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Os brasileiros que doam sêmen para inseminações caseiras:benzema 2024
Em algumas situações, a mãe e o doador fazem um contrato para definir os direitos que o homem terá sobre a criança. Na maioria dos casos, o acordo prevê que ele abra mão do bebê e conceda plenos direitos à mulher. No entanto, o texto pode ser questionado judicialmente por uma das partes para exigir direitos como pensão alimentícia ou permissão para visitar a criança.
Os casos mais comuns, entre as mulheres que decidem optar pela prática, sãobenzema 2024casais homossexuais. Há também solteiras, que buscam criar o filhobenzema 2024modo independente. Existem ainda, emborabenzema 2024menor quantidade, casais heterossexuais que procuram o métodobenzema 2024razão da infertilidade do homem.
Segundo o Ministério da Saúde, esse método não possui nenhum tipobenzema 2024regulamentação. Mas ressalta que, por se tratarbenzema 2024uma decisão particular, que a pessoa faz por conta própria, não é possível haver controle. A Agência Nacionalbenzema 2024Vigilância Sanitária (Anvisa), diz que não regulamenta a prática e não possui informação sobre o assunto. Na Justiça, porbenzema 2024vez, não há nenhum tipobenzema 2024orientação que criminalize a prática.
Alheia às entidades oficiais, a inseminação caseira tem ganhado mais adeptos. No Facebook, grupos e páginas sobre o assunto vêm crescendo nos últimos meses. Há grupos com maisbenzema 20245 mil integrantes.
Donobenzema 2024uma página dedicada ao tema, Marcos*, que afirma ter 32 anos e ser servidor público, diz que a maioria das mulheres que chega até ela "não pode fazer o procedimentobenzema 2024clínicas particulares, por conta do custo elevado".
Uma fertilização in vitro custa,benzema 2024média, R$ 15 mil.
'Praticando a imortalidade'
Nas páginas e nos grupos, um dos nomes mais conhecidos é justamente obenzema 2024Holland,benzema 2024razão dos diversos casosbenzema 2024doações que resultarambenzema 2024nascimentosbenzema 2024bebês.
"Fico muito felizbenzema 2024ajudar as mulheres a realizarem o sonho da maternidade. Acredito que estou exercendo a empatia e praticando a imortalidade, porque, quando eu morrer, meus genes vão ficar com todos os filhos", diz.
Além das inseminações caseiras, Holland tem 15 filhos com quatro mulheres com quem já se relacionou. Ele conta que sustenta 13 deles - dois são maioresbenzema 2024idade e independentes. O analistabenzema 2024sistemas hoje é casado, ebenzema 2024mulher é a maior incentivadora das doaçõesbenzema 2024sêmen. Ela é a responsável por agendar os procedimentos - são ao menos seis por mês - e recepcionar as mulheres.
As doaçõesbenzema 2024esperma são feitas na casabenzema 2024Holland,benzema 2024São Paulo. As mulheres ficambenzema 2024um quarto, destinado somente à prática, enquanto ele e a esposa mantêm relação sexualbenzema 2024outro cômodo. A esposa dele entrega o sêmen à mulher, que então realiza a inseminação caseira.
Ele costuma fazer exames clínicos uma vez por ano, para atestar que está com boa saúde. "Como é um procedimento feito por meiobenzema 2024seringa, e eu não tenho contato direto com a mulher que quer engravidar, acredito que os exames não precisam ser tão frequentes", justifica.
O analistabenzema 2024sistemas assegura que não cobra pela doação, pede somente que as mulheres paguem uma taxa diáriabenzema 2024R$ 100 para permanecerem na casa. Muitas delas passam até cinco dias ali, pois vêmbenzema 2024outros Estados - ele já doou para moradorasbenzema 2024Riobenzema 2024Janeiro, Goiás, Bahia e Pernambuco, entre outros.
Holland exige que a receptora seja maiorbenzema 2024idade e informe sobre o nascimento do bebê, caso o procedimento dê certo.
"Não avalio questões financeiras, pois muitas delas têm baixo poder aquisitivo. Sei que elas querem muito se tornar mães, então fico tranquilo, pois tenho certezabenzema 2024que vão amar muito seus filhos. Tenho pena dos bebês que nascem 'por acaso', sem que as mães queiram, porque sei que são crianças que, mesmo com dinheiro, vão sofrer por faltabenzema 2024amor."
Ele não faz nenhum tipobenzema 2024contrato com as mulheres para as quais doa sêmen, mas pede a elas que não cobrem pensão alimentícia no futuro. "Se isso acontecesse, eu não teria condiçõesbenzema 2024continuar doando, pois já são pelo menos 24 crianças, além das doaçõesbenzema 2024que as mulheres não nos contaram se deu certo."
