Ex-funcionários do Facebook e do Google criam campanha para proteger crianças do vícioredes sociais:
"As empresastecnologia estão conduzindo um experimentomassa etempo real com nossas crianças", disse o CEO e fundador da Common Sense, James Steyer, no lançamento da campanha, batizadaThe Truth About Tech ("A Verdade Sobre a Tecnologia").
"Seu modelonegócios geralmente as estimula a fazer o possível para capturar a atenção e dados, deixando para se preocupar com as consequências depois, mesmo que essas consequências possam às vezes prejudicar o desenvolvimento social, emocional e cognitivo das crianças", afirma Steyer, ressaltando a necessidaderesponsabilizar essas companhias por suas ações.
Riscos
Segundo especialistas da Common Sense e do CHT, entre os riscos associados ao víciotecnologia digital estão distúrbiosatenção, perdaprodutividade, dificuldadepensamento crítico, depressão, estresse, ansiedade e pensamentos suicidas.
Dados da Common Sense indicam que 98% das crianças americanas com menosoito anosidade têm acesso a um dispositivo móvelcasa, por meio do qual podem estar expostas a mensagensódio, notícias falsas e aplicativos projetados para mantê-las conectadas pelo maior tempo possível.
Em pesquisa nacional realizada2016, metade dos adolescentes entrevistados disseram ser viciados nesses dispositivos.
"Nos últimos dois ou três anos, percebemos que as plataformas sociais estão invadindo as vidasnossas famílias enossas crianças", disse à BBC Brasil a porta-voz da Common Sense, Maria Alvarez.
"Nós entendemos que a tecnologia veio para ficar e vai ter um papel cada vez maior na vida das pessoas. Queremos garantir que os jovens cresçam tirando proveito dessas ferramentas poderosas, masmaneira segura", ressalta.
Em resposta à campanha, o Facebook declarou que é "uma parte valiosa da vidamuitas pessoas".
"Nós levamos nossa responsabilidade a sério e já tomamos medidas, incluindo mudanças recentes no News Feed e controles parentais incluídos no Messenger Kids, que é livreanúncios", disse Antigone Davis, diretorasegurança global do Facebook. "Estamos comprometidosfazer parte desse diálogo."
Procurado pela BBC Brasil, o Google não se posicionou até a conclusão desta reportagem.
Preocupações
O CHT foi fundado por Tristan Harris, que era responsável por questões éticas no Google, e inclui nomes como Justin Rosenstein, o criador do botão"curtir" no Facebook, Lynn Fox, ex-executivacomunicações da Apple e do Google, e Sandy Parakilas, ex-gerenteoperações do Facebook.
Em seu manifesto, o CHT diz que esse grupoprofissionais entende "intimamente a cultura, incentivosnegócios, técnicasdesign e estruturas organizacionais que guiam como a tecnologia sequestra nossas mentes".
A campanha é lançadameio à discussão sobre o impacto que notícias falsas disseminadas pelas redes sociais tiveram nas eleições americanas2016 eum momentoque vários nomes da indústriatecnologia vêm manifestando preocupação sobre os efeitos negativosseus produtos.
No ano passado, um ex-executivo do Facebook, Chamath Palihapitiya, chamou a atenção ao declarar que a rede social estava destruindo os fundamentos da sociedade. O CEO da Apple, Tim Cook, confessou recentemente que não gostaria que seu sobrinho usasse redes sociais.
Em janeiro, maiscem pediatras e educadores enviaram carta aberta ao Facebook pedindo o fim do Messenger Kids, serviçomensagens específico para crianças.
Estratégias
Diante desse cenário, a campanha pretende engajar especialistas, investidores e executivos da indústriabuscareformas que reduzam o potencial nocivoseus produtos. O CHT está desenvolvendo um guia com "padrõesdesign ético" para orientar engenheiros e designers.
Os organizadores pretendem fazer lobby por leis que restrinjam o poder e exijam mais transparência por parte das grandes empresastecnologia e que criem melhores proteções para os consumidores.
Outra iniciativa será uma ampla pesquisa sobre a magnitude do víciotecnologia digital entre jovens, que pretende avaliar as consequências físicas e mentais e os impactoscurto e longo prazo.
Nas escolas, as ações incluem material para ajudar professores a discutir com seus alunos o víciotecnologia digital e as estratégias usadas pelas empresas para prender a atenção dos usuários.
"Queremos educar os jovens sobre como as empresastecnologia atuam, para que eles entendam por que se sentem tão viciadosseus telefones", observa Alvarez.
"Sabemos que não vai ser fácil, mas é encorajador ver que há um número crescentepessoas-chave na indústria falando sobre isso."