Maioria dos casais não aguenta intimidade constante sem a esfera pública, diz socióloga Eva Illouz:como apostar na sportsbet io
"Muitas dessas relações se baseiam no fatocomo apostar na sportsbet ioque os homens e as mulheres tomam caminhos diferentes durante o dia", diz.
Na maioria dos casos, cada membro do casal vai para o seu lado, quer cada um tenha um emprego ou um fique encarregado da casa ou dos filhos, o que implica, por exemplo,como apostar na sportsbet iosaircomo apostar na sportsbet iocasa para levá-los à escola.
"E, depois, à noite eles se encontram."
Mas os lockdowns impostos para evitar a propagação do novo coronavírus acabaram com as condições que permitem que isso aconteça.
A intimidade
Illouz é autoracomo apostar na sportsbet iovários livros, incluindo O amor nos tempos do capitalismo e Why Love Hurts: A Sociological Explanation ("Por que o amor dói: uma explicação sociológica",como apostar na sportsbet iotradução literal).
Em 2019, ela publicou The End of Love: A Sociology of Negative Relations ("O fim do amor: uma sociologia das relações negativas",como apostar na sportsbet iotradução literal) , que é "a conclusãocomo apostar na sportsbet ioum estudocomo apostar na sportsbet ioduas décadas sobre as maneiras pelas quais o capitalismo e o mundo moderno transformaram nossas vidas emocionais e românticas", observa a editora do livro, Oxford University Press.
Na obra, a acadêmica mostra como grandes forças coletivas moldam nossas experiências privadas.
A crise desencadeada pela pandemiacomo apostar na sportsbet iocovid-19 é mais um exemplo do impacto das forças macrossociaiscomo apostar na sportsbet ionossa intimidade.
"O que mais observei é que o que chamamoscomo apostar na sportsbet iocasa, a esfera privada e doméstica, precisa desesperadamente da esfera pública dos amigos, do trabalho, das ruas para poder cumprircomo apostar na sportsbet iofunção", afirma.
"De repente, os pais se deram contacomo apostar na sportsbet ioo quanto as escolas apoiam,como apostar na sportsbet iofora, as famílias. Mas também percebemos que a intimidade constante e contínua não é suportável para a maioria dos casais."
'Suportável'
Segundo a autora, "a crise do coronavírus nos fez entrarcomo apostar na sportsbet iocolapsocomo apostar na sportsbet ionossas próprias casas".
"Transformou a casacomo apostar na sportsbet iouma frentecomo apostar na sportsbet ioguerra (da pandemia), mas a maioria das casas no mundo não está equipada para isso", explica.
"De certa forma, o que descobri é que precisamos da sociabilidade com amigos, estranhos, conhecidos, mais ou tanto quanto a intimidade com outra pessoa."
Em entrevista à jornalista austríaca Tessa Szyszkowitz, transmitida no YouTubecomo apostar na sportsbet iojunhocomo apostar na sportsbet io2020, a socióloga refletiu sobre os confinamentos e sobre como "o lar só é suportável para muitos casais se eles tiverem a possibilidadecomo apostar na sportsbet iopercorrer caminhos diferentes durante o dia".
Ela destacou que,como apostar na sportsbet iomuitos casos, a violência doméstica aumentou "tremendamente" e que homens e mulheres regressaram aos seus "papéis tradicionais", mostrando que as mulheres são majoritariamente responsáveis pelas tarefas domésticas.
Entre forças
Illouz disse à BBC News Mundo que não acredita quecomo apostar na sportsbet ioalgum momento tenhamos nos isentado das forças públicas, apesar do fatocomo apostar na sportsbet ioque "desenvolvemos uma mitologia muito poderosa do lar e da privacidade como se estivéssemos protegidoscomo apostar na sportsbet ioforças externas".
A verdade é que "essas forças nos fazem o que somos": tanto dentro quanto foracomo apostar na sportsbet ionossas casas, somos quem somos porque participamoscomo apostar na sportsbet iouma cultura pública.
Em termos imediatos, ela exemplifica, as pessoas que ficaram desempregadas ou foram despejadas por não ter como pagar o aluguel "são objeto, dentrocomo apostar na sportsbet iosuas casas, da açãocomo apostar na sportsbet ioforças externas que não controlam"? "Claro que são", diz.
"Esta crisecomo apostar na sportsbet iosaúde nos mostrou quão profundamente dependentes somos da sociedadecomo apostar na sportsbet ioque vivemos."
E também quão sociáveis somos.
A importância das aparências
"Ser sociável é vivercomo apostar na sportsbet ioum mundocomo apostar na sportsbet ioaparências", diz a especialista.
Sendo a aparência entendida como "o trabalho que faço no meu corpo para aparecercomo apostar na sportsbet iocerta forma na frentecomo apostar na sportsbet iooutras pessoas".
Ela reconhece que a aparência tem uma "fama ruim" porque a associamos à superficialidade quando, na verdade, é,como apostar na sportsbet iomuitos aspectos, "a essência da sociabilidade".
