Por que o Brasil mudou para sempre após participação simbólica na 1ª Guerra Mundial:betboom
Para a maioria dos outros 22 participantes, o futuro foi generoso: tornaram-se ministrobetboomEstado (Calógeras) e do Supremo Tribunal Federal (Meneses), chefe do Estado-Maior do Exército (comandante Alfredo Malan D'Angrogne), embaixadores e deputados. O próprio Fernandes foi, sucessivamente, governador do Rio, consultor-geral da República, deputado constituintebetboom1934 e duas vezes ministro das Relações Exteriores.
Esse prestígio reflete,betboomparte, o lugar privilegiado do BrasilbetboomParis, ao lado dos vencedores. Apesar da participação simbólica no conflito - declarara guerra à Alemanhabetboomoutubrobetboom1917, 13 meses antes do armistício -, tinha a maior representação do continente americano depoisbetboomEstados Unidos e Canadá. Seus três votos eram o mesmo da Itália (que perdera meio milhãobetboomhomens na guerra) e o triplobetboomPortugal (que enviara 60 mil combatentes ao Front Ocidental).
Mais do que isso, o Brasil saiubetboomVersalhes com praticamente todas as suas modestas reivindicações econômicas e militares atendidas e com um assento na recém-criada Liga das Nações. O país deixaria a organizaçãobetboom1926, ao ter recusada a aspiraçãobetboomuma vaga permanente no Conselho.
Qualquer que seja o mérito da presença brasileirabetboomParis e Versalhes, a "Grande Guerra" mudou o país para sempre. Desde 2014, quando o confronto completou cem anos, uma nova geraçãobetboompesquisadores dedica-se a reavaliar essa participação.
"Nos últimos anos, historiadores têm começado a repensar os papéis dos chamados pequenos e médios poderes, como o Brasil, na Primeira Guerra Mundial. Esses trabalhos tratam questões militares a aspectos internos como economia e cultura", diz o doutorbetboomHistória Cristiano EnriquebetboomBrum, vencedor do Prêmio Cultural Tasso Fragoso 2018 da BibliotecabetboomExército com a tese A (des)mobilizaçãobetboommédicos na Grande Guerra: o caso da Missão Médica Brasileira na França (1918-1919).
Do boom do café à crisebetboom1913
O início da guerra na Europa coincidiu com uma situação interna delicada no Brasil. Desde 1909, o país se beneficiara do crescimento das exportaçõesbetboomcafé e borracha, carros-chefesbetboomseu comércio exterior, ebetboomum crescente fluxobetboominvestimentos internos no país, especialmente nos setoresbetboomfinanças e transportes. Se a balança comercial vivia uma bonança, as contas públicas estavam desarranjadas, com sucessivos governos recorrendo a empréstimos externos para financiar seus déficits.
Em 1913, esse arranjo implodiu: um abalo financeiro mundial derrubou os preços do café e limitou a ofertabetboomcrédito internacional. Emparedado pelos credores, o governo do presidente Hermes da Fonseca foi obrigado a iniciar uma longa e tortuosa renegociação da dívida externa, que acabou interrompida pela guerra.
Marechal da ativa mesmo durante o exercício da Presidência, Hermes havia sido ministro da Guerra (1906-1909) e negociara com a Alemanha, que tinha o exército mais avançado do mundo, o enviobetboomuma missão militar para reorganizar as forças do Brasil. Ao se eleger presidente, porém, foi forçado a adotar postura mais equidistante: a oligarquia paulista tinha um acordo militar com a França (que treinava desde 1906 a impressionante Força Pública do Estado, com 7.000 homens), enquanto o Itamaraty, sob a chefia do todo-poderoso José Maria Paranhos do Rio Branco, aproximava-se dos Estados Unidos. Ainda assim, o Brasil manteve uma compra significativabetboommaterial bélico alemão, jamais entreguebetboomrazão da guerra.
"Hermes era casadobetboomsegundas núpcias com NairbetboomTefé, que erabetboomfamília alemãbetboomsobrenome Von Hoonholtz, chegada ao Brasil no século 19. O paibetboomNair, Antônio von Hoonholtz, havia participado da Guerra do Paraguai e receberabetboomDom Pedro 2º o títulobetboomBarãobetboomTefé. Os Von Hoonholtz mantinham relações com os parentes na Alemanha, e Hermes era germanófilo. Chegou a assistir a manobras do exército alemão a convite do kaiser Guilherme 2º", afirma René Gertz, professor aposentado do ProgramabetboomPós-graduaçãobetboomHistória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Num primeiro momento, a guerra foi desastrosa para as exportações brasileiras. Os Aliados não consideraram essencial o café, e somente no final da guerra os Estados Unidos interessaram-se pelo manganês brasileiro. Alemanha e Áustria-Hungria, que compravam 19% do grão produzido no país (e absorviam 20% do totalbetboomexportações), tornaram-se inacessíveisbetboomrazão do bloqueio britânico no Mar do Norte. Nos últimos cinco mesesbetboom1914, as exportaçõesbetboomcafé caíram 38%betboomrelação ao mesmo período do ano anterior. O valor total das vendas do produto despencou 28% naquele ano.
