Covid-19: com riscocontágio, poderemos usar ar-condicionado no verão?:
Por isso, com o coronavírus circulando, deixar portas e janelas fechadas enquanto o ar está ligado não é aconselhável. No cenário atual, deverá ser necessário apelar para aparelhos que convivam melhor com estas aberturas, como ventiladores e climatizadores; ou usar o ar-condicionado com frestas abertas; ou ainda o ar-condicionado associado a ventiladores e janelas abertas.
Isso a não ser que o sistemarefrigeraçãoquestão inclua equipamentosrenovação mecânica — o que, segundo especialistas, seria o ideal, mas exige planejamento e altos custosmanutenção, sendo raramente visto no Brasil.
Vamos às explicações — mas vale antes lembrar que ainda há muito a ser conhecido sobre o vírus e estudoscurso, portanto elas não são definitivas.
O restaurante chinês: ar-condicionado central, exaustor e sem janelas
O artigo científico sobre o restaurante chinês que colocou o ar-condicionado sob holofotes foi publicado por pesquisadores do Centro para Controle e PrevençãoDoenças (CDC)Guangzhou no periódico científico Emerging Infectious Diseases, editado pelos CDCs (CentrosControleDoenças) dos Estados Unidos.
Eles rastrearam pessoas que almoçaram no dia 24janeiroum restaurantecinco andares, sem nenhuma janela, com exaustores e ar-condicionado central (sistema capazclimatizar vários ambientes a partirum único equipamento; os modelos variamporte e na tecnologia empregada pra distribuir o ar frio, sendo comumente encontradosbancos, supermercados e shoppings).
Um cliente, ainda assintomático, tinha viajadoWuhan, cidade chinesaque o vírus começou a infectar humanos, para Guangzhou, onde fica o restaurante. Ele efamília se sentaramuma mesa ao ladooutras duas, com distânciacercaum metro entre elas. As três mesas estavam na retaum aparelhoar condicionado.
Ao longo dos dias seguintes, o cliente vindoWuhan e mais nove pessoas presentes nessas três mesas foram diagnosticadas com covid-19.
Os autores defenderam que a transmissão do coronavírus seja explicada não só pelas gotículasmaterial infeccioso (como a salivauma pessoa contaminada), que têm tamanho maior, correm distâncias menores e duram menos tempo no ar, mas também pelos aerossóis, partículas menores do material infeccioso que ficam suspensas no ar por mais tempo e têm alcance mais distante.
No caso do restauranteGuangzhou, os pesquisadores dizem que não há certeza que a infecção tenha ocorrido por meio dos aerossóis, já que outros clientes e funcionários no mesmo ambiente não foram infectados. Mas eles sugerem que os aerossóis possivelmente estavam mais concentrados na área das mesas próximas, carregados por correntes do ar condicionado.
A conclusão do artigo recomenda que restaurantes aumentem a distância entre as mesas e melhorem a ventilação.
Diversos cientistas criticam que autoridades como a Organização Mundial da Saúde (OMS) estão subestimando o potencial transmissivo dos aerossóis (leia: Cientista critica visão da OMS sobre contágio pelo ar: 'Não deixam a gente se proteger direito'). Em julho, um grupomais200 pesquisadores escreveu uma carta defendendo o reconhecimento dessa viatransmissão.
Uma das autoras da carta, Lidia Morawska, professora da UniversidadeTecnologiaQueensland, na Austrália, respondeu à BBC News Brasil por e-mail não acreditar que os aparelhosar-condicionado sejam um problema ou riscosi, e sim a faltaventilação — que ajuda a diluir contaminantes.
"Não ter ventilação significa a não retiradapartículas infectadasambientes internos. O ar pode ser condicionado — o que significa ser esfriado ou aquecido —, mas uma ventilação eficiente precisa ser garantida", escreveu Morawaska, também consultora da OMS sobre qualidade do ar.
Falando do artigo sobre o restaurante chinês, ela mencionou também o direcionamento do ar.
"As correntesar estavam passando pela pessoa infectada e carregaram o vírus para outras pessoas. O mesmo aconteceaviões, por exemplo, onde a correntear é unidirecional, eoutras situações. A questão é a direção da correntear, que pode ser induzida por diferentes fatores, como uma porta aberta."
Cuidado com ventilação e qualidade do ar é pouco comum no Brasil, apontam entrevistados
Entretanto, ao menos no Brasil, é comum que as pessoas se preocupem simplesmente com que o ar-condicionado abaixe a temperatura, e não com as condiçõesventilação ou qualidade do ar, diz Oswaldo Bueno, engenheiro e consultor da Associação BrasileiraRefrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava).
Aparelhos mais simples, como do tipo minisplit, não apenas se valem da recirculação do ar — ou seja, pegam o "mesmo" arum ambiente para reciclá-lo, o que é um problema se este estiver contaminado —, como normalmente não vêm acompanhadosmecanismosrenovação mecânica do ar. No casoaparelhosjanela, alguns modelos têm a opção da renovação, mas nem todos.
Até existem opções no mercadoaparelhos para fazer isso, como insufladores (que incluem filtro e ventilação) e caixasventilação, mas é "raríssimo" que isso seja uma preocupaçãocasas ou pequenos negócios, diz Bueno. E deveria ser alvomaior atenção mesmo antes da covid-19, pois o ar pode concentrar outros vírus, bactérias e fungos, alémgases tóxicos.
