'Carnismo': por que amamos cães, comemos porco e vestimos vacas, segundo esta psicóloga:
Os principais motivos pelos quais as pessoas viram veganas são a crueldade a que são submetidos os bichos ao serem abatidos para o consumo, o impacto da criaçãogado no meio ambiente e questõessaúde.
No entanto, há argumentos contra o veganismo. A proteína animal tem elementos necessários para o bom funcionamento do corpo humano. Sua ausência deve ser substituída por outros alimentos, um equilíbrio nem sempre fácilmanter. "Não é um tudo ou nada, não precisa ser perfeccionista. Tente ser o mais vegano que puder, colocar mais alimentos que não têm origem animal nadieta", diz Joy.
Ela própria reconhece que abandonar a proteína animal não é uma opção para todos, por motivos econômicos e geográfico. "Mas cada vez mais gente pode, então, para essas pessoas, comer bichos é uma opção. Nos EUA eBerlim, por exemplo, é muito fácil comer comida vegana. Sugiro que as pessoas sejam o mais veganas que puderem. Não quer dizer comer alface para sempre", diz ela.
Também há ressalvas sobre o impacto ambiental. A demanda por quinoa, uma boa alternativa à proteína animal, plantada nos Andes, aumentou tanto nos últimos anos que agricultores plantavam e replantavam-na muito rápido, o que faz o solo perder fertilidade. Algo parecido acontece com a soja, cuja plantação requer desmatamento na Amazônia.
Ainda assim, estudo recente da UniversidadeOxford, na Inglaterra, concluiu que diminuir o consumocarne e laticínios é a melhor formareduzir seu impacto individual no meio ambiente. O estudo diz que carne e laticínios respondem por 18% das calorias que consumimos e 37% da proteína, mas usam 83% da terra voltada para a agricultura e produzem 60% das emissõesgasesefeito estufa. Os cientistas também concluíram que mesmo carnes e laticínios que provocam baixo impacto ambiental ainda assim são menos sustentáveis do que a plantaçãolegumes e cereais.
A psicologia do carnismo
"O carnismo usa mecanismosdefesa que distorcem nossa percepção e nossos sentimentos, nos desconecta da nossa empatia natural pelos bichos,modo que agimos contra nossos valores morais sem perceber", diz Joy.
Ela cita mecanismos psicológicosdistanciamento. "Não sentimos o nojo, a tristeza que sentiríamos se víssemos o animal ser morto. Um exemplo desse mecanismo é a desindividualização: vemos bichos criados para serem comidos como se fossem todos iguais e não tivessem qualquer individualidade ou personalidade. 'Um porco é um porco e os porcos são todos iguais', pensamos. Isso não é verdade. É tão inverdade quanto dizer que cães são todos iguais. Mas se não reconhecermos que eles têm preferências, objetificá-los, vendo-os como coisas, isso tudo torna mais fácil nos distanciarmos do sofrimento deles. É uma ideologia invisível. Você vê o mundo por essa lente."
Para ela, o perigo mora no fatoque o modovida não vegano é visto como natural - pela mídia, pela cultura, pela legislação, pelo estudo da nutrição. Esses mecanismos mentais vêmnossos antepassados, diz ela.
"O ser humano tem uma tendência a compartimentalizar as coisas. Era como sobrevivíamos no passado. Tínhamos que determinar rapidamente se alguém era perigoso ou não, se fazia ou não parte do nosso grupo. Se você é parecido comigo e portanto é alguém seguro, você tem permissão para estar no meu círculopreocupação moral. Ou você é diferente e é percebido como inferior. Há menos empatia por pessoas e bichos que não são membros do nosso grupo", diz a psicóloga.