Fustigado pela crise econômica, Hermes tinha a impopularidade aumentada pelos conflitos internos, como a Revolta da Chibata (RiobetboomJaneiro, 1910), a rebelião do Padre Cícero (Ceará, 1912-1914) e a Guerra do ContestadobetboomSanta Catarina e Paraná, que só terminariabetboom1916. Parceiro econômico dos beligerantes e à sombra da neutralidade dos Estados Unidos, o "marechal presidente" declarou que o Brasil ficaria à margem da guerra. Restava, porém, um desafio: administrar o trânsito marítimobetboomseus produtos.
Guerra marítima minou neutralidade brasileira
Com a Primeira Guerra, o Oceano Atlântico tornou-se pela primeira vez palcobetboomuma guerra total, na qual navios mercantes ebetboompassageiros também eram alvos. O Reino Unido decretou que praticamente todas as exportações das Américas para as Potências Centrais (Alemanha, Áustria-Hungria e Império Otomano) seriam consideradas contrabandobetboomguerra, sujeito a busca e apreensão. O Mar do Norte foi declarado zonabetboomguerra, e o Canal da Mancha foi interditado mesmo a barcosbetboompaíses neutros, sujeitos a inspeções.
Desesperada com um bloqueio que poderia desencadear fome na Alemanha, o regime do kaiser lançou ao mar uma nova armabetboomguerra, os submarinos (U-Boots), capazesbetboominterceptar e afundar embarcaçõesbetboomqualquer tipo. Os britânicos, que haviam armado seus navios mercantes jábetboom1913, determinaram que, à vista do inimigo, os comandantes deviam atacá-lo ou, na faltabetboomarmamento, abalroá-lo. Finalmente, passaram a utilizar bandeirasbetboompaíses neutrosbetboomseus próprios navios a fimbetboomconfundir os alemães.
Essa prática criou uma primeira comoção nacionalbetboommaiobetboom1916. Notificado do afundamento do vapor brasileiro Rio Branco por um submarino alemão no Mar do Norte, o governo apurou que a embarcação fora vendida a armadores noruegueses e arrendada a armadores britânicos, alémbetboomusar indevidamente a bandeira brasileira.
O incidente contribui, porém, para reforçar as simpatias pelos Aliados numa opinião pública dividida. A crise econômica e a impopularidade do governo, agravada pelo fatobetboomo ministro das Relações Exteriores, Lauro Müller (que sucedera a Rio Branco, mortobetboom1912), ser filhobetboomum migrante alemão que desembarcara no Brasilbetboom1829 contribuíram para fazer pender a balança da opinião públicabetboomfavor dos Aliados.
Em janeirobetboom1917, 15 meses depois da decretação do bloqueio britânico à Alemanha, Berlim informou o RiobetboomJaneirobetboomque bloquearia Reino Unido, França, Itália e Mediterrâneo Oriental. Pouco maisbetboomdois meses depois, o paquete brasileiro Paraná foi afundadobetboomáguas internacionais na altura da costa francesa. Dois dias antes, contrariando promessabetboomcampanha, o presidente Wilson pedira ao Congresso autorização para declarar guerra à Alemanha e conclamara os países neutros a fazer o mesmo. Sem alternativa, Müller notificou o embaixador alemão no Rio do rompimentobetboomrelações com o império. Foi também seu atobetboomdespedida do Itamaraty:betboommaio, seria substituído pelo aliadófilo Nilo Peçanha. A declaração brasileirabetboomguerra veiobetboomoutubro, após o torpedeamento do vapor brasileiro Macau, com o desaparecimento do comandante Saturnino FurtadobetboomMendonça e do taifeiro Arlindo Dias dos Santos.
"A sucessãobetboomataques à navegação brasileira foi construindo, ao longobetboom1917, um ambientebetboomrevolta popular contra os alemães. A cada novo torpedeamento, indústrias, estabelecimentos comerciais, associações e casas ligadas aos germânicos eram depredadas pela populaçãobetboomfúria", diz o jornalista e escritor Marcelo Monteiro, autorbetboomU-93: a entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial (BesouroBox, 2014).
Divisão Naval e missões aos Aliados
Além do Brasil, os únicos países latino-americanos a declarar guerra à Alemanha são os da América Central e Caribe, sob forte influência americana: Cuba (que também teve modesta participação militar ao lado dos Aliados), Costa Rica, Guatemala, Haiti, Honduras e Panamá. Outros cinco romperam relações com a Alemanha: Peru, Bolívia, Uruguai, Equador e República Dominicana. Permanecem neutros Argentina, Chile, Colômbia, México, El Salvador, Venezuela e Paraguai.
