'Redes sociais reduzem noçãobetpix365 classicavergonha, diálogo e empatia', diz psicoterapeuta americano:betpix365 classica

Postbetpix365 classicaBruno Gagliasso sobre adoção da filha, alvobetpix365 classicacomentários racistas nas redes sociais
Legenda da foto, Exemplo do que especialista chamabetpix365 classica"novo tipobetpix365 classicavergonha": Titi,betpix365 classica4 anos, filhabetpix365 classicaatores globais, foi alvobetpix365 classicacomentários racistas no Instagram (Crédito: Reprodução/Instagram)

"Mais tarde", segundo ele, a filha vai ter noção do que aconteceu.

"Quando der um Google, ela vai saber que os pais dela estiveram do lado dela, que os amigos estiveram do lado dela. Vai saber que eu acho que a sociedade inteira esteve do lado dela", acrescentou, afirmando que a agressora "precisa ser presa".

A polícia abriu inquérito e deve intimá-la a prestar depoimento.

Vergonha

O caso exemplifica o que Aaron Balick, psicoterapeuta, palestrante e autor americano baseadobetpix365 classicaLondres, chamabetpix365 classica"novo tipobetpix365 classicavergonha" ─ que ganha força no ambiente digital e também é vistobetpix365 classicasituações como ridicularizar alguém publicamente.

"A resposta para o porquêbetpix365 classicaesse tipobetpix365 classicacomportamento estar ficando mais comum é curta: as redes sociais reduzem a noçãobetpix365 classicavergonha", afirma elebetpix365 classicaentrevista à BBC Brasil, se referindo ao fatobetpix365 classicamuitos usuários se sentirem com o poderbetpix365 classicapostar o que quiserem, como quiserem, doa a quem doer.

"Esses usuários geralmente estão pensando mais nas curtidas que a postagem vai receber, sem ponderar como essa postagem pode fazer os outros se sentirem".

Psicoterapeuta e autor norte-americano Aaron Balick
Legenda da foto, Para Aaron Balick, muitas vezes os usuários desconsideram como suas postagens podem fazer os outros se sentirem (Foto: Cedida)

As forças que movem as pessoas online são explicadas no livro The Psychodynamics of Social Networking: connected-up instantaneous culture and the self ("A psicodinâmica da rede social: cultura instantânea conectada e o eu",betpix365 classicatradução livre), escrito originalmentebetpix365 classicainglês e ainda sem previsãobetpix365 classicapublicação no Brasil.

Segundo Balick, é possível envergonhar alguém sem ter a intenção, mas também fazer issobetpix365 classicaforma proposital e, nesse caso, "é muito fácil expor a vítimabetpix365 classicauma escala imensa", tendobetpix365 classicavista o tamanho do público que servebetpix365 classicatestemunha.

"As redes sociais, ajudadas e instigadas pelas tecnologias móveis, geralmente ignoram nossos sistemasbetpix365 classicaautocrítica e nos dão uma sensaçãobetpix365 classicaonipotência que pode ter sérias consequências na esfera social", alerta.

Um bom exemplo disso, diz ele, ocorre quando internautas fotografam estranhos, sem consentimento, para postar nas redes sociais.

A partir daí, imagensbetpix365 classicaalguém comendo no metrô,betpix365 classicapessoas que os outros consideram estar mal vestidas e atébetpix365 classica"pessoas atraentes" acabam brotandobetpix365 classicagrupos virtuais ebetpix365 classicameio às timelines - sujeitas a julgamentosbetpix365 classicamassa.

Imagem mostra notificações nas redes sociais

Crédito, Getty Images / SonerCdem

Legenda da foto, Especialista analisa que busca por curtidas e "validação" nas redes sociais traz riscos e pode afetar outras pessoas

"Sentimentos ignorados"

"O objetivo do fotógrafo é registrar a imagem e postar, por curtidas e aprovação. Os sentimentos das pessoas que foram fotografadas são comumente ignorados", diz Balick. "Isso significa que estamos mais propensos a objetificar os outros e a pôr nossas próprias necessidadesbetpix365 classicavalidação à frente da necessidadebetpix365 classicaprivacidade deles".

A noçãobetpix365 classicavergonha reduzida nas redes sociais é perigosa, segundo o psicoterapeuta, porque torna todos mais vulneráveis ─ não só os alvos da postagem, mas também quem posta.

"As redes sociais operam como uma extensão do nosso mundo social. Nossos 'eus' são estendidos online e nos deixam vulneráveis à percepção dos outrosbetpix365 classicaum jeito que nunca vimos", opina Balick.

"Além disso, há uma escalabetpix365 classicaexposição, isto é, muitas pessoas podem testemunhar o evento que causa vergonha, junto ao fatobetpix365 classicaque qualquer evento é propenso a ficar eternamente disponível - o que pode ser fatal para a reputaçãobetpix365 classicaalguém".

