'A alternativa para os próximos 20 anos é uma forma sustentávelroleta de stopcapitalismo, que não será vista como capitalismo':roleta de stop
Como intelectual, alémroleta de stopum livroroleta de stopficção e uma peçaroleta de stopteatro, escreveu sobre os mesmos temas: a classe trabalhadora, a crise financeiraroleta de stop2008 e os diferentes protestos globais como a Primavera Árabe, Ocuppy Wall Street e os "indignados" da Espanha.
Mas fora suas últimas obras — PostCapitalism: A Guide to Our Future ("Pós-capitalismo: Um guia para o nosso futuro", editado pela Cia das Letras) e Clear Bright Future: A Radical Defence of the Human Being (ainda sem edição no Brasil) — que o tornaram um nome conhecido internacionalmente, envolvidoroleta de stopvários debates sobre o estado atual do capitalismo e seu futuro.
A BBC News Mundo, serviçoroleta de stopespanhol da BBC, conversou com Paul Masonroleta de stopLondres, onde ele vive.
roleta de stop BBC - Em um artigo recente, o senhor traça um interessante paralelo entre o que acontece hoje e o que aconteceu depois da epidemiaroleta de stoppeste negra, no século 14, que marcou a transição do feudalismo para o capitalismo.
roleta de stop Paul Mason - Um dos temas do meu trabalho é que, como o feudalismo, o capitalismo tem um começo, um meio e um fim.
Em meu último livro (Clear Bright Future: A Radical Defence of the Human Being), digo que o fimroleta de stopum modoroleta de stopproduçãoroleta de stopum sistema econômico é com frequência uma misturaroleta de stopsuas fraquezas internas com o que chamamosroleta de stop"choques externos" ou exógenos.
Então, para nós, a mudança climática se manifesta como um choque exógeno, porque o único capitalismo industrial que conhecemos está baseado na extraçãoroleta de stopcarvão e na destruição da biosfera.
É possível que,roleta de stopum universo paralelo, o capitalismo tivesse se desenvolvido a partir da energia limpa eroleta de stopharmonia com a natureza, mas não foi assim.
Há ainda a questão do envelhecimento populacional, que possivelmente levaria à falência 60% dos países até meados deste século porque não haverá gente o suficiente para sustentar uma população envelhecida.
O coronavírus é outro fator que parece ser um choque externo.
Mas meu argumento é que, ainda que todos pareçam choques externos, na realidades são produzidos pelo próprio capitalismo.
Esse é o problema: o tiporoleta de stopcapitalismo que temos destrói as florestas tropicais e cria condições para que milhõesroleta de stoppessoas vivamroleta de stopsituação vulnerável.
E no mundo desenvolvido — provavelmente não tão óbvio para alguns leitores na América Latina — ele tem criado "doenças da pobreza". Há muita gente morrendoroleta de stopobesidaderoleta de stopLondres, com diabetes tipo B ou enfermidades nos pulmões porque fumou a vida inteira.
O paralelo que faço com a peste negra é limitado, mas vale a pena ser explorado, porque a epidemia foi responsável por duas coisas: primeiro, interrompeu o modelo econômico do feudalismo porque não havia componeses para cultivar a terra.
E nas cidades não havia pessoas o suficiente que soubessem trabalhar com o que era a principal matéria-prima da época, a lã. Nas revoltas que eclodiram depois da peste negra, sempre houve participação dos trabalhadores que manufaturavam a lã.
O outro impacto — e maior — foi a quebra da ideologia. Porque fez com que as pessoas dissessem: "Isso (o modelo) não está funcionando."
Entre aqueles que estudaram aquele período há um livro brilhante que se chama Lust for Liberty ("Desejoroleta de stopliberdade",roleta de stoptradução livre),roleta de stopSamuel K. Cohn. O título já diz tudo: ao final da epidemia, as pessoas se deram contaroleta de stopque o sistema não as estava protegendo.
