A série4 bets apostasque a educação brasileira degringola e despenca4 bets apostasindicadores:4 bets apostas
Por trás disso estão, segundo professores e especialistas consultados pela BBC News Brasil, grandes mudanças na rotina escolar das crianças, além4 bets apostasum acúmulo4 bets apostasproblemas — e poucas políticas públicas para resolvê-los.
A primeira grande mudança é que as crianças deixam4 bets apostaster um único professor ensinando todas as disciplinas — professor este que costuma ser o ponto4 bets apostasreferência e o principal vínculo dos estudantes da 1ª à 5ª série.
Na 6ª série, cada disciplina passa a ter seu próprio docente, com tarefas e exigências próprias e uma demanda maior para que o aluno saiba gerenciar o próprio tempo.
"Começa uma rotatividade4 bets apostasatividades e professores que assusta os alunos", prossegue Rosas, lembrando ainda que muitos estudantes precisam trocar4 bets apostasescola para cursar o fundamental 2. No caso4 bets apostasalunos da zona rural, isso significa longos deslocamentos diários para a nova escola na zona urbana.
"É uma mudança muito drástica e um choque4 bets apostascultura para eles. Além disso, são pré-adolescentes vivendo suas próprias mudanças hormonais. (...) Muitos acabam ficando com a sensação4 bets apostasque o 6º ano significa começar tudo do zero."
Índices ruins
Todas as etapas da educação brasileira ainda enfrentam sérios desafios, mas o aprendizado nos anos iniciais do ensino fundamental (1ª à 5ª) tem evoluído com mais rapidez do que nos anos finais (6ª à 9ª).
Segundo o exame oficial Prova Brasil, 42% dos alunos brasileiros concluíram o 5º ano com aprendizado adequado4 bets apostasmatemática4 bets apostas2017 (dados mais recentes), contra 32%4 bets apostas2013.
Já nos anos finais, os ganhos são bem inferiores: só 14% dos alunos concluem o 9º ano com o aprendizado adequado na disciplina, uma evolução4 bets apostasapenas quatro pontos percentuais4 bets apostasrelação a 2013.
A situação é um pouco melhor4 bets apostasleitura, mas longe do ideal: atualmente, 56% das crianças brasileiras terminam o 5º ano com aprendizado adequado4 bets apostaslíngua portuguesa. Mas, ao final do 9º ano, esse índice cai para 34%.
É nos anos finais que pioram, também, indicadores4 bets apostasrepetência, evasão e distorção idade-série (alunos cursando séries inferiores do esperado para4 bets apostasidade). Cerca4 bets apostasum quarto dos alunos tinha atraso escolar4 bets apostasdois anos ou mais no fundamental 2, segundo o Censo Escolar feito4 bets apostas2018 do Inep, órgão ligado ao Ministério da Educação.
"Por causa disso, temos alunos4 bets apostas18 e 19 anos ainda cursando o fundamental 2, na mesma sala4 bets apostasalunos4 bets apostas14 anos", conta Rosas.
Esse cenário reflete um acúmulo4 bets apostasproblemas que vêm desde a fase da alfabetização, explica à BBC News Brasil Claudia Costin, diretora do Centro4 bets apostasExcelência e Inovação4 bets apostasPolíticas Educacionais (CEIPE) da Fundação Getulio Vargas (FGV).
"55% dos alunos das escolas públicas saem analfabetos da terceira série", que é quando deveria ser concluído o ciclo4 bets apostasalfabetização, diz Costin.
"Na quarta e quinta séries, isso ainda é compensado porque temos professores [com papel de] alfabetizadores. Mas isso se perde na sexta série."
Além disso, Costin acha que a 6ª série ainda é cedo para os alunos já conviverem com tantos professores diferentes. "São crianças muito jovens,4 bets apostas11 anos, para tantos professores especialistas. Nos países europeus, isso costuma acontecer mais tarde, quando as crianças têm a partir4 bets apostas13 anos."
Costin afirma ainda que, enquanto o Brasil focou seus esforços educacionais na alfabetização e na melhoria do ensino médio, os anos finais do fundamental acabaram "esquecidos" pelas políticas públicas.
"Temos feito muito pouco, particularmente4 bets apostasformação4 bets apostasprofessores para essa etapa", diz Costin.
'Isso vale nota?'
