O Crimebets 96Alcácer: o casobets 96estupro e assassinatobets 963 jovens que marcou a Espanha e virou série da Netflix:bets 96

Miriam García, Desirée Hernández e Antonia Gómez

Crédito, Netflix

Legenda da foto, Conhecidas como as 'meninasbets 96Alcácer', as três jovens desaparecerambets 9613bets 96novembrobets 961992

Os corpos mostravam sinaisbets 96agressão sexual e tortura.

O caso voltou aos holofotes após a estreia,bets 9614bets 96junho, da série do Netflix Crimebets 96Alcácer. O documentário, divididobets 96cinco partes, analisa o processobets 96investigação, as diferentes teorias que surgiram e o papel da imprensa na cobertura do episódio.

Cartaz da série 'Crimebets 96Alcácer'

Crédito, Netflix

Legenda da foto, A série do Netflix,bets 96cinco episódios, traz o casobets 96volta aos holofotes

Um evento midiático

O Crimebets 96Alcácer foi um dos mais midiáticos na história da Espanha.

Desde o primeiro momento, se estabeleceu uma forte concorrência entre os meiosbets 96comunicação, no intuitobets 96obter o máximobets 96detalhes sobre as jovens e suas famílias.

As equipesbets 96filmagem se deslocaram para Alcácer, uma cidadebets 96apenas 8 mil habitantes, para entrevistar os pais, parentes e amigos das adolescentes.

A imprensa anunciou a descoberta dos três corpos antes mesmobets 96alguns membros das famílias terem sido notificados. A mãebets 96Miriam Garcia, por exemplo, ficou sabendo pela televisão que o corpo da filha tinha sido encontrado.

"Na ausênciabets 96dados sobre o ocorrido, o furo era focar no sofrimento", explica a cientista política Nerea Barjola no livro Microfísica Sexista del Poder: el Caso Alcàsser y la Construcción del Terror Sexual (Microfísica Sexistabets 96Poder: o Caso Alcácer e a Construção do Terror Sexual,bets 96tradução livre).

"Primeiro, mostravam a dor, a indignação, a vingança... depois, não há mais como voltar atrás: as meninas são públicas,bets 96dor é pública, suas vidas, suas vozes são públicas,bets 96história é pública. E, sobretudo, seu corpo é público", escreveu a autora.

Marchabets 96mulheresbets 96Madri contra decisões judiciais

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, As marchas das mulheres contra a violênciabets 96gênero e sentenças judiciais que consideram injustas ganharam mais adesão nos últimos anos na Espanha

Terror sexual

"Abordei esse tema porque estava interessadabets 96investigar como as representações sobre o perigo sexual determinam e coagem o comportamento das mulheres", diz Barjola à BBC News Mundo, serviçobets 96espanhol da BBC.

"Comecei a pensar, então, sobre as representações que me colocarambets 96contato com o terror sexual pela primeira vez, isto é, com o medobets 96que algo pode acontecer com você porque você é mulher."

"Foi quando eu pensei no casobets 96Alcácer."

De acordo com Barjola, a história contada pela imprensa focou nas ações dos adolescentes.

"Na época, se falava muito que elas tinham pedido carona", explica. "Praticamente toda a narrativa giravabets 96torno disso,bets 96que se elas não tivessem pedido carona, nada disso teria acontecido", acrescenta.

Capa do livrobets 96Nerea Barjola

Crédito, Editorial

Legenda da foto, Para Nerea Barjola, a cobertura do caso Alcácer ajudou a construir a história do terror sexual na Espanha

"E por extensão, esse é um aviso para o resto das mulheres. Determinaram diretrizesbets 96comportamento e limites que não poderíamos ultrapassar. E se a gente ultrapassasse, ao andar livremente na rua ou pegar uma carona, que era uma forma segura na épocabets 96se deslocarbets 96um lugar para outro, poderia acontecer o que aconteceu com elas."

"A mídia nos convidou a reformular nosso comportamento,bets 96vezbets 96colocar o foco do debate no sistema machistabets 96que vivemos e que permite aos homens ter esse privilégio sobre nossos corpos e nossas vidas", argumenta Barjola.

