O enigmauol betAspásia, a mulher mais famosa da épocauol betouro da Grécia, e que conquistou Péricles e Sócrates:uol bet

Não sabemos com precisão quando ela nasceu ou morreu, como se tornou o que era ou quem foi exatamente.

Ainda assim, ao ler o que foi escrito sobre ela, é difícil não chegar à conclusãouol betque ela era um ser fora do comum, que, mesmo sendo bela, se destacava principalmente por seu intelecto no mesmo ambienteuol betque personagens como Sócrates e Péricles.

Uma questão difíciluol betresolver

Sabemos que ela vinhauol betMileto, a maior cidade grega da Anatólia até 500 a.C., que se distinguia por suas personalidades literárias e científico-filosóficas como Tales, um dos Sete Sábios da Grécia.

Na épocauol betque Aspásia nasceu, por voltauol bet470 a.C., Mileto havia se juntado à Ligauol betDelos dominada pelos atenienses, após confrontos com os persas.

Tudo parece indicar que Aspásia alcançou um níveluol beteducação atípico para as mulheres da época e que, ao migrar para Atenasuol betmeados do século, abriu uma escola para jovens, que alguns dizem que era um salão intelectual e outros, um bordel.

Talvez fossem ambos, se o que ela estava fazendo era formar outras jovens para se dedicarem ao que alguns estudiosos acreditam que ela própria era: uma hetera.

As heteras eram uma classeuol betcortesãs profissionais independentes da Grécia antiga que, alémuol betcultivar a beleza física, desenvolveram suas mentes e talentosuol betum grau muito mais elevado do que era permitido às mulheresuol betgeral.

Aprendiam "as artes da dança, da música, assim como a oratória" ​​e podiam "manter conversas com os principais políticos e aristocratas sobre filosofia, política e assuntos da atualidade", como explica Sarah Pomeroy, autora do livro Goddesses, Whores, Wives, and Slaves ("Deusas, prostitutas, esposas e escravas",uol bettradução livre).

"Tinham acesso à vida intelectualuol betAtenas, e uma cortesã popular que não era escrava tinha a liberdadeuol betestar com quem ela quisesse."

E quem chamouuol betatenção foi nada menos que Péricles.

A Idadeuol betPéricles

Quando se apaixonaram, Péricles (495-429 a.C.) já dominava a políticauol betAtenas, algo que fez por 30 anos, quando a vida cultural da cidade prosperou,uol betdemocracia se fortaleceu, seu império cresceu, e a Acrópole foi adornada com o Partenon.

Mais uma vez, não sabemos se Aspásia foiuol betesposa, concubina ou amante, o que parece certo é que ele "a amava ao extremo".

Foi o que afirmou Plutarco que, embora às vezes retocasse a história porqueuol betintenção não era ser exato, mas sim exemplificar as virtudes e os vícios dos poderosos, neste caso não tinha razão para fazer isso.

"Duas vezes por dia", contou o historiador, "ao entrar e sair da praça do mercado, ele a cumprimentava com um beijo afetuoso."

Pode não parecer muito apaixonado, mas essa descriçãouol betafeto é incomum; o amor românticouol betAspásia e Péricles é um dos poucos registrados entre um homem e uma mulher na Atenas clássica.

Fama

Sua relação com o grande estadista teria sido suficiente para torná-la conhecida, mas um indíciouol betque não foi apenasuol betbeleza ou o amor que a tornou tão famosa é que Aspásia foi alvouol betataques e piadasuol betpeças teatrais poruol betsuposta influência sobre Péricles.

Os comediantes da Grécia clássica eram críticos da sociedade e — então, como sempre — estar na mira deles era uma honra duvidosa concedida apenas a pessoas relevantes.

Em Os Acarnânios, o dramaturgo Aristófanes, por exemplo, culpa Aspásia pela Guerra do Peloponeso, uma reverberaçãouol betobras anteriores que a responsabilizavam pelo papeluol betAtenas na guerra entre Samos e Mileto.

Embora as acusações não fossem justas —uol betmuitos casos, nem pretendiam ser —, elas evidenciam a percepçãouol betque Péricles respeitava a sabedoria e os pontosuol betvista políticosuol betAspásia.

Sua reputação, para o bem e para o mal, era tal que se chegou a dizer que foi ela quem ensinou o grande estadista a discursar e quem escreveu os grandes discursos que ele proferiu, incluindo a famosa oração fúnebre registrada na História da Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.),uol betTucídides.

