‘Bolsonaro usa futebolplataforma bwinmaneira oportunista e demagógica’, diz historiador:plataforma bwin
Leia a entrevista abaixo.
plataforma bwin BBC News Brasil - Nos últimos meses, a gente viveu um raro momentoplataforma bwinque não havia competiçõesplataforma bwinfutebol por vários meses. Como as pessoas lidaram com isso?
plataforma bwin Flavioplataforma bwinCampos - A pergunta que se colocou para o torcedor nos últimos meses é o que sobra do futebol quando não se tem futebol.
Houve um períodoplataforma bwinque torcedores revisitaram jogos importantes dos seus times, da seleção brasileira eplataforma bwinoutras seleções. A televisão reprisou partidas históricas, mas os torcedores também resgataram acervos disponíveis na internet.
Então o que sobrou do futebol na pandemia? Sobrou a reflexão sobre política. Diversas lives e bate-papos discutiram o papel político do futebol e como ele pode contribuir para pensar e enfrentar problemas brasileiros.
Muita gente passou a enxergar que futebol e política são inseparáveis.
plataforma bwin BBC News Brasil - Por que temos essa impressãoplataforma bwinque o futebol é apolítico, como se ele ocorresse fora do momento históricoplataforma bwinque está inserido?
plataforma bwin Campos - O futebol é a modalidade esportiva mais importante do Brasil e do mundo contemporâneo. É um equívoco separar um elemento cultural desse tamanho das suas relações e implicações sociais, positivas e negativas.
Essa noção remonta à origem do esporte, na Inglaterra do século 19. O futebol era um bem cultural para a elite britânica. Como era amador, não previa e até proibia a remuneração dos praticantes. Ou seja, só podia jogar futebol quem tinha dinheiro. Quem lutava pelo sustento diário precisava ter outra renda, tornando o futebol incompatível com a classe trabalhadora.
Então surgiram formasplataforma bwinpraticar o futebol como resistência, furando as proibições e criando um profissionalismo oficioso. A remuneração surgiu assim.
Na segunda metade do século 19, o futebol se tornou uma grande febre na Inglaterra, com 1 milhãoplataforma bwinpraticantes, da elite aos operários. Ele era resistência e lazer. Esse é um momentoplataforma bwinavanço da industrialização e crescimento da classe trabalhadora, a ponto do historiador britânico Eric Hobsbawm, mais tarde, definir o futebolplataforma bwinuma maneira muito bonita: 'a religião laica da classe operária'.
Ao mesmo tempo, lideranças operárias, tanto socialistas como anarquistas, viram no futebol um elementoplataforma bwinalienação. Para eles, a modalidade tirava o foco da resistência política e da lutaplataforma bwinclasses. Muitas dessas lideranças recomendaram que os trabalhadores não jogassem futebol.
De fato, há diversos momentosplataforma bwinque o futebol se tornou um instrumentoplataforma bwindominação. Na Itália fascista, por exemplo, bicampeã mundialplataforma bwin1934 e 1938, ele foi utilizado por Mussolini para fortalecerplataforma bwinpopularidade e o nacionalismo.
Já do pontoplataforma bwinvista dos dominadores,plataforma bwinquem explora o futebol, historicamente se apregoou a ideiaplataforma bwinneutralidade,plataforma bwinque futebol e política não se misturam.
plataforma bwin BBC News Brasil - Como o sr. avalia a relação entre o presidente Jair Bolsonaro e o futebol brasileiro?
plataforma bwin Campos - Vejo uma ação oportunista da parte dele, como é característicaplataforma bwinJair Bolsonaro. A atuação dele se dáplataforma bwinduas frentes: uma simbólica e outra, prática.
Na primeira, ele se apropriaplataforma bwinum elemento simbólico do futebol brasileiro que é a camiseta amarela da seleção. Ele e seus apoiadores usam a camisa como um símbolo do grupo.
