Arroz mais caro já motivou revoltas, causou mortes e derrubou líderes pelo mundo:corinthians e ceara palpite

Sedecorinthians e ceara palpiteempresa queimada por manifestantes

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Sedecorinthians e ceara palpiteuma empresa produtoracorinthians e ceara palpitearroz, Suzuki Shoten, queimada por manifestantes na cidade Kobecorinthians e ceara palpite1918

Alguns dos aspectos que se repetemcorinthians e ceara palpitetodos esses casos são o encarecimentocorinthians e ceara palpiteum alimento essencial, a existênciacorinthians e ceara palpiteuma população economicamente fragilizada e manifestações violentas, que acabam por derrubar governantes.

Desde o início do ano, apesar dos baixos índicescorinthians e ceara palpiteinflação, o arroz acumula uma altacorinthians e ceara palpitequase 20% no Brasil, segundo o Instituto Brasileirocorinthians e ceara palpiteGeografia e Estatística (IBGE). Outros itens como feijão e cebola, também diariamente presentes na mesa do brasileiro, chegaram a subir ainda mais.

Embora pesquisadores apontem que o contexto social brasileiro é bem diferente e que revoltas como as que ocorreram no passadocorinthians e ceara palpiteoutros países são muito improváveis por aqui, o incômodo do presidente Jair Bolsonaro com a situação se tornou evidente.

Se, quando a crise estourou, o mandatário tratoucorinthians e ceara palpitepedir "sacrifício" e "patriotismo" aos donoscorinthians e ceara palpitesupermercados para não repassar o aumento ao consumidor, recentemente o governo anunciou que iria zerar o impostocorinthians e ceara palpiteimportação do produto até o fim do ano, numa tentativacorinthians e ceara palpiteconter a alta dos preços e também uma possível reação negativa da população.

Revolta no Japão

No período final da 1ª Guerra Mundial,corinthians e ceara palpite1918, o Exército Imperial Japonês enviou maiscorinthians e ceara palpite70 mil tropas para a Sibéria para lutar ao lado da França, Grã-Bretanha e do Exército Branco russo contra os bolcheviques. Para alimentar tanta gentecorinthians e ceara palpitecampocorinthians e ceara palpitebatalha, o governo teve que lançar mãocorinthians e ceara palpitegrandes remessascorinthians e ceara palpitearroz.

"Prevendo que o governo aumentaria a encomenda, os comerciantescorinthians e ceara palpitearroz começaram a estocar o produto para forçar uma alta no preço,corinthians e ceara palpiteforma a vendê-lo mais caro", explica a especialistacorinthians e ceara palpitecultura e história do Japão Cristiane Sato.

Só que a estratégia acabou desabastecendo a população nacional e levando às alturas o preço do arroz no país, que já lidava com uma inflaçãocorinthians e ceara palpitealta devido à participação na guerra.

"Em 1918, 20 kgcorinthians e ceara palpitearroz chegavam a custar quase o salário inteirocorinthians e ceara palpiteum funcionário público", conta Sato.

Na época, o arroz era o principal item da alimentação japonesa e representava 80% do consumido regularmente pela populaçãocorinthians e ceara palpitegeral.

Tropas japonesas desembarcandocorinthians e ceara palpiteVladivostok, na Rússia,corinthians e ceara palpite11corinthians e ceara palpiteagostocorinthians e ceara palpite1918.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Tropas japonesas desembarcandocorinthians e ceara palpiteVladivostok, na Rússia,corinthians e ceara palpite11corinthians e ceara palpiteagostocorinthians e ceara palpite1918.

Em julhocorinthians e ceara palpite1918, quando a situação ia se tornando insustentável, os jornais noticiaram uma notícia curiosa, ocorrida num vilarejo da cidadezinha costeiracorinthians e ceara palpiteToyama.

Lá um grupocorinthians e ceara palpiteesposascorinthians e ceara palpitepescadores tentou impedir a exportaçãocorinthians e ceara palpitegrãos como formacorinthians e ceara palpiteprotesto contra os altos preços, provocando um tumulto com os comerciantes da região.