Em alguns casos, após o nascimento as mães pedem para que ele assine um termo no qual abre mão da paternidade. "Eu sempre assino, sem problemas."
Há também situações, diz,benzema 2024que elas pedem que Holland registre a criança. "Isso aconteceu duas vezes. Eu concordei e fui ao cartório registrar, junto com a mãe."
Mas o analistabenzema 2024sistemas também conta ter virado alvobenzema 2024críticas porbenzema 2024decisãobenzema 2024se tornar doadorbenzema 2024sêmen.
"A minha família acha que isso é loucura. Meus colegasbenzema 2024trabalho também não entendem. Eu compreendo quem pensa assim - é porque são pessoas criadasbenzema 2024uma cultura capitalista e individualista,benzema 2024que filhos, muitas vezes, são sinônimosbenzema 2024despesa ebenzema 2024problemas futuros. Então é normal que fiquem estupefatos."
'Meu maior medo era contrair uma doença'
Entre as mulheres que engravidaram com a doaçãobenzema 2024Holland está a paulista Ingrid*,benzema 202427 anos. Antesbenzema 2024dar certo, ela realizou quatro procedimentosbenzema 2024inseminação caseira, sendo três deles com o analistabenzema 2024sistemas. Lésbica, a jovem optou pelo método por acreditar que seria a única forma pela qual conseguiria engravidar.
"Descobri esse método depois que pesquisei no Facebook. Conheci o João (Holland) e combinei uma data com a esposa dele. Eu sempre quis um doador conhecido. Não queria que fosse algo anônimo. Biologicamente falando, ele é pai do meu filho e eu acho importante saber a identidade."
Ingrid conta que logo teve acesso a examesbenzema 2024sangue,benzema 2024doenças sexualmente transmissíveis e também ao espermograma dele. "Vi que estava tudo ok e decidi que ele seria o pai do meu filho."
Na época, ela não estavabenzema 2024um relacionamento- decidiu que seria mãe solo. A primeira tentativabenzema 2024inseminação caseira aconteceubenzema 2024setembrobenzema 20242015. Ela tentou novamentebenzema 2024novembro e depoisbenzema 2024março do ano passado, desta vez com um doador diferente.
"O meu maior medo, durante essas tentativas, era contrair uma doença. Mas como eu já havia visto os exames do João e vi também os do outro doador, fiquei um pouco mais tranquila", conta.
A quarta tentativa,benzema 2024abrilbenzema 20242016, deu certo. "Foi uma gravidez tranquila e totalmente saudável."
O filhobenzema 2024Ingrid, atualmente com dez meses, foi registrado com o nome dela ebenzema 2024Holland. O analistabenzema 2024sistemas costuma ver a criança ao menos uma vez ao mês.
"Ele vai crescer sabendo que tem pai. Quando meu filho tiver idade para entender, explicarei que ele foi gerado por meiobenzema 2024um métodobenzema 2024inseminação caseira. Quero que ele saiba que foi um sonho realizado, no qual o pai dele e a esposa me ajudaram muito", revela.
Desde que começou a tentar engravidar, Ingrid contou para a família sobre seus planos. "Eu nunca escondi o método que utilizaria, por ser lésbica. A minha família reagiu bem. No começo, a minha mãe se assustou, mas depois se acostumou com a ideia. Meu filho trouxe muita felicidade para nós."
Hoje ela namora, ebenzema 2024companheira tenta engravidar pelo mesmo método - também com Holland.
Mas apesarbenzema 2024ter conseguido realizar o sonhobenzema 2024se tornar mãe, a jovem alerta para os riscos que podem ser ocasionados pela inseminação caseira.
"É importante que as mulheres estejam atentas, porque muitos doadores não querem comprovar, por meiobenzema 2024exames, que está tudo bem. Alguns só querem se aproveitar dos sonhos delas. Elas devem cobrar os exames e conhecer mais sobre o homem que vai doar o espermatozoide."
'Quero que o bebê tenha apenas meu nome'
Há diferentes histórias e motivações entre as mulheres que buscam a inseminação caseira.
As chamadas "tentantes" costumam terbenzema 202419 a 40 anos. Nas páginas online do tema, elas compartilham que os maiores riscos, além da faltabenzema 2024apresentaçãobenzema 2024exames, podem ser a vendabenzema 2024esperma - prática ilegal - ou a exigênciabenzema 2024alguns homensbenzema 2024fazer doações por meiobenzema 2024relação sexual.
A autônoma Bárbara Helena Barbosa,benzema 202426 anos, conheceu um homem que fez essa exigência. "Ele me disse que assim as minhas chances aumentariam muito. Eu falei que respeitava a opinião dele, mas não queria, pois acredito que relação sexual seja algo muito íntimo."
