Por que você deve pararcasa de apostas imposto de rendaacreditar que 'não nasceu pra matemática':casa de apostas imposto de renda

Menino frustrado com a matemática

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Legenda da foto, Estudos tentam derrubar a ideiacasa de apostas imposto de rendaque nascemos - ou não - com afinidade para a matemática

Em vez disso, esse "cérebro matemático" parece sercasa de apostas imposto de rendagrande parte construído (ou atrofiado) pelas nossas ideias a respeitocasa de apostas imposto de rendanossas próprias habilidades, pelo nosso esforço e, não menos importante, pela forma como a matemática nos é ensinadacasa de apostas imposto de rendasalacasa de apostas imposto de rendaaula.

"Há algumas razões pelas quais acreditamos que somos ruinscasa de apostas imposto de rendamatemática, e a primeira é a ideia equivocadacasa de apostas imposto de rendaque ou você nasce com um 'cérebro matemático' ou não terá aptidão", diz à BBC News Brasil Jo Boaler, autora e pesquisadora do ensino da matemática pela Universidadecasa de apostas imposto de rendaStanford (EUA).

"Muita gente acredita nisso e, na primeira vezcasa de apostas imposto de rendaque enfrenta alguma dificuldade, passa a pensar: 'bem, então não tenho um cérebro matemático' e consolida uma visão negativa (de si) a partir daí."

Outra razão, opina Boaler, é que a matemática muitas vezes é ensinada "de um modo incrivelmente chato, como se fosse uma matéria sem sentido, o que afasta as pessoas. A combinação disso (percepções pessoais e modelocasa de apostas imposto de rendaensino) trouxe muitos danos."

Boaler aborda o tema no livro Mente Sem Limites e participa nesta semana,casa de apostas imposto de rendaSão Paulo, do 2º Semináriocasa de apostas imposto de rendaMentalidades Matemáticas, que também discute avanços neurocientíficos sustentando a ideiacasa de apostas imposto de rendaque a disciplina é mais acessível do que se costuma pensar.

Jogos matemáticos

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Legenda da foto, Pesquisadoracasa de apostas imposto de rendaStanford defende ensino mais colaborativo, visual e criativo da disciplina

Valorizar os erros e desestimular a rapidez

A pesquisadora defende que a matemática faz mais sentido se for ensinadacasa de apostas imposto de rendaforma visual (com desenhos, cubos, barbantes), com trabalhoscasa de apostas imposto de rendaequipe que sejam criativos e colaborativos e exaltando —casa de apostas imposto de rendavezcasa de apostas imposto de rendacondenando — os erros cometidos durante o aprendizado.

Boaler afirma que muitas aulascasa de apostas imposto de rendamatemática tradicionais valorizamcasa de apostas imposto de rendaexcesso a rapidez com que os alunos resolvem os exercícios, o que desestimula os que não conseguem acompanhar o ritmo.

"Muitas crianças que poderiam ter um ótimo futuro na matemática acabam desistindo por achar que não são rápidas o bastante, quando na verdade os próprios matemáticos são lentos e flexíveis quanto à matemática", diz Boaler.

"Outra descoberta libertadora da neurociência é que nosso cérebro cresce mais quando estamos nos esforçando e cometendo erros, embora a sensação (durante esse processo) seja ruim."

Boaler ecasa de apostas imposto de rendaequipe aplicaram essas estratégiascasa de apostas imposto de rendaensinocasa de apostas imposto de rendaum grupocasa de apostas imposto de renda84 alunoscasa de apostas imposto de renda11 a 13 anos na Califórnia,casa de apostas imposto de renda2017, na etapa equivalente ao ensino fundamental 2 brasileiro.

Os jovens participaramcasa de apostas imposto de renda18 aulas no projeto Youcubed, aprendendo matemáticacasa de apostas imposto de rendaum modo mais colaborativo. O resultado, diz a Universidade Stanford, é que nesse período eles aumentaram seus conhecimentos matemáticos no equivalente a 2,4 anoscasa de apostas imposto de rendaensino escolar.

O site do projeto Youcubed (que tem versãocasa de apostas imposto de rendaportuguês) traz, atualmente, dezenascasa de apostas imposto de rendasugestõescasa de apostas imposto de rendaexercícios práticos para serem usadoscasa de apostas imposto de rendasalacasa de apostas imposto de rendaaula (oucasa de apostas imposto de rendacasa), desde a educação infantil até o fim do ensino médio.

A atividade "Bolascasa de apostas imposto de rendagude na caixa", por exemplo, sugere um jogo da velhacasa de apostas imposto de renda3D que pode ser aplicado a alunos por voltacasa de apostas imposto de rendacinco anos.

desafio do Youcubed

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Profecia autorrealizável

O que não significa, porém, que a matemática não exija esforço ou que o processocasa de apostas imposto de rendaaprendizado não esteja sujeito a frustrações.

