Temer, Haddad, Maluf: como descendentescbet cassinolibaneses chegaram aos mais altos postos da política brasileira:cbet cassino
As viagens e conversas foram uma das formascbet cassinoinvestigar a íntima e pouca conhecida relação entre o Líbano e o Brasil, onde está provavelmente a maior comunidadecbet cassinonascidos e descendentescbet cassinolibaneses fora do país no Oriente Médio, segundo estimativas dos respectivos governos. São os "brimos", como os imigrantes que ainda aprendiam o português se chamavam, trocando o "b" pelo "p"cbet cassinoprimos.
No livro recém-lançado, o autor conta as históriascbet cassinofamílias cujos descendentes chegaram à política, como os Boulos, Feghali, Haddad, Kassab, Maluf e Temer, e busca responder como aconteceu esta bem-sucedida ascensão ao poder.
"Em relação ao percentualcbet cassinolibaneses no Brasil, o percentualcbet cassinopolíticos (nessa comunidade) é alto. É um grupo migratório que investiu na políticacbet cassinouma maneira excepcional", explica o autor, atualmente doutorando na Universidade Georgetown e ex-correspondente do jornal Folhacbet cassinoS. Paulocbet cassinoJerusalém e Madri.
"Sempre achei interessante que há políticoscbet cassinoorigem sírio-libanesacbet cassinodireita, esquerda, centro, extremos. Não é minha áreacbet cassinopesquisa, mas minha impressão é que os italianos, por exemplo, ficaram muito marcadoscbet cassinomovimentos sindicais no começo do século 20. Já para os sírio-libaneses, não existe tanto um padrão (de orientação política)", afirma Bercitocbet cassinoentrevista à BBC News Brasil.
O autor explica que a participaçãocbet cassinosírios-libaneses na política brasileira é grande não só para cargoscbet cassinorelevância nacional, como a Presidência, governo e prefeituracbet cassinoSão Paulo, mas tambémcbet cassinocargos locais espalhados pelo Brasil — acompanhando a histórica dispersão desses imigrantes no país.
No Congresso Nacional, Bercito cita uma pesquisa do historiador Sérgio Tadeucbet cassinoNiemeyer Lamarão que mostrou que, entre 1945 e 1999, o Brasil teve 163 deputados federais e senadores com sobrenomes sírios e libaneses, atrás apenascbet cassino236 parlamentarescbet cassinoorigem italiana.
No livro, Bercito dedica capítulos às históriascbet cassinopolíticos e suas famílias, mas se aprofunda também no contexto histórico que levou à massiva imigração para o Brasil a partir do final do século 19 — estima-se que, entre 1880 e 1969, 140 mil árabes atravessaram o oceano para tentar uma vida melhor por aqui, a maioria deles libaneses e sírios.
Eles deixavam para trás problemas na agricultura, o frenético crescimento populacional, a faltacbet cassinotrabalho, os efeitoscbet cassinoguerras, entre tantos outros motivos para a emigração daquele território, dominado pelo Império Otomano até 1922. A delimitação e independência da Síria e do Líbano só veio na décadacbet cassino1940, o que gera algumas incertezas sobre a origem precisacbet cassinomuitos destes imigrantescbet cassinoanos anteriores.
O avô e o pai do ex-ministro e prefeitocbet cassinoSão Paulo Fernando Haddad deixaram o vilarejocbet cassinoAin Ata fugindo da pobreza e dos efeitos nocivos da Segunda Guerra Mundial. Décadas antes, os paiscbet cassinoMichel Temer saíramcbet cassinoBtaabura depois que a produçãocbet cassinotabaco foi deslocada para outros polos.
A migração destas e outras milharescbet cassinopessoas trouxe o Brasil ao númerocbet cassino7 a 10 milhõescbet cassinopessoascbet cassinoorigem libanesa, segundo seus governos. Bercito diz que pesquisadores consideram essa cifra exagerada, mas afirma que ainda assim o Brasil é onde provavelmente está a maior comunidade com esta origem fora do Líbano.
Argentina e Estados Unidos foram também destinos importantes destes imigrantes.
Para o livro, o autor tentou entrevistas com todos os principais personagens políticos, conseguindo efetivamente conversar com Gilberto Kassab (PSD), Guilherme Boulos (PSOL) e Jandira Feghali (PCdoB). Além da política, porém, o livro aborda também as históriascbet cassinointelectuais como a síria Salwa Salama Atlas,cbet cassinodezenascbet cassinoperiódicos e jornais produzidos pela comunidade no Brasil, e tambémcbet cassinoinstituiçõescbet cassinorenome como o Hospital Sírio-Libanês,cbet cassinoSão Paulo.
Investimento na educação
A maior parte dos libaneses que chegaram ao Brasil nos principais anoscbet cassinomigração eram cristãos, sobretudocbet cassinovertentes orientais como os maronitas e greco-ortodoxos. Segundo explica o livro, imigrantes muçulmanos tiveramcbet cassinogeral uma experiência diferente, com integração mais lenta e menos êxito econômico.
