O desastrezmp betsulFlorença que pode servirzmp betsullição para preservação do patrimônio histórico do Brasil:zmp betsul
O trabalho desenvolvido ali levou à formaçãozmp betsulum refinado sistemazmp betsulrestaurozmp betsulobraszmp betsularte que se tornou referência mundial e marcou na história um dos momentos mais bonitoszmp betsulsolidariedade - para a preservação do acervo e limpeza da cidade - que envolveu 74 países, inclusive o Brasil.
De Florença, onde vive e leciona na Università degli Studi Firenze, a historiadora da arte italiana Cristina Acidini acompanhou com desalento o incêndio no Riozmp betsulJaneiro no início deste mês. Não faz muito tempo, ela havia visitado o local destruído. "Não há dúvidaszmp betsulque se tratazmp betsuluma verdadeira perda para toda a humanidade", lamentou.
Para Acidini, que foi diretora do polozmp betsulmuseuszmp betsulFlorença e atualmente preside a Academia da Arte do Desenho, a tragédia no Museu Nacional só se compara às destruições do patrimônio histórico vistaszmp betsulconflitos como a Segunda Guerra Mundial (1939-45) - que muito afetou a Itália - ou mesmo na atual guerra da Síria, que já destruiu maiszmp betsulduas dezenaszmp betsullocais declarados como patrimônio da humanidade. "Em temposzmp betsulpaz, nunca vi algo semelhante como o desastre no Rio", ressaltou.
Se há algo positivo no episódio, acrescenta ela, está a revisão imediata das condições dos demais museus e instituições culturais do Brasil para que, no futuro, novos desastres dessa magnitude não se repitam.
Na Itália, a enchentezmp betsulFlorença resultou na criaçãozmp betsulum código civil para a proteção do patrimônio históricozmp betsultodo o país e, uma década depois, na criação do Ministério dos Bens Culturais, responsável também pela áreazmp betsulcinema, arquivos e bibliotecas.
Na região da Toscana se criou ainda um planozmp betsulproteção ao centro histórico (um dos patrimônios listados pela Unesco) que envolve Corpozmp betsulBombeiros, policiais e a população civil, treinada para agirzmp betsulcasozmp betsulemergência.
"Muitos moradores foram capacitados para, ao primeiro alarme, estarem aptos a salvar as obraszmp betsularte", disse Giorgio Federici, engenheiro hidráulico que coordenou os trabalhoszmp betsuluma comissão formada na cidade sobre a enchente ocorrida há maiszmp betsulmeio século.
Além da prevenção contra incêndios e enchentes, o país também desenvolveu um plano antissísmico, já que é alvo frequentezmp betsulterremotos.
Pântano no berço do renascimento
No dia 4zmp betsulnovembrozmp betsul1966, 80 milhõeszmp betsulmetros cúbicoszmp betsulágua invadiram Florença após o rompimentozmp betsulum dique do rio Arno - por aqueles dias, chuvas torrenciais atingiram toda a Itália.
Alémzmp betsuldeixar dezenaszmp betsulmortos e milhareszmp betsuldesabrigados, a água tomou igrejas, galerias como a dos Ofícios, um dos mais antigos e famosos museus do mundo, que reúne a maior coleçãozmp betsulobras do Renascimento italiano, e instituições como a Biblioteca Nacional.
Pelo menos 1.500 obraszmp betsularte sofreram danos (muitas delas se perderam para sempre), assim como milhareszmp betsullivros, manuscritos, esculturas e pontes. Após a água ser drenada, o centro histórico da cidade parecia um grande pântano.
A redezmp betsulsolidariedade que se formouzmp betsulseguida reuniu gente do mundo inteiro que chegou a Florença para ajudar nazmp betsulreconstrução - sobretudo jovens, que passaram a ser chamadoszmp betsul"angeli del fango", ou anjos do barro.
De máquinas para drenar a água enviadas pela Holanda e Alemanha às bananas despachadas pela Somália, a Itália recebeu ajudazmp betsulpelo menos 74 países.
O Brasil, que fez parte da rede, contribuiu com doaçõeszmp betsuldinheiro do governo do Riozmp betsulJaneiro e com o enviozmp betsulnotáveis como o curadorzmp betsularte Deoclecio Redigzmp betsulCampos (que trabalhou por anos no Museu Vaticano), além da presençazmp betsuljovens estudantes que estavam à épocazmp betsulParis e foram se juntar ao mutirão na Toscana.