O elemento prático éplataforma bwinpresençaplataforma bwinjogos e conquistasplataforma bwinclubes. Bolsonaro levou (o ex-ministro da Justiça) Sérgio Moro a um jogo do Flamengoplataforma bwinum momento difícil para o ex-juiz, quando surgiram os vazamentos do site Intercept Brasil sobre conversas entre membros da Lava Jato.
Em 2018, Bolsonaro também surfou na conquista do Campeonato Brasileiro pelo Palmeiras. Ele foi ao estádio no dia do recebimento da taça e, indevidamente, entrouplataforma bwincampo, distribuiu medalhas e desfilou com o troféu.
Recentemente, ele lançou uma Medida Provisória (MP), que mudou uma questão difícilplataforma bwinresolver no Brasil: os direitosplataforma bwintransmissãoplataforma bwinjogos. A assinatura dessa MP, que dá a transmissão ao clube mandanteplataforma bwinuma partida, foi uma retaliação à Rede Globo, que tradicionalmente paga por esses direitos.
Para além disso, Bolsonaro não tem um projeto para o futebol brasileiro, ou para esporte e lazer no Brasil. Se você perguntar a alguém do governo sobre isso, ninguém vai saber responder. As medidas sobre futebol estão sendo tomadas no improviso,plataforma bwinmaneira atabalhoada e ao sabor dos interesses imediatos.
plataforma bwin BBC News Brasil - Vestir a camisaplataforma bwinum clube rival é algo inaceitável para um torcedor. Por outro lado, Bolsonaro usa camisasplataforma bwinvários clubes até antagônicos. Isso demonstra um amor fraternal pelos clubes ou é estratégia política?
plataforma bwin Campos - Até hoje não se sabe se Bolsonaro torce mesmo pelo Palmeiras, pelo Botafogo, pelo Vasco da Gama, pelo Flamengo... Ele já vestiu camisetasplataforma bwindiversos clubes.
Na cultura do futebol e do torcedor, vestir a camisetaplataforma bwinum rival revela faltaplataforma bwincaráter. É uma infidelidade inadmissível. Normalmente, quando você perde uma aposta, precisa vestir a camiseta do time rival e ser fotografado com ela, pois isso é um motivoplataforma bwinchacota.
Eu sou palmeirense, e vou confessar que uma única vez na vida torci para o Corinthians. O fato é que sempre torço contra o Corinthians. Ser palmeirense também significa ser anti-Corinthians. Ou seja, não há a menor possibilidadeplataforma bwineu gostar do rival. E vice e versa. Você nunca vai ver um corintiano com a camisa do Palmeiras porque ele quer fazer média com a outra torcida.
Quando Bolsonaro veste a camiseta do Flamengo, do Vasco, do Palmeiras, do Botafogo eplataforma bwinoutros times, ele está sendo oportunista e mostrandoplataforma bwinvolatilidadeplataforma bwincaráter. Com isso, ele tenta surfar na onda do futebolplataforma bwinmaneira demagógica.
plataforma bwin BBC News Brasil - Qual a diferença para outros políticos? Por exemplo, José Serra é palmeirense, Geraldo Alckmin é santista, Fernando Henrique Cardoso e Lula, corintianos…
plataforma bwin Campos - O Serra é um habitué do estádio do Palmeiras há muitos anos: ele aparecerplataforma bwinuma comemoração do clube, por exemplo, seria compreensível… Já o Guilherme Boulos é corintiano, foi da Gaviões da Fiel, tem legitimidade para falar sobre o Corinthians. O Lula sempre se disse corintiano. Você nunca viu o Lula torcendo pelo Palmeiras ou pelo Flamengo.
Ou seja, existe uma vinculação histórica desses políticos com seus clubes, o que não ocorre com Bolsonaro.
Quando Bolsonaro foi à comemoração do Palmeiras, a diretoria do clube permitiu que ele fizesse um uso demagógico do título e do clube, pois ele nunca teve nenhuma vinculação com o Palmeiras — se ela existe, começou muito recentemente.
plataforma bwin BBC News Brasil - Nos últimos meses, houve uma aproximação entre Flamengo e Bolsonaro. Como sr. vê essa relação?
plataforma bwin Campos - Essa não é uma grande preocupação para mim. Não é novidade que um time se aproximeplataforma bwingovernos, ou da CBF, para costurar acordos que o beneficiem.