"O grande mercado brasileiro hoje é o das pequenas instalações, sejam residenciais ou comerciais. Imagina um consultóriodentista: ele vai ter uma pequena máquina funcionando. Essa máquinas representam cerca75%todo e qualquer equipamento no mercado brasileiro. E todas vezes que essas máquinas são instaladas, não há preocupação com o ar externo", explica o engenheiro, recomendando que, com a pandemia, esses aparelhos sejam usados com janelas e portas abertas, e até mesmo junto com ventiladores perto destas, ainda que isso faça os ambientes ficarem menos frios que o ideal.
Erick Campos, engenheiro mecânico da Universidade FederalJuizFora (UFJF), do campusGovernador Valadares, escreveu um relatório justamente sobre os impactos da pandemia nos sistemasar condicionado na realidade brasileira,conjunto com o professor Bruno Augusto Guedes, também da UFJF.
Campos diz que, mesmocenáriosque a ventilação não foi prevista, uma nova adaptação para temposcovid-19 pode ser inviabilizada por custos, não só com a instalação mas também com o maior gastoenergia. Afinal, a renovação retira ar mais frio e insere o ar externo, geralmente mais quente, então o trabalho para refrigerar é maior. Isso significa também quemuitos casos a potência dos aparelhos pode ser insuficiente para tal adaptação, já que originalmente não foi calculada a entradamais ar externo.
"As informações disponíveis indicam que é arriscado usar o ar-condicionado sem esse sistemaventilação. O risco é que os aerossóis aumentemconcentração naquele ambiente, e uma pessoa que aspire estas partículas pode ser contaminada. A solução é contraintuitiva, como usar o ar-condicionado com janelas e portas abertas ou, se possível, buscar alternativas para o ar-condicionado por um tempo", afirma o engenheiro da UFJF, sugerindo ventiladores e climatizadores (ou refrigeradores evaporativos), que convivem melhor com ambientes abertos.
Ele pondera, entretanto, quecasas onde vive uma família os riscostransmissão acontecemvárias situações, e o contato continua sendo mais importante para a transmissão do coronavírus do que uma eventual transmissão por meio das correntesar condicionado. Por isso,todos os casos, o usomáscaras e o distanciamento continuam sendo fundamentais.
A importância da ventilação vale também para carros e ônibus, embora alguns veículos tenham no seu sistemaclimatização a opçãorenovação do ar, com troca entre o interno e externo.
Em relação aos filtros convencionais, que normalmente retêm contaminantes nos aparelhos, as evidências indicam que, para o coronavírus, eles não são tão eficazes — pois o patógeno é leve o bastante para ser aspirado pelo ar-condicionado e ao mesmo tempo pequeno para atravessar os filtros, explica Campos.
Mas Bueno lembra que os filtros são importantes também para conter partículasoutros patógenos e também da poluição, o que contribui para a proteção do sistema respiratório das pessoas — ainda mais os filtros mais eficazes, com eficácia mínima50% para partículas menores que 0,4 µm. Entretanto, aparelhos simples como o minisplit tampouco têm filtro, e sim uma telaproteção que, segundo os especialistas, é insuficiente.
Adaptaçõesshoppings
Já sistemas maiores, comoprédios comerciais ou shoppings, costumam ter mecanismosrenovação do ar —que o ar "usado" é extraído do ambiente interno e canalizado para uma unidadetratamento, geralmente no telhado, onde há mistura com ar fresco.
Esses sistemas costumam permitir até mesmo a regulação da quantidadear fresco que será injetada no prédio. No contextopandemia, quanto mais, melhor — mas isso traz também mais gastos com energia.
Bueno lembra que o ar externo é tão importante poislimpeza acontece naturalmente, com a ajuda da chuva e dos ventos.
Mesmolocais com renovação mecânica, a abertura para o ar externo também é desejável —uma cartilha da Associação BrasileiraShopping Centers (Abrasce)parceria com o Hospital Sírio-Libanês, recomenda-se por exemplo que as portas dos shoppings permaneçam abertas e que exaustoressanitários e cozinhas operemnível máximovazãoar.
"Instalações completas, funcionandoacordo com seu projeto, tendo planomanutenção e controle, são saudáveis e vão proteger. Foi prevista a filtragem e a renovação do ar", explica Oswaldo Bueno, apontando que sistemasclimatizaçãoáreas públicas costumam ser submetidos a mais normas e leis, desde seu planejamento.
Segundo uma lei federal2018, todos os ambientesuso público e coletivo com ar condicionado devem ter um PlanoManutenção, Operação e Controle (PMOC), com controle por exemploníveisconcentraçãopoluentes, um indicador sobre a qualidade do ar. Segundo a Agência NacionalVigilância Sanitária, a fiscalização do plano éresponsabilidadeórgãosvigilância locais, e não há dados nacionais sobre autuações e multas.
A perspectiva é que o país tenha mais e mais aparelhosar-condicionado com o passar dos anos, segundo o relatório internacional The future of cooling, da Agência InternacionalEnergia (IEA, na siglainglês), publicado2018. Em 2016, o Brasil tinha aproximadamente 27 milhõesaparelhosar-condicionado, incluídos aí residenciais e comerciais. A previsão é que,2050, o número chegue a 165 milhõesaparelhos.
Mas o país está longe da liderança mundial — apenas China, Japão e Estados Unidos concentram dois terçostodos os aparelhos do mundo.
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