Se pensa no feudalismo — e acredito que na América Latina a imagem seja desses grandes senhoresroleta de stopterras, pois as revoltas coloniais também foram contra os grandes senhoresroleta de stopterras —, e a cultura entre esses donosroleta de stopterra era o paternalismo. O proprietário está ali para explorar, mas também para proteger.
E o que aconteceu no século 14 foi que as pessoas disseram: "Espera aí, isso não está nos protegendo". E a palavra liberdade começou a ser usada e disseminada.
Nós pensamos na palavra "liberdade" no contexto da Revolução Francesa, mas desde 1360 observamos o uso da palavra "libertas",roleta de stoplatim, pelos revolucionários.
roleta de stop BBC - Algo que me chama atenção nesta comparação é que a peste negra marcou a transição do feudalismo para o capitalismo, o que,roleta de stopalguma maneira, permitiu o Renascimento e o que conhecemos como Idade Moderna. Há mais ou menos 40 anos se fala do fim dessa Idade Moderna e do que, por faltaroleta de stopuma expressão melhor, se chama "pós-modernismo". Como se novamente uma epidemia estivesse marcando a transição para um período distinto…
roleta de stop Mason - É interessante, mas não vejo as coisas assim. Há muita coisaroleta de stopjogo. Minha posição é aroleta de stopque temosroleta de stopnível global um sistema econômico que não funciona. E é um sistema que depende que um mundo rico bombeie recursos para um mais pobre e, porroleta de stopvez, que este mundo pobre bombeie lucroroleta de stopvolta ao rico.
É uma simplificação extrema, mas é assim que funciona.
Isso gerou grande desenvolvimento no hemisfério sul do planeta — algo bom para a região —, mas, ao mesmo tempo, cria pobreza e desigualdade, inclusive no mundo desenvolvido, tanto ao pontoroleta de stopmostrar que o sistema não é sustentável.
Em 2008, dissemos: "Há muita dívida". E a razão foi que os bancos centrais imprimiram muita moeda e as pessoas usaram isso para especular. E a solução foi US$ 75 bilhões extrasroleta de stopdívida e mais dinheiro por parte dos bancos centrais.
Estamos tentando curar a doença… com mais doença. E a doença é o capitalismo financeiro.
E qual a cura que se está oferecendo para a criseroleta de stopcovid-19? Mais dinheiro por parte dos bancos centrais, mais dívida.
Então, antesroleta de stopfalarroleta de stopModernidade, devemos falarroleta de stopalgo muito mais recente: o modelo econômico neoliberal, que está baseadoroleta de stopuma profunda desigualdade, especulação financeira extrema e baixos salários. Um modelo queroleta de stopalgum momento funcionou, mas que não funciona mais.
Deixemosroleta de stoplado a questão da dívida. Se você pensaroleta de stopuma franquia da Starbucks, ela trabalha com uma margemroleta de stoplucro bem pequena, porque estároleta de stopconstante pressão para reduzir preços.
Se a Starbucks decide aumentar o preço do café, o McDonald's reduz imediatamente. Então estamos dianteroleta de stopalgo que há sido chamadoroleta de stop"capitalismo just in time", onde praticamente não há estoque.
É o que temos no serviçoroleta de stopsaúde britânico: deixamos que ele opere emroleta de stopcapacidade máxima, assim não há camas ou respiradores sobressalentes. E isso não pode continuar assim. O que se necessita éroleta de stopcapacidade.
No futuro fará sentido que a Starbucks tenha várias lojas com cafésroleta de stopcada país. Fará sentido que elas tenham empregados adicionais, porque essa situação deve continuar e eles devemroleta de stopalgum momento ter algo como 10% da forçaroleta de stoptrabalho doente a todo momento.
E, logicamente, o serviçoroleta de stopsaúde britânico deveria ter mais camas, mais médicos, mais enfermeiros.
