Há 50 anos, o apartheid usou como propaganda o primeiro transplanteentrar novibetcoração do mundo:entrar novibet
Atualmente com 55 anos, Hartle cresceu durante o apartheid e foi classificado conforme a terminologiaentrar novibetsegregação racial existente na época como pessoa "de cor".
Ele se considera negro. Sob o regime racista que prevaleceu no país entre 1948 e 1991, isso significava restriçõesentrar novibetacesso a empregos, moradia, escolas e até a algumas praias.
Até 1985, casamentos inter-raciais eram proibidos. Nos últimos meses, Hartle publicou artigos e deu palestras para estimular o debate acerca das realizaçõesentrar novibetBarnard. Ele até contatou a Universidadeentrar novibetCape Town - que é dona do hospital Groote Schuur- para perguntar quais seriam os planos para a comemoração do aniversárioentrar novibet50 anos do primeiro transplante.
"Dr. Barnard era um cirurgião brilhante e seu reconhecimento profissional não deve ser questionado. Mas suas realizações foram usadas como propaganda pelo apartheid. A universidade me disse que eles não querem politizar o eventoentrar novibetcelebração."
entrar novibet Avanço da medicina
O transplante feito por Barnard foi uma grande conquista da medicina e um triunfo importante para a África do Sul, já que era esperado que médicos norte-americanos fizessem a primeira cirurgia do tipo.
Pesquisadores dos Estados Unidos, como Norman Shumway, já haviam testado técnicasentrar novibettransplanteentrar novibetcachorros, quando Barnard tomou a dianteira e fez a primeira operaçãoentrar novibetum ser humano.
O paciente era Louis Washkansky, um comercianteentrar novibet54. A operação durou cinco horas e envolveu um timeentrar novibet30 pessoas. O médico usou o coraçãoentrar novibetDenise Darvall, uma jovementrar novibet25 anos que foi diagnosticada com morte cerebral após sofrer um acidenteentrar novibetcarro.
Washkansky sobreviveu por 18 dias antesentrar novibetmorrerentrar novibetpneumonia- efeito colateral das drogas imunodepressivas que tomou para mitigar os riscosentrar novibetrejeição do novo coração.
Mesmo assim, a cirurgia representou ao governo sul-africano uma oportunidadeentrar novibetpropaganda positiva, num momentoentrar novibetque o país enfrentava duras críticas por violações aos direitos humanos, devido ao regimeentrar novibetdiscriminação institucionalizada contra negros.
No livro, "Cada Segundo Conta: A Extraordinária Corrida pelo Primeiro Transplanteentrar novibetCoração Humano", publicadoentrar novibet2006, o escritor sul-africano Donald McRae destaca que, minutos após ser informado do transplante,entrar novibet3entrar novibetdezembroentrar novibet1967, o primeiro-ministro John Vorster escreveu um memorando interno ao seu gabinete.
"Nós podemos associar esse momento histórico da medicina a uma imagem positiva do país, após toda essa propaganda contrária a nós pelo mundo. Nós devemos parabenizar e encorajar o professor Christiaan Barnard", escreveu Vorster.
O primeiro-ministro prontamente convidou o cirurgião a um jantar privado, na residência oficialentrar novibetCape Town. Posteriormente, esse apoio se traduziuentrar novibetfundos do governo para que Barnard viajasse a vários países.
Essa narrativa é corroborada por imagens, por exemplo,entrar novibetBarnard ao ladoentrar novibetPuk Botha, o ex-embaixador da África do Sul nas Nações Unidas, numa conferência no prédio da ONUentrar novibetNova York, nos anos 1970.
O próprio Barnard escreveu, num livroentrar novibetmemórias publicadoentrar novibet1993, que "assim como outros, eu fiz apenas o suficiente para acalmar a minha consciência, mas não o suficiente para não causar problemas".
"Sempre que eu podia, eu me pronunciava contra o apartheid, mas o que realmente fizemos para por fim ao governo sul-africano?", ele escreveu.
Visões contrárias ao apartheid
Mas Marina Joubert, uma pesquisadoraentrar novibetciência da comunicação, na Universidade Stellenbosch, e autoraentrar novibetlivros sobre a história do primeiro transplanteentrar novibetcoração, acredita que é muito simplista categorizar Barnard como um "garoto propaganda" do regime.
Ela menciona, por exemplo, o fatoentrar novibetBarnard ter crescido entre pessoas mestiças, graças aos trabalhos missionários do pai. Na verdade, ele e seu irmão, Marius, eram alvoentrar novibetbullying por outras crianças por causa da insistência do pai Adam Barnardentrar novibetcelebrar missas para congregações interraciais.
Os dois irmãos mencionaram terem presenciado adultos brancos se recusando a cumprimentar o pai deles com apertoentrar novibetmão.
"O feito médicoentrar novibetBarnard foi um golpeentrar novibetpropaganda e o governo aproveitou a oportunidade para melhorar a imagem da África do Sul pelo mundo. Mas Barnard nem sempre andava na linha e suas visões anti-apartheid deixavam os políticos furiosos", diz Joubert.
"A insistência deleentrar novibetter uma alaentrar novibettratamento intensivo sem segregação, para seus pacientes cardíacos brancos e negros, provocou conflitos com seus superiores no hospital Groote Schuur."
A professora explica que,entrar novibet1967, a políticaentrar novibetsegregação da África do Sulentrar novibetcategorias raciais se estendia ao sistemaentrar novibetsaúde.
