'É normal fracassar na dieta': quem são e o que pregam as nutricionistas que se opõem a dietas restritivas:estrategia de jogo roleta
Nutricionistas que seguem tal linha podem optar por diversas práticas. Há quem foque no viés comportamental, com atenção especial a como se come, não apenas aos alimentos. Já a "mindful eating" recorre às técnicasestrategia de jogo roletaatenção plena na hora das refeições.
Como regra geral, profissionais antidietas não receitam um plano alimentar rígido, nem focamestrategia de jogo roletacortar calorias da alimentação por si só. Em vez disso, optam por trabalhar junto ao paciente as formasestrategia de jogo roletacomer melhor, alinhadas às sensaçõesestrategia de jogo roletafome e saciedade.
A ideia é contemplar a alimentaçãoestrategia de jogo roletaforma mais global: onde se come, quais emoções o paciente sente ao fazê-lo, com quem se senta à mesa. Entram na balança, portanto, fatores psicológicos, emocionais e sociais.
A nutricionista paranaense Paola Altheia aderiu a uma abordagem não prescritiva logo ao se formar. Foi ela quem apresentou a Maurielle a possibilidadeestrategia de jogo roletaviver sem fazer dietas.
Como Altheia brinca, seu consultório é "última porta" no caminho das pacientes. "'Eu fizestrategia de jogo roletatudo' é uma frase que eu ouço sempre", diz ela, criadora do projeto Não Sou Exposição, que divulga informações sobre nutrição, corpo e imagem.
Um peso, duas medidas
As orientaçõesestrategia de jogo roletaentidades como a ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) apontam que dietas com deficit calóricoestrategia de jogo roleta500 a 1000 kcal levam ao emagrecimento.
Não faltam estudos que monitorem a queda nas medidasestrategia de jogo roletapacientes com dietas variadas, desde a restriçãoestrategia de jogo roletadeterminados grupos alimentares até do númeroestrategia de jogo roletacalorias. E nutricionistas — até mesmoestrategia de jogo roletalinhas não prescritivas — concordam.
A diferença está na pergunta seguinte: o que acontece depois do período seguindo dieta à risca? Os planos alimentares duram,estrategia de jogo roletageral,estrategia de jogo roletaquatro a oito semanas. As taxasestrategia de jogo roletasucesso podem ser otimistas durante o estudo, mas não se mantêm com a passagem dos anos.
Segundo as diretrizes da ABESO, "grande porcentagemestrategia de jogo roletapacientes recupera o peso perdido". Tais índices ultrapassam os 90%, no períodoestrategia de jogo roletaum a cinco anos após a dieta.
"Perder peso não é fácil, mesmo porque obesidade é uma doença crônica que não tem cura, só controle", afirma o endocrinologista Mario Kehdi Carra, presidente da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica). "O tratamento é para a vida toda."
Qual é o problema das dietas para perder peso, então? "Elas são, viaestrategia de jogo roletaregra, cansativas, porque a restrição tem que ser grande. O númeroestrategia de jogo roletaalimentos que um paciente vai usar é pequeno, ele acaba tendo uma alimentação monótona", detalha Carra.
Nutricionista do Instituto Central do Hospital das Clínicasestrategia de jogo roletaSão Paulo, Michelle Rasmussen Martins faz coro. Ela ressalta, entretanto, que é necessária uma bateriaestrategia de jogo roletaexames antesestrategia de jogo roletaapontar a conduta adequada, com restrição ou não.
"O peso não é o único fator nesse caso. O peso não levaestrategia de jogo roletaconta massa muscular, se a pessoa está inchada, se a pessoa vai regularmente ao banheiro…", completa ela.
Ela também enxerga saídas possíveis que vão alémestrategia de jogo roletacortes radicais na alimentação. "Às vezes, é interessante trabalhar com metas e atitudes ao longo do dia, mais do que com um valor calórico no plano alimentar. Tudo isso é válido", opina Martins.
Dianteestrategia de jogo roletauma gamaestrategia de jogo roletaopções, o ponto levantado por nutricionistas antidietas é o nívelestrategia de jogo roletadificuldade nas restrições.
"A vidaestrategia de jogo roletauma pessoa normal, o seu dia a dia, é muito diferenteestrategia de jogo roletaum laboratório", resume Paola Altheia. Ela explica que os obstáculos para manter o peso baixo pouco têm a ver com forçaestrategia de jogo roletavontade. "É normal fracassar na dieta", crava Sophie Deram, nutricionista autora do livro O Peso das Dietas.
Como saída para manter o peso sob controle, o endocrinologista Mario Kehdi Carra sugere o usoestrategia de jogo roletamedicamentos, segundo orientação do profissionalestrategia de jogo roletasaúde. "Ninguém cura depressão olhando o pôr do sol, cura tomando remédio. A obesidade é mais ou menos parecida", diz o endocrinologista.
Por outro lado, as adeptasestrategia de jogo roletaabordagens alternativas levantam ressalvas sobre o usoestrategia de jogo roletafármacos a longo prazo. Para elas, o caminho seria entender os comportamentos e sensações ligados à alimentação, sem apelar para remédios.
