Após a Olimpíada dos influenciadores, desafioatletas é capitalizar sucesso nas redes sociaisolhoParis 2024:
Ítalo Ferreira, ouro no surfe, tem 2,9 milhõesseguidores no Instagram, quase três vezes o que tinha antes dos Jogos. Kelvin Hoefler, prata no skate street, quase quadruplicou, para 890 mil.
Rebeca Andrade, donaum ouro e uma prata, tinha pouco mais230 mil. Agora, são 2,5 milhões.
Mas ninguém ganhou mais seguidores no que a "fadinha" Rayssa Leal, prata no skate street. Ela voltou da Olimpíada com 6 milhõesseguidores a mais.
"Eles explodiram", diz Pissarra, que tem no seu elenco Douglas Souza, que virou na Olimpíada o jogadorvôlei mais seguido no Instagram no mundo.
Com os vídeos engraçados e sem medoescancarar que é gay, Douglas virou a estrela da Olimpíada dos influenciadores.
"De onde está saindo esse povo?", ele perguntou quando bateu 1 milhão. Hoje, são 3,1 milhões — e contando.
"Ele fez sucesso porque é superautêntico. Ele subiu na cama da Vila Olímpica, desfilou na quadra. E a gente não estava acostumado a isso. Todo mundo queria ver um atleta 'vida real", avalia Pissarra.
Capitalizando o sucesso nas redes
Assim, depois dos Jogos, que são normalmente uma vitrine para esportes que raramente (ou nunca) passam na televisão, surgiu um jeitoatletas se manteremalta, conquistarem patrocínios e terem novas formasganhar dinheiro com as redes sociaisolho na OlimpíadaParis,2024.
Isso cria uma oportunidade para a grande maioria dos atletas que sofrem bastante para conseguir patrocínios — tanto que 41 brasileiros que foram a Tóquio tiveramfazer vaquinhas para se financiar.
"Em Tóquio, só pouco mais da metade dos atletas brasileiros tinha patrocínio. Agora, eles podem não só vender patrocínios, mas participarações, vender posts…", afirma Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports, agênciamarketing esportivo.
Os valores que cada atleta pode ganhar variam bastante, é claro,acordo com a modalidade epopularidade dentro e fora das redes.
Mas uma celebridade esportiva pode faturar entre R$ 50 mil e R$ 100 mil com um postrede social. Isso representa16 a 32 vezes o que um atleta olímpico ganha por mês com a bolsa do governo federalR$ 3,1 mil.
Atletas como Darlan Romani, quarto lugar no arremessopeso, que podiam ganhar entre R$ 5 mil e R$ 10 mil por mês com um patrocínio antes da Olimpíada, têm a chancever esses valores serem multiplicadosaté dez vezes conforme seu desempenho.
São números que ainda ficam bem longe dos valores estratosféricosestrelas globais como o surfista Gabriel Medina e o jogadorfutebol Neymar — nestes casos, um patrocínio anual ou uma campanha podem custar R$ 4 milhões para uma marca.
Mas o que seria um valor modesto para alguns pode transformar a vidaoutros, como Darlan, que chegou a improvisar treinosum terreno baldio para se preparar para Tóquio.
Isso sem falar nas campanhas publicitárias, que podem render, por exemplo, R$ 300 mil a R$ 400 mil para uma atleta como Rebeca Andrade se ela estrelar os comerciaisuma marcabeleza.
Para chamar a atençãouma marca, ter menos50 mil seguidores "é pouco", diz Fátima Pissarra, da Mynd. "A partir50, 60 mil, já dá para começar a trabalhar para crescer."
Mas não há um número mágico para saber quem é um influenciadorsucesso, diz a executiva. Isso variaesporte para esporte.
"A Mayra Aguiar tem 240 mil, é bom para o judô. Mas, se no vôlei tiver 15 pessoas com 1 milhão, uma pessoa com 50 mil não se destaca."
Pissarra diz que antes "tinha que cavucar" para achar atleta com muitos seguidores. "Eram poucos. Com mais1 milhão então, era dificílimo. Mas isso está mudando, e acho que esse boom vai abrir os olhos das marcas."
Wolff acredita que a Olimpíada foi um divisoráguas no uso das mídias sociais pelos atletas.
"Há um antes e um depoisTóquio. Eles perceberam que eles são criadoresconteúdo e que têm histórias únicas para contar. Se tiverem números expressivos, não precisam mais depender da visibilidade da TV. Só depende deles mesmos", diz.
Tóquio, uma fábricainfluenciadores
Nos Jogos sem público, do outro lado do mundo e com um fuso horário ingrato, os brasileiros correram para a internet e para as redes sociais dos atletas.