"É importante ressaltar o papel das mulheres nesses eventos. Eram donascorinthians e ceara palpitecasa que estavam sofrendo com o aumento dos preços, da mesma forma que está acontecendo com muitas no Brasil hoje", aponta Célia Sakurai, doutoracorinthians e ceara palpiteciências sociais pela Unicamp e autoracorinthians e ceara palpitelivros sobre a história da imigração japonesa no Brasil.

Graças à imprensa, a notícia se espalhou rapidamente, inspirando várias outras manifestações pelo país, inclusivecorinthians e ceara palpitealgumas das cidades mais importantes, como Tóquio e Osaka.

Ao tomar proporções maiores, a revolta atraiu representantescorinthians e ceara palpitegrupos ideológicos recentemente importados do pensamento ocidental, como anarquistas, nacionalistas, liberais e socialistas, aglutinando uma sériecorinthians e ceara palpiteoutras reivindicações sociais. O movimento não era mais só pelo preço do arroz.

Segundo a pesquisadora e doutoracorinthians e ceara palpiteciências sociais pela PUC Luíza Uehara, o Japão tinha então uma grande populaçãocorinthians e ceara palpitemiseráveis, tanto nas fábricas das grandes cidades quanto nas zonas rurais, condição que vinha gerando protestos frequentes havia maiscorinthians e ceara palpiteuma década.

"Foi inclusive por causa dessa miséria que os japoneses começaram a imigrar para o Brasil", conta Uehara. "Para se ter uma ideia, a propaganda para atrair os japoneses dizia que aqui eles conseguiriam comer arroz todo dia, coisa que lá nem sempre era possível".

Nas ruas, o povo incendiou depósitoscorinthians e ceara palpitearroz e atacou postoscorinthians e ceara palpitepolícia, o que gerou uma repressão severa das forças do governo, que temia ver uma nova revolução russa florescendo no próprio quintal. "Foram milharescorinthians e ceara palpitepresos, muitos deles submetidos a castigos corporais", diz a pesquisadora.

Depoiscorinthians e ceara palpitecercacorinthians e ceara palpiteum mêscorinthians e ceara palpiteprotestos, quando os ventos da revolta finalmente amainaram, o primeiro-ministro Terauchi Masatake anuncioucorinthians e ceara palpiterenúncia, tomando para si a responsabilidade pelos distúrbios à ordem pública.

Aos poucos, com uma intervenção do governo, o preço do arroz voltou a um patamar aceitável.

"O governo passou a fazer um estoque preventivo do arroz, caso houvesse escassez do produto", conta Silvio Miyazaki, professor do Programacorinthians e ceara palpitePós-Graduaçãocorinthians e ceara palpiteLíngua, Literatura e Cultura Japonesa da USP.

O político foi substituído no cargo por Hara Takashi,corinthians e ceara palpiteperfil moderado, dando início a uma breve flexibilização do regime, que, apesarcorinthians e ceara palpitedemocrático, era fortemente conservador e autoritário.

Logo no início da décadacorinthians e ceara palpite1920, essa moderação perdeu lugar para o crescimento do militarismo e da opressão, que levariam o país à Segunda Guerra Mundial.

Golpe na Libéria

Maiscorinthians e ceara palpite60 anos depois desses eventos, a Libéria, um pequeno país na costa oeste africana originalmente criado para abrigar escravos americanos libertos, passou por uma convulsão social parecida.

No dia 14corinthians e ceara palpiteabrilcorinthians e ceara palpite1979, manifestantes marcharam contra uma proposta do governocorinthians e ceara palpiteaumentar o preço do arroz, visando tornar seu cultivo viável no país.

O protesto tinha orientação pacífica, mas alguns dos milharescorinthians e ceara palpiteparticipantes começaram a saquear estabelecimentos locais. A polícia e o exército, porcorinthians e ceara palpitevez, reagiram a tiros, matando dezenascorinthians e ceara palpitepessoas e ferindo algumas centenas.