Ao mesmo tempo, diversos professores e pesquisadores pelo país têm se debruçado sobre as dificuldades do ensino fundamental e buscado formas4 bets apostasresolvê-las dentro4 bets apostassuas redes.
Cansada4 bets apostasouvir dos alunos a pergunta4 bets apostas"isso vale nota?" para cada texto que ela pedia que fosse escrito, a professora Patricia Rosas, da rede estadual da Paraíba, achou que era hora4 bets apostasincentivar suas turmas4 bets apostasfundamental 2 a "escreverem coisas para alguém ler, alguém além4 bets apostasmim".
E,4 bets apostasquebra, ela pensava4 bets apostasformas4 bets apostasevitar aquela "ruptura" que tanto observava na 6ª série.
"Queria um projeto que fosse para o letramento dos alunos, e não para dar nota. Queria dar significado ao texto deles, para que fossem lidos por um leitor real", conta.
Ela também ansiava por dar continuidade ao trabalho4 bets apostasinterpretação4 bets apostastexto que havia ficado mais concentrado na etapa do fundamental 1.
"Notava muita dificuldade das crianças4 bets apostasentender o que elas liam — localizar informações no texto e compreender pontos4 bets apostasvista. E precisávamos sedimentar essas habilidades."
Rosas criou o Desengaveta o Meu Texto, um projeto4 bets apostasincentivo à escrita e à compreensão4 bets apostastextos que hoje é aplicado por ela4 bets apostascinco escolas públicas da periferia4 bets apostasCampina Grande, com planos para se estender para mais cinco.
Os alunos do 6º ao 9º ano passaram a frequentar encontros semanais4 bets apostasleitura e debate sobre livros. Depois, participam4 bets apostasoficinas sobre variados estilos4 bets apostastexto — crônicas, poemas, contos, artigos4 bets apostasopinião e até cartas4 bets apostasreclamação.
Na etapa final, os estudantes são convidados a escrever um texto próprio para ser publicado na revista anual da escola, lançada com uma grande festa e depois distribuída para pais e alunos.
Na semana4 bets apostasque conversou com a BBC News Brasil, Rosas estava dando oficinas sobre biografias e textos4 bets apostasmemória.
"Os alunos deixaram4 bets apostasescrever para ganhar nota e passaram a escrever para publicar. Isso mudou completamente [a forma como escrevem], desde o cuidado com o texto até o interesse por ele", conta Rosas.
"As 500 cópias impressas que fizemos da revista passaram a ser insuficientes, e criamos um projeto digital. No ano passado, tivemos nossa terceira edição do projeto — e o lançamento que antes era feito no pátio da escola ficou tão grande que passou para o ginásio." A quarta edição da revista vai ser lançada4 bets apostasdezembro.
De quebra, diz Rosas, o projeto transformou bibliotecas antes esquecidas4 bets apostasespaços vivos dentro da escola. "Algumas bibliotecas eram um mero depósito4 bets apostaslivros, não frequentado pelos alunos. Uma das bibliotecas tinha apenas 3 livros, e conseguimos reformular todo o espaço e pedir centenas4 bets apostaslivros emprestados."
A iniciativa4 bets apostasRosas foi escolhida, junto com outras 13, para um plano4 bets apostasfomento do Itaú Social e da Fundação Carlos Chagas, que estão financiando pesquisas sobre estratégias que visem a melhorar a educação pública nos anos finais do ensino fundamental.
A expectativa, diz Claudia Sintoni, coordenadora4 bets apostasMobilização do Itaú Social, é que as pesquisas desenvolvidas4 bets apostascada um dos 14 projetos gerem ideias que possam ser replicadas4 bets apostasescolas públicas do país inteiro nessa etapa4 bets apostasensino, produzindo um impacto4 bets apostasmaior escala na qualidade.
Outro objetivo é aproximar a universidade da realidade escolar, com melhorias na formação4 bets apostasdocentes. Por isso, os projetos são desenvolvidos sob a coordenação4 bets apostasprofessores pesquisadores, com mestrado ou doutorado.
Desenvolver autonomia
No Paraná, a professora Cleoci Seledes fez um diagnóstico parecido ao4 bets apostasPatricia Rosas na Paraíba sobre a transição4 bets apostasalunos entre os anos iniciais e finais do fundamental.
"No início do ano letivo [da 6ª série], eles vivem muita angústia, insegurança e expectativas pela mudança", conta a professora da rede estadual.