Na décadaplataforma bwin1970, revistas e jornais publicaram uma fotografia do general Emílio Garrastazu Médici e um texto da diretoria do Sport, do Recife. O texto, bastante apologético e carinhoso, agradecia ao ditador por ele ter aceito conceder seu nome para o estádio do Sport. Essa reportagem, porém, apontava uma contradição: o projeto do estádio era do arquiteto Oscar Niemeyer, um notório comunista.
Conto isso para demonstrar que esse movimento é recorrente: é um oportunismoplataforma bwinparte à parte. O Bolsonaro quer se escorar no Flamengo e, porplataforma bwinvez, o Flamengo quer ter vantagens do governo.
plataforma bwin BBC News Brasil - Na campanha eleitoral, Bolsonaro teve apoio explícitoplataforma bwinmuitos jogadoresplataforma bwingrandes clubes.
plataforma bwin Campos - Bolsonaro ganhou os vestiários. Durante a campanha eleitoralplataforma bwin2018, vários jogadores comemoraram gols fazendo aquele famoso gesto da 'arminha',plataforma bwinalusão a Bolsonaro.
Vários deles continuam com o apoio mesmo com um ano e meio desse governo desastroso e violento. Um exemplo é o ex-goleiro Marcos, ídolo do Palmeiras. Ele não só apoiou Bolsonaro como ainda mantém uma postura fanáticaplataforma bwinrelação ao governo.
A oposiçãoplataforma bwinesquerda e pessoas que têm compromisso com a democracia não têm conseguido disputar os vestiários com a extrema-direita. Há poucos atletas, técnicos e dirigentes que se pronunciamplataforma bwinoposição ao governo, a maioria aderiu ao bolsonarismo.
Uma exceção é o ex-jogador Raí, hoje diretor do São Paulo. Ele comprou algumas brigas, se posicionando contra o retorno do futebol durante a pandemia, o que o governo defendia. Além dele, há o Roger Machado, técnico do Bahia, que tem falado bastante sobre racismo estrutural no futebol e na sociedade brasileira.
plataforma bwin BBC News Brasil - É possível apontar os motivos para esse apoio dos jogadores a Bolsonaro?
plataforma bwin Campos - A gente já teve uma geraçãoplataforma bwinatletas bastante politizada à esquerda, na décadaplataforma bwin1980. Isso estavaplataforma bwinsintonia com a efervescência democrática do momento, no final da ditadura. Por isso, atletas como Sócrates, Casagrande e Wladimir se posicionaramplataforma bwinmaneira corajosa.
Nos últimos anos, do pontoplataforma bwinvista da sociedade, houve um desgaste da cultura democrática. E ela se dá sobretudo a partir do segundo mandatoplataforma bwinDilma Rousseff, com a revelaçãoplataforma bwincasosplataforma bwincorrupção pela operação Lava Jato.
Houve uma campanha judiciária e midiática contra a corrupção, mas voltada apenas a um agrupamento específico da política brasileira, que é o Partido dos Trabalhadores. Ao mesmo tempo, iniciou-se uma discussão política que era, na verdade, uma valorização da antipolítica.
O segundo aspecto precisa ser colocado na conta das gestões do PT.
Os governos petistas tiveram nas mãos uma grande agenda esportiva. Desde os mandatosplataforma bwinLula, houve vários megaeventos esportivos no país: Jogos Mundiais Militares, o Pan Americano, a Copa das Confederações, Copa do Mundo, Jogos Mundiais dos Povos Indígenas e a Olimpíada.
Essa agenda se articulou à política. Mas, nesse aspecto, o PT não conseguiu imprimir uma marcaplataforma bwininclusão social eplataforma bwintransformação pelo esporte. Pelo contrário. Nesses megaeventos, os governos petistas capitularam frente à lógica dos grandes interesses das construtoras, das grandes empresasplataforma bwinmídia e dos patrocinadores.