Exploração da dor

Alcácer se tornou praticamente um grande estúdiobets 96televisãobets 96que jornalistas e comentaristas falavam sem pudor sobre o estado dos corpos e as condiçõesbets 96que haviam sido encontrados.

Imagens e depoimentos dolorosos foram retransmitidos sem qualquer tipobets 96ética - como a entrevista que uma apresentadora fez com o vice-prefeito da cidade apenas um dia após os corpos terem sido encontrados.

"Eu gostariabets 96saber, sei que é muito difícil e na frentebets 96tantas pessoas que estão aqui hoje à noite, é muito difícil... você poderia me dizer se,bets 96acordo com os resultados da autópsia, os corpos foram agredidos e violentados?", perguntou a apresentadora do programa que estava sendo transmitido ao vivo do auditório principal da cidade com todos os familiares das vítimas presentes.

Imagem do julgamentobets 96Miguel Ricart

Crédito, Netflix

Legenda da foto, A série do Netflix contém cenas inéditas do julgamentobets 96Miguel Ricart, a única pessoa processada e condenada pelo crimebets 96Alcácer

Os apicultores que encontraram os corpos também foram convidados a falar no estúdiobets 96televisão, respondendo a perguntas sobre o estado dos cadáveres na presença das famílias das adolescentes.

"Ambos os homens, visivelmente afetados, ainda mais na presença das famílias das adolescentes, responderam às perguntas como podiam. A declaração é apresentada na tela coberta pela imagem da mãebets 96uma das jovens abraçada à fotografia da filha, amparada pelo marido, enquanto desmorona com o relato dos apicultores", escreve Barjolabets 96seu livro.

"A declaração dos apicultores é um sofrimento gratuito que não esclareceu o que aconteceu, pelo contrário. A semente do entretenimento estava sendo plantada, baseada na agressão e na tortura sexual das mulheres", diz a cientista política.

Como consequência dessa cobertura, o público teve acesso a dados e imagens muito precisos sobre a agonia sofrida pelas adolescentes.

Um terror persistente

Miguel Ricart, único réu do caso, foi condenado a 170 anosbets 96prisão. Mas há quatro anos, foi libertado.

Outro suspeitobets 96envolvimento no crime, Antonio Anglés, fugiu quando ia ser preso - e continua foragido.

Mas o relatobets 96terror sexual não terminoubets 96Alcácer.

Marchabets 96Sevilha pede justiça pelo desaparecimento e mortebets 96Marta del Castillo

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Após o caso Alcácer, outros crimes mobilizaram a opinião pública na Espanha, como o desaparecimento da jovem Marta del Castillobets 96Sevilha,bets 96janeirobets 962009

"Todas nós fomos criadas com algum caso Alcácer", explica a jornalista Noemi López Trujillo, especializadabets 96questõesbets 96gênero, à BBC News Mundo.

"Após o caso das meninasbets 96Alcácer, houve obets 96Rocío Wanninkhof, que saiu à noite para ir a uma feira e desapareceubets 961999;bets 96Marta del Castillo, que saiu para passear e nunca mais voltou para casa;bets 96Diana Quer, que sumiu após sairbets 96uma festa...", enumera.

"A mensagem que está sendo enviada para nós é que nossos corpos são públicos, não apenas no momento do estupro ou assassinato, mas depois, porque nossos corpos serão expostos o tempo todo na mídia, com manchetes como 'Assim encontraram os corpos das meninasbets 96Alcácer', informando quantas vezes violentaram esses corpos, quantas vezes foram esfaqueados, se sofreram ou não sofreram."

"Esse tipobets 96cobertura acontece o tempo todo na imprensa, está presente o tempo todo, e tudo isso alimenta o nosso medo", explica a jornalista.

Barjola diz que, após o caso Alcácer, a tendência dos meiosbets 96comunicação continua sendo abets 96construir narrativas que especifiquem certos detalhes capazesbets 96produzir terror sexual.

"E é assim que as mulheres reformulam suas atitudes, que nos negamos espaços, desejos e práticas", diz a cientista política.

"A maneirabets 96difundir o terror sexual é por meiobets 96histórias. E todas as histórias determinam padrõesbets 96comportamento."

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