Mesmobetpix365 classicauma rede social como o Facebook, que ele avalia como "mais amigável", as pessoas podem estar inclinadas a serem mais rudes, porque não conseguem o retorno emocional normalbetpix365 classicaquem está lendo a mensagem ou assistindo do outro lado da tela.

Imagem mostra íconesbetpix365 classicadiferentes redes sociais

Crédito, Getty Images / alexsl

Legenda da foto, Diferentes redes sociais evocam diferentes aspectos psicológicos dos usuários e isso pode servirbetpix365 classicaestímulo a comportamentos "anti-sociais"

Desinibição online: quando o usuário perde os freios

As redes sociais evocam diferentes aspectos psicológicos do usuário e podem causar o chamado "efeito desinibição online".

Na visãobetpix365 classicaBalick, isso significa que, na internet, as pessoas ficam mais encorajadas a agirbetpix365 classicaforma antissocial, comportamento que muitas vezes evitariam se estivessem cara a cara com o outro.

O freio que impede a adoçãobetpix365 classicacertas posturas "na vida real" muitas vezes não funciona no ambiente virtual justamente por causa desse "efeito", diz ele.

"Esse freio vem da nossa capacidade crítica, ou do que os psicólogos chamambetpix365 classicafuncionamento executivo. A função executiva pode ser contornada ou evitada onlinebetpix365 classicadiversas formas". A principal que ele cita é o efeitobetpix365 classicadesinibição online.

Imagem mostra homem usando notebook

Crédito, Getty Images / Simotion

Legenda da foto, Se esconder por trásbetpix365 classicaperfis fakes ajuda a driblar normas sociais e muitas vezes desperta o lado mais obscuro do usuário, diz especialista

Fakes

A situação fica ainda pior quando os posts são disparados por perfis falsos, que "muitas vezes apelam para o lado mais obscuro" do usuário.

"Como ele não está identificado, os aspectos mais agressivos ou antissociaisbetpix365 classicasua personalidade podem ser ativados, o que pode estimular bullying, trollagem, ou geralmente apenas comportamentos desagradáveis", diz.

Ao se esconder por trásbetpix365 classicaum "fake", o indivíduo consegue contornar mais facilmente normas sociais, evitando a crítica direta dos outros. É como se fugisse das consequências por um mau comportamento.

Se o que vai prevalecer na rede é o lado "social ou o antissocial" da pessoa vai depender da plataforma que está usando e, claro,betpix365 classicacomo escolhe usá-la com base nabetpix365 classicaprópria psicologia, diz Balick.

Essencialmente, segundo ele, as pessoas buscam nas redes sociais conexão e autoexpressãobetpix365 classicaum contexto social, mas não conseguem, com isso, substituir o que a vida off-line proporciona.

"Redes sociais são capazesbetpix365 classicaoferecer uma forma disso, mas não podem substituir o tipobetpix365 classicaautoexpressão e conexão recebidos via ambientes sociais off-line", reforça, frisando que enquanto a rede social é usada apenas como extensão da rede social off-line ela pode ser um benefício adicional. "O problema acontece quando ela vira substituta".

Suspeitas e acusações online

Casosbetpix365 classicaracismo - não só o relacionado à Titi - e suspeitasbetpix365 classicaabuso sexual envolvendo pessoas famosas viraram "trending topics" nos últimos meses, ou seja, ficaram entre os assuntos mais comentados nas redes sociais.

Entre acusadores e defensores, Balick defende uma postura mais ponderada por parte dos internautas e aponta potenciais riscos nessa espéciebetpix365 classicatribunal online.

"Devemos viverbetpix365 classicauma sociedadebetpix365 classicaque somos inocentes até que se prove o contrário e, hoje, a reputaçãobetpix365 classicaalguém pode ser arruinada por um único tuíte, seja ou não esse tuíte verdade e seja ou não o indivíduo absolvido após o fato. Pode ser realmente que aqueles acusados e publicamente humilhados tenham cometido os crimes ou pode ser que sejam inocentes", diz ele.

Imagem mostra internauta acuada por reação negativabetpix365 classicaoutras pessoas

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Psicoterapeuta chama atenção para casosbetpix365 classicahumilhação online e também para quando as redes sociais viram uma espéciebetpix365 classicatribunal

"Contágio perigoso"

O especialista alerta sobre os riscos do "contágio social e emocional" - que é como a reação a esse tipobetpix365 classicacaso comumente ganha adeptos e se espalha, o que ele classifica como "perigoso".

"Virar uma culturabetpix365 classicamultidão reativa -betpix365 classicaque as pessoas se engajam para exigir punição, por exemplo - é assustador: Isso costumava levar as pessoas a lincharem e a cortarem cabeças (no passado)", analisa.