Mas Barnard foi ajudado pelo regime do apartheid a vencer a corrida pelo primeiro transplante?
De acordo com Hartle e outros, o governo o ajudou graças ao regime legal existente, que protegia o cirurgião das consequênciasentrar novibeteventuais fracassos ou complicações na operação.
Vários relatos sobre a história do transplanteentrar novibetcoração apontam que médicos norte-americanos estavam bem pertoentrar novibetrealizar a cirurgia, mas eram desestimulados pela possibilidadeentrar novibetprocessos judiciais custosos.
Retirar o coração funcionandoentrar novibetuma pessoa que teve morte cerebral declarada poderia render um processo por assassinato nos Estados Unidos.
"As leis na África do Sul eram muito mais flexíveis no tocante à definição da morte", diz Hartle.
No livro, "Cada Segundo Conta", Don McRae descreve como Barnard primeiramente defendeu fazer a cirurgiaentrar novibetpacientes negros com problemas cardíacos, só para ser impedido por Val Schire, cardiologista chefe do hospital Groote Schuur, ciente das inevitáveis acusaçõesentrar novibetexperimentações médicas com negros que viriam.
No final, o primeiro paciente a receber o transplante gerou pouca controvérsia. Foi Louis Washkansky, um judeuentrar novibet53 anos nascido na Lituânia.
A doadora do órgão foi uma jovementrar novibet25 anos chamada Denise Darvall, que teve morte cerebral declarada após um acidenteentrar novibettrânsitoentrar novibetCape Town.
Quando foi notificado da chegadaentrar novibetuma doadora, a primeira perguntaentrar novibetBarnard, segundo relatos, foi sobre a etnia dela. Isso porque Schire também havia dito que barraria tentativasentrar novibettransplantar o coraçãoentrar novibetuma pessoa negra no corpoentrar novibetuma pessoa branca - algo que ele acreditava que geraria todo tipoentrar novibetacusações.
Após cinco horasentrar novibetcirurgia, Washkansky recebeu o coraçãoentrar novibetDarvall. O paciente sobreviveu por 18 dias. O sistema imunológico ficou debilitado pelos medicamentos que tomou para reduzir o riscoentrar novibetrejeição do órgão e ele não resistiu a uma pneomunia.
Mas Barnard havia superado todos os seus colegas ao fazer a cirurgiaentrar novibetum ser humano. Três dias depois, o cirurgião norte-americano Adrian Kantrowitz realizou o procedimentoentrar novibetum bebêentrar novibet19 meses, que sobreviveu só por seis horas.
Em 2entrar novibetjaneiroentrar novibet1968, Barnard fez seu segundo transplante. O paciente era um dentista branco, Philip Blaiberg, que viveu por 19 meses e 15 dias.
Blaiberg recebeu o coraçãoentrar novibetClive Haupt, um homem negroentrar novibet24 anos. Na época, doaçõesentrar novibetsangue entre negros e brancos eram proibidas pelo apartheid, e esse paradoxo não deixouentrar novibetser notado pela imprensa mundial.
Críticas públicas ao apartheid
Uma nova biografiaentrar novibetBarnard- "Heartbreaker"- que será publicado no dia 4entrar novibetdezembro na África do Sul contém uma carta à mão do cirurgião, na qual ele veementemente condena a diferença salarial entre médicos brancos e negros.
Ele também critica os efeitos da segregação na saúde pública. A maior evidência do pensamento públicoentrar novibetBarnard sobre apartheid veioentrar novibetnovembroentrar novibet1972. Numa reportagem do jornal americano The New York Times ele é citado dizendo que "acredita firmemente numa mudançaentrar novibetgoverno na África do Sul" e anunciou planosentrar novibetconcorrer ao parlamento como candidato do partido antiapartheid United Party.
Num artigoentrar novibet2001, Raymon Hoffenberg, ex-colegaentrar novibetBarnard no Groote Schurr e o homem que assinou o atestadoentrar novibetóbitoentrar novibetClive Haupt, denunciou como o regime segregacionista da África do Sul explorou o feito médico.
"Para o governo sul-africano, que enfrentava várias críticas e a ameaçaentrar novibetostracismo por causa das políticas desumanas do apartheid, (o transplanteentrar novibetcoração) foi uma dádiva. As coisas não poderiam estar tão ruins num país que produzia um feito médico tão fantástico", escreveu Hoffenberg.
Àquela altura, Hoffenberg havia passado 30 anos no exílio, no Reino Unido, após ser forçado a deixar a África do Sulentrar novibet1968, devido a suas posições contrárias ao apartheid.
Acusadoentrar novibetsubversão pelo governo, ele foi banidoentrar novibettrabalharentrar novibetinstituições acadêmicas - Barnard não aderiu à longa listaentrar novibetmédicos que pediram ao governo para revogar as sanções segregacionistas e nunca foi submetido ao mesmo tratamento que Hoffenberg pelas autoridades sul-africanas.
Barnard morreuentrar novibetsetembroentrar novibet2001, aos 79 anos, durante uma viagementrar novibetférias no Chipre. Apesarentrar novibetas primeiras informações darem contaentrar novibetque ele teria sofrido um ataque cardíaco, uma autópsia revelou que a causa da morte foi uma asma severa.
E apesarentrar novibeta África do Sul ter sido pioneira na cirurgia cardíaca, hoje está bem atrás no rankingentrar novibetpaíses que mais fazem transplantesentrar novibetcoração. Realizou só 14 cirurgias do tipoentrar novibet2015, enquanto os Estados Unidos fizeram 2,8 mil.