"Comparada à da Argentina, a atitude do governo brasileirobetboomrelação aos Estados Unidos, durante a guerra, é muito mais conciliatória, conforme o padrão adotado desde Rio Branco. O governo argentino não abre mãobetboomsua neutralidade e aproveita a situação internacional para promover seus interesses econômicos. Ao final da guerra, a Argentina é o sétimo exportador mundial e o peso é a moeda mais forte do mundo. O Brasil, apesar do efeito positivo das relações com os Aliados, passa apenasbetboomdécimo-terceiro a décimo-segundo exportador", afirma Norma Breda dos Santos, professora associada do ProgramabetboomPós-graduaçãobetboomRelações Internacionais da UniversidadebetboomBrasília (UnB).
A declaraçãobetboomguerra deixoubetboomaberto a escala da participação brasileira no conflito. No governo, formam-se duas correntes: presença simbólica, limitada a açõesbetboomretaguarda (defendida pelo chanceler Nilo Peçanha) e enviobetboomtropas financiadas pelos Aliados (posição do deputado e ex-ministro da Fazenda Pandiá Calógeras). A organizaçãobetboomuma força expedicionária esbarrou na decidida oposição do Reino Unido, que desejava limitar a participação do Brasil ao auxílio ao patrulhamento do Atlântico.
Em acordo com americanos e britânicos, foi acertado o enviobetboomdois scouts (Rio Grande do Sul e Bahia), quatro destróieres (Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Santa Catarina) e do transportebetboomguerra Belmonte - posteriormente, o rebocador Laurindo Pita incorporou-se à frota - para colaborar com as forças aliadas no Atlântico Norte. Denominada Divisão NavalbetboomOperaçõesbetboomGuerra (DNOG) e sob o comando do contra-almirante Pedro MaxbetboomFrontin, a frota partiu do Rio no dia 11betboommaiobetboom1918, com destino a Gibraltar.
A participação da DNOG na guerra foi "uma verdadeira catástrofe", na expressão do historiador Francisco Luiz Teixeira Vinhosa, autorbetboomO Brasil e a Primeira Guerra Mundial (IHGB, 1990). Ao alcançar Dacar, Senegal (então África Ocidental Francesa),betboom26betboomagosto, a divisão foi acometida pela gripe espanhola, que chegou a atingir 95% do efetivobetboomalguns navios. "Os doentes caíam ardendobetboomfebre cobertosbetboomsuor emplastadobetboommoinhabetboomcarvão, sem ter nem sequer quem os auxiliasse a tomar banho e mudarbetboomroupa, pois os poucos válidos que poderiam assistir nisso diminuíambetboomhora a hora,betboomminuto a minuto", escreveubetboom1921 o capitão-tenente Orlando Marcondes Machado sobre a tripulação do Rio Grande do Sul.
Além da epidemia, que deixou 156 mortos entre o efetivo, avarias e novas ordensbetboomserviço fizeram com que apenas quatro dos oito navios da divisão deixassem Dacar rumo a Gibraltarbetboom3betboomnovembro. Depoisbetboommúltiplos incidentes, a força chegou ao destino no dia 10, véspera do armistício.
Em meadosbetboom1918, o Exército enviou duas missões a países aliados para estudar as transformações recentes no ofício da guerra. À França, foi enviada uma delegaçãobetboom28 oficiais chefiada pelo general Napoleão Aché. Alguns, como o major Tertuliano Potyguara, foram designados para o front e feridosbetboomcombate. Aos Estados Unidos, o Ministério da Guerra envioubetboomfinsbetboom1917 um grupo que visitou fábricas e arsenais militares e comprou material bélico.
O Brasil ainda enviou um grupobetboom10 aviadores para o Reino Unido e uma missão médica à França. Em Paris, a missão chefiada pelo deputado federal e médico NabucobetboomGouveia instalou um Hospital Brasileiro, que prestou assistência a feridosbetboomguerrabetboomnovembrobetboom1918 a julhobetboom1920 e foi definido como "modelo" pelas autoridades sanitárias da região. Transferido ao governo francês, o hoje denominado Hospital Vaugirard-Gabriel Pallez ostentabetboomseu jardim uma placa alusiva ao papel da "colônia brasileirabetboomParis" embetboomcriação (alémbetboomdoações privadas, o hospital foi criado e mantido sobretudo com fundos públicos brasileiros).
"Até a Primeira Guerra, o Brasil tinha experimentado uma modernização incompleta. No pós-guerra, o país passarábetboomessencialmente agrário a avançosbetboomvários setores, com espasmosbetboomindústria, reorganização militar ebetboomserviçosbetboomsaúde", avalia CristianobetboomBrum.
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