Por que Chanel Miller, vítimasbt sportstentativasbt sportsestupro, quer que o mundo saiba seu nome:sbt sports
O juiz Aaron Persky, que mais tarde foi afastado do cargo, citou o "bom caráter"sbt sportsTurner — que era uma das estrelas da equipesbt sportsnatação da universidade — e o fatosbt sportsele ter bebido para justificar a sentença.
O caso ganhou grande repercussão depois que um depoimento lido pela vítima no tribunal, endereçado ao agressor, viralizou nas redes sociais. Na época, ela era conhecida como Emily Doe — para proteger seu anonimato.
Há apenas seis meses, Chanel Miller decidiu revelarsbt sportsidentidade.
Hoje, aos 27 anos, ela é autora do livro Know My Name ("Saibam meu nome",sbt sportstradução livre), lançado recentemente nos EUA e no Reino Unido.
Na obra, Chanel narra o trauma que passou — desde acordar sem saber o que havia acontecido até descobrir os detalhes do ataque pela imprensa e se ver diantesbt sportsum tribunal.
Formadasbt sportsliteratura, ela também é uma artista talentosa, que sonha ilustrar livros infantis. Também estudou cerâmica e HQs, e atuasbt sportscomédiassbt sportsstand-up. Adora cachorros. E se descreve como tímida.
É metade chinesa — seu nome chinês é Zhang Xiao Xia (e Xia tem somsbt sports"chá", a primeira sílabasbt sportsChanel). Sorri com facilidade, é atenciosa e engraçada. É filha, irmã e namoradasbt sportsalguém. Poderia ser alguém que você conhece.
sbt sports Aviso: esta história contém trechos que leitores podem achar perturbadores.
'Como deixamos isso acontecer?'
As memóriassbt sportsChanel estão repletassbt sportsraiva da provação que passou. Mas por que escrever a respeito, quando isso significa reviversbt sportsdor, ao ler documentos do julgamento e transcriçõessbt sportsdepoimentossbt sportstestemunhas?
Ela diz que se sentiu na obrigaçãosbt sportslançar uma luz sobre a escuridão que muitas mulheres jovens precisam atravessar.
"Houve diassbt sportsque realmente não conseguia imaginar um único caminho a seguir", diz Chanel, que morasbt sportsSan Francisco,sbt sportscidade natal, nos EUA.
"Era terrível. Eu não desenhava nada, não escrevia nada. Tudo o que eu queria fazer era dormir para não precisar ficar consciente. Não é assim que se vive."
"Pensosbt sportsoutras jovens que precisam passar por isso e desistem, desmoronam, se afastam das coisas que amam. E eu só consigo pensar 'como nós deixamos isso acontecer?'"
Sua voz é articulada e clara, mas vibra com emoção e fúria silenciosa diante da injustiça que aflige outras mulheres ao redor do mundo — que sabem bem o que é ser "Emily Doe".
"Essas mulheres jovens e talentosas, empolgadas com o futuro, têm tantas coisas para dar e oferecer. E algo assim acontece", diz Chanel. "Elas voltam para casa, carregam e engolem a vergonha, e isso as corróisbt sportsdentro para fora."
"E elas pensam que 'tudo vai melhorar se eu ficar enfurnada no meu quarto', 'talvez as coisas melhorem se eu não falar nada'. 'Talvez eu não mereça ser amada ou acariciada gentilmente'", afirma.
"É tão doentio que deixamos isso acontecer. Que as deixamos digerir essas ideias negativassbt sportssi mesmas. Em vezsbt sportspersuadi-las e dizer: 'Não, você merece uma vida plena. Você merece um futuro incrível'."
Quando foi atacada, Chanel não era mais uma estudante universitária — já havia se formado. Ela foi ao campus a convite da irmã mais nova, Tiffany, que perguntou se ela queria ir a uma festa.
O caso dela reacendeu o debate sobre a ocorrênciasbt sportsestupros nos campisbt sportsuniversidades americanas.