A competição ocorreuplena pandemia, quando o mundo digital já tinha virado para muita gente uma válvulaescape para as restriçõescirculação. Os Jogos foram a atração perfeita.
"Houve um aumento30% no interesse dos internautas brasileiros nas Olimpíadascomparação com a edição passada", diz Arthur Bernardo Neto, diretordesenvolvimentonovos negócios da Ibope Repucom, empresapesquisa especializada no mercado esportivo.
As redes sociais também mudaram desde a Rio 2016. O Facebook, por exemplo, ganhou 1 bilhãousuários.
O Instagram dobroutamanho — tinha na época "só" 500 milhõesusuários. E os stories — posts que desaparecem24 horas e um dos principais apelos da rede hoje — haviam acabadoser lançados.
O TikTok, rede socialvídeos curtos imensamente popular entre jovens, sequer existia.
Tudo isso fez com que a OlimpíadaTóquio virasse uma fábricainfluenciadores, transformando atletas nas celebridades do momento, e, com suas históriassuperação ou desempenho, eles conquistaram muitos fãs nas redes sociais.
Nem foi preciso ganhar medalha para isso. Douglas Souza é um exemplo (a seleçãovôlei masculina perdeu o bronze para a Argentina). Darlan é outro: tinha pouco mais10 mil antes dos Jogos e, hoje, são 470 mil.
A skatista Letícia Bufoni e a ginasta Flávia Saraiva voltaram sem pódio, mas com 150% mais seguidores no Instagram.
Um desafio para os atletas
Os influenciadores são hoje uma alternativamarketing bastante efetiva e bem mais barata do que a publicidade tradicional.
As marcas estão sempre prospectando novos nomes para se associar e que podem ajudar comimagem e seus negócios. O grande objetivo é ser o primeiro a trabalhar com alguém que ficaevidência.
Um desafio para os atletas é aprender a ser influenciador, diz Ivan Martinho, professorMarketing Esportivo da ESPM. O atleta precisa adquirir essa competência, segundo ele, porque ela passou a ser tão importante quanto o seu treino.
É uma formamanter o público que conquistou e atrair as marcas desde agora e não só quando estiverexposiçãoParis. "Precisa fazer desse trabalho um terceiro turno", diz Martinho.
O melhor a fazer é profissionalizar a presença digital, diz Mônica Esperidião, consultoragestão e marketing esportivo. "Eles precisam entender que eles são um produto e que as redes sociais sãoferramentatrabalho."
Esperidião reconhece no entanto que para muitos atletas brasileiros falta dinheiro até para conseguir treinar, ainda mais para contratar quem os ajude a fazer isso.
"Nesses casos, a federaçãocada esporte pode ajudar. A federação é mais forte do que o atleta sozinho, e está sempre olhando para os seus talentos para ajudar a construirimagem. Ela pode fazer uma marca enxergar um atleta, e aí as coisas começam a se mover."
Olimpíadasalta
Os atletas têm a seu favor o fato que os brasileiros parecem gostar bastante das Olimpíadas. Uma medida disso está no númeroseguidores que os comitês olímpico e paralímpico brasileiro têm nas redes sociais, diz Arthur Bernardo Neto, da Ibope Repucom.
"O Brasil é vice-líder no mundo. Isso significa que tem um grande potencialexposição para os influenciadores", avalia Neto.
Além disso, a popularidade dos Jogos vem numa crescente. "Diria que até 2016, o interesse estava chegando num nível médio. Em 2016, chamou a atençãovez do brasileiro e, com os resultados históricosTóquio, está passandomédio para alto."
Outra vantagem do ciclo olímpico que começa agora é que ele vai ser mais curto por causa da pandemia.
Os JogosTóquio tiveramser adiadosum ano, e agora faltam só três para Parisvez dos quatro anos que normalmente separam as edições. "Diminuiu a janelaesquecimento", diz Martinho.
Ainda assim, as marcas não funcionamtermosciclos olímpicos. Elas trabalham com metas e orçamentos anuais.
As empresas querem um retorno mais imediato, e seus executivos, resultados que garantam os seus bônus e os ajudemsuas carreiras.
Por isso, ainda são poucos os atletas que conseguem algo alémapoios pontuais ou contratos que duram mais do que alguns meses.
Mas agora a situação é um pouco diferente, porque os atletas têm nas redes sociais uma formase manterevidência por conta própria e um jeitodar às marcas a exposição que elas procuram fora do calendário das competições.
Com os resultados históricos do BrasilTóquio, é horaaproveitar essa janelaoportunidade, se valorizar, cobrando o que é justo e, preferencialmente, optar por contratos mais longos, diz Martinho: "No relacionamento com as marcas, não é horaficar, é horacasar".
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