Bárbara morabenzema 2024Ibitinga (SP) e busca na inseminação caseira um modobenzema 2024acalentar umabenzema 2024suas maiores dores: a perda da filha recém-nascida.
"Há seis anos eu estava noiva e engravidei. A minha bebê morreu com uma semanabenzema 2024vida, e depois disso nunca mais tive filhos. Acredito que ter um bebê seja uma formabenzema 2024amenizar a morte da minha filha, que nunca vou conseguir superar."
Poucos meses após a morte da criança, ela terminou o noivado e desde então não teve mais nenhum relacionamento duradouro. Em razão disso, decidiu recorrer à inseminação caseira para se tornar mãe independente.
"Se o doador quiser acompanhar o meu filho, tudo bem, mas tem que serbenzema 2024modo distante. Não quero que ele tenha participação afetiva na vida da criança. Quero que meu bebê tenha apenas o meu nome."
Ela conheceu o método por meio das redes sociais e chegou a tentar o procedimento com um amigo, sem sucesso. "Devo fazer uma nova tentativabenzema 2024fevereiro, com um doador que conhecibenzema 2024um grupo", planeja.
Outra "tentante" que também passará por mais uma inseminação caseira é a donabenzema 2024casa Ana*,benzema 202431 anos. Ela recorreu ao procedimento após descobrir que o marido possui azoospermia - quando não é encontrado nenhum espermatozoide no sêmen.
"Eu fiz duas fertilizações in vitro, gastei muito dinheiro e consegui engravidarbenzema 2024gêmeos na primeira tentativa, mas perdi com seis semanas. Na segunda, minha gravidez não evoluiu. Então, fiquei sem saber o que fazer e descobri a inseminação caseira."
Doador viajante
O doador que Ana e o marido escolheram para a inseminação caseira é o cozinheiro autônomo Aleksandro Machado,benzema 202423 anos,benzema 2024Ponta Porã (MS). Para anunciar a si mesmo, o jovem se descreve como homossexual, detalha que a inseminação deverá ser feita sem contato físico e utiliza uma imagembenzema 2024quando era criança.
Ele se tornou doadorbenzema 2024sêmen há oito meses, após conhecer o tema por meiobenzema 2024redes sociais. "Acreditava que ninguém iria entrarbenzema 2024contato comigo, mas logo recebi muitas mensagens", diz.
Machado vai até a cidade da "tentante" para realizar o procedimento. "Eu acho bacana fazer essas viagens, porque conheço histórias novas e pessoas diferentes. É tudo muito legal", afirma.
Ele conta que não cobra pela doação, mas pede que a mulher pague o custo da viagem, da estadia e lhe dê um valor que considerar justo. "Elas me dão, normalmente, R$ 100 por dia. É uma ajudabenzema 2024custo, porque tenho que sair da minha cidade e deixobenzema 2024trabalhar enquanto estou viajando."
Segundo Machado, seus pais respeitambenzema 2024decisãobenzema 2024se tornar doadorbenzema 2024sêmen. "Eles são idosos, então no início foi difícil para aceitarem. Mas agora a minha mãe adora e até quer viajar comigo", diz.
Mas o rapaz relata dificuldades com alguns moradores da cidadebenzema 2024que vive. "É um lugar pequeno e, por eu estar viajando muito, chegaram a falar que eu estava mexendo com tráfico ou coisas do tipo, porque me viam postando fotosbenzema 2024lugares diferentes. Por isso, cheguei até a fazer uma publicação no Facebook, contando sobre as inseminações."
Ele já viajou para São Paulo, Goiânia e outras cidadesbenzema 2024Mato Grosso do Sul. "Tenho 12 procedimentos agendados para o ano que vem. Devo ir para o Riobenzema 2024Janeiro, Bahia e Brasília." Ao todo, já fez oito doações - uma delas culminoubenzema 2024gravidez.
Machado não firma nenhum tipobenzema 2024contrato com as mulheres, mas destaca sempre deixar claro que não pretende assumir a paternidade. "Eu sei que pode acontecer outras coisas futuramente, e elas podem exigir os direitos. Mas eu prefiro confiar na pessoa."
O jovem diz que, após o conhecerem, as "tentantes" costumam pedir que ele participe da vida da criança caso o procedimento dê certo. "Eu me disponho a acompanhar o bebê, porém não quero ser considerado pai. Mas daqui a alguns meses ou anos, pretendo assumir a paternidade da criançabenzema 2024um casal para o qual doarei sêmen. Somente neste caso serei pai, pois o bebê deverá ter meu sobrenome."
