O reator nuclear que pode ser 'santo graal' da energia para China:

Usina nuclear na China

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A China tem cerca50 usinas nucleares, mas nenhuma como a que será testadaWuwéi

"A questãohoje é: as tecnologiassuporte estão prontas para fazer do reatorsal fundido (MSR, na siglainglês) a tecnologia da próxima geração?", diz o engenheiro nuclear Charles Forsberg, do InstitutoTecnologiaMassachusetts (MIT, na siglainglês), nos EUA.

"O teste chinês é importante porque é o primeiro passo para repensar o caminho da energia nuclear: se as coisas mudaram e agora há outro rumo", explica ele à BBC News Mundo, serviçonotíciasespanhol da BBC.

Sal fundido e tório

Uma das melhores fontes para produzir eletricidade — apesarter tidoimagem manchada por acidentes como Chernobyl ou Fukushima — é desdeinvenção a energia nuclear.

Gera mais eletricidade do que as outras, quase não emite dióxidocarbono, garante um abastecimento contínuo, usa combustíveis relativamente acessíveis e seus resíduos são muito mais controláveis ​​do queoutras fontes.

A maioria das usinas nucleares do mundo usa urânio como combustível.

Usina nuclear

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Legenda da foto, As usinas termodinâmicas produzem vapor, e não dióxidocarbono

Mas o que está sendo testado na China é um método que, embora não seja novo, nunca foi testadouma escala tão grande.

Eles estão usando sal fundidofluoreto combinado com tório, um elemento químico encontradominerais que é "quatro vezes" mais abundante no planeta do que o urânio, diz Forsberg.

Em um reator, os dois elementos se combinam para produzir uma reação física (fissão) que gera mais calor do que o método tradicional, que utiliza urânio-235/238 combinado com plutônio.

"Os reatoressal fundido fornecem calor a temperaturas mais altas do que outros reatores, entre 600°C e 700°C. O calor a temperaturas mais altas é mais valioso", afirma Forsberg.

Gráfico mostra como funciona um reatorsal fundido

Outra vantagem,teoria, é que os resíduos radioativos podem ser eliminados no mesmo processo, evitando que caiammãos erradas, como fabricantesarmas nucleares.

E como esse tipoprocesso não requer água, como nas usinas nucleares que utilizam urânio-235, o reatorsal fundido pode ser construídolocais remotos e, assim, evitar qualquer possível risco à população, como vimosChernobyl ou Fukushima.

Tudo isso o levou a ser descrito como o "Santo Graal" das fontesenergia.

Tório

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Legenda da foto, O tório é quatro vezes mais abundante na Terra do que o urânio

Mas os especialistas dizem que tudo isso ainda precisa ser provado no teste chinês, por isso é tão importante.

"Com a necessidade críticareduzir as emissõescarbono e a crescente demanda mundial por eletricidade, é urgente comercializar tecnologias avançadasreatores", diz o engenheiro nuclear Everett Redmond, do InstitutoEnergia Nuclear dos Estados Unidos, à BBC News Mundo.

Para Forsberg, "o reatorsal fundido com tório/urânio-233 é o caminho alternativo" na indústria elétrica que usa fonte nuclear.

"Há grandes vantagens potenciaistermossegurança e gerenciamentoresíduos, mas desafios técnicos importantes", diz o cientista do MIT.

O que vem por aí?

A China revelouagosto que está prestes a realizar os primeiros testesseu reator experimental construído no desertoGobi, na provínciaGansu.

O país asiático investiu cerca3 bilhõesyuans (US$ 500 milhões)um programa iniciado2011 para investigar o usosal fundido e tório/urânio-233.

O reator construído e operado pelo InstitutoFísica AplicadaXangai (IFAS, na siglainglês) é o primeiro a testá-lo para um uso comercial: fornecimentoeletricidade.

Uma usina nuclearconstrução na China

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Legenda da foto, A China construiu várias usinasenergia, mas a da provínciaGansu é única no mundo

Outros países já haviam experimentado há décadas esse processo, mas acabou ficando apenasensaios porque não existia a tecnologia necessária para manejá-lo.

Não só requer que a fissão nuclear funcione bem, como também que o processo para obter calor e transportá-lo para uma usina termodinâmica opere corretamente. E que os testesfalha sejam controláveis.

"Muitos dos desafios do reatorsal fundido desapareceram devido aos avançosoutros campos ao longo50 anos", como a tecnologiabombeamento necessária para esse tiporeator, que já é usadousinas solares, explica Forsberg.

Os operadores da IFAS esperam agora que tudo corra conforme planejado para levar a tecnologia a uma escala maior.

Por que é futurista?

A energia gerada pelo reator experimentalWuwéi terá capacidade mínima2 megawatts para abastecer mil casas.

O plano é que até 2030 seja construído um reator que gere cerca370 megawatts, capacidade que forneceria eletricidade a mais185 mil residências.

Ao gerar uma temperatura mais alta, próxima a 700 ° C, um reatorsal fundido se torna mais valioso para a indústria elétrica.

Usina solarGansu

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Legenda da foto, No mesmo deserto da provínciaGansu, a China já possui diversos projetos que buscam substituir energias poluentes

"O caloruma temperatura mais alta resultaciclosenergia mais eficientes: uma fração maiorcalor é convertidamais eletricidade", explica o cientista do MIT.

E comoteseconstrução tem um custo semelhante a outras usinas nucleares existentes, o benefício aumenta.

"Se dois reatores têm característicascusto idênticas, o reator que produz temperaturas mais altas gera um produto mais valioso", indica Forsberg.

A China garantiria então possuir a tecnologia mais avançada, segura e limpa para geraçãoenergia do mundo.

Não exclusiva, pois Redmond explica que nos Estados Unidos algumas empresas também estão tentando criar reatores a sal fundido. Mas, sim, comprovada.

"Todos os projetosreatores avançados têm grande potencial, por isso apoiamos e encorajamos o desenvolvimento acelerado, a demonstração e a implantação comercialtecnologiasreatores avançados", acrescenta Redmond.

Mesmo assim, os cientistas que estão atentos ao que acontece na China ainda têm suas dúvidas: será que vai funcionar?

Mas o simples fatouma ideia concebida há décadas estar prestes a ser colocada à prova faz com que todos se voltem para o pequeno reatorWuwéi.

Línea

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