Diante das linhas não-prescritivas, o presidente da ABESO também tem reservas. "Todas essas coisas têm pouca informação científica na literatura. A ABESO, como entidadeestrategia de jogo roletacunho científico, não costuma validar esse tipoestrategia de jogo roletacomportamento", diz Carra.
Entretanto, ele reconhece que as técnicas podem servirestrategia de jogo roletacomplemento,estrategia de jogo roletaacordo com o caso. "Às vezes, você tem que lançar mãoestrategia de jogo roletamecanismos não exatamente xiitas para poder ter algum sucesso".
Por trás do ciclo da dieta
Há pontos comuns na conversa sobre como perder peso: os dois lados concordam, por exemplo, que é difícil se manter na dieta. A explicação por trás desse obstáculo vem do próprio funcionamento do corpo.
Questões evolutivas, nesse caso, também pesam. Afinal, mesmo que prateleirasestrategia de jogo roletamercado sejam recheadasestrategia de jogo roletaopções hojeestrategia de jogo roletadia, esse não era o caso milharesestrategia de jogo roletaanos atrás. Pelo contrário: nossos antepassados conviveram com o riscoestrategia de jogo roletapassar fome por muitas gerações.
Adaptado ao ambiente externo com tantas restrições, o corpo apresenta mecanismos para se manter estável — é a chamada homeostase, comandada pelo hipotálamo.
Com uma bagagem evolutivaestrategia de jogo roletaque inanição era uma ameaça frequente, a tendência é retomar o peso, e não perdê-lo.
"Fazendo dietas, a gente vai contra a nossa programação celular", explica Sophie Deram, que coordena o projeto Genéticaestrategia de jogo roletaTranstornos Alimentares da Universidadeestrategia de jogo roletaSão Paulo. "O cérebro não entende que a gente quer emagrecer, só sabe que está com fome".
A partir daí, surge uma cascataestrategia de jogo roletaadaptações. Com a queda no tantoestrategia de jogo roletacalorias à disposição, a mensagem que chega ao cérebro aciona um gatilho: há pouca energia, é necessário comer mais.
Com isso, hormônios que controlam fome e saciedade acabam desajustados. O estômago, por exemplo, secreta mais grelina, o hormônio do apetite.
Já o pâncreas reduz a liberaçãoestrategia de jogo roletainsulina, que leva a glicose para o interior das células.
Não à toa, como explicam as nutricionistas, os pacientes pensem tantoestrategia de jogo roletacomida quando fazem dietas restritivas.
A sérieestrategia de jogo roletamudanças não para por aí. Se há menos energia para consumir, o corpo também passa a gastá-la menos. "O próprio corpo se colocaestrategia de jogo roletaum funcionamento moderado para se preservar", explica Sophie.
A economiaestrategia de jogo roletabateria afeta funções que vão desde a produçãoestrategia de jogo roletaserotonina até o crescimento dos fiosestrategia de jogo roletacabelo.
É aí que o metabolismo desacelera. "A taxa metabólica basal, o númeroestrategia de jogo roletacalorias que gastamosestrategia de jogo roletarepouso, acaba prejudicada", detalha a nutricionista Marcela Kotait, especialistaestrategia de jogo roletaobesidade e transtornos alimentares.
Esses índices também demoram para voltar ao normal, depoisestrategia de jogo roletaencerrada a dieta. "Ou seja, fazer dieta engorda", sintetiza ela.
Dupla ameaça
Os gatilhos físicos não são os únicos considerados pelas nutricionistas antidietas para criticar as restrições. A parte psicológica entra para a equação, já que o foco são comportamentos e sentimentos ligados à comida.
Para ilustrar o problema, a especialista Marcela Kotait parteestrategia de jogo roletaum exemplo. "Você pode comer um hambúrguer junto da família, comemorando algo, ou pode comê-lo sozinho no carro depoisestrategia de jogo roletapassarestrategia de jogo roletaum drive thru."
Há formas diferentes, explica ela,estrategia de jogo roletacomer um mesmo alimento, com o mesmo tantoestrategia de jogo roletacalorias. Por isso, antesestrategia de jogo roletaindicar uma conduta rígida, profissionais investigam os motivos envolvidos antes, durante e depois da refeição. E o que constatam é a existênciaestrategia de jogo roletaum ciclo da dieta.
O ciclo começa com a restriçãoestrategia de jogo roletaalimentos, segue com a vontade exacerbadaestrategia de jogo roletacomê-los e culmina na recaída. O casoestrategia de jogo roletaMaurielle, que abandonou as dietas, ilustra a dinâmica. "Eu sentia que precisava comer tudo naquele momento, porque era última vezestrategia de jogo roletaque eu poderia", conta ela.
"Toda segunda-feira, vinha um cicloestrategia de jogo roletaculpa eestrategia de jogo roletatentar começarestrategia de jogo roletanovo."
