Coronavírus: como a ansiedade na quarentena afetaconcentração:
Na verdade, estou achando quase impossível me concentrarqualquer coisa.
Não consigo manter um númerotelefone na cabeça o tempo suficiente para discar e levo uma eternidade para escrever um e-mail simples.
Começo uma tarefa e leva apenas alguns minutos para me distrair. Minha produtividade caiu.
Eu não estou sozinha. Quase todas as pessoas às quais mencionei meu novo problema estão lidando com questões semelhantes:repente, é preciso um esforço hercúleo para que qualquer coisa seja feita.
"Estou incrivelmente ocupado", disse um amigo escritor recentemente, "apenas lavando pratos e fazendo caminhadas".
Concentração
O que está acontecendo é um mau funcionamento da chamada memóriatrabalho: a capacidadecaptar as informações recebidas, transformá-lasum pensamento coeso e mantê-las por tempo suficiente para fazer o que você precisa.
"Pense nisso como a plataforma mental para nossas operações cognitivas, para o que estamos pensando agora", diz Matti Laine, professorpsicologia da Universidade Åbo Akademi, na Finlândia.
"A memóriatrabalho está intimamente relacionada à atenção. Você está se concentrandoalguma tarefa, algum objetivo ou comportamento que deseja realizar", acrescenta.
Em outras palavras, a memóriatrabalho é a capacidaderaciocinartempo real, e é uma grande parte do que torna o cérebro humano tão poderoso.
Mas a pesquisa mostrou que mudança rápida nas circunstâncias, preocupações e ansiedade podem ter um impacto significativo nacapacidadeconcentração.
"Muito antes da pandemia, concluímos um estudo online com um grande grupoadultos americanos que preencheram questionáriosauto-avaliação", diz Laine.
"Vimos uma tendênciaum relacionamento negativo entre ansiedade e memóriatrabalho. Quanto maior a ansiedade, menor o desempenho da memóriatrabalho".
Quando você tem uma experiência agudaansiedade, com alguém andando atrásvocê no seu caminhocasa no escuro, você pode ter problemas para lembrar os detalhes do rosto dele.
Uma situação estressante prolongada também pode devastar a memóriatrabalho, fazendo com que até as tarefas mais simples pareçam mais difíceis do que costumavam ser.
"Estamos falandoansiedade e estresse que não são agudos", diz Laine. "Está relacionado a um futuro profundamente incerto. Você não sabe até quando vai continuar assim. Ninguém sabe. Isso está nos levando a uma situaçãoansiedade mais crônica".
Ao coletar dados para um estudo ainda não publicado sobre treinamentomemória operacional nesta primavera, Laine diz que ele eequipe perguntaram a cerca200 pessoas do Reino Unido e da América do Norte se elas tinham ansiedade relacionada especificamente à pandemia.
"Adicionamos uma pergunta sobre a ansiedade relacionada à pandemia porque estava presentetodas as notícias", diz Laine.
"Pedimos às pessoas que relatassem seus níveisansiedadeuma escalazero a dez, sendo dez 'preocupação constante e que interfere na atividade diária'. O valor médio, que eu acho bastante alto, foicerca5,6".
Problemas no sono
Além disso, Laine diz que esses números mostraram uma correlação clara entre a ansiedade relacionada à pandemia e a diminuição do desempenho da memóriatrabalho, embora possa haver vários mecanismos diferentescomo a ansiedade, relacionada à pandemia ou não, interrompe a função cognitiva.
"Há uma ideiaquealguma forma isso consomecapacidade", diz ele. "Quando você está ansioso,cabeça está cheia desses pensamentos e seu cérebro,alguma forma, é tendencioso e presta mais atenção às coisas negativas."
A ansiedade prolongada também pode causar insônia, explica Oliver Robinson, do InstitutoNeurociência Cognitiva da University College London.
"A faltasono é uma forte maneiraprejudicar a memóriatrabalho", diz ele. "Se você não está dormindo também, isso é uma maneiradestruí-la."
Mesmo se você não estiver explicitamente cienteque está mais preocupado, "é algo que você está processando", acrescenta Robinson.
Problemasmemóriatrabalho também podem ser devidos,parte, a uma carga cognitiva que está sobrecarregando a capacidade do seu cérebro.
Robinson explica que mesmo processos cognitivos simples, como fazer uma listacompras, agora exigem mais trabalho do cérebro.
"Agora,vezpensar 'vou correr para a loja', você está pensando sobre o que precisa, quais lojas estão abertas e se é seguro ir até lá. Digamos que seu cérebro possa executar quatro tarefasuma vez. Agora,repente, existem 10, e você não consegue fazer nenhuma delas", diz Robinson.
Ganhos cerebrais?
A boa notícia é que você pode exercitar a memóriatrabalho.
Existem muitos 'jogos cerebrais' por aí, mas a maioria deles, concordam os especialistas, não faz nada, a não ser torná-lo melhor nesse jogo.
"Jogostreinamento cognitivo não me fazem melhorlembrar da minha listacompras", diz Robinson. "É como tentar treinar as pessoas para jogar tênis fazendo-as correr."
No entanto, um tipo específicoexercíciotreinamento, chamado N-back, mostra-se promissoracordo com alguns estudos.
A tarefa N-back é um pouco como o clássico jogo da memória, no qual os jogadores precisam encontrar parescartas iguais.
Mas,vezpares, existe apenas um objeto que se move pelo tabuleiro com desenhograde. Os jogadores precisam se lembrar da posição do objeto durante um certo númeroturnos - 1 para trás, 2 para trás e assim por diante.
É controverso na comunidadeneurociência sefato esse jogo tem um impacto na vida real, mas algumas rodadasjogos também podem ajudá-lo a liberar alguma tensão.
Afinal, é a ansiedade que está causando o problema e aliviar isso pode ajudar a resolver alguns problemasfoco.
Normalmente, no tratamento terapêutico para ansiedade, "mostramos às pessoas que as coisas não são tão ruins quanto elas pensam que são", diz Robinson.
"Nesse caso, você realmente não pode usar isso. Mas você pode limitar as coisas que fazem você pensar sobre isso."
Em outras palavras, reiniciarmemóriatrabalho também pode significar reduzir o consumonotícias e dar uma pausa nas redes sociais.
Mas a coisa mais eficaz a fazer pode ser simplesmente convencer-seque não há problemaestar sofrendo com a situação.
"Dar a si mesmo permissão para não estar bem, paradoxalmente, pode melhorar as coisas", diz Robinson.
"Você simplesmente não será tão produtivo e não há nada erradonão poder trabalhar com 100% da capacidade: ainda estamos no meiouma pandemia."
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