Desaparecidos no México: 'Encontrei meu filho enterradoaposta acima de 1.5cova que eu mesma raebri':aposta acima de 1.5
A BBC News Mundo, serviçoaposta acima de 1.5espanhol da BBC, entrouaposta acima de 1.5contato com a Procuradoriaaposta acima de 1.5Sonora, Estado onde fica Hermosillo. A porta-voz do órgão disse que não poderia dar muitas informações porque se trataaposta acima de 1.5um caso sob investigação. Mas a procuradora do Estado, Claudia Indira Contreras, prometeu justiça a Delgado e punir "quem quer que seja o culpado".
A seguir, a históriaaposta acima de 1.5Cecilia Delgado contadaaposta acima de 1.5primeira pessoa.
Quando meu filho desapareceu, prometi a ele que o encontraria.
"Filho, eu prometo que vou te levaraposta acima de 1.5volta para casa. Eu prometo, filho do meu coração. Mesmo que leve uma vida inteira, mesmo que eu tenha que buscar você no inferno", disse a ele.
Depoisaposta acima de 1.5dois anos, cumpri minha promessa. Não como eu queria, mas o encontrei.
Ainda fecho os olhos e o vejo na condiçãoaposta acima de 1.5que estava. Ele não merecia.
Na noiteaposta acima de 1.5seu desaparecimento, Jesús Ramón estava com um amigoaposta acima de 1.5seu estabelecimento comercial,aposta acima de 1.5vendaaposta acima de 1.5cerveja, quando uma patrulha estadual e uma caminhonete — um Chevrolet Silverado branco com cabine dupla — chegaram.
Além do vídeoaposta acima de 1.5um câmeraaposta acima de 1.5vigilância, há testemunhasaposta acima de 1.5que dois policiais o colocaram na caminhonete branca e o levaram. Ninguém mais voltou a vê-lo vivo novamente.
A polícia estadual disse que ia me ajudar, que ia trazer meu filhoaposta acima de 1.5volta. Eles me pediram para ir embora e garantiram que me ligariam. Nunca ligaram.
Tive que encontrar meu filho sozinha porque eles não fizeram seu trabalho.
Meu filho tinha 34 anos quando o levaram. Ele era muito alegre, adorava música, dançar, cantar. Me chamavaaposta acima de 1.5"minha rainha", sempre dizia que me amava e demonstrava isso.
Ele deixou três filhos. A mais nova tem apenas 5 anos. Ela é quem mais sofre com a ausência do pai. "Vovó, por que você demorou tanto para encontrar meu pai?", ela me pergunta chorando inconsolável. É algo que dói na alma.
Mortaaposta acima de 1.5vida
O desaparecimentoaposta acima de 1.5um filho é a coisa mais terrível que pode acontecer a uma mãe.
Eles roubaram tudoaposta acima de 1.5mim. Me deixaram mortaaposta acima de 1.5vida.
Esses dois anos foram um inferno. Sempre pensando: "Onde ele estará, será que está comendo, que o matariam, o que fariam com ele?" É uma dor inimaginável que me atormenta por dentro. Nunca na minha vida eu imaginei que existisse tanta dor.
À noite, na solidão e escuridão, a incerteza bate ainda mais forte.
Ainda estou caminhando, mas sinto que é apenas meu couro, porque já estou morta por dentro. Estou morta.
Perdi as ilusõesaposta acima de 1.5tudo, a vontadeaposta acima de 1.5viver. A única coisa que me movia era saber que, se eu não procurasse meu filho, ninguém iria procurar. Que se eu morresse, ninguém iria encontrá-lo.
Comecei a procurá-loaposta acima de 1.5hospitais, prisões,aposta acima de 1.5vários municípiosaposta acima de 1.5Sonora.
Logo comecei a escavar sepulturas clandestinas. Embora, no meu coração, sempre desejasse que ele estivesse vivo. E pedia a Deus por isso.
Me juntei a alguns coletivos que escavam túmulos clandestinos. E depois, fundei o meu, Buscadoras por la Paz,aposta acima de 1.5Sonora.
'Procuramos tesouros'
Na maioria das vezes, descobrimos a localização dessas valas, onde os corpos foram enterrados, por meioaposta acima de 1.5telefonemas anônimos.
Vamos até lá armadas. Nossas armas são a picareta, a pá e uma vara. Vamos a qualquer lugar, ao campo, às montanhas, inclusive a casas. Aqui o clima é extremo, o calor às vezes ultrapassa os 50°C, vemos como o vapor sai do solo. Outras vezes, um frio que congela.
Mas nada nos detém. O amor que temos por nossos filhos é maior do que os rigores do clima, a fome ou o medo.
Vamos procurar nossos tesouros.
Para nós, são tesouros porque os encontramosaposta acima de 1.5sepulturas clandestinas que temosaposta acima de 1.5escavar. E eles são, lamentavelmente, cadáveres.
Mesmo assim, com todo o horror que isso significa, encontrá-los e dar a eles uma sepultura digna nos traz uma relativa paz.
Tiramos esses tesouros da escuridão, dessas valas onde depoisaposta acima de 1.5matá-los os enterramaposta acima de 1.5uma forma tão vil, tão cruel que não consigo entender como pode haver gente assim, sem coração, que possa fazer tanto mal.
O que eles podem ter feito para que tudo o que eu vi fosse feito com eles? São coisas terríveis. Eles se enfurecemaposta acima de 1.5forma bestial, tanto com homens quanto mulheres.
Me lembroaposta acima de 1.5como encontramos um menino, acho que ele era um jovenzinho porque seus pés eram muito pequenos. Ele estava acorrentado. Suas pernas estavam acorrentadas e presas por cadeado. Suas mãos, amarradas com um arame. Enterrado a maisaposta acima de 1.5um metro e meioaposta acima de 1.5profundidade.