E ela diz que quer ver mudanças especificamente na Universidadesbt sportsStanford — como o fatosbt sportsque os examessbt sportsperícia não podem ser feitos no hospital da universidade, fazendo com que as vítimas tenhamsbt sportsviajar 64 quilômetros.
"Você pega um Uber por 40 minutos com um estranho (dirigindo) enquanto ainda está usando a roupa com a qual acabousbt sportsser atacada? Você manda uma mensagemsbt sportstexto para seu único amigo que tem carro e conta o que passou?"
Impunidade
Muitas mulheres se manifestaram após ler o depoimentosbt sportsChanel, que viralizou nas redes sociais, encorajadas a contar suas próprias histórias —sbt sportsalguns casos, pela primeira vez.
A Rainn — rede nacionalsbt sportsassistência a vítimassbt sportsestupro, abuso e incesto, a maior organização contra a violência sexual nos EUA — estima que umasbt sportscada seis mulheres americanas são vítimassbt sportstentativas ou estupro consumado. A cada 92 segundos, uma americana é agredida sexualmente. A cada mil casossbt sportsabuso sexual, 995 agressores ficam impunes.
Imagine por quantas mulheres você passa todos os dias. Pensesbt sportsuma a cada seis.
"Nós sempre nos perguntamos, por que ela não se manifestou? Por que não denunciou?", diz Chanel.
"Porque não há um sistema para que ela denuncie. Por que ela deveria confiarsbt sportsnós para cuidarmos dela caso decida se manifestar? Precisamos fazer mais para ajudar as vítimas depois que isso acontece."
Quando Turner foi condenado, o crime não foi descrito como estupro — mas a lei na Califórnia mudou desde então, como resultado do casosbt sportsChanel.
Atualmente, há uma pena mínima obrigatóriasbt sportstrês anossbt sportsprisão por penetrar sexualmente uma pessoa inconsciente ou embriagada, explica Alaleh Kianerci, advogadosbt sportsChanel.
Outro ato legislativo foi redigido para expandir a definiçãosbt sportsestupro, incluindo qualquer tiposbt sportspenetração — "O trauma vivido pelas vítimas não pode ser medido pelo que foi colocado exatamente dentro delas sem consentimento", argumentou Chanel,sbt sportsdefesa do projetosbt sportslei.
Após a divulgação da sentençasbt sportsTurner, ela diz que se sentiu tão arrasada e chocada que, quando seu advogado pediu permissão para divulgar seu depoimento lido no tribunal, ela apenas falou: "Claro, se você acha que pode ser útil."
Chanel achou que o texto acabaria restrito a um fórumsbt sportscomunidade ou sitesbt sportsjornal local — nunca poderia imaginar o impacto que teria.
Quando o depoimento se tornou público, divulgado originalmente na íntegra pelo site BuzzFeed, teve 11 milhõessbt sportsvisualizaçõessbt sportsquatro dias — e Chanel recebeu centenassbt sportscartas e presentes do mundo todo.
Ela afirma que leu cada uma das cartas: "Me ensinaram a ser mais gentil comigo mesma, me mostraram quem eu era para elas".
"Aprendi a me ver através delas", acrescenta.
Ela recebeu, inclusive, uma carta da Casa Branca — Joe Biden, então vice-presidente dos EUA, escreveu: "Você deu a elas a forçasbt sportsque precisam para lutar. Portanto, acredito que você salvará vidas."
Como ainda estava sob anonimato, era comum que amigos encaminhassem o depoimento para ela, sem saber que ela havia escrito.
A terapeutasbt sportsChanel sabia que ela havia sido abusada sexualmente, mas não sabia que ela era Emily Doe, e chegou a perguntar: "Você leu o depoimento da vítimasbt sportsStanford?"
Responsabilidadesbt sportsdenunciar
Os tribunais ouvem casos como osbt sportsChanel o tempo todo - mudam apenas os nomes, endereços e detalhes. Então, o que fazsbt sportshistória e dor ecoarem tanto?
"Talvez por não me esquivar das partes mais sombrias", diz Chanel.
