A misteriosa pandemia que deixou milhõesapp blaze apostas iospessoas como estátuas vivas durante décadas:app blaze apostas ios

Gabriel Cornelius Ritter von Max (1840-1915) The Seeress of Prevorst (Frederica Hauffe).

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Milhõesapp blaze apostas iospessoas ao redor do mundo ficaram 'presas'app blaze apostas iosseus corpos, congeladas no tempo

Adormecidos

Logo após a Primeira Guerra Mundial,app blaze apostas ios1917, e até por voltaapp blaze apostas ios1927, a misteriosa epidemia se espalhou pelo mundo.

Sua origem era um mistério, mas se sabia que era uma doença que atacava o cérebro, deixando suas vítimas sem fala e movimentos voluntários.

"Na Suíça, uma noiva adormeceu no altar; na França, nem as dores do parto despertaram uma mãe", informava a BBC,app blaze apostas iosseus primeiros anosapp blaze apostas iostransmissão.

O conjuntoapp blaze apostas iossintomas já havia sido descrito várias vezes no passado, inclusive por Hipócrates, o grande médico da Grécia Antiga, que batizou o fenômeno de lethargus:

"Febre, tremor, forte fraqueza física com a preservação da inteligência, que afeta indivíduos com maisapp blaze apostas ios25 anos, sobretudo quando está frio, e que pode levar à morte por pneumonia terminal."

Constantin von Economo

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Constantin von Economo é conhecido sobretudo por ter descoberto a encefalite letárgica

No início do século 1920, quando a neurologia dava os primeiros passos como disciplina científica, a condição foi chamadaapp blaze apostas iosencefalite letárgica ou "doença do sono", e quem escreveu o manuscrito mais preciso sobre ela foi o austríaco Constantin von Economo.

"...desde o Natal, tivemos a oportunidadeapp blaze apostas iosobservar uma sérieapp blaze apostas ioscasos na clínica psiquiátrica que não atendem aos critériosapp blaze apostas iosnossos diagnósticos habituais. Apesar disso, mostram semelhança na forma como começaram e na sintomatologia, o que nos obriga a agrupá-losapp blaze apostas iosuma única entidade clínica", escreveu o médico.

Aqueles que sobreviveram foram "congelados" no tempo, presosapp blaze apostas ioscorpos quase sem vida por anos.

'Tem alguém vivo lá dentro?'

Em 1966, Oliver Sacks, um jovem neurologista britânico, chegou ao Hospital Beth Abraham, no Bronx,app blaze apostas iosNova York, onde havia dezenasapp blaze apostas iospacientes com encefalite letárgica.

"Eu nunca tinha visto nada assim: tantos pacientes como aqueles imóveis, às vezes pareciam estar congeladosapp blaze apostas iosposições inusitadas, e você se perguntava: o que está acontecendo? Tem alguém vivo lá dentro?", disse Sacks à BBC nos anos 1970.

Saks começou a observar seus novos pacientes e percebeu que havia sinaisapp blaze apostas iosconsciência... principalmente quando um assistente do hospital tocava piano para os residentes.

Oliver Sacks

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Oliver Sacks com a versão francesa do livro 'Tempoapp blaze apostas iosDespertar', que mais tarde viraria filme

"O que ele viu é que, quando tocava uma música, algumas pessoas se levantavam e dançavam. Havia algo na música que penetrava e estimulava o sistema motor delas a pontoapp blaze apostas iosentraremapp blaze apostas iosação... Era incrível: não conseguia entender como era possível", lembra a médica Concetta Tomaino, diretora e cofundadora do Institutoapp blaze apostas iosMúsica e Função Neurológicaapp blaze apostas iosNova York.

Uma solução musical

Na décadaapp blaze apostas ios1970, Tomaino tinha acabadoapp blaze apostas ioscomeçarapp blaze apostas ioscarreiraapp blaze apostas iosmusicoterapia, que na época era uma áreaapp blaze apostas iospesquisa nova.

"Oliver Sacks me escreveu um bilhete que dizia: 'Toda doença é um problema musical, toda cura, uma solução musical'.

"Despertou minha curiosidade e perguntei quem ele era. As pessoas diziam: 'É um louco britânico excêntrico que escreve os atestados médicos mais surpreendentes; você precisa conhecê-lo.'"

Connie Tomaino e Oliver Sacks iniciaram assim uma parceriaapp blaze apostas iostrabalho pioneira nos estudosapp blaze apostas iosmusicoterapia e nos efeitos neurológicos da música.

Concetta Tomaino acompanhadaapp blaze apostas iosOliver Sacks e Arnold H. Goldstein, do Instituto da Música e Função Neurológica,app blaze apostas ios2005

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Concetta Tomaino acompanhadaapp blaze apostas iosOliver Sacks e Arnold H. Goldstein, do Instituto da Música e Função Neurológica,app blaze apostas ios2005

"Os pacientes pareciam catatônicos, parecia que estavamapp blaze apostas iosestado semivegetativo, mas quando havia música por perto, você via que eles estavam mentalmente presentes: eles conseguiam tocar tambor com ritmo e cantar, mesmo sem ser capazapp blaze apostas iosfalar".