"Eles eram os alunos mais velhos [quando estavam no quinto ano] e passam a ser os mais novos [em comparação com alunos do 9º ano]. Mas com todas essas angústias vêm também o encantamento e a vontade4 bets apostasquerer participar desse novo contexto da escola."
Nos últimos anos, Seledes passou a se dedicar a estudar — e a minimizar — essa transição na pequena cidade4 bets apostasCruz Machado (PR), com cerca4 bets apostas20 mil habitantes.
"Começamos nossas ações ainda no 5º ano, quando vamos às escolas4 bets apostasfundamental 1 para nos apresentarmos [como futuros professores das crianças], criarmos vínculos com os alunos e tirarmos as dúvidas deles sobre a mudança4 bets apostasescola", conta.
"Existe também uma conversa entre as equipes pedagógicas das duas escolas, para garantir a continuidade dos processos e para o aluno não sentir rupturas." Esses alunos também são convidados a conhecer antes4 bets apostasfutura nova escola,4 bets apostassemanas culturais que servem também para a integração.
E, no primeiro dia4 bets apostasaula, pais e alunos novos são recebidos4 bets apostasfesta. "É uma oportunidade4 bets apostasouvi-los, conhecer suas expectativas e passar segurança às famílias", conclui Seledes. O objetivo final, diz ela, é dar segurança para os alunos desenvolverem mais autonomia.
Projetos4 bets apostasescrita
E não é só no Brasil que isso é um desafio. Nos EUA, a ida à chamada "middle school", equivalente ao fundamental 2, também é considerada traumática.
"A transição física entre a 'elementary' e a 'middle school' [respectivamente, fundamental 1 e 2] pode exacerbar o estresse e a adversidade vivida durante esse período crítico da vida" do pré-adolescente, aponta um estudo publicado recentemente por pesquisadores das universidades4 bets apostasWisconsin-Madison, Stanford e da Califórnia-Irvine.
"Estudantes do fundamental 2 muitas vezes têm dificuldade4 bets apostasencontrar apoio social e emocional, e muitos acabam perdendo o senso4 bets apostaspertencimento na escola, desviando4 bets apostasuma trajetória acadêmica e profissional [que poderia ser] promissora."
O estudo propôs uma intervenção simples para facilitar essa transição: alunos do 6º ano são convidados a escrever pequenas redações, respondendo a perguntas como "você acha que estudantes da 6ª série no ano passado se preocupavam muito com as provas? Agora que estão na 7ª série, acha que eles continuam se preocupando tanto? Você acha que no ano passado eles se preocupavam4 bets apostasse integrar na escola?"
Os mesmos alunos também liam pequenos depoimentos4 bets apostasalunos agora na 7ª série, contando sobre as dificuldades4 bets apostasadaptação que sentiram quando ainda estavam na série anterior e como as superaram.
Essa reflexão, embora simples, "ensinou os alunos que a adversidade na 'middle school' é comum,4 bets apostascurta duração e causada por fatores externos e temporários, e não por uma inadequação pessoal", diz o estudo. "Como resultado, os alunos melhoraram seu bem-estar social e psicológico, faltaram menos à escola e tiveram menos problemas disciplinares."
Casos4 bets apostasindisciplina na 6ª série caíram 34% após o exercício, diz o estudo.
Geoffrey D. Borman, um dos autores do estudo, opina que a estratégia pode servir para amenizar as angústias4 bets apostasalunos4 bets apostasqualquer lugar, inclusive no Brasil. Seu projeto, que inicialmente começou no Estado americano do Wisconsin, agora está sendo testado no Arizona, na Califórnia, no Texas e4 bets apostasMaine.
A conclusão4 bets apostasBorman e seus colegas é4 bets apostasque "mudar as perspectivas dos estudantes e melhorar seu engajamento com a escola contribui para4 bets apostasperformance acadêmica".
De volta ao Brasil, Claudia Costin, do CEIPE-FGV, afirma que o país precisa dar atenção ao fundamental 2 para evitar que mais defasagens4 bets apostasensino continuem sendo passadas4 bets apostasuma fase para outra, se estendendo até o ensino médio.
"86% dos alunos que vão ao ensino médio têm problemas com o aprendizado4 bets apostasmatemática, por exemplo. É um acúmulo4 bets apostasum monte4 bets apostasdeficiências das etapas anteriores", diz ela.
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