"Acho que é quase um alívio quando alguém reconhecesbt sportsescuridão, porque você sente que é uma coisa feia e suja que precisa esconder."
"Se você mostrar, as pessoas vão se assustar e recuar. Eu consegui comunicar todos esses sentimentos complexos, me abri sobre eles, e não os deixeisbt sportslado, tampouco senti vergonha por tê-los vivenciado".
Após ter passado pelo processo na Justiça, Chanel sentiu que tinha a responsabilidadesbt sportsdenunciar,sbt sportsmostrar aos outros como é.
"Sei que, no meu caso, eu tinha muitas vantagens (entre aspas)", diz.
"Fiz meu examesbt sportscorposbt sportsdelito. Tive a assistênciasbt sportspoliciais e enfermeiras. Um advogado foi designado, um promotor, todas as coisas que deveria ter."
"E ainda achei terrivelmente difícil, nocivo emocionalmente passar por isso. Pensava: 'Se para quem está bem assessorado é assim, como outras pessoas conseguem sobreviver a esse processo?'."
"Senti que tinha o deversbt sportsescrever sobre como é estar dentro das paredes sem janelassbt sportsum tribunal, como é o panorama interno, como é sentar naquela bancada e ser atacada por um interrogatório sem sentido."
Para escrever o livro, ela também teve acesso a documentos do tribunal e milharessbt sportspáginassbt sportstranscriçõessbt sportssessõessbt sportsque ela não estava presente.
Embora tenha sido elucidativo, também foi profundamente doloroso saber o que não apenas a corte — massbt sportsfamília e amigos tinham ouvido e presenciado.
"Foi extremamente difícil. Adiei por um longo tempo. Finalmente, pensei bem, precisava saber."
"Li sobre Brock e a defesa falando, passo a passo, sobre tirar minha calcinha, colocar os dedos lá dentro...", ela faz uma pausa, antessbt sportsacrescentar:
"Foi tão gráfico e sufocante, ler sobre mim mesma sendo despida novamente."
"E imaginar tudo isso acontecendosbt sportsum tribunal, onde todo mundo está apenas ouvindo e ninguém faz nada. Não conseguia suportar."
Inicialmente, Chanel ficou com raiva e deprimida, até que se deu conta do que tinhasbt sportsmãos.
"(Houve) esse momento maravilhososbt sportsque pensei: 'Todas essas vozes nessas transcrições estão literalmente nas minhas mãos, posso pegá-las e colocá-las no papel. Mas possuo todas elas. Preciso escolher as palavras que eu quero e reuni-las como quiser'".
"Há um poder enormesbt sportsser capazsbt sportscriar a narrativa novamente", acrescenta.
A decisãosbt sportsse revelar
O livro Know My Name narra todo o trauma que Chanel viveu. "Escrever é como eu processo o mundo", diz ela.
A jovem, que começou a escrever o livrosbt sports2017, só decidiu revelar seu nome há seis meses.
Ela diz que o fardo do anonimato se tornou pesado demais para ela — 90% das pessoas que ela conhecia não estavam cientes dasbt sportsoutra identidade.
"No começo, isso era muito importante para minha autopreservação, todo o processo e privacidade", diz ela. "Mas com o tempo, você se sente realmente diminuída. E acho que é importante poder viver nossa verdade plena."
Ela esperava que o diasbt sportsque revelariasbt sportsidentidade, no início deste mês, fosse "turbulento". Mas, no fim das contas, foi um momentosbt sportsprofunda calma e resistência.
"Acabou sendo o dia mais tranquilo que tive nos últimos quatro anos e meio", diz Chanel. "De repente, percebi que virei uma página."
Ela não acredita que Turner — que negou todas as acusações — reconheça o que fez.
"Na hora da sentença, ele leu 10 frasessbt sportsdesculpas", diz ela. "Pareceu genérico para mim."
"E realmente me fez questionar o que estamos fazendo no sistemasbt sportsjustiça criminal, porque se ele não está sequer aprendendo, então qual é o sentido? Se ele tivesse se transformado, acho que eu teria sido mais complacente com a sentença."