Para alguns pacientes esses sentimentosestrategia de jogo roletafrustração e ansiedade estimulam a vontade por determinados pratos.
"Comer faz bem, alivia a dor, nos deixa mais tranquilos. O cérebro se colocaestrategia de jogo roletauma espécieestrategia de jogo roletapiloto automático para aliviar essas sensações com comida", detalha Sophie Deram, da Universidadeestrategia de jogo roletaSão Paulo.
Essa atenção aos aspectos psicológicos levaestrategia de jogo roletaconta transtornos alimentares, como bulimia e ortorexia.
Por um lado, o comer desordenado relatado por pacientes pode ser sinalestrategia de jogo roletadistúrbios. Por outro, a restrição imposta por uma dieta pode servir como pontoestrategia de jogo roletapartida para o quadro.
"Nem toda dieta leva a um transtorno alimentar, mas todo transtorno alimentar começa com uma dieta", resume Paola Altheia.
Entretanto, ela e outros nutricionistas — adeptos ou nãoestrategia de jogo roletaplanos alimentares restritivos — reconhecem que tais quadros são multifatoriais, incluindo aspectos genéticos.
"Tanto transtornos quanto dietas restritivas têm característicasestrategia de jogo roletacomum, como ignorar os sinaisestrategia de jogo roletafome e saciedade, ter pensamento obsessivo por comida", complementa Marcela Kotait, coordenadora da equipeestrategia de jogo roletanutrição do Ambulatórioestrategia de jogo roletaAnorexia Nervosa, na Universidadeestrategia de jogo roletaSão Paulo.
Consulta sem dietas
A diferença entre uma consulta comum e aestrategia de jogo roletanutricionistas contrários às dietas começa já no ambienteestrategia de jogo roletatrabalho.
"Vejo pacientes que choram sóestrategia de jogo roletaver que não tenho uma balança no consultório", conta Sophie Deram, que deixa o objeto escondido. Cabe ao paciente, então, decidir se quer ou não se pesar.
Para a geógrafa Maurielle Felix, cada consulta trazia uma cargaestrategia de jogo roletavergonha. "Se eu falava para um médico que fazia atividade física todos os dias, não acreditavam. Eles me olhavam e faziam uma caraestrategia de jogo roletadúvida", conta.
"Parecia que eles se perguntavam 'será que se alimenta bem? Será que faz academia mesmo? Se faz, como não é magra?", explica ela.
Tirar o peso do eixo central busca aliviar essa tensão. "De que adianta saber se meu paciente tem 95 ou 97 quilos? O tratamento que eu indico focaestrategia de jogo roletater uma melhor relação com a comida", detalha Deram. "O peso é consequência disso, e não causa."
A escuta sobre o histórico, desde variações no peso até a relação com a própria imagem, dá o pontapé inicial à consulta. Medidas exatasestrategia de jogo roletapeso, e outras como circunferência abdominal, podem ou não ser analisadas logoestrategia de jogo roletacara.
"Eu sempre falo que o peso é a ponta do iceberg da relação com o corpo e com a comida", diz Marcela Kotait. A estratégia nas consultas, para ela, é "deixar o paciente falar" para identificar o que ainda está submerso.
"É importante saber se a pessoa come escondida, se ela perde o controle, mais do que se ela come cenoura ou vagem. O comportamento é tão importante quanto o nutriente", explica Sophie Deram.
Sem o ponteiro da balança como foco, como saber se o tratamento funciona?
Há quem sente com o paciente para definir metas, adaptadas às necessidadesestrategia de jogo roletacada: beber mais água ao longo do dia, fazer as três refeições, demorar mais tempo à mesa.
Ao falarestrategia de jogo roletaresultados, Paola Altheia brinca que o trabalho não gera um "emagrecimentoestrategia de jogo roletaparar o trânsito", nem um "corpoestrategia de jogo roletacelebridade".
O foco é comerestrategia de jogo roletaforma equilibrada, sem ter um plano alimentar rígidoestrategia de jogo roletamente, nem grandes restrições. "O peso não é objetivo principal dessa abordagem, é só uma das consequênciasestrategia de jogo roletanovas atitudes", pondera Marcela Kotait.
"Se a paciente me conta 'Paola, eu esqueci um chocolate na gaveta', ou 'entrei no mar e não fiquei escondida debaixo do guarda-sol quando estava na praia', eu vejo que a qualidadeestrategia de jogo roletavida dela está melhorando aos poucos", explica Paola Altheia.
É o outro resultado contado pelas pacientes que são,estrategia de jogo roletamaioria, mulheres: a mudança na relação com o próprio corpo.
"Quando a gente só pensaestrategia de jogo roletapeso o tempo todo, é a balança que vai decidir a nossa felicidade", opina Sophie Deram. "Às vezes a pessoa está bem, está feliz, se sentindo bem e aí sobe na balança e o mundo cai."
"A dieta é baseadaestrategia de jogo roletanão gostar do próprio corpo. Com outra abordagem, o paciente aprende a respeitá-lo, a se cuidar mais", diz Marcela.