Mas, se tudo isso acontecer, todo o modelo neoliberar vai ruir. Então esse é meu ponto. Estamos dianteroleta de stopum modelo que já se esgotou e acredito que a tarefa para aqueles envolvidos na política é pensarroleta de stopuma solução.
roleta de stop BBC - Porque a resposta não pode ser a mesma que a maioria dos países deuroleta de stop2008, certo? Austeridade, cortesroleta de stopáreas como a saúde... Isso parece estar no centroroleta de stoptudo o que está errado neste momento.
roleta de stop Mason - Exatamente. Temos que rechaçar a austeridade, não só porque ela afeta mais aqueles que têm menos, mas porque se você a combina com a maior disponibilidaderoleta de stoprecursos por parte dos bancos centrais…
Penseroleta de stoptermos da quantidaderoleta de stopdinheiro circulando: se um governo coloca mais dinheiro para circular, mas ao mesmo tempo está cortando gastos, o único lugar para onde esses recursos podem fluir é para os mais ricos.
Então, essa combinaçãoroleta de stopimprimir mais moeda enquanto se reduz o Estado só vai produzir mais desigualdade.
E digo o seguinte a seus leitores: qualquer governo da América Latina que se proponha a fazer essas duas coisas ao mesmo tempo está conscientemente enchendo o bolso das classes mais altas.
roleta de stop BBC - O que você acha que vai acontecer? Porque estamos dianteroleta de stopmudanças que nunca se pensou que ocorreriam com tanta rapidez: países aprovando uma renda básica universal ou a nacionalizaçãoroleta de stopalguns setores da economia… Isso deve continuar?
roleta de stop Mason - Não. Veja, é possível pensar na nossa cabeça que o livre mercado funciona perfeitamente bem e que vai corrigir tudoroleta de stopcircunstâncias normais, mas o que precisamos agora éroleta de stopforte intervenção estatal.
O que estamos vendo com Trump ou com os conservadores no Reino Unido que estão tomando as medidas corretas, ainda que com lentidão: fechar a economia e a reconversãoroleta de stopalgumas companhias às mãos do Estado.
Mas o que vai acontecer quando as pessoas se derem contaroleta de stopque a normalidade não vai retornar? Acredito que precisamosroleta de stoptrês coisas.
Primeiro, que o governo tenha uma participaçãoroleta de stoptodos os negócios estratégicos. Isso não é o mesmo que resgatá-los financeiramente. Pode-se dar-lhes algum dinheiro, mas com algumas condições, como que mantenham toda a forçaroleta de stoptrabalho que possam — no caso das empresas do setor aéreo e as petroleiras, pode-se pedir que comecem a fazer uma transição para a tecnologia verde. E que o Estado seja donoroleta de stopparte da empresa.
Você mencionou a renda básica. A longo prazo, a melhor maneira para que isto funcione é atravésroleta de stopalgo chamadoroleta de stopserviços básicos universais.
Quer dizer, usar o dinheiro dos contribuintes para garantir renda para todo mundo, mas também para prover serviços básicos gratuitos: saúde, educação universitária, moradia acessível e transporte barato ou gratuito nas cidades.
O problema nesta crise é que nada disso vai ajudar, porque o que as pessoas precisam neste momento é dinheiro. Assim, no curto prazo precisamos que cada país tenha um esquemaroleta de stopsalário básico universal.
Finalmente, a terceira coisa que creio que precisamos é que os bancos centrais comprem a dívida do governo, se necessário,roleta de stopmaneira indireta.
Isso é um anátema para a economiaroleta de stoplivre mercado porque basicamente é o governo decretando o fim da independência dos bancos centrais — algo que era uma ficção,roleta de stopqualquer maneira. É o governo emprestando a si mesmo.
Para muitos isso não faz sentido, mas teríamos que pensar da seguinte maneira: estaríamos concedendo um "empréstimo ponte" (modalidade que algumas instituições financeiras condecedem quando seus clientes necessitamroleta de stopliquidez imediata) ao futuro.
A conta seria paga por aqueles que estivesse vivos daqui 50 ou 100 anos. Porque, se pagássemos os custos agora, as pessoas não morreriam apenas pela doença. A própria democracia poderia morrer.
