Coronavírus: A longa listadouble betspeedpossíveis sequelas da covid-19:double betspeed

Respiração comprometida após a alta

O pneumologista Gustavo Prado, do hospital Alemão Oswaldo Cruz, conta que tem recebido um volume expressivodouble betspeedpacientes que tiveram quadros moderadosdouble betspeedcovid-19 e relatam, por exemplo, cansaço e faltadouble betspeedar.

Um dos primeiros estudos sobre a função pulmonardouble betspeedpacientes que haviam acabadodouble betspeedreceber alta na China indicava,double betspeedabril, que a redução da capacidade pulmonar era uma das principais consequências observadas mesmo entre aqueles que não chegaram a ficardouble betspeedestado crítico.

Publicadodouble betspeedabril no European Respiratory Journal, o trabalho ressaltava a ocorrênciadouble betspeedfenômenos semelhantesdouble betspeedepidemias causadas por outros coronavírus, os da Sars e da Mers,double betspeedque as sequelas se estenderam por meses ou anosdouble betspeedalguns casos.

Mais recentemente, um estudo publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) verificou que, entre 143 pacientes avaliados na Itália, apenas 12,6% haviam sido internadosdouble betspeeduma UTI, mas 87,4% relatavam persistênciadouble betspeedpelo menos um sintoma, entre eles fadiga e faltadouble betspeedar, maisdouble betspeeddois meses depoisdouble betspeedterem alta.

"A gente tem visto mesmo uma latência para a recuperação plena dos pacientes que tiveram quadros moderados", afirma o pneumologista do Fleury João Salge.

Muitos desses pacientes, ele conta, retornam às atividades do dia a dia, mas relatam cansaço e veemdouble betspeedprodutividade e qualidadedouble betspeedvida afetados.

A eles, o médico tem recomendado que façam exercícios físicos, respeitando as limitações do momento, e que tentem pouco a pouco desafiar o organismo para recuperar o condicionamento.

Mas ainda não se sabe por quanto tempo esses sintomas podem se estender.

Fibrose pulmonar

Nos casos mais graves, é possível que haja sequelas permanentes, como a fibrose pulmonar, uma doença crônica caracterizada pela formaçãodouble betspeedcicatrizes no tecido pulmonar.

"A cicatriz preenche o espaço, mas não tem a mesma elasticidade, as mesmas características do tecido original", explica Prado.

Assim, o pulmão expande menos, ou com maior dificuldade, com uma consequente perdadouble betspeedeficiência nas trocas gasosas. Com a redução da capacidade respiratória vem a faltadouble betspeedar e o cansaço frequentes.

A fibrose pode ser causada pela inflamação intensa e generalizada que o organismo provoca para tentar expulsar o vírus do corpo. Nesse caso, ela é consequência do processodouble betspeedreparação natural do tecido danificado.

Mas também pode ser resultado do próprio tratamento, quando o paciente é intubado, por exemplo.

"Apesardouble betspeednecessária na síndrome respiratória grave, a ventilação não adequada pode impor estresse sobre tecidos pulmonares — por uma distensão exagerada, pela manutençãodouble betspeedpressões altas no enchimento do pulmões ou pela ofertadouble betspeedoxigênio exagerada", exemplifica Prado.

É a chamada lesão pulmonar induzida pela ventilação, ou VILI (acrônimo da expressãodouble betspeedinglês "ventilator-induced lung injury"), que pode evoluir para uma fibrose.

Síndrome pós-UTI

Longedouble betspeedser exclusividade da covid-19, esse tipodouble betspeedlesão caracteriza diversas síndromes respiratórias mais graves.

A particularidade, nesse caso, é o fatodouble betspeedque o intervalodouble betspeedinternação dos pacientes infectados pelo novo coronavírus costuma ser maior, o que aumenta a probabilidadedouble betspeedocorrência desse tipodouble betspeedsequela.

"Eles ficam muito tempo intubados, traqueostomizados,double betspeedECMO (sigla para "extracorporeal membrane oxygenation", ou oxigenação por membrana extracorporal, que consiste no usodouble betspeeduma máquina que realiza a função do coração e pulmões e bombeia o sangue)", diz a pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo.

O período prolongado no hospital também eleva as chancesdouble betspeedoutro problema que acomete aqueles afetados por infecções graves: a síndrome pós-UTI.

Os sintomas vão desde perdadouble betspeedforça muscular, alterações da sensibilidade e da força motora por disfunção dos nervos até depressão, ansiedade, alterações cognitivas, prejuízodouble betspeedmemória e da capacidadedouble betspeedraciocínio.

Os casos gravesdouble betspeedcovid-19 são a minoria, cercadouble betspeed5% do total. Diantedouble betspeeduma pandemiadouble betspeedgrandes proporções, entretanto, um percentual pequeno pode significar números absolutos elevados. Entre cercadouble betspeed11 milhõesdouble betspeedrecuperados, por exemplo, os 5% se tornam 550 mil.

Nesse sentido, Prado, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, chama atenção para o fato que parte desse grande contingente vai precisardouble betspeedacompanhamento médico por algum tempo, seja no SUS ou na saúde privada.