Não se aproveitou uma oportunidade única na história do Brasil que era mudar essa correlaçãoplataforma bwinforça. Não foram criados mais canaisplataforma bwinparticipação dos atletas na construçãoplataforma bwinpolíticas públicas para o esporte.
É por causa desses fatores que o discurso da antipolítica e da banalização do machismo e da homofobia ganhou os vestiários.
plataforma bwin BBC News Brasil - A Copaplataforma bwin2014 foi organizada pelos governo do PT, com diversas denúnciasplataforma bwincorrupção. Como o sr. acha que ela será lembrada no futuro?
plataforma bwin Campos - A Copa não foi um 7 a 1 só dentroplataforma bwincampo. No gramado, a seleção brasileira sofreuplataforma bwinmaior derrota, a mais vergonhosa, a mais sentida, a mais absurda. Isso levandoplataforma bwinconsideração que o time alemão, no segundo tempo, tirou o pé por respeito. E esse respeito foi humilhante.
O resultado também representa uma virada da política no Brasil. Antes disso,plataforma bwinmaioplataforma bwin2013, a popularidade da Dilma batia recordes. Um mês depois, as jornadasplataforma bwinjunho trouxeram primeiro a pauta da mobilidade urbana, mas depois incluíram demandas sociais, como saúde e educação.
A partir daí as demandas se viraram cada vez mais para a agenda esportiva, e contra o PT. Os cartazes dos manifestantesplataforma bwin2013 pedia "educação padrão Fifa" e "saúde padrão Fifa", uma ironiaplataforma bwinrelação ao padrão que a Fifa exigia para as arenas da Copa.
Ao mesmo tempo, os governos petistas abriram a guarda para superfaturamentos escandalososplataforma bwinobras da Copa e para a construçãoplataforma bwinestádios absolutamente desnecessários, que desperdiçaram muito dinheiro público.
Ou seja, o 7 a 1 também ocorreu na organização e na política. Eu diria que 2014 será lembrado como a Copa do ocaso do PT. Ela marca o esgotamento do lulismo eplataforma bwinsua capacidadeplataforma bwinarticular setores antagônicos da sociedade brasileira. O presidencialismoplataforma bwincoalizão do PT levou ao governo bancários e banqueiros, latifundiários e sem-terra, sindicalistas e empresários, setores da direita e da esquerda.
O enfraquecimento desse sistema, simbolicamente representado pelo 7 a 1, vai levar ao impeachment, que eu avalio como um golpe parlamentar.
plataforma bwin BBC News Brasil - Hoje a camisa da seleção virou símbolo da direita, a pontoplataforma bwinpessoasplataforma bwinoutro posicionamento político não quererem mais vesti-la. O que essa disputa revela?
plataforma bwin Campos - Acho um equívoco associar a camisa da seleção, símbolo oficioso do Brasil, à extrema-direita e ao fascismo. Ela é polissêmica dependendo do contexto histórico, e pertence a toda sociedade brasileira.
A ditadura militar, por exemplo, se apropriou dos símbolos nacionais para reforçar seu projeto. No entanto, a seleção da Copaplataforma bwin1982 representava a transição democrática e a luta contra o próprio regime.
A campanha das Diretas,plataforma bwin1984, tinha a participaçãoplataforma bwinjogadores como Sócrates e Casagrande. O símbolo da campanha era o amarelo da bandeira nacional e da seleção. O mestreplataforma bwincerimônia era o Osmar Santos, principal locutor esportivo da época.
Ou seja, a camiseta já teve uma significação democrática, também.
Desde a Copa das Confederaçõesplataforma bwin2013 e da Copa do Mundo no ano seguinte, ela virou elementoplataforma bwincontestação ao governo Dilma, a pontoplataforma bwinAécio Neves pedir que seus apoiadores usassem a camiseta na campanha eleitoral. A partirplataforma bwinentão, ela se tornou símbolo do impeachment e, depois, foi herdada pelo grupo que apoia Bolsonaro.
plataforma bwin BBC News Brasil - Em 1970, a maior seleçãoplataforma bwintodos os tempos venceu a Copa. Foi um momentoplataforma bwingrande alegria no Brasil, mas, ao mesmo tempo, a repressão da ditadura vivia seu auge. Como o regime utilizou esse momento?
plataforma bwin Campos - A ditadura militar se utilizou do sucesso daquela seleção exuberante para se fortalecer e ampliarplataforma bwinpropaganda políticaplataforma bwinlegitimação interna. Mas isso é algo que ocorreu com todos os governos da história.