Eroleta de stopum momentoroleta de stopque ela já está frágil — veja Trump e Bolsonaro —, se permitirmos uma depressão na escalaroleta de stop1929 creio queroleta de stopmuitos países a democracia evaporaria.
roleta de stop BBC - Algo que o senhor analisava quase cinco anos atrásroleta de stop" roleta de stop Postcapitalism roleta de stop ", seu livro anterior, é que o capitalismo havia perdidoroleta de stopcapacidaderoleta de stopse adaptar, roleta de stopespecial o neoliberalismo. O que pensa sobre esse tema hoje?
roleta de stop Mason - O capitalismo pode se adaptar a essa crise, mas assumirá uma forma bem diferente. Ficará tão diferente que muita gente nem o enxergará como capitalismo.
Agora mesmo há muitas oportunidades para o investimento privado. Na árearoleta de stopeducação, por exemplo, ou no entretenimento.
O faturamento da Netflix está aumentando, seu problema é não conseguir produzir conteúdo novo neste momento. Mas está lá a oportunidade para que as pessoas criativas o façam. Por exemplo: acho que a animação voltará a ser bastante popular.
Não estou dizendo que essa crise vai significar o fim do capitalismo. O ponto do meu livro era diferente: que o capitalismo havia perdidoroleta de stopcapacidaderoleta de stopse adaptar a mudanças tecnológicas.
Sim, é verdade.
Em essência,roleta de stoptodas as revoluções tecnológicas anteriores, as novas tecnologias eliminavam formas antigasroleta de stoptrabalho.
Por exemplo, as pessoas que usavam cavalos ou carroças ficaram sem trabalho no início do século 20, com a criação do automóvel. Mas novos postosroleta de stoptrabalho foram criados nas fábricasroleta de stopveículos.
E assim o capitalismo vai se adaptando. O problema é que a tecnologia da informação atualmente destrói formasroleta de stoptrabalho mais rapidamente do que cria — eroleta de stopparticular elimina empregos com alta remuneração.
Claro que ele também cria a função do desenvolvedorroleta de stopsoftware, que é bem pago, mas agora muito do processoroleta de stopdesenvolvimentoroleta de stopsoftware está automatizado.
O clássico trabalho manual bem remunerado era oroleta de stopfabricanteroleta de stopferramentas para maquinário. E então havia um engenheiro talentoso que era capazroleta de stopdesenhar e fundirroleta de stopmetal algo que era tão precioso que poderia construir aviões com ele. Agora ele faz um computador.
Essa é a ideia que tratoroleta de stopexplicar quando falo da capacidaderoleta de stopadaptação do capitalismo, mas a crise causada pela covid-19 é um problema a mais.
roleta de stop BBC - O senhor segue acreditando que é possível ver as sementes desse pós-capitalismo no ambienteroleta de stopque vivemos hoje?
roleta de stop Mason - A tecnologia da informação permite que o lucro venha cada vez mais fácil. Também cria a possibilidaderoleta de stopautomatização rápida. Cria um efeitoroleta de stoprede que produz novos materiais.
Por exemplo: quando descobrirmos uma vacina contra o coronavírus, independentemente da decisão dos fabricantesroleta de stopcobrar ou não por ela, o fato é que ela poderia estar à disposição do mundo inteiro no dia seguinte. Eroleta de stopforma gratuita. Hoje é muito fácil fabricar uma vacina com uso da tecnologia da informação.
Basicamente, a tecnologia da informação está dificultando que o capitalismo seja capitalista. Agora, temos modalidades diferentesroleta de stoppropriedade, como a Wikipedia, o movimento "open source", plataformasroleta de stopcooperação.
Em Postcapitalism eu argumento que nos levará tempo para amadurecer um sistema alternativo. E creio que o fatoroleta de stopque agora mesmo estejamos enfrentando uma criseroleta de stopfuncionalidade do modelo existente deveria fazer as pessoas pensarem nas alternativasroleta de stopque dispomos.
Para mim, a alternativa para os próximos 20 anos é uma forma mais sustentávelroleta de stopcapitalismo. Quero dizer mais verde, menos excludente, sem especulação financeira.
Continuará sendo capitalismo, mas muitos não o enxergarão como tal.
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