'Não sei o sobrenome dele'
Uma das mulheres para as quais Machado doou esperma foi a professora Viviane*,benzema 202438 anos, que morabenzema 2024São Paulo. O procedimento, porém, não deu certo. Meses depois, ela tentoubenzema 2024novo, com outro doador - desta vez, conseguiu engravidar.
"Eu estou com quase 40 anos e sempre quis ser mãe. Sempre tive relacionamentos longos, que acabaram não dando certo. Então, não tinha muito tempo mais. Tentei a inseminaçãobenzema 2024clínicas, mas era tudo muito caro pra mim", relata.
Viviane engravidou na terceira tentativabenzema 2024inseminação caseira. "Eu escolhi esse meu terceiro doador porque ele já tinha conseguido engravidar quatro mulheres. Pedi os exames, assim como fiz com os outros. Estava tudo certo, e então marcamosbenzema 2024nos encontrarmos", diz.
A inseminação caseira ocorreu pelo método da seringa. A professora conta que nem sequer sabe o sobrenome do doador. "Não tenho muita informação, porque ele disse que não quer contato nenhum com a criança e só pediu para eu enviar fotos do diabenzema 2024que nascer."
O procedimento foi feitobenzema 2024um hotel, única vezbenzema 2024que ela viu o doador. "Eu fiquei no local com uma amiga. Ele chegou, foi ao banheiro, me entregou o potinho e foi embora. Em 20 minutos, o homem já não estava mais lá", conta.
"Sei que ele é casado, mas não sei se a mulher dele tem conhecimento sobre essas doações. Ele não queria que eu soubesse informações dele, assim como eu não queria contar sobre mim. Foi um meio também para eu me preservar futuramente, caso algo aconteça, já que não existe lei para esses casos."
Logo após fazer o exame, Viviane contou da gravidez aos pais. "Como é uma produção independente, eu tinha que explicar algo para eles. Então disse que foi por meiobenzema 2024inseminação artificial, feita com médicos, pois queria muito me tornar mãe. Não confidenciei a quase ninguém sobre o método caseiro."
Riscos e impasses
A inseminação caseira não costuma encontrar apoio na medicina.
Secretária-geral da Sociedade Brasileirabenzema 2024Reprodução Humana, a ginecologista Nilka Fernandes Donadio critica o procedimento.
"Quando a gente pensabenzema 2024inseminação, sabe que ela deve ser feitabenzema 2024laboratório e o sêmen deve passar por um processamento, que elimina fatores que podem trazer consequências graves à saúde da mulher. Na inseminação caseira, ela pode sofrer infecção no colo do útero ao injetar o sêmen por meiobenzema 2024uma seringa. Além disso, quem garante que os exames feitos pelo doador estão corretos? É difícil chancelar uma indicação para esse procedimento", diz.
Ela recomenda que as mulheres que pretendem engravidar por meios diferentesbenzema 2024relações sexuais procurem um médico. "Somente um profissional pode dar toda a garantia e segurança sobre qualquer procedimento", afirma.
Na esfera do Judiciário, a faltabenzema 2024regulamentação no Conselho Nacionalbenzema 2024Justiça dificulta processos relacionados ao assunto, explica a advogada especializadabenzema 2024Direitobenzema 2024Família e Sucessões Fernanda Hesketh.
"O Conselho Federalbenzema 2024Medicina regulamenta que a doaçãobenzema 2024material genético nas inseminações artificiais deve ser anônima e gratuita. Esse é um dos empecilhos que podem ser encontradosbenzema 2024processos relacionados a inseminações caseiras", detalha.
Apesar da dificuldade, a Justiçabenzema 2024Santa Catarina autorizou um casalbenzema 2024mulheres, que argumentou ter tido o filho por meiobenzema 2024inseminação caseira, a registrar a criançabenzema 2024nome das duas.
"Ou seja, a Justiça brasileira acaba se adequando aos anseios que surgem na sociedade, regulamentando novas situações que não possuem uma solução legal concreta", diz a advogada.
Em relação aos contratos firmados entre a mãe e o doador, Hesketh menciona que a faltabenzema 2024regulamentação legal acaba fazendo com que os acordos possam questionados judicialmente.
Mesmo ciente da faltabenzema 2024regulamentação do método e dos imbróglios jurídicos que poderá enfrentar posteriormente, João Carlos Holland não pretende deixarbenzema 2024doar espermatozoide. Ele planeja chegar a 100 filhos.
"Não tenho prazo para pararbenzema 2024fazer essas doações. Se eu puder continuar ajudando a gerar vidas e a fazer as pessoas felizes, farei isso até os 100 anos."
*Nome fictício para proteger a identidade do entrevistado, a seu pedido.
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