O que a ditadura fez com a seleçãoplataforma bwin70 não é essencialmente diferente do que o então presidente Juscelino Kubitschek fez com o time que ganhou a Copa na Suécia,plataforma bwin1958: ele recebeu a seleção, tirou foto com os atletas, levantou a taça. Em 1962, quando o Brasil venceu a Copa do Chile, o presidente João Goulart, que vivia um momento político difícil, fez a mesma coisa.
Em 1970, no entanto, temos algo mais complexo, claro. Houve um projetoplataforma bwinmilitarização da comissão técnica da seleção brasileira. Membros da preparação física e da coordenação, como Carlos Alberto Parreira e Cláudio Coutinho, eram egressosplataforma bwinsetores das Forças Armadas.
Na cabeçaplataforma bwinparte da população, porém, havia um paradoxo: existia uma seleção esplendorosa, com Pelé, Tostão e Jairzinho, mas ao mesmo tempo a repressão prendia, torturava e matava militantes da resistência. Mesmo entre esses militantes havia discussões sobre se se devia torcer pela seleção brasileira ou não.
Aquela seleção representa a expressão máxima da cultura popular brasileira. Ela pode ter sido apropriada pelo governo militar naquele momento, mas não nunca pertenceu ao regime, e sim à cultura popular.
plataforma bwin BBC News Brasil - Voltando ao governo Bolsonaro, como torcedores se envolveram nos recentes protestos contra o governo?
plataforma bwin Campos - As torcidas organizadas têm, emplataforma bwinhistória, diversos episódiosplataforma bwinparticipação política. A Gaviões da Fiel surge, na décadaplataforma bwin1960, como uma contestação à diretoria do Corinthians, cujo nome mais forte e importante era o Wadih Helu, que foi deputado pela Arena (partido da ditadura).
Em marçoplataforma bwin1979,plataforma bwinuma partida contra o Santos no estádio do Morumbi, a mesma torcida abriu uma faixa com os dizeres: "Anistia ampla, geral e irrestrita". Alguns dias depois, no mesmo estádio, a torcida do Santos,plataforma bwinum jogo contra o Palmeiras, levou uma faixa com os mesmos dizeres.
Já nos protestos recentes, o que tivemos foi a atuaçãoplataforma bwincoletivosplataforma bwintorcedores deflagrando as primeiras críticas ao governo dentro da linguagem do futebol. Eles não são necessariamente torcidas organizadas, que aderiram depois.
São agrupamentosplataforma bwinesquerda que, nos últimos anos, atuaram sobretudo na internet: anarquistas, socialistas, LGBTs e mulheres que lutam pelo direitoplataforma bwinexpressão nos estádios.
No primeira manifestação contra Bolsonaro, havia uma chave clubística: corintianos, são-paulinos, palmeirenses e santistas marchando pela avenida Paulista. Não houve qualquer enfrentamento, pois a palavraplataforma bwinordem era democrática,plataforma bwinrespeito à diferença mesmo entre rivais históricos.
Do outro lado,plataforma bwinfrente ao prédio da Fiesp, havia outra torcidaplataforma bwinfutebol, com as camisetas da seleção brasileira. Eles reivindicavam uma identidade homogênea e nacionalista, com um discurso autoritárioplataforma bwinque não há espaço para a diversidade. Essa torcida bolsonarista defendia o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal e o estabelecimentoplataforma bwinuma ditadura no Brasil, inclusive com menções ao AI-5.
plataforma bwin BBC News Brasil - Há na sociedade uma visão negativa sobre as torcidas organizadasplataforma bwinvirtudeplataforma bwinepisódiosplataforma bwinviolência. Os próprios apoiadores do governo usaram essa perspectiva para criticar os protestos.
plataforma bwin Campos - O olhar repressor que propõe a extinção das torcidas organizadas é o mesmo que se lança contra movimentos sociais.
