitos dos professores formados neste campo fugiram do país.

Após a revoluçãovbet results1979, os iranianos tinham uma posição extremamente antinuclear, segundo explica Mohammad Homayounvash, professorvbet resultsrelações internacionais da Universidade Internacional da Flórida (FIU, na siglavbet resultsinglês).

"Eles achavam que esse projeto era um 'elefante branco' do xá. E,vbet resultsfato, os iranianos suspenderam o programa nuclear e o desmantelaram quase por completo", afirmou Homayounvash à BBC News Mundo (o serviçovbet resultsespanhol da BBC).

"Houve um intervalovbet resultscercavbet resultscinco ou seis anosvbet resultsque os iranianos desprezaram totalmente a energia nuclear. Eles acreditavam que era um desperdíciovbet resultsrecursos, já que ela servia apenas para gerar eletricidade e o Irã detinha enormes recursos petrolíferos", acrescenta ele.

Mas a revolução iraniana logo perceberia a importância da tecnologia nuclear e começaria não apenas a tentar trazervbet resultsvolta para o país muitos especialistas que haviam partido, mas também iniciar o seu próprio programa atômico secreto.

Consequências inesperadas

Mas qual a real importância da Átomos para a Paz no desenvolvimentovbet resultsarmas nuclearesvbet resultsoutros países e no programa nuclear iraniano?

Segundo Homayounvash, havia por trás dessa iniciativa a preocupaçãovbet resultsEisenhower com as consequências do uso da tecnologia nuclear no campo armamentista.

Bomba atômica soviética RDS-1

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Legenda da foto, Em 1949, os soviéticos romperam o monopólio nuclear dos Estados Unidos

"Para evitar que outros países seguissem esse caminho, imaginou-se nesse momento que, fornecendo-lhes acesso a um certo nívelvbet resultstecnologia nuclear com fins civis, seria possível, até certo ponto, mantê-los sob controle, estabelecendo as proteções apropriadas", destaca.

Ele salienta, por exemplo, que os EUA não vendiam, mas sim alugavam o urânio entregue a países estrangeiros como combustível para os reatores — e apenasvbet resultsquantidadesvbet resultslaboratório.

E foi assim que os EUA colaboraram com o estudo e a pesquisa da energia nuclearvbet resultsmaisvbet results30 paísesvbet resultstodo o mundo. Mas, analisando retrospectivamente, não existe consenso entre os especialistas sobre o quanto essa iniciativa teria contribuído para a proliferação das armas nucleares.

Homayounvash acredita que é possível argumentar que a iniciativa Átomos para a Paz criou um ambiente que possibilitou a transferênciavbet resultstecnologia nuclear com fins pacíficos e os países que aprenderam a usar essa tecnologia puderam então iniciar seus avanços com outros propósitos.

Manifestaçãovbet resultsapoio ao programa nuclear iraniano

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Legenda da foto, O Irã reivindica seu direito ao desenvolvimento e ao uso da energia nuclear com fins pacíficos.

Mas ele argumenta que não existem tantas razões para crer que, se não houvesse a iniciativa Átomos para a Paz, alguns países não teriam atingido o ponto a que chegaramvbet resultstermosvbet resultsdesenvolvimento nuclear. "A cadeia lógica [para chegar a essa conclusão] é um pouco mais complicada que simplesmente traçar uma linha reta — e é algo que eu não faria", destaca Homayounvash.

Mas outros especialistas acreditam ser evidente que a iniciativa do presidente Eisenhower acabou favorecendo a proliferação nuclear. "Existe muita literatura atualmente que destaca como isso foi perigoso e como a iniciativa Átomos para a Paz estimulou e possibilitou definitivamente o desenvolvimentovbet resultsprogramasvbet resultsarmas nucleares", segundo John Krige, professor do Institutovbet resultsTecnologia da Geórgia, nos EUA, declarou à BBC News Mundo. "Pensar que seria possível traçar uma fronteira clara entre Átomos para a Paz e Átomos para a Guerra não só foi ingênuo, mas também demonstrou que é uma inverdade do pontovbet resultsvista histórico."

"Compartilhar tecnologia nuclear para uso civil tem consequências importantes do pontovbet resultsvista das armas nucleares. Não há dúvida a respeito", acrescenta Krige, que é especialista no estudo das relações entre a ciência e a tecnologia e a política externa dos EUA.

Os que compartilham essa opinião costumam apontar casos como a Índia e o Paquistão, que desenvolveram a bomba atômica e cujos primeiros cientistas nucleares foram formados pela Iniciativa Átomos para a Paz.

Mas seria também necessário incluir na balança todos aqueles que,vbet resultsalguma forma, estavam dispostos a desenvolver armas nucleares, mas que, graças aos sistemasvbet resultsproteção estabelecidos, não tiveram sucesso.

"Existem muitos outros casosvbet resultsque o desviovbet resultsmateriais nucleares científicos ou industriais para uso militar foi detectado e impedido pelos instrumentos e conceitos que formaram a iniciativa Átomos para a Paz. A Argentina, o Brasil, Taiwan e a Coreia do Sul são exemplos desses casos", segundo Peter R. Lavoy.

Na eventualidadevbet resultsque o programa nuclear iraniano realmente tenha fins bélicos, como acreditam os EUA, a pergunta que permanece sem resposta é a qual desses dois gruposvbet resultspaíses o Irã pertencerá no futuro.

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