O que especialistas como Boaler têm defendido é que, no ambiente escolar, a percepçãocasa de apostas imposto de rendaque "não nasci para a matemática" acaba se convertendocasa de apostas imposto de rendauma espéciecasa de apostas imposto de rendaprofecia autorrealizável.

"A verdade é que você provavelmente é uma pessoa com afinidade à matemática e, ao pensar o contrário, está tolhendocasa de apostas imposto de rendaprópria carreira futura", escreveram dois acadêmicos, Miles Kimball, da Universidadecasa de apostas imposto de rendaMichigan, e Noah Smith, da Universidadecasa de apostas imposto de rendaStony Brook,casa de apostas imposto de rendaartigocasa de apostas imposto de renda2013 na revista americana The Atlantic.

"E o pior, ao pensar o contrário, você pode estar ajudando a perpetuar um pernicioso mito que prejudica as crianças menos privilegiadas: o mito da habilidade matemática genética e inata."

Em contrapartida, dizem os autores, as crianças que desde cedo se acostumam a ouvir que levam jeito para a matemática acabam se esforçando mais e,casa de apostas imposto de rendaconsequência, se saindo melhor.

Atrasos brasileiros na matemática

No Brasil, a matemática é considerada calcanharcasa de apostas imposto de rendaAquiles por muitos estudantes. Oitocasa de apostas imposto de rendacada dez alunos concluem o ensino fundamental sem adquirir os conhecimentos esperados nessa disciplina, segundo o exame Prova Brasilcasa de apostas imposto de renda2017.

Na mais recente edição do exame internacional PISA, quecasa de apostas imposto de renda2015 testou os conhecimentoscasa de apostas imposto de rendaalunoscasa de apostas imposto de renda15 anoscasa de apostas imposto de renda70 países, o Brasil ficoucasa de apostas imposto de renda66º lugarcasa de apostas imposto de rendamatemática e 63ºcasa de apostas imposto de rendaciências.

Em um país com tantas deficiênciascasa de apostas imposto de rendaensino, como tirar a matemática do papelcasa de apostas imposto de rendavilã?

Para Boaler, isso começa pelo professor "mudarcasa de apostas imposto de rendamensagem", deixandocasa de apostas imposto de rendapensar — e evitando que alunos pensem — que somente alguns poucos serãocasa de apostas imposto de rendafato capazescasa de apostas imposto de rendaaprender a disciplina.

"E quando eles mudamcasa de apostas imposto de rendamensagem e a formacasa de apostas imposto de rendadar aula, veem instantaneamente que funciona e que mais alunos estão aprendendo. Daí o nosso esforçocasa de apostas imposto de rendamostrar aos professores que todas as crianças têm um potencial ilimitado e mostrar as evidências neurocientíficas disso", argumenta.

Ela destaca, ao mesmo tempo, que muitos professores já adotam estratégias do tipo e são capazescasa de apostas imposto de rendatornar a matemática sedutora.

Recentemente, viralizou no Twitter a fotocasa de apostas imposto de rendauma provacasa de apostas imposto de rendamatemáticacasa de apostas imposto de rendaque o professor corrigiu a aluna quando esta disse que se considera "uma decepção" na disciplina. O professor riscou a frase "então não se assuste com o meu zero" e trocou-a por "então me ajude a entender melhor? Claro!"

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Não se tratacasa de apostas imposto de rendaapenas acreditar no próprio potencial, mas entender que, fisiologicamente, nosso cérebro é maleável o suficiente para aprender e crescer com os erros - ou seja, saber que inteligência é algo mutável, e não predeterminado. E pesquisadores descobriram que essa mensagem é ainda mais crucialcasa de apostas imposto de rendaambientescasa de apostas imposto de rendapobreza e baixo estímulo.

Em 2016, três outros acadêmicoscasa de apostas imposto de rendaStanford acompanharam alunos do ensino público do Chile e perceberam que "oscasa de apostas imposto de rendarenda mais baixa tinham o dobrocasa de apostas imposto de rendapropensãocasa de apostas imposto de rendaachar que (sua inteligência) era fixa (e não maleável)". Isso, diz o estudo, "era um forte indicativo sobre o desempenho desses estudantes".

Mas, mesmo entre os alunoscasa de apostas imposto de rendarenda mais baixa, os que entendiam quecasa de apostas imposto de rendainteligência poderia crescer pelo próprio esforço conseguiam alcançar os resultados mais altos dos colegas mais "abastados".

"Os resultados indicam que o modocasa de apostas imposto de rendapensar (sobre as próprias habilidades matemáticas) pode ser um mecanismo pelo qual desvantagens econômicas impactam o desempenho" estudantil, escreveram os autores Carol S. Dweck, Susana Claro e David Paunesku.

"Não estamos sugerindo que fatores estruturais, como desigualdade econômica ou disparidades na qualidade das escolas, são menos importantes do que fatores psicológicos. Nem dizendo que ensinar os estudantes a mudar seu modocasa de apostas imposto de rendapensar vai substituir esforços sistêmicos para aliviar a pobreza e a desigualdade. (...) Em vez disso, estamos sugerindo que desigualdades estruturais dão margem para desigualdades psicológicas, as quais reforçam o impacto das desigualdades estruturais no desempenho e nas oportunidades futuras (dos alunos)."

