Quem foi João Calvino, que ajudou a fundar o protestantismo e a justificar o capitalismo:100 freebet unibet
"Ele não pensa que isso pode ser uma ideologia que falseia a realidade. Ele realmente acreditava nisso."
"Quando calvinismo e capitalismo se encontram é o casamento perfeito, pois ambos possuem afinidades eletivas, ou seja, a mesma lógica100 freebet unibetfuncionamento", argumenta ele.
"Ambos valorizam o trabalho e reinvestem o fruto do trabalho100 freebet unibetmais trabalho. O que,100 freebet unibetúltima instância, gera acúmulo100 freebet unibetcapital."
Mesmo que a motivação seja diferente, o foco tanto do religioso calvinista como do inveterado capitalista é o mesmo: o trabalho.
"O calvinista ama trabalhar porque assim glorifica a Deus. O capitalista ama trabalhar porque assim obtém lucro", compara Moraes.
"Não importa! Ambos contribuem para o nascimento100 freebet unibetum mundo novo, onde o trabalho enobrece o homem e glorifica a Deus."
Conforme o teólogo explica, Calvino não coloca a questão se há diferença entre "os donos do meio100 freebet unibetprodução" e aqueles "que vendem a única coisa que lhes sobrou, a força100 freebet unibettrabalho". Sua análise, afinal, é muito anterior a100 freebet unibetMarx.
Principais vertentes da Reforma Protestante
No contexto da Reforma Protestante do século 16, o calvinismo é uma das três principais vertentes, ao lado do luteranismo e da criação da Igreja Anglicana. Desta forma, Calvino também foi um dos responsáveis por quebrar a hegemonia ocidental da Igreja Católica. "Foi o fim do monopólio católico na administração dos bens100 freebet unibetsalvação, permitido novas formas100 freebet unibetcristianismo", pontua Moraes.
Em100 freebet unibetbase, a teologia calvinista é fortemente apoiada nas escrituras sagradas, ou seja, nos textos bíblicos. Neste aspecto procurava se diferenciar da Igreja Católica100 freebet unibetentão, já alicerçada pelas bases filosóficas da tradição escolástica. "O protestantismo,100 freebet unibetgeral, é a volta à Bíblia como elemento essencial", sintetiza o teólogo.
"Os calvinistas seguem os princípios gerais da Reforma Protestante: justificação por graça mediante a fé, sacerdócio geral dos crentes e a Bíblia como princípio100 freebet unibetfé e prática", acrescenta a teóloga. Sonia Mota, pastora da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e diretora executiva da Coordenadoria Ecumênica100 freebet unibetServiço. "Calvino enfatizou100 freebet unibetmaneira especial: o princípio da soberania100 freebet unibetDeus, ou seja, tudo redunda para a glória100 freebet unibetDeus; fidelidade aos preceitos da Bíblia; valorização da ética e do trabalho social e a predestinação."
Moraes destaca a chamada teologia da aliança como um princípio do calvinismo. "Aliança porque entende-se que Deus vai fazendo pactos ao longo da história, e renovando essas alianças. Com a vinda do Messias [Jesus Cristo], todos aqueles que aceitarem-no como senhor e salvador passam a fazer parte do povo100 freebet unibetDeus", diz Moraes.
Outro ponto que se destaca é a ideia da eleição, da predestinação.
"A partir do século 17, o calvinismo passa a ser visto como uma religiosidade que enaltece a predestinação: só os eleitos são salvos. Mas essa é uma marca do calvinismo [ou seja, dos seguidores] e não do próprio Calvino", explica o teólogo.
"Em Calvino, a teologia da predestinacão não ocupa um espaço100 freebet unibetprimazia, um espaço central."
"A centralidade da teologia100 freebet unibetCalvino é a encarnação100 freebet unibetCristo, e assim esse pacto, essa aliança. O encontro do humano com o divino e a possibilidade100 freebet unibettudo o mais. Sem Jesus Cristo, não haveria Reino100 freebet unibetDeus, portanto100 freebet unibetvinda foi a inclusão100 freebet unibettodos100 freebet unibetuma nova aliança", explica ele.
Predestinação divina
Foi a prática, portanto, que acabou valorizando a ideia da eleição, da predestinação. E isso acabou se tornando muito forte100 freebet unibetpaíses como a Inglaterra — os chamados puritanos — e,100 freebet unibetseguida, com os colonos que chegaram aos Estados Unidos imbuídos da ideia100 freebet unibetque eram os predestinados ao Novo Mundo.