Um milagre

Antesapp blaze apostas iosConnie Tomaino chegar ao hospital Beth Abraham, Oliver Sacks havia começado a testar um novo medicamento que é usado para tratar pessoas com doençaapp blaze apostas iosParkinson.

Ele pensava que a "doença do sono" poderia ser uma forma extremaapp blaze apostas iosParkinson. E deu a medicação, levodopa, aos pacientes — os efeitos foram,app blaze apostas iosalguns casos, imediatos e dramáticos.

"Lola havia passado décadasapp blaze apostas iosestado catatônico e seu despertar ocorreuapp blaze apostas iossegundos. Ela pulou da cadeira e começou a falar. Foi uma cena incrível, e eu duvidaria da minha própria memória, se não fosse respaldada por todas as outras pessoas que também se lembram", recordou Sacks.

Concetta Tomaino (ao centro) com Oliver Sacks (à direita) e uma paciente (à esquerda)

Crédito, The American Music Therapy Association

Legenda da foto, Concetta Tomaino (ao centro) e Oliver Sacks (à direita) com uma paciente (à esquerda)

Parecia um milagre. Os pacientesapp blaze apostas iosSacks podiam conversar, caminhar e sentir alegria novamente.

"O clima no pavilhão do hospital eraapp blaze apostas ioscarnaval, eraapp blaze apostas iosfesta. Era um sentimentoapp blaze apostas ioseuforia: as pessoas se apaixonavam, queriam sair e fazer coisas, explorar o mundo. Havia realmente um sentimentoapp blaze apostas iosmagia e milagre... e provavelmente uma expectativa um tanto alarmante", afirmou o neurologista.

Muitos haviam contraído a doença do sono na infância e despertaram como adultosapp blaze apostas iosmeia-idadeapp blaze apostas iosum mundo completamente diferente.

"Quando conseguiram entender quanto tempo havia se passado, ficaram com medo e estupefatos. Alguns ficaram amargurados por terem perdido tanto tempo, mas a maioria queria viver cada segundo que tinha", disse Tomaino à BBC.

"Às vezes, isso era um desafio para a equipe do hospital", completou rindo.

Sacks, porapp blaze apostas iosvez, "se sentia muito responsável por eles e, às vezes, se perguntava se havia feito a coisa certa, porque quem eram eles agora que estavam acordados?", acrescentou a terapeuta.

Fim da magia

A euforia durou pouco. O levodopa começou a perder efeito. E, depoisapp blaze apostas iosalgumas semanas,app blaze apostas iosalguns casos, a medicação parouapp blaze apostas iosfuncionar, o que levou à pioraapp blaze apostas iossaúde dos pacientes.

Alguns mantiveram mais funções que outros, mas nenhum se recuperou completamente novamente.

'Cabeçaapp blaze apostas iosuma mulher adormecida', séculos 19 e 20. Artista: Eugene Carriere

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A mágica desapareceu depoisapp blaze apostas iosalgumas semanas

Durante aquele breve períodoapp blaze apostas iosdespertar, Sacks encorajou os pacientes a descrever como tinha sido viver imóvelapp blaze apostas iosum limbo; os relatos foram valiosos para se entender mais tarde muitas condições neurológicas.

Tomanino foi uma das pessoas que leram os diários escritos pelos pacientes.

"Eles descreveram como os cuidados eram horríveis quando estavam incapacitados, e isso me ajudou a mudar a maneira como os tratávamos".

E a música permaneceu sendo uma solução.

"Lembroapp blaze apostas iosuma paciente, Lola, que adorava cantar e dançar. Mas quando ela piorou, não tinha controle da língua ou das mãos. No entanto, quando tocava tambor, conseguia acompanhar o ritmo com a voz, ela fazia isso tão bem que desfrutava e acabava sempre caindo na gargalhada."

"Lilian era um pouco mais autista e gostava do aspecto mais intelectual da música. Ela amava Rachmaninoff e, quando escutava, movia os dedos como se estivesse tocando piano.".

O que Connie Tomaino e Oliver Sacks estavam descobrindo por meioapp blaze apostas iospesquisas e observações práticas era inovador, mas naquela época alguns cientistas tratavam com ceticismo.

"Na décadaapp blaze apostas ios1980, os neurologistas não acreditavam que alguém pudesse se recuperarapp blaze apostas iosuma lesão cerebral, e ainda assim podíamos ver as mudanças dianteapp blaze apostas iosnossos olhos", diz.

Pesquisas subsequentes mostraram que a musicoterapia pode melhorar e até ajudar a reparar lesões cerebrais.

"A música é tão complexa — tom, ritmo, padrões complexosapp blaze apostas iossons que ocorrem simultaneamente —, que se você vê o cérebro quando está ouvindo uma melodia, muitasapp blaze apostas iossuas redes são ativadas e compartilhadas por outras formasapp blaze apostas iosfunções cognitivas."

"Essa é a beleza da música: permite que algumas funções da área onde ocorreu a lesão retornem", explica Tomaino.

Oliver Sacks, falecidoapp blaze apostas ios2015, publicou vários livros, incluindo um chamado Tempoapp blaze apostas iosdespertar, que deu origem ao filme homônimo, protagonizado por Robert De Niro e Robin Williams.

Connie Tomaino se tornou uma referência internacionalapp blaze apostas iosmusicoterapia.

Línea

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