Encontramos outros queimados a pontoaposta acima de 1.5ser impossível identificá-los. Isso dói na alma. Pensoaposta acima de 1.5suas mães, que nunca serão capazesaposta acima de 1.5encontrá-los.
'A realidade do México'
Muitos nos criticam porque fazemos transmissões ao vivoaposta acima de 1.5nossas buscas nas redes sociais. As imagens que aparecem são muito fortes e nos chamamaposta acima de 1.5sensacionalistas.
Mas é a realidade que estamos vivendo. Não é algo vindoaposta acima de 1.5Deus o fato que temos que tirar nossos filhos desses lugares tão feios. Desses buracos que, às vezes, fazem a própria pessoa que vão matar cavar.
Se fazemos os vídeos é porque queremos que as pessoas vejam o nosso trabalho, o que estamos passando. Ninguém gosta disso. Não gostoaposta acima de 1.5escavar sepulturas clandestinas. Mas é a realidade do México.
Os desaparecimentos forçados estão na ordem do dia. Aqueles que ficam indignados ao ver um vídeo, é melhor se indignar com aqueles que matam as pessoas e com as autoridades que não fazem seu trabalho.
Não deveria caber a nós, com toda a dor que carregamos, tirar nossos filhosaposta acima de 1.5lá.
Sabemos que iremos encontrar grande parte dos desaparecidos mortos, é muito raro que voltem vivos. E, neste ponto, encontrar seus corpos é um privilégio.
Além disso, as vítimas e suas famílias são "revitimizadas". É muito comum dizerem que se eles foram mortos é porque "estavam fazendo algo errado", queaposta acima de 1.5uma forma ou outra estavam ligados ao narcotráfico.
Isso é uma mentira vil. Eu conheço muitos, muitos que foram levados que eram totalmente inocentes. Temaposta acima de 1.5tudo: homens, mulheres, jovens e até crianças.
Eaposta acima de 1.5relação àqueles que fizeram algo errado, que o processem judicialmente, não ponham a família neste inferno.
Quem os leva muitas vezes pertence ao crime organizado, mas às vezes algumas autoridades também estãoaposta acima de 1.5conluio com eles, como foi o caso do meu filho.
No México, mães e pais foram mortos por procurarem seus filhos. Por isso, muitos nos perguntam se não temos medo. A verdade é que não. E não estou dizendo isso apenas por mim, mas porque vejo nas minhas companheiras.
Não temos medo. O maior medo era perder nossos filhos, e já passamos por isso.
Se fosse possível, eu teria dado minha vida. Eu teria dado mil vezes a minha vidaaposta acima de 1.5troca do meu filho.
'Eu desenterrei meu filho'
Após dois anosaposta acima de 1.5buscas incansáveis, encontrei meu filhoaposta acima de 1.5uma cova clandestina que eu mesma escavei.
Eu mesma desenterrei meu filho. Foi uma coisa terrível.
Foiaposta acima de 1.525aposta acima de 1.5novembroaposta acima de 1.52020, exatamente dois anos depois que o vi pela última vez.
Procurávamos corposaposta acima de 1.5um lugar onde havia uma dúziaaposta acima de 1.5túmulos.
Quando o encontrei, o reconheci imediatamente. Uma mãe não pode estar errada.
Eu sabia que era ele por causa do aparelho nos dentes, por causa do dente siso e porque ele ainda tinha cabelo no crânio. Seus cabelos castanhos, com os cachinhos que ele não gostava e sempre penteava com muito gel para que não aparecessem. (Chora inconsolável).
Vi então suas roupas. E comprovei que, sim, era meu filho.
Eu gritei: "Não, não, não. Não pode ser", repetia chorando.
Mas sabia que era verdade.
O resultado do exameaposta acima de 1.5DNA que chegou dias depois apenas confirmou novamente.
Eu desabei. O mundo desmoronou. Apesaraposta acima de 1.5tudo, eu esperava um milagre.
Eu queria que as cinzas do meu filho ficassem na minha casa, mas meus outros dois filhos insistiram que não. Que tinha que deixar no cemitério, para poder continuar vivendoaposta acima de 1.5alguma forma.
Em 8aposta acima de 1.5dezembro, nós o enterramos.
Por seis horas, cantamos suas canções, tocamos música e dançamos para ele. Exatamente como ele uma vez me disse, meio brincando, meio sério, que ele queria que fizéssemos quando ele morresse.
Eu disse a ele para calar a boca, que estava louco. Que eu morreria primeiro.
Nem nos meus piores pesadelos eu poderia imaginar que o levariam embora desse jeito.
Por isso, quero dizer a todos no México que não esperem passar pela mesma coisa que eu, que nós, as milharesaposta acima de 1.5mães que estão passando por isso, não queremos que isso aconteça com mais ninguém.
A busca continua
Uma semana depoisaposta acima de 1.5encontrar meu filho, peguei minha pá novamente e fui para as montanhas com minhas companheiras.
Desde o desaparecimentoaposta acima de 1.5Jesús Ramón, encontrei um totalaposta acima de 1.5194 tesouros com diferentes coletivos. Mas a situação é tão terrível que essa busca não pode parar.
Há sete meses, meu sobrinho Moisés Alfonso Reynoso Delgado,aposta acima de 1.528 anos, filho da minha irmã, também desapareceu. Como a meu filho, prometi a ele que o encontraria.
Também prometi a outras mães que não vou parar até encontrarmos seus filhos. E as promessas se cumprem.
Infelizmente, ainda existem milharesaposta acima de 1.5tesouros para serem desenterrados
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