O meteorito que vale R$ 3 milhões e está perdido nos escombros do Museu Nacional:ios 17 6 beta
Desde o incêndio, Zucolotto está impedidaios 17 6 betaentrar no prédio, ora pelos Bombeiros, ora pela Polícia Federal ou, mais recentemente, pela prefeitura da Universidade Federal do Rioios 17 6 betaJaneiro. Ela quer entrar antes que comecem os trabalhosios 17 6 betareparos e sustentação das estruturas. "Existe o riscoios 17 6 betaroubarem? Existe. Sei que na sala não dá para entrar, pois o andarios 17 6 betacima veio abaixo. Mas quando entrarem para escorar as paredes? Alguém pode resolver levar uma lembrancinha. Ou mesmo descartar achando que é pedaço do edifício", desespera-se.
A rocha
O Angra dos Reis leva esse nome pois foi avistado e recuperado na cidade do litoral fluminenseios 17 6 beta1869. Quem o vê, não imagina estar dianteios 17 6 betaum mineral especial. A rocha é disforme, com a superfície irregular e porosa.
O bólido foi o primeiroios 17 6 betauma classeios 17 6 betaviajantes espaciais até hoje muito rara. Por maisios 17 6 betaum século, foi o único exemplarios 17 6 betaque se tinha ciência. Até que, no fim da décadaios 17 6 beta1990, outras rochas passaram a ser descobertas ou reclassificadas como angritos, nomenclatura dadaios 17 6 betareferência ao Angra dos Reis. Segundo a The Meteoritical Society, existem apenas 28 conhecidos no mundo.
Os angritos são compostos por minerais forjados apenas nas temperaturas altíssimas do núcleoios 17 6 betaplanetas. São as rochas magmáticas mais antigas que conhecemos, formadas quando o sistema solar ainda era uma nuvemios 17 6 betagás e poeira.
Estima-se que o meteorito do Museu Nacional tenha 4,56 bilhõesios 17 6 betaanos. Para geólogos e astrônomos, a pequena rocha é um livro cheioios 17 6 betapistas sobre a origem do Sol e dos planetas.
Recentemente, o Angra foi analisado por Huapei Wang, do MIT, nos EUA, para investigar o comportamento do campo magnético que existia no discoios 17 6 betagás e poeira do sistema solar. Medindo minúsculos campos magnéticos preservadosios 17 6 betaangritos, é possível calcular o comportamento dessa nuvem primordial. O estudo foi publicado na revista Science, no inícioios 17 6 beta2017.
"O Angra tem algumas características que o tornam especial, um exemplar único", comenta Elizabeth. "Ele tem uma composição rara, quase que inteiramenteios 17 6 betaum mineral incomum, a fassaita. Foi também o único angrito avistado, ou seja, cuja queda foi testemunhada. Os outros foram achados."
A queda
Sua saga na Terra começa no finalios 17 6 betajaneiroios 17 6 beta1869. Foi avistado pelo médico Joaquim Carlos Travassos, que passava num boteios 17 6 betafrente à Praia Grande,ios 17 6 betaAngra.
O objeto envoltoios 17 6 betafumaça caiu no mar diante da Igreja do Bonfim. Travassos mandou que os escravos que o acompanhavam mergulhassem. Dois pedaços foram resgatados. Um deles, com meio quilo, foi confiado ao Juizios 17 6 betaDireitoios 17 6 betaAngra dos Reis e, mais tarde, doado ao Museu Nacional.
Em maisios 17 6 betaum séculoios 17 6 betapesquisas, esse fragmento foi divididoios 17 6 betapequenas porções. A maior é a que está enterrada nos escombros do museu. Outras frações se perderam nos experimentos, mas ainda são conhecidas frações muito menores do Angra, com no máximo 2,5 gramas, espalhadasios 17 6 betacoleções eios 17 6 betaposseios 17 6 betapesquisadores.
Pelos relatos existentes, Travassos presenteou o sogro com o segundo fragmento resgatado do mar, que teria cercaios 17 6 beta1 kg. Desde então, o rastro dessa rocha se perdeu. Os pesquisadores suspeitam,ios 17 6 betarazão das características dos encaixes das pedras originais, que haja uma terceira, possivelmente ainda submersa no marios 17 6 betaAngra.
Os pesquisadores acreditam que o meteorito que caiu do céu deveria ter 1,5 kg. Nos últimos anos, algumas expediçõesios 17 6 betaastrônomos e geólogos tentaram, sem sucesso, localizá-la e conscientizar os moradores da existência do pequeno tesouro.