E, diferentementecbet cassinooutros gruposcbet cassinoimigrantes, como os italianos, os sírio-libaneses não chegaram ao Brasil com apoio dos respectivos governos, deixandocbet cassinoter, portanto, suporte na busca por abrigo, empregos e propriedades. Mas isso foi também uma certa vantagem: eles conseguiram se espalhar pelo país com relativa liberdade.
Assim, esparramando-se pelo Brasil e atuando inicialmente no comércio ambulante, os imigrantes construíram a famacbet cassinoque, "por menor que fosse uma vila, os 'turcos' estavam ali" — a alcunha pejorativa se formou uma vez que os imigrantes viajavam com um passaporte do Império Otomano na épocacbet cassinoque o Líbano não existia como Estado.
Depois dos mascates, o próximo passo para estas famílias foi abrir suas próprias lojas e negócios, como ocorreu com as famíliascbet cassinoFernando Haddad (PT) e Paulo Maluf (PP).
O ex-prefeito e governadorcbet cassinoSão Paulo representa uma outra história típica: teve a educação priorizada pela família, o que às vezes era viável para apenas um dos filhos. O irmão mais velhocbet cassinoMaluf assumiu os negócios do pai enquanto aquele estudava.
Paulo se formou como engenheiro na Escola Politécnica da Universidadecbet cassinoSão Paulo (USP), instituiçãocbet cassinoprestígio que impulsionou diversas personalidades e políticoscbet cassinoorigem libanesa, formados tambémcbet cassinooutras faculdades.
"Os primeiros migrantes fizeram um esforço excepcionalcbet cassinocolocar os filhos primeirocbet cassinoescolascbet cassinoelite; depoiscbet cassinouniversidadescbet cassinoelite, principalmentecbet cassinoprofissões liberais como direito, medicina, engenharia. Foicbet cassinocaso pensado: era um investimento que toda família fazia — nem todo mundo podia estudar, às vezes tinha o filho que ia estudar. Era algo que trazia muito orgulho", explica Bercito.
A inclusãocbet cassinoPaulo Maluf no livro, aliás, desagradou outros entrevistados e membros da comunidade, por seu históricocbet cassinoacusações, condenações e prisões por corrupção.
"Na época das entrevistas, Maluf estava preso, então as pessoas apontavam para toda a controvérsia que ele representou para a comunidade. Mas eu acho que era impossível escrever esse livro sem o Maluf; o livro poderia ser só sobre o Maluf, inclusive, porque acho que ele é o grande personagem dos libaneses — mesmo não tendo chegado à Presidência", diz o autor.
"A maneira com que ele usou a etnia, como trouxe pessoascbet cassinoorigem sírio-libanesa para o entorno dele, e a maneira que outras pessoas usaram isso para condená-lo, é uma pessoa que representa todo o livro. Mas ele é o que traz mais consenso, entre a esquerda e a direita,cbet cassinoque foi alguém que causou dano para a comunidade", afirma Bercito, que aborda também no livro os estereótipos que ao longo dos anos associaram os libaneses à corrupção.
'Brimos' célebres visitaram o Líbano
Já no vilarejocbet cassinoHadath, origemcbet cassinosua família, Maluf foi recebido como um "messias"cbet cassinosuas visitas, quando foi carregado no ombrocbet cassinobrimos e foi motivocbet cassinofestanças, segundo conta o livro. Temer e Haddad também visitaram os povoadoscbet cassinoorigem dos pais e foram recebidos com honrarias.
Diogo Bercito diz que, embora Maluf e Temer tenham suas histórias e presenças celebradas, o nome Haddad ressoa no povoadocbet cassinoAin Atacbet cassinouma forma diferente: lá, o avô do petista, o padre greco-ortodoxo Habib al-Haddad, é venerado por um ato considerado heroico. Ele demoveu o Exército colonial francêscbet cassinobombardear o vilarejo conversando, ao ladocbet cassinooutros anciãos, com o general.
Enquanto traça as trajetóriascbet cassinonomes célebres no Brasilcbet cassinoorigem sírio-libanesa, Bercito tenta também encontrar pistas sobrecbet cassinohistória pessoal: há indícioscbet cassinoque ele é descendentecbet cassinoum parente libanês — assunto que ele detalha no livro, mas não vamos contar na íntegra para não estragar a surpresa.
Isso, segundo ele, talvez esclareça seu interesse "inexplicável" e antigo pela cultura e história árabe, algo que ele diz pretender explorar por toda a vida.
"Vejo essa parte do livro como um apelo: tenho a esperançacbet cassinoque alguém que tenha informações, ou tenha ouvido falar deste meu parente possa entrarcbet cassinocontato", diz o escritor sobre a busca porcbet cassinoprópria história.
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