"A questão dos eleitos é uma releitura100 freebet unibetuma teologia paulina e agostiniana", esclarece Moraes. "Por esta perspectiva, os homens, graças ao pecado100 freebet unibetAdão, estão mortos espiritualmente. Então, neste sentido, só Deus pode dar o primeiro passo para salvar quem está morto, e ele o faz, enviando Jesus para morrer e satisfazer a ira deste Deus ofendido, reconciliando este e suas criaturas."
"Para ter acesso a Deus novamente, basta aceitar Jesus como Senhor e Salvador, mas como Deus é onisciente, ele já sabe, porque já escolheu100 freebet unibetantemão os que serão salvos, os eleitos", prossegue. "Os não eleitos estão condenados. Por que Ele escolheu uns e rejeitou outros? Calvino disse: 'Por que Ele quis'. Como ser livre e com autoridade plena, ele pode salvar uns e deixar outros perecerem."
"Eu sei que isso pode parecer cruel, mas para aquele que que se vê contado entre os eleitos, isto tem um efeito social pleno100 freebet unibetpotencialidades", explica Moraes.
Em um mundo100 freebet unibetreinvenção do capitalismo, com incipiente industrialização, era inevitável que essa ideia religiosa servisse muito bem aos que se viam como bem-sucedidos.
"Calvino não entra no aspecto profundo do que produz riqueza ou pobreza. Ele diria que tudo isso é fruto do pecado do homem100 freebet unibetAdão. A queda do homem gera as injustiças sociais. Para Calvino, a riqueza tem a finalidade100 freebet unibetsocorrer os pobres", diz o teólogo.
"A miséria para Calvino é uma consequência do pecado original, mas Deus em100 freebet unibetinfinita graça, abençoa os homens como suas criaturas através da100 freebet unibetgraça comum", explica Moraes. "Todos os homens são criaturas, alguns são filhos, os eleitos, e como ambos ocupam o mesmo espaço e tempo, Ele cria as condições para a existência100 freebet unibettodos."
Neste sentido, entende-se que Deus "cria condições100 freebet unibetvida para superar a miserabilidade".
"Não se trata100 freebet unibetdizer que os ricos são eleitos, e a riqueza é evidência da eleição, ou que os pobres vão para o inferno, como seres amaldiçoados", ressalta.
"Essa é uma visão simplista e desabonadora da teologia100 freebet unibetCalvino. Ela está mais para teologia da prosperidade do que para uma teologia calvinista. Mas um marxista diria que Calvino justifica a divisão social entre oprimidos e opressores."
Diferenças
Frente aos católicos, os cristãos calvinistas diferem-se porque simplificaram os sacramentos — enquanto os primeiros têm sete, os calvinistas reconhecem a necessidade apenas do batismo e da eucaristia — e não veneram santos nem Maria, a mãe100 freebet unibetCristo, tampouco têm imagens sacras100 freebet unibetseus altares.
Sonia Mota também ressalta a questão da hierarquia eclesial.
"As igrejas calvinistas não são episcopais, onde os bispos são a autoridade", explica.
"Elas adotam o sistema representativo, o que significa que todos os membros participam100 freebet unibetforma indireta do governo da igreja através100 freebet unibetrepresentantes eleitos por seus membros para mandatos com prazo determinado."
Quando olhamos para o contexto histórico da Reforma Protestante,100 freebet unibetque o poder teocrático absolutista da Igreja Católica era fortemente questionado, esse sistema100 freebet unibetparticipação popular faz todo o sentido.
O teólogo Gerson Leite100 freebet unibetMoraes atenta para a doutrina da salvação, onde residem divergências com o catolicismo.
"Para os católicos, além das práticas religiosas, há um elemento importante: as obras. A salvação, para eles, vem através100 freebet unibetJesus mas as obras contribuem. Na tradição calvinista, não: somente a graça divina resgata o homem, o homem é visto como um ser morto100 freebet unibetseus delitos e pecados e precisa da ação benevolente e misteriosa100 freebet unibetDeus a seu favor", contextualiza.
No calvinismo, portanto, "não há a possibilidade100 freebet unibetcooperação entre homem e Deus" para esse processo100 freebet unibetsalvação, conforme explica Moraes.