O matemático Artur Ávila, primeiro brasileiro a ganhar (em 2014) a Medalha Fields, o mais prestigioso prêmio dessa disciplina, também já criticou ideias preconcebidascasa de apostas imposto de rendatorno da matemática.

Aulacasa de apostas imposto de rendamatemática

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Legenda da foto, 'Toda a população deveria ser exposta à matemática como algo que é acessível e importante para todos', dissecasa de apostas imposto de rendaentrevista brasileiro Artur Ávila

"Quando se colocam na mídia estereótiposcasa de apostas imposto de rendaque a matemática é para alguém com certos aspectos bem característicos, e a pessoa não se identifica com esse estereótipo, ela vai descartar a ideiacasa de apostas imposto de rendaentrar na área. Isso é reproduzido também na esfera da família, que 'conforta' a pessoa na primeira dificuldade que tem com matemática, falando 'ah, mas não é para você mesmo, faz outra coisa'", afirmou Ávila,casa de apostas imposto de rendafevereiro deste ano, ao Jornal da USP.

"Toda a população deveria ser exposta à matemática como algo que é acessível e importante para todos. (...) Todo mundo com acesso à matemática ganha técnicas para seu trabalho e mesmocasa de apostas imposto de rendasuas relações na sociedade, no seu papelcasa de apostas imposto de rendacidadão. Estamos expostos a dados a todo momento. Se a pessoa não está preparada para lidar com números, é muito mais facilmente manipulada por pesquisas e gráficos, por exemplo."

Por onde começar?

Como, então, evitar que esse tipocasa de apostas imposto de rendamito matemático se perpetue?

No ambiente familiar, Jo Boaler sugere que os pais "passem uma mensagem positiva" aos filhos. "Mesmo que você odeie a matemática, seja entusiasta do aprendizado, mesmo que esteja fingindo", diz ela.

"Para crianças pequenas, a ideia é procurar padrões no mundo: eles estão por toda a parte. Jogos também são ótimos, por exemplo oscasa de apostas imposto de rendadados. Só peço que tomem cuidado com os jogos que exigem rapidez, porque se criou essa ideiacasa de apostas imposto de rendaque você precisa ser rápido ao resolver questõescasa de apostas imposto de rendamatemática. Em vez disso, é mais importante incentivar a criatividade e a flexibilidade — entender que o cálculocasa de apostas imposto de renda12 x 4 pode ser feitocasa de apostas imposto de rendadiversas formas diferentes. Isso ajudará seus cérebros a criar várias conexões diferentes."

Meninas resolvendo problema matemático

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Legenda da foto, 'Não se preocupe, você não precisa ir bemcasa de apostas imposto de rendamatemática' - um dos estereótiposcasa de apostas imposto de rendagênero que desestimulam meninas

A pesquisadora também alerta para as disparidadescasa de apostas imposto de rendagênero que persistem nas ciências exatas e desencorajam muitas meninas a desenvolver suas habilidades matemáticas.

Em seu livro, Boaler conta o casocasa de apostas imposto de rendauma colega professora universitária que, quando estava na graduação, foi chamada para conversar por um professorcasa de apostas imposto de rendamatemática.

Ela se preparou para receber elogios por seu bom desempenho na matéria, mascasa de apostas imposto de rendavez disso ouviu uma bronca do professor — ele deduzira que ela havia colado nas provas ou simplesmente memorizado tudo.

"Essa professora me conta que, mesmo hoje, como acadêmica, ouve colegas falando a estudantes mulheres, 'não se preocupe, você não precisa ir bemcasa de apostas imposto de rendamatemática'. Não há expectativacasa de apostas imposto de rendaque elas possam ir bem, o que é uma mensagem terrível,casa de apostas imposto de rendaque as exatas não são para elas."

Carol S. Dweck, outra pesquisadora do tema e autoracasa de apostas imposto de rendadois dos estudos citados nesta reportagem, defendecasa de apostas imposto de rendaartigos que,casa de apostas imposto de rendageral, estudantes precisam ser ensinados que, quando saemcasa de apostas imposto de rendasua zonacasa de apostas imposto de rendaconforto e se esforçam, fazem seus cérebros formar conexões mais fortes.

Disso nasce um círculo virtuoso: esses estudantes passam a acreditar que seu esforço é recompensado, criam objetivos mais ambiciosos para si mesmos e têm menos predisposição a atribuir fracassos a coisas que não podem controlar (a pensar, por exemplo, que foram mal porque "a prova era injusta").

"Passamos a eles a mensagemcasa de apostas imposto de rendaque tudo é difícil antescasa de apostas imposto de rendase tornar fácil", dizem Dweck e seus colegascasa de apostas imposto de rendaum dos estudos.

raya

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