Segundo o centro que documentou os danos da enchente, cercazmp betsulmil quadros e afrescos já foram restaurados, alémzmp betsulmilhareszmp betsullivros - quase 52 anos depois, pelo menos 80 mil volumes ainda esperam para serem restaurados.
Uma das obras-primas danificadas só voltou a ser exibida ao público no finalzmp betsul2016. Trata-se do quadro A última ceia, pinturazmp betsulGiorgio Vasari datadazmp betsul1546 que passou à época maiszmp betsul12 horas debaixo d'água.
Uma das obras mais importantes do Renascimento italiano, a tela passou 40 anos num depósito e só foi recuperada graças ao financiamento da fundação americana Gettyzmp betsulparceria com a marcazmp betsulroupas Prada.
Ela voltou a ser exposta no seu lugarzmp betsulorigem, o antigo refeitório da basílicazmp betsulSanta Croce - agora com um moldura especial que faz com que ela seja alçada ao tetozmp betsulcasozmp betsulnovo alagamento.
Orçamento reduzido
Assim como o setor cultural brasileiro, a Itália sofre com a redução gradual do orçamento destinado à área.
Em 2017, segundo dados do Ministériozmp betsulBens Culturais, o valor disponível foi quase o mesmo do ano 2000 (cercazmp betsul2,1 bilhõeszmp betsuleuros anuais, após uma queda significativa na última década, consequência da crise econômica). A previsão orçamentária para este ano ézmp betsulleve melhora.
Um alento, por um lado, é a enormidade do patrimônio histórico italiano, o que permite diferentes fonteszmp betsulfinanciamentos -zmp betsultodo o país, são maiszmp betsul4 mil museus, bibliotecas, monumentos, etc.
Muitos são geridos pela Igreja Católica, caso por exemplo do Museu Vaticano e da Capela Sistina, marcos artísticoszmp betsulRoma, alémzmp betsuligrejas que abrigam obras-primas como Moisészmp betsulMichelangelo.
A participação do Vaticano na manutençãozmp betsulparte do patrimônio cultural, contudo, não significa progresso. No final do mês passado desabouzmp betsulRoma o teto da igreja San Giuseppe dei Falegnami, construída no século 16. A poucos passos do Fórum Romano, outro ponto bastante visitado por turistas na capital italiana, a igreja estava fechada na hora do desabamento - ninguém se feriu.
Há, ainda, fundos repassados ao país pela União Europeia. Um dos programas garantiu entre 2014 e 2020 pelo menos 490 milhõeszmp betsuleuros para as cinco províncias do sul da Itália, região historicamente menos desenvolvida e com grandes atrações como Pompeia.
Um dos problemas do país, segundo Giorgio Federici, é a formaçãozmp betsulpessoal que possa continuar a atuar na área da restauração e preservação do patrimônio histórico - ele diz que muitos profissionais foram aposentados compulsoriamente pelo Estado italiano.
"Um bom restaurador custa algum dinheiro, e não é simples formá-lo", conta.
Para Marco Ciatti, superintendente do Opificio delle Pietre Dure, instituto ligado ao Ministériozmp betsulBens Culturais que se dedica ao restaurozmp betsulobraszmp betsularte (e criado após a enchentezmp betsulFlorença), a enormidade do patrimônio histórico italiano, se por um lado cria oportunidadeszmp betsulgestão, por outro gera obstáculos para a preservação.
Ele diz que o órgão, que já colaborou na recuperaçãozmp betsulobraszmp betsulartezmp betsuloutros países, poderia ajudar a amenizar o luto cultural brasileiro. "Mas isso dependezmp betsuluma ação entre os dois governos, o que ainda não foi feito", ressalta.
Um caminho, que vem sendo implementado na Itália desde 2014, é o financiamento do restauro e preservaçãozmp betsulobras ou monumentos por partezmp betsulempresaszmp betsultrocazmp betsulbenefícios fiscais. Nesses casos, a lista das intervenções necessárias é elaborada pelo Estado italiano.
Nos últimos quatro anos, foram maiszmp betsul1.300 financiamentos privados, que somaram maiszmp betsul200 milhõeszmp betsuleuros pagos por cercazmp betsul6.300 empresas ou pessoas físicas.
Um dos financiamentos restaurou e modernizou a áreazmp betsulvisitação do Coliseu, um dos mais movimentados pontos turísticos do país. Bancado pela Tod's, empresa italiana que produz calçados e outros acessórioszmp betsulcouro, a reforma custou 25 milhõeszmp betsuleuros.