"Estou realmente interessadasbt sportscrescimento pessoal, e constatar o fatosbt sportsque ele se esquivou para tão longe disso, e nunca foi forçado a fazer nenhum tiposbt sportsautorreflexão ou analisar a maneira como me afetou, isso me magoa muito."
A resposta da universidade
Aplaudimos a coragemsbt sportsChanel Millersbt sportscontarsbt sportshistória publicamente, e lamentamos profundamente que ela tenha sido agredida sexualmente no campussbt sportsStanford. Como universidade, continuamos e fortalecemos nossos esforços para prevenir e responder efetivamente à violência sexual, com o objetivo finalsbt sportserradicá-lasbt sportsnossa comunidade.
O local mais próximo para um exame SART [siglasbt sportsinglês para "examesbt sportsresposta à agressão sexual"] é no Valley Medical Center,sbt sportsSan Jose. Há muito tempo concordamos com a necessidadesbt sportsum local mais próximo e nos comprometemos a fornecer espaço no Stanford Hospital para os exames SART. O Condadosbt sportsSanta Clara, que administra o programa SART, está trabalhando para treinar enfermeiros suficientes para fazer parte da equipe.
Aprendizado e compreensão
Muitas das críticas ao juiz Aaron Persky se concentraram na sentença relativamente branda dada a Turner — desencadeando um debate nacional sobre se homens brancossbt sportsorigem abastada receberiam tratamento diferenciado pelo sistema judiciário dos EUA.
"Há jovens negros cumprindo penas muito mais longas por crimes não violentos como possesbt sportsmaconha. É ridículo", diz Chanel.
Turner foi banido da universidade e agora vive com os paissbt sportsOhio.
Ele tentou anularsbt sportscondenação no ano passado, mas seu recurso foi rejeitado. E seu nome permanece no registrosbt sportscriminosos sexuais.
Perguntada se gostaria que Turner e a família lessem o livro, ela diz:
"Se eles decidirem ler e realmente escutarem (o que tenho a dizer), sempre vou encorajar. Sempre incentivei o aprendizado e a compreensão mais profunda."
"Mas também reconheço que o que eles fazem está fora do meu controle, que só posso me concentrar na minha própria trajetória e como desejo seguirsbt sportsfrente. Principalmente, quero que o livro exista como um companheiro."
"Penso nele como algo que você pode carregar com você e passar por momentos difíceis, algo que você pode segurar fisicamente ou ler na cama tarde da noite, quando se sente sozinho. Sempre pensava no que eu precisaria ter ouvido quando estava passando por isso."
No coraçãosbt sportsChanel, há um lugar cativo para os dois estudantes suecos — Peter Jonsson e Carl-Fredrik Arndt — que passavamsbt sportsbicicleta pelo local no momento do ataque e interromperam a agressão.
Chanel fez o desenhosbt sportsduas bicicletas e dormiu com elesbt sportscima da cama após o ataque, uma espéciesbt sportstalismã para lembrá-lasbt sportsque havia esperança lá fora.
"Sempre gostosbt sportsdizer: 'Sejam como os suecos'. Saiamsbt sportsdefesa dos vulneráveis, façamsbt sportsparte, ajudem uns aos outros e enfrentem as partes mais sombrias ao lado das vítimas."
"Acho que a resposta que estou recebendo faz parecer que as pessoas estão realmente dispostas agora a lutar pelo que é certo. E isso é extremamente encorajador."
Agora que o livro foi lançado, Chanel pretende decidir seus próximos passos — com a esperança e a crençasbt sportsque o bem vai sempre superar o mal.
"Na mesma noitesbt sportsque fui agredida, também fui salva", reflete.
Perguntada sobre o que planeja fazer agora, Chanel afirma:
"Quero escrever livros para crianças, para seus cérebros frescos e corações grandes, que ainda não aprenderam a ser sombrios, sérios e monótonos. Meus últimos anos foram turbulentos, mas tenho muita esperança. Sinto que minha vida está sempre começando."
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