"E boa parte dos pacientes ainda pertence à população economicamente ativa. A gente precisa desmistificar um pouco essa ideiadouble betspeedque é só o idoso com comorbidade", acrescenta.

'Marco zero'

Os pulmões são uma espéciedouble betspeed"marco zero" para o Sars-CoV-2. Uma vez que o vírus consegue atravessar nossa barreira imunológica e se instala no pulmão, ele segue fazendo estragosdouble betspeedoutros órgãos.

Um artigo publicadodouble betspeedabril na revista Science destacava que um possível sinalizador das regiões mais vulneráveis do corpo seria aquelas ricasdouble betspeedreceptores chamados ECA2 (enzima conversora da angiotensina 2).

Com a funçãodouble betspeedregular a pressão sanguínea, essas proteínas ficam na superfície da célula e são usadas como portadouble betspeedentrada pelo vírus, que utiliza a estrutura celular para se reproduzir.

Além dos pulmões (mais especificamente os alvéolos pulmonares), o ECA2 também é encontradodouble betspeedórgãos como o coração, o intestino e os rins — que têm sofrido lesões importantesdouble betspeedpacientesdouble betspeedestado mais grave.

"Por isso dizemos que a covid-19 é uma doença sistêmica, e não apenas respiratória", diz Dalcolmo, da Fiocruz.

Os cientistas ainda investigam se esses danos são causados diretamente pelo vírus ou por fatores indiretos ligados à doença.

Uma possibilidade, por exemplo, é que a "tempestade inflamatória" que o sistema imunológico gera para tentar combater o vírus, inundando o organismodouble betspeedcitocinas, acabe lesionando esses órgãos. Parte também pode ser uma consequência da própria infecção.

Rins e coração

Independentemente da causa, os cientistas procuram entender quais desses efeitos têm consequênciasdouble betspeedcurto, médio ou longo prazo.

Um estudo recente — com resultados preocupantes — realizado na Alemanha apontou que, entre 100 pacientes recuperados, 78% apresentaram algum tipodouble betspeedanomalia no coração maisdouble betspeeddois meses após a alta. Boa parte (67%) tivera uma forma branda da doença e sequer havia sido hospitalizada.

No caso dos rins, as evidências mostram uma incidência elevadadouble betspeedfalência entre os casos mais gravesdouble betspeedcovid-19.

Um amplo estudo com dadosdouble betspeedpacientes internadosdouble betspeedNova York entre 1double betspeedmarço e 5double betspeedabril revelou que, dentre 5.449, maisdouble betspeedum terço, 1.993, desenvolveram insuficiência renal aguda.

Cérebro

A ocorrênciadouble betspeeduma sériedouble betspeedsintomas neurológicos que vãodouble betspeedconfusão mental e dificuldade cognitiva a delírio também tem sido documentada entre pacientes com covid-19.

No Brasil, uma força-tarefa do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (Inscer), vinculado à PUC-RS, investiga, entre outras frentes, quais sequelas podem ficar desses sintomas.

O neurologista Jaderson Costa da Costa, que coordena o grupo, conta que, entre os casos mais graves atendidos pela equipe no Hospital São Lucas,double betspeedPorto Alegre, têm sido observadas convulsões, casosdouble betspeedsíndromedouble betspeedGuillain-Barré (que ataca o sistema nervoso e causa fraqueza muscular) edouble betspeedencefalite, a inflamação do parênquima do encéfalo.

Um estudo recente da University College London chamou atenção para um caso raro e gravedouble betspeedencefalite que tem acometido alguns pacientes com covid — a encefalomielite aguda disseminada.

Sistema vascular

Outra complicação neurológica que os médicos têm observadodouble betspeedpacientes com casos graves é a ocorrênciadouble betspeedacidentes vasculares cerebrais (AVC).

Por alguma razão que os cientistas ainda desconhecem, o Sars-CoV-2 aumenta a tendênciadouble betspeedcoagulação do sangue.

Tanto que um fragmentodouble betspeedproteína usado no diagnósticodouble betspeedtrombose, o dímero-D, virou um marcadordouble betspeedgravidade para pacientes com covid.

"Quando ele está alto, é um sinaldouble betspeedpossível evolução para um quadro mais grave", diz o pneumologista do Fleury João Salge.

A coagulação desenfreada pode levar a um tromboembolismo venoso — o bloqueiodouble betspeeduma via sanguínea, que pode acabar causando AVC, embolia pulmonar ou a necrosedouble betspeedextremidades, levando à necessidadedouble betspeedamputação, o que também tem sido observadodouble betspeedpacientes com covid.

"Essa dicotomia entre 'morreu' e 'sobreviveu' é errada", diz o pneumologista Gustavo Prado, chamando atenção para a necessidadedouble betspeedse discutir a reabilitação dos recuperados.

Para ele, a ampla gamadouble betspeedpossíveis sequelas deixadas pela covid-19 e a dimensão da população atingida deveriam transformar esse processodouble betspeedrecuperaçãodouble betspeeduma questão mais ampla, que envolvesse uma estratégiadouble betspeedsaúde pública e assistência social e incluísse profissionais da saúdedouble betspeeddiferentes frentes.

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