"O que nos foi roubado durante esta pandemia, por termos que ficarcomo apostar na sportsbet iocasa, é justamente a possibilidadecomo apostar na sportsbet iotermos essas relações superficiais, que se baseiam na forma como nos apresentamos."
Para a especialista, se maquiar ou se vestircomo apostar na sportsbet ioforma elegante é um sinalcomo apostar na sportsbet ioque fazemos isso por algo mais.
"Há um ano, na Austrália, viralizaram algumas fotoscomo apostar na sportsbet iopessoas vestidas com roupascomo apostar na sportsbet iogala, usando maquiagem e lindas joias para levar o lixo para fora, porque era a única coisa que podiam fazer."
"As imagens se tornaram virais porque expressaram essa necessidade fundamental que temoscomo apostar na sportsbet ioaparecer na frente dos outros."
"Estar na frente do computadorcomo apostar na sportsbet iocasa e trabalharcomo apostar na sportsbet iopijama pode ser confortável, mas acho que não é uma sensação que dura porque rapidamente se transformacomo apostar na sportsbet ioalgo sem estrutura, carentecomo apostar na sportsbet ioum mundocomo apostar na sportsbet ioaparências."
O elemento arquitetônico
Os apartamentos modernos, diz Illouz, não são projetados para que as pessoas fiquem "o tempo todo" dentrocomo apostar na sportsbet iocasa.
"E como os preços dos imóveis aumentaram dramaticamentecomo apostar na sportsbet ioquase todas as cidades do mundo, a maioria das pessoas vive no que chamaríamoscomo apostar na sportsbet iocasascomo apostar na sportsbet iopequeno ou médio porte."
"A arquitetura urbana dos subúrbios é tal que poucos apartamentos têm terraço, varanda ou contato com a rua."
Muitos vivemcomo apostar na sportsbet ioespaços muito menores do que os habitados por seus ancestrais.
A acadêmica esclarece que isso não significa que esses lugares sejam piores, pois, se levarmoscomo apostar na sportsbet ioconsideração outros critérios, provavelmente as casas dos nossos antepassados eramcomo apostar na sportsbet ioqualidade inferior.
Mas o que parece ser uma constante nas cidades é que as casas tendem a ser menores.
"Essas casas foram concebidas mais ou menos como lugares para os quais se volta para dormir" após a jornadacomo apostar na sportsbet iotrabalho fora.
"Acho que grande parte do que chamamoscomo apostar na sportsbet iolar moderno se baseia, na verdade, na existênciacomo apostar na sportsbet iouma vasta esfera pública formada pelo trabalho e pela escola, o que torna possível a interação na mesma."
A especialista reflete, por exemplo, sobre os relatoscomo apostar na sportsbet iomães que tiveram dificuldadecomo apostar na sportsbet iolidar com os períodoscomo apostar na sportsbet ioque seus filhos ficaramcomo apostar na sportsbet iocasa, após o fechamento das escolas.
Algumas chegaram até a sentir que não eram boas mães.
"Essas são as razões pelas quais eu acho que a casa pode ser vivenciada como algo extremamente opressivo, porque na verdade ela não é concebidacomo apostar na sportsbet ioforma alguma como um lugarcomo apostar na sportsbet ioque realmente vivemos. É concebida como um lugar para o qual retornamos."
Outra formacomo apostar na sportsbet ioexpressar afeto
Em marçocomo apostar na sportsbet io2020, Illouz escreveu na revista Nueva Sociedad o artigo intitulado "O coronavírus e a insuportável leveza do capitalismo".
Entre vários temas, ela refletia sobre como, diante da pandemia, é necessária uma "nova formacomo apostar na sportsbet iosolidariedade por meio do distanciamento social", o qual aumenta a sensaçãocomo apostar na sportsbet iocrise.
Uma solidariedade, frisou ela, entre as gerações mais novas e as mais velhas, "entre quem não sabe se pode ter a doença e alguém que pode morrer por causa daquilo que o primeiro desconhece, entre quem pode ter perdido o emprego e alguém que pode perder a vida."
Ela acrescentoucomo apostar na sportsbet ioprópria experiência: "Já faz muito tempo que estoucomo apostar na sportsbet ioconfinamento, e o amor que meus filhos me manifestaram consistiucomo apostar na sportsbet iome deixar sozinha".
"Essa solidariedade exige isolamento e, assim, fragmenta o corpo social nas menores unidades possíveis, o que dificulta a organização, o encontro e a comunicação, muito além das intermináveis piadas e vídeos trocados nas redes sociais".
A sociabilidade, segundo ela, se tornou indireta.
A inversão do cuidado
Da noite para o dia, escreveu a autora, o mundo "se esvaziou dacomo apostar na sportsbet iofamiliaridade", se tornou algo que nos é estranho.
"Seus gestos mais reconfortantes — os apertoscomo apostar na sportsbet iomãos, beijos, abraços, a comida compartilhada — se tornaram fontescomo apostar na sportsbet ioperigo e angústia."
Tivemoscomo apostar na sportsbet ionos familiarizar "com as estranhas regras e rituais" do distanciamento social.