Comparados com os luteranos, os calvinistas também guardam diferenças.
"A maior é no que diz respeito à compreensão da presença100 freebet unibetCristo na eucaristia", pontua a pastora Mota. "Para os calvinistas, a presença100 freebet unibetCristo não é substancial nem particularmente ligada aos elementos, ou seja, uma presença espiritual verdadeira. Os luteranos acreditam que Cristo está verdadeiramente presente em, com e sob as formas do pão e do vinho."
Entre os próprios calvinistas, Mota lembra que também há diferenças.
"E a distância que separa os calvinistas liberais, fundamentalistas e carismáticos é maior do que a distância entre os tradicionais princípios teológicos calvinistas e os100 freebet unibetoutras denominações protestantes históricas", frisa ela.
"Liberais presbiterianos se entendem melhor com liberais anglicanos ou luteranos do que com fundamentalistas ou carismáticos presbiterianos."
Moraes ressalta que "no meio protestante", os calvinistas são reconhecidos como "um grupo religioso muito apegado à Bíblia, à tentativa100 freebet unibetfidelidade, ao viver segundo a tradição".
"O lado negativo é que isso pode desembocar numa prática fundamentalista e bastante sectária se não for bem cuidado, se não houver um equilíbrio", avalia o teólogo.
Denominações e vertentes
Conforme as ideias calvinistas foram se espalhando, elas foram ganhando denominações e, claro, vertentes também foram surgindo. Logo nos primórdios da religião, os calvinistas franceses foram chamados100 freebet unibethuguenotes, na Inglaterra,100 freebet unibetpuritanos, na Holanda,100 freebet unibetreformados, na Escócia,100 freebet unibetpresbiterianos.
"No Brasil, houve várias tentativas100 freebet unibetinserção do calvinismo", conta Moraes.
"No Rio, com a França Antártida, depois no nordeste, com os holandeses. No século 19, com a abertura dos portos, para manter boas relações com a Inglaterra, os tratados comerciais e100 freebet unibetnavegação permitiam a prática100 freebet unibetoutras religiões para esses grupos."
Foi quando, oficialmente, diversas religiões protestantes chegaram ao Brasil. Gradualmente, vão ganhando mais liberdades.
"Durante o reinado100 freebet unibetDom Pedro. II, já havia grupos protestantes100 freebet unibetdiversas regiões", relata Moraes.
"Mas ainda com limitações: não podiam ter igreja com torre, não podiam várias coisas. Mas podiam praticar os cultos sem serem perseguidos."
A pastora Mota explica que essa chegada dos calvinistas pode ser dividida100 freebet unibettrês fases.
A invasão era quando vinha junto com os ataques sofridos pela colônia, como no caso dos franceses no Rio e dos holandeses no Nordeste. Ela também comum que eles buscassem catequizar indígenas.
Mais tarde, a partir do século 19, há a chegada100 freebet unibetimigrantes que já praticavam religiões protestantes — e seguem fazendo100 freebet unibetterritório brasileiro.
Por fim, os missionários são os que chegam com o papel100 freebet unibetrealmente criar igrejas no Brasil.
De acordo com Moraes, o marco fundador do calvinismo no Brasil é considerado a vinda do pastor norte-americano Asgbel Green Simonton ao país,100 freebet unibet12100 freebet unibetagosto100 freebet unibet1859. Em 1862 ele fundou a Igreja Presbiteriana do Brasil.
Estima-se que, no total, sejam 1,2 milhão os praticantes do calvinismo no Brasil.
"É a terceira maior vertente, considerando as igrejas protestantes históricas, depois100 freebet unibetbatistas e luteranos", diz Mota.
A Igreja Presbiteriana do Brasil é ainda há maior do segmento no país, com 650 mil adeptos. Há dissidências, como a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil,100 freebet unibet1903, e a Igreja Presbiteriana Unida e a Igreja Presbiteriana Renovada.
"A Unida é um pouco mais aberta, progressista. A Renovada, quase pentecostal", explica Moraes.
"Existe ainda a Igreja Presbiteriana Conservadora, que é declaradamente fundamentalista. E outros segmentos vão aparecendo como ramificações dessas igrejas. Ultimamente, têm aparecido algumas que são dissidências e não assumem o nome presbiteriana."
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