É impossível provar, mas se foi isso que aconteceu, é tentador imaginar um sorriso nos lábiosuol betAspásia naquele diauol betAtenas durante a cerimôniauol bethomenagem aos mortos, quando seu amante declamou a passagem que dizia...

"Se tenhouol betfalar também das virtudes femininas, dirigindo-me às mulheres agora viúvas, resumirei tudo num breve conselho: será grande a vossa glória se vos mantiverdes fiéis à vossa própria natureza, e grande também será a glória daquelasuol betquem menos se falar, seja pelas virtudes, seja pelos defeitos."

'Me refiro a ela'

Entre os que atribuíram a autoria do discurso a Aspásia, estava ninguém menos que Platão, no que foi interpretado como um sinal do repúdio do filósofo à veneraçãouol betPéricles por seus contemporâneos.

Num diálogo irônico, ele imagina um encontro entre Menêxeno (que dá nome à obra) e Sócrates,uol betque este último afirma ser capazuol betproferir um grande discurso fúnebre.

uol bet Sócrates - ... tenho como mestre uma mulher bem entendidauol betmatériauol betoratória, a mesma que formou muitos outros excelentes oradores, entre os quais há um que se destaca entre todos da Grécia — Péricles, filhouol betXantipa.

uol bet Menêxeno - Quem é ela? É evidente que se refere a Aspásia...

uol bet Sócrates - Me refiro a ela.

Na peça, Sócrates faz um discursouol betque afirma ter aprendido com Aspásia e, embora seja uma paródia, é provável que contenha mais do que um grãouol betverdade, pois várias fontes indicam que o fundador da filosofia ocidental admirava a damauol betMileto.

Dois desconhecidos

Mas seguimos no campo da conjectura porque Sócrates também é um enigma.

Como no casouol betAspásia, não temos nada escrito por ele; tudo éuol betsegunda mão, e a maior parte é fortemente contestada.

O que sabemos do filósofo é um conjuntouol betinterpretações, cada uma das quais representa um Sócrates "teoricamente possível", como bem disse a historiadorauol betfilosofia Corneliauol betVogel.

No entanto,uol betacordo com vários autores antigos, Sócrates respeitava as opiniõesuol betAspásia.

Alémuol betser a única mulher a quem Platão concedeu um discursouol bettoda auol betobra, Xenofonte — um dos principais biógrafosuol betSócrates — a menciona duas vezesuol betseus escritos socráticos: Memorabilia e Oeconomicus.

Em ambos os casos, o filósofo recomenda seguir os conselhos dela.

E tanto Ésquinesuol betEsfeto quanto Antístenes, discípulosuol betSócrates, escreveram diálogos socráticos intitulados Aspásia, dos quais restam apenas fragmentos.

Em uma parte do diálogouol betÉsquines preservada por Cícerouol betlatim, Aspásia figura como a "Sócrates mulher", e é apresentada como mestra e inspiraçãouol betexcelência.

Amor?

Pela interpretação destes e outros escritos, foi dito que Sócrates e Aspásia se conheceram quando ambos estavam na faixa dos 20 anos e tiveram um longo relacionamento. Alguns acreditam queuol betalgum momento foi uma relação amorosa, ou que ele pelo menos a amou, mas é improvável que algum dia se saiba a verdade.

Como "não há boas evidênciasuol betsua vida interior ou intelectual" devido à faltauol betfontes primárias que a descrevam — Madeleine M. Henry sentenciouuol betseu livro Prisoner of History ("Prisioneira da História",uol bettradução literal) — nunca poderemos conhecer Aspásia.

Mas isso não significa que os historiadores vão pararuol bettentar.

Uma das hipóteses mais recentes foi a apresentada por Armand D'Angour, que argumentauol betseu livro Socrates in Love ("Sócrates Apaixonado",uol bettradução literal) queuol betpesquisa mostra que Sócrates obteve a inspiração para suas ideias originais sobre a verdade, o amor, a justiça, a coragem e o conhecimentouol betAspásiauol betMileto.

"Se a evidência desta tese for aceita, a história da filosofia terá uma reviravolta monumental: uma mulher que quase foi apagada da história deve ser reconhecida como aquela que estabeleceu as basesuol betnossa tradição filosóficauol bet2,5 mil anos", destaca D'Angour, professoruol betClássicos da Universidadeuol betOxford, no Reino Unido.

Enquanto isso, Aspásia seguirá sendo "uma figura chave na história intelectual do século 5uol betAtenas... (assim como) a mulher mais importante daquela época", como admitiu Henry.

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