Em entrevista à organização J! Jewish Culture in Sweden, transmitida pelo YouTubecomo apostar na sportsbet io18como apostar na sportsbet iojunho, Illouz argumentou que está acontecendo uma espéciecomo apostar na sportsbet ioinversão das categoriascomo apostar na sportsbet iocuidado.
É que até agora relacionávamos o cuidado à proximidade física, mas a pandemia nos disse que o segredo para nos proteger é nos afastarmos.
A formacomo apostar na sportsbet ioamar
Questionada se acredita que a crise do coronavírus está mudando nossa maneiracomo apostar na sportsbet ioamar, a professora afirma à BBC News Mundo que é muito cedo para dizer.
O que reforçou, ele acredita, é uma divisão entre solteiros e casados.
"Essa diferenciação existia, mas a (crise) deixou isso muito claro porque os solteiros, eu acho, podem ser muito mais privados do sexo, da sexualidade e dos encontros."
As regrascomo apostar na sportsbet iocomo nos envolvemoscomo apostar na sportsbet ioum relacionamento estão mudando e surge a necessidadecomo apostar na sportsbet iofazer perguntas sobre a outra pessoa e seu corpo.
São perguntas como "quanto risco eu corro?", que já foram feitas por membros da comunidade homossexual nas décadascomo apostar na sportsbet io1980 e 1990, quando apareceu o HIV, vírus causador da Aids.
"(A crise) foi conduzida muito bem e com bastante rapidez, porque percebemos que se usássemos preservativos estaríamos mais ou menos seguros. Mas não é o caso (agora), porque não é tão fácil se protegercomo apostar na sportsbet ioum vírus respiratório", explica.
E a essas perguntas agora são adicionadas questõescomo apostar na sportsbet iooutra dimensão que não haviam sido levantadas antes, como: "Até que ponto posso pedir ao outro para gerenciar o risco da mesma forma que eu?"
Isso fará possivelmente com que os encontros casuais não sejam tão livres e que novas tensões sejam geradas porque as pessoas nem sempre concordam com os níveiscomo apostar na sportsbet ioprecaução, refletiu a autoracomo apostar na sportsbet ioentrevista à Jewish Culture in Sweden.
E essa tensão também estará presente nos lares: "Duas pessoas que moram juntas se comprometem a que exatamente? Pensecomo apostar na sportsbet iouma casa onde uma pessoa é vulnerável,como apostar na sportsbet ioalto risco. Que implicações isso tem exatamente para os outros membros? Pensecomo apostar na sportsbet iouma médica casada com um diabético."
Surge um novo conjuntocomo apostar na sportsbet ioperguntas relacionadas com a nossa maneiracomo apostar na sportsbet ioviver,como apostar na sportsbet ionos comportar e interagir.
O paradoxo do mundo hiperconectado
Em setembrocomo apostar na sportsbet io2019, Illouz escreveu no blog da Oxford University Press o artigo Why love ends ("Por que o amor acaba",como apostar na sportsbet iotradução literal).
Lá ela ecoou o que Julianne Holt-Lunstad, professoracomo apostar na sportsbet iopsicologia da Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos, havia apontadocomo apostar na sportsbet io2017: "Muitas nações ao redor do mundo agora sugerem que estamos enfrentando uma 'epidemiacomo apostar na sportsbet iosolidão'".
Illouz havia identificado uma "mudança cultural" nas decisões que muitas pessoas estavam tomando, que se manifestava no estabelecimentocomo apostar na sportsbet iorelações efêmeras.
É que na modernidade hiperconectadacomo apostar na sportsbet ioque vivemos, "a não formaçãocomo apostar na sportsbet iovínculos se torna um fenômeno sociológicocomo apostar na sportsbet iosi", escreveu.
"Se a modernidade e a alta modernidade foram marcadas pela luta para permitir certas formascomo apostar na sportsbet iosociabilidade, nas quais o amor, a amizade, a sexualidade fossem livrescomo apostar na sportsbet ioconstrangimentos morais e sociais, na modernidade interconectada a experiência emocional parece escapar aos nomescomo apostar na sportsbet ioemoções e relações herdadascomo apostar na sportsbet iotemposcomo apostar na sportsbet ioque eram mais estáveis. "
Assim, "as relações contemporâneas terminam, se rompem, desvanecem, evaporam e seguem uma dinâmicacomo apostar na sportsbet ioescolha positiva e negativa, que entrelaça vínculos e não vínculos."
A autora fez essas observações muito antescomo apostar na sportsbet ioestourar a pandemia que teve efeitos devastadorescomo apostar na sportsbet iomilhõescomo apostar na sportsbet iopessoas.
Psicólogos e especialistascomo apostar na sportsbet iosaúde mental manifestaram a preocupaçãocomo apostar na sportsbet ioque a mesma pandemia esteja desencadeando uma epidemiacomo apostar na sportsbet iosolidão, não só entre aqueles que tiveram que se isolar com mais rigor, como os idosos, mas também entre adolescentes e jovens.
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