"Para ser claro, a questão não é absolver maus comportamentos. No entanto, devemos ser muito cuidadososbetpix365 classicaencorajar uma sociedade baseadabetpix365 classicaregras populares e humilhação pública".

Um outro pontobetpix365 classica"perigo" que levanta é que, hoje, esse tipobetpix365 classicareação se expressabetpix365 classicacasos que envolvem ações ilegais e nocivas.

"Mas e se isso mudar?", questiona. "E se as pessoas começam a ficar envergonhadas pelas escolhas privadas que estão fazendo? O meu medo é que esse patrulhamento social possa sair muito rapidamente do controle".

Para o psicoterapeuta, históriasbetpix365 classicaindivíduos sendo mal interpretados, tiradosbetpix365 classicacontexto e expostos nas redes sociais por causa disso são vistas todos os dias e usadas, por muitos, para obtençãobetpix365 classicaganhos pessoais e até políticos.

"Em uma erabetpix365 classicaque a capacidadebetpix365 classicaconcentração das pessoas é curta, e ainda maisbetpix365 classicaque as pessoas não estão dispostas a investigar mais fundo para encontrar a verdade ou contextos mais profundos, as pessoas podem ser condenadas ao bel prazerbetpix365 classicaum tuíte", reforça.

Psicoterapeura Aaron Balick
Legenda da foto, Aaron Balick, psicoterapeuta: Redes sociais abrem espaço para polarização, mas há possibilidadesbetpix365 classicamelhorar esse cenário (Crédito: Javier / Cedida)

betpix365 classica Menos empáticos e mais polarizados

Pela ausênciabetpix365 classicacomplexidade nos relacionamentos ebetpix365 classicaprofundidade emocional, segundo Balick, as redes sociais tendem a reduzir a empatia e o diálogo, acentuando a polarização entre os usuários.

"As redes sociais certamente não são desprovidasbetpix365 classicaempatia, masbetpix365 classicauma escala culturalbetpix365 classicamassa, elas parecem estar mais inclinadas ao bairrismo e isso acaba reduzindo,betpix365 classicavezbetpix365 classicaampliar, o diálogo atravésbetpix365 classicadivisões ideológicas".

Essas divisões, observa ele, são cada vez mais aparentes através das redes e ampliadas por elas. Isso ocorre "porque é fácil tomar partido sem se envolver na nuancebetpix365 classicaum argumento".

"O mundo se dividebetpix365 classicabom e mau e a nuance se perde. Em encontros cara a cara isso é mais difícilbetpix365 classicamanter isso porque o diálogo atenua o pensamento polarizado simplista ao permitir que vejamos a humanidade no outro", diz.

Isso não significa, porém, que seja impossível encorajar mais pensamentos empáticos nesse meio e os desenvolvedores desses sites teriam papel importante nesse sentido.

Imagem mostra reações com emojis do Facebook
Legenda da foto, Adaptaçãobetpix365 classicabotão "curtir", que diversificou reações no Facebook, é considerada positiva, mas outras são vistas como necessárias, diz Balick

Adaptações

O caminho que aponta seria a criaçãobetpix365 classicaferramentas que permitam mais diálogo, envolvimento, alémbetpix365 classicamodosbetpix365 classicaser e pensar mais complexos.

"Eu acho que há a possibilidadebetpix365 classicaintegrar essas mudanças a plataformas que já existem. Tome como exemplo o botãobetpix365 classicacurtir do Facebook. Por anos ele foi a única opção, mas agora há variações que expressam surpresa, raiva, tristeza e etc. É uma pequena mudança, mas ela admite outra camadabetpix365 classicacomplexidade", diz Balick.

Outra adaptação possível, exemplifica ele, seria quando "um valor político" fosse consistentemente apresentado no perfil do usuário o Facebook sugerir algo como "você gostariabetpix365 classicaler sobre uma visão diferente?".

"Tipos diferentesbetpix365 classicainterações também poderiam ser encorajados entre indivíduos diferentes. Por exemplo, nos Estados Unidos, encorajar pessoasbetpix365 classicaposição conservadora a se envolverem com pessoasbetpix365 classicavisão liberal; no Reino Unido, fazer isso para pessoas anti-Brexit falarem com pessoas pró-Brexit, oubetpix365 classicaIsrael/Palestina para israelenses falarem com palestinos".

Dada a crescente polarização entre ideologias políticas, ele diz considerar que "ser mais empático é fundamental".

"Como temos visto, as redes sociais têm sido um pouco boas demaisbetpix365 classicaisolar pessoasbetpix365 classicaseus próprios círculos e alimentá-las com notícias (reais e falsas) para reforçar suas posições", diz.

"Mas concessões, compreensão e empatia são cruciaisbetpix365 classicadiversas sociedades e nós precisamos educar nossas tecnologias rapidamente para lidar com isso", conclui.