Inegavelmente, as torcidas se envolveramplataforma bwinepisódiosplataforma bwinviolência eplataforma bwinenfrentamento. Mas, muitas vezes, nesses atos houve corresponsabilidade da Polícia Militar ou dos promotores dos eventos.
A extrema-direita costuma dar respostas simplistas a problemas complexos. As torcidas organizadas são um problema complexo, que não se resolve com repressão.
Não estou defendendo a violência,plataforma bwinjeito nenhum. Mas é contraditório o bolsonarismo apontar os erros dos outros quando o presidente faz uma reiterada defesa da cultura da violência, do ódio e da eliminaçãoplataforma bwinseus adversários políticos.
plataforma bwin BBC News Brasil - Quais são as principais demandas para futebol brasileiro hoje?
plataforma bwin Campos - De cara, penso no futebolplataforma bwinmulheres. A gente vê o futebol no Brasil como um esporteplataforma bwinhomens, mesmo com todo o histórico e importância do futebolplataforma bwinmulheres para a sociedade. Precisamos criar condições estruturantes para desenvolvê-lo.
A segunda questão seria equilibrar a diferenças entre os clubes grande e os menores, que hoje são gigantescas. Acreditoplataforma bwinesquemasplataforma bwinincentivo aos clubes menores, como bolsõesplataforma bwinatletas. As federações estaduais e a CBF, que têm muitos recursos, deveriam criar condições para reequilibrar o jogo.
Há também uma disparidade enorme entre saláriosplataforma bwinjogadores. A gente vê o salário do Neymar e acredita que todos têm a mesma condição. Isso está muito longeplataforma bwinser verdade. A condição da grande maioria dos jogadores profissionais no Brasil beira a indigência.
A inclusão social nos espaçosplataforma bwinexpectação, os estádios, também deveria ser repensada. A elitização e gentrificação das arenas eliminou espaços para camadas mais pobres, pois não há mais setores populares.
Na mesma lógica, precisamos lutar incessantemente contra os preconceitos e discriminação no futebol: o racismo, a homofobia e o machismo. Hoje, torcedores LGBTs têm pouquíssimo espaço nos estádios, porque as arquibancadas são ambientes bastante homofóbicos.
Outra política importante seria a construçãoplataforma bwinum sistema nacionalplataforma bwinesportes e lazer, projeto abandonado pelas gestões do PT. Seria uma articulação entre as práticas esportivasplataforma bwinalto rendimento e asplataforma bwinlazer. A montagem desse sistema garantiria o direito universal ao lazer, previsto pela Constituição, e iria favorecer o aparecimentoplataforma bwinbons atletasplataforma bwindiversas modalidades.
Por fim, eu citaria o fortalecimento dos clubes. Vejo com muita reticência o discurso neoliberalplataforma bwinconstruçãoplataforma bwinclubes-empresas e gestões tecnocráticas. Acredito que deveríamos resgatar gestões participativas, democráticas e inclusivas dos clubes. Os sócios e torcedores deveriam ter mais espaço e voz.
plataforma bwin BBC News Brasil - O sr. disse antes que torceu uma única vez para o Corinthians. Quando foi isso?
plataforma bwin Campos - Foi na final do Campeonato Paulista entre Corinthians e São Paulo,plataforma bwin1983. Meu pai, já falecido, torcia para o São Paulo. Óbvio que, como palmeirense, eu iria torcer contra o Corinthians.
Estávamos na frente da TV, e o time do Corinthians entrouplataforma bwincampo com uma faixa com os dizeres: "Ganhar ou perder, mas sempre com democracia". Naquele momento, meu pai percebeu que eu iria torcer para o Corinthians, porque naquele ano a defesa da democracia era mais importante que a rivalidade. Foi a única vez que isso aconteceu, e posso dizer que nunca vesti a camisa do Corinthians.
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