Agora, todos os pedaços significativos do Angra dos Reis estão desaparecidos.
Zucolotto, a guardiã do meteorito no Museu Nacional, já seguiu diversas pistas do segundo fragmento. Aios 17 6 betaúltima aposta é a Igreja Católica. "Em 1888, coincidentemente o mesmo anoios 17 6 betaque a rocha teria sido doada ao Museu Nacional, deramios 17 6 betapresente ao papa Leão 13 um meteorito chamado Angra dos Reis."
Segundo ela, há realmente uma rocha com esse nomeios 17 6 betaum museu na residênciaios 17 6 betaveraneio do papa,ios 17 6 betaCastel Gandolfo, pertoios 17 6 betaRoma. Mas o Vaticano pode ter sido enganado. O bólido que está lá não é o Angra dos Reis. Nem angrito é, mas sim um meteorito metálicoios 17 6 beta13 kg. Não é tão relevante, mas é mais vistoso que o Angra.
"Na horaios 17 6 betapresentear o papa, alguém pode ter falado 'vamos dar esse outro que é mais bonito'. E o Angra teria ficado aqui no Brasil, no clero", especula Elizabeth. "Mas pode ter ido mesmo ao Vaticano e lá trocado, pois antesios 17 6 betair para o acervo do museu, passou por outros locais." A astrônoma não tem recursos para seguir a investigação, mas essa não éios 17 6 betamaior preocupação no momento.
O roubo
Não é a primeira vez que a curadora do Setorios 17 6 betaMeteorítica do Museu Nacional sente o frio na barriga pela ausência do Angra dos Reis. Em 1997, dois mercadoresios 17 6 betameteoritos americanos quase furtaram a rocha violeta.
Edward Farrell e Frederick Marselli foram ao museu interessadosios 17 6 betacomprar ou trocar rochas, algo comum no meio - parte da coleção do Museu Nacional foi formada na base da troca. Foram recebidos por outro professor, que não conhecia bem o acervo. Elizabeth, que dominava a coleção, não estava. Os dois manipularam diversos meteoritos, mas foram embora sem fazer negócio.
Dois dias depois voltaram, ainda fingindo interesse. Mas dessa vez Elizabeth foi encontrá-los. A astrônoma ainda deu carona aos farsantes para o aeroporto do Galeão. Desconfiada com o silêncio dos americanos, assim que os deixou ela voltou ao museu.
Farrell e Marselli haviam trocado o Angra dos Reis e mais dois meteoritos por outras rochas sem valor. Ela correu para o aeroporto e, com ajuda da Polícia Federal, recuperou as pedras.
"Não seria difícil vender o Angra por uma grande soma. Naquela época ele devia valer muito mais, pois era único. Só dois anos depois, dois meteoritos achados 20 anos antes na Antártida foram reclassificados como angritos", conta Elizabeth.
O cofre
Vinte e um anos depois, diariamente a guardiã do Angra dos Reis sai angustiadaios 17 6 betacasa rumo à Quinta da Boa Vista na esperançaios 17 6 betapoder entrar no palácioios 17 6 betaruínas. Também responde a e-mailsios 17 6 betapesquisadoresios 17 6 betatodo o mundo que chegam com a mesma pergunta: "Já achou o Angra?"
No domingo do incêndio, por pouco não conseguiu resgatá-lo. As chamas demoraram a chegar na parteios 17 6 betatrás do prédio. Mas os bombeiros não a deixavam entrar. "Quando o bombeiro liberou o acesso, era tarde, já estava pegando fogo no andarios 17 6 betacima", relembra. "Mas fiquei com medo, pensei na minha vida e desisti. Cinco minutos depois, desabou tudo." Ela conseguiu resgatar 30 dos 33 bólidos que estavamios 17 6 betaexposição.
Até pouco tempo atrás, Elizabeth era a única que sabia onde o Angra dos Reis está escondido, numa caixa que não chega a ser um cofre. "Eu sei onde ele está, sei a posição do armário, mas não tem como tirar os escombros que caíramios 17 6 betacima."
Desesperada, certo dia passou mal na frente do museu. Temeu um ataque cardíaco. Não era, mas decidiu confidenciar a outras pessoas a localização do seu tesouro. Agora, eles e os escombros do palácio são os guardiões do único grande pedaço conhecido do Angra dos Reis.