Em fotocorinthians e ceara palpite1980, o presidente da Libéria, Samuel K. Doe (óculos escuros), aparece cercado por membroscorinthians e ceara palpiteseu Conselhocorinthians e ceara palpiteRedenção dos Povos

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Em fotocorinthians e ceara palpite1980, o presidente da Libéria, Samuel K. Doe (óculos escuros), aparece cercado por membroscorinthians e ceara palpiteseu Conselhocorinthians e ceara palpiteRedenção dos Povos

"Forças do governo perpetraram abusos como assassinatos, tortura e prisão arbitráriacorinthians e ceara palpitecivis. Além disso, há relatoscorinthians e ceara palpitemembros das forças liberianas tomando partecorinthians e ceara palpitesaques ao ladocorinthians e ceara palpitemanifestantes", diz um relatório da organização The Advocates for Human Rights sobre o caso.

Um dos principais motivos para a fúria popular era o fatocorinthians e ceara palpiteo presidente do país, William R. Tolbert, possuir fazendascorinthians e ceara palpitearroz e se beneficiar diretamente do aumento.

"Corria a ideiacorinthians e ceara palpiteque a intenção era favorecer uma elite que importava o produto ou os plantadores, dos quais fazia parte a família do presidente", conta o professorcorinthians e ceara palpitehistória da África da UFRJ Cláudio Costa Pinheiro.

Segundo uma reportagem do New York Times da época, no dia seguinte ao protesto Tolbert caracterizou os líderes do movimento como "homens maus e satânicos", que só queriam "causar caos e desordem no país com o objetivocorinthians e ceara palpitederrubar o governo".

Em pouco tempo,corinthians e ceara palpiteacordo com Pinheiro, se proliferaram pela Libéria protestos cada vez mais violentos contra o governo, esgarçando o quadro político do país.

Às reivindicações alimentares, uniu-se a revolta contra uma estrutura antiga, que mantinha no poder uma elite liberiana privilegiada,corinthians e ceara palpitedescendência americana.

Em 1980, um ano após as manifestações originais, o governo foi derrubado por um golpecorinthians e ceara palpiteEstado, e Tolbert assassinado.

Tumulto no Haiti

A população do Haiti foi outra que se rebelou contra o aumento excessivo do valor do arroz, já no século atual.

Em 2008, atingidos por uma crise global que triplicou o preço do produto no mercado internacional, haitianos irados foram às ruascorinthians e ceara palpitemanifestações que tiveram resultados violentos.

O aumento do preço, que chegou a dobrar o valor do produto no país, teve ainda mais impacto devido à pobreza e ao baixo nívelcorinthians e ceara palpiterenda do povo haitiano, cuja maior parte sobrevivia com um saláriocorinthians e ceara palpitemenoscorinthians e ceara palpitedois dólares por dia, segundo informações do Banco Mundial.

Em abril, a população faminta da cidadecorinthians e ceara palpiteOkay entroucorinthians e ceara palpiteconflito com agentescorinthians e ceara palpitepaz das Nações Unidas.

Os protestos alcançaram outras cidades do país, onde os manifestantes passaram a apedrejar policiais e saquear lojas. O saldo final foicorinthians e ceara palpiteseis mortos e vários feridoscorinthians e ceara palpitetodo o país.

Os protestos só acabaram quando o governo anunciou um plano para reduzir o preço do arroz e senadores removeram o primeiro-ministro Jacques-Édouard Alexis do cargo, dez dias após o início dos tumultos.

Em pronunciamento para a TV à época, o então presidente haitiano René Préval disse que "o arroz importado se tornou caro e nossa produção nacional estácorinthians e ceara palpiteruínas. Por isso, subsidiar a importaçãocorinthians e ceara palpitecomida não é a resposta".

A principal medida anunciada pelo governo para acalmar os manifestantes, porém, foi um subsídio ao valor do produto importado, derrubando seu preçocorinthians e ceara palpitemaiscorinthians e ceara palpite15%.

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