A sobrevivente do nazismo que se tornou campeã mundialroleta bingonatação aos 90 anos:roleta bingo
Filharoleta bingoatletas na Itália - o pai era remador e esgrimista, e a mãe jogava tênis -, Nora teve contato com o esporte desde cedo. No país europeu, suas modalidades preferidas eram o esqui e a esgrima, mas quando veio para o Brasil, na juventude, passou a se dedicar aos saltos ornamentais - onde também desenvolveu a prática da natação.
Somente aos 69 anos decidiu competirroleta bingonível internacional, para buscar um novo ânimo. Hoje, exibe com orgulho as dezenasroleta bingomedalhas conquistadas desde então - sete delasroleta bingoouro no último Mundial,roleta bingo2014, quando já comemorava seu nonagésimo aniversário. Além disso, ela sustenta seis recordes mundiais - cinco conquistadosroleta bingo2014, umroleta bingo2011. E já avista novos pódios para o Mundialroleta bingo2019, na Coreia, quando estará com 95 anos.
"Comecei a competir na natação com 69 anos, mas já estava acostumada a competições porque eu fazia saltos ornamentais quando nova. Eu não fico nervosa numa competição, nunca. No último Mundialroleta bingoMontreal, eu ganhei sete medalhasroleta bingoouro. As que eu tenho mais orgulho são a dos 400m medley, 200m borboleta e 100m borboleta."
O períodoroleta bingoque Nora começou a nadar coincidiu com um dos mais difíceisroleta bingosua vida. O marido, o escritor Paulo Ronai, estava bastante doente, com câncerroleta bingolaringe, havia alguns anos - já não conseguia nem mesmo falar ou andar. Os treinosroleta bingonatação, então, se tornaram um momento sagrado para que ela conseguisse relaxar e aliviar a dorroleta bingover seu companheiro passar por tudo isso.
"Meu marido estava muito doente quando eu comecei a nadar. A médica que tratava dele virou minha amiga, doutora Regina, que também tinha sido nadadora do América. Eu disse a ela que gostava muitoroleta bingonadar, que a natação me fazia tão bem. Quando eu me sentia triste, cansada, eu ia nadar", conta.
"Então ela disse para começarmos a nadar juntas por uma hora para podermos voltar mais decansadas. E enquanto isso tinha uma outra pessoa que cuidava do meu marido. Aíroleta bingoum treino eu soube das competições Master e um técnico do Cluberoleta bingoRegatas Icaraí que me viu nadando me convidou para participar. Foi aí que começou."
Questionada sobre já ter sofrido com o sexismo no esporte, Nora lembra as situaçõesroleta bingoque teveroleta bingose vestirroleta bingo"menino" para poder usar um trampolim nas montanhas, porque ali "não era permitido damas". E quando, nos saltos ornamentais, não podia fazer um ou outro salto porque "não eram permitidos para mulheres". Mas acredita que as coisas estão mudando. "Existia muito, mas acho que já está melhorando."
O que é o #100Mulheres?
A série #100Mulheres, da BBC (100 Women), indica 100 mulheres influentes e inspiradoras por todo o mundo anualmente. Nós criamos documentários, reportagens especiais e entrevistas sobre suas vidas, abrindo mais espaço para histórias com mulheres como personagens centrais.
Neste ano, a BBC está desafiando mulheres ao redor do mundo a proporem soluções para quatro problemas globais relacionados ao sexismo.
No Brasil, o tema trabalhado será "sexismo no esporte", focado principalmente no futebol. A partir desta segunda-feira, o #TeamPlay sediado no Rio terá uma semana para inventar, desenvolver e entregar um protótipo - uma soluçãoroleta bingotecnologia, um design inovador ou uma campanha - para apoiar as mulheres nos esportes e combater as atitudes sexistas que podem impedir o seu avanço.
Acompanhe a coberturaroleta bingofacebook.com/BBC100women e aqui no site da BBC Brasil.
Passado
A riquezaroleta bingodetalhes com que Nora conta as histórias do passado revelamroleta bingolucidez. Fala da décadaroleta bingo1920, quando viveuroleta bingoinfância, com a clarezaroleta bingoquem está descrevendo o que fez ontem. Não fosse pela aparência física que não deixa enganar, seria impossível adivinhar que já está a caminho do centenário.
As histórias do nazismo e da Segunda Guerra Mundial, que forçaramroleta bingofamília a emigrar para o Brasil, também são contadas com naturalidade por ela, que parece ter aprendido desde aqueles tempos a resiliência que precisaria ter para a vida.
"Prenderam meu pai, levaram para camporoleta bingoconcentração. Nós tivemos sorte que um dos ministros do fascismo tinha sido colegaroleta bingoturma do meu pai durante 8 anos no ginásio. Minha mãe foi falar com ele, levou um tempo até conseguir liberar meu pai, mas deu certo. Depois, os colegas dele no camporoleta bingoconcentração foram queimados na fábrica."
A filha Laura Conai conta que ainda se impressiona com a leveza com que a mãe encara uma história tão sofrida. "Ela tinha todos os motivos para viver se vitimizando, mas nunca fez isso. Viveu uma guerra, perdeu metade da família, perdeu tudo, mas nunca reclamouroleta bingonada. Ela parece que consegue fechar essas portas do passado e deixá-las ali. As dificuldades ficaram para trás, ela optou por seguirroleta bingofrente", disse.
Essa é uma das lições que Nora diz que o esporte lhe deu: a nunca desistir. Na infânciaroleta bingoFiume, na Itália (que hoje é Rijeka, na Croácia), ela passou dois anos sem poder frequentar a escola por ser judia e, ainda assim, seguiu estudando com professores particularesroleta bingocasa.
Quando chegou ao Brasil aos 17 anos, não conseguiu validar seu diploma do segundo grau e cursouroleta bingonovo o terceiro ano do ensino médio. Foi para a Faculdaderoleta bingoArquitetura e ali começou a construir uma carreira muito bem-sucedidaroleta bingoum períodoroleta bingoque mulheres mal frequentavam a universidade no Brasil.
"Ela se formou, fez doutorado, fez trabalhos renomados na arquitetura, foi dar aula na universidade e, mesmo assim, não deixouroleta bingoser uma mãe presente para nós, estava sempre perto", afirma Laura.
Almoço 'na piscina'
Mesmo dianteroleta bingotantas responsabilidades, Nora nunca abandonou o esporte. Cumprindo todos os papéis que lhe eram requisitados - mãeroleta bingoduas meninas, professora da Universidade Federal do Rioroleta bingoJaneiro e esposaroleta bingoPaulo Ronai -, a imigrante italiana abdicava do almoço para poder dar suas braçadas na piscina.
"Eu sou da épocaroleta bingoque os homens achavam que eles tinham que ganhar o dinheiro para sustentar a família. O resto era com as mulheres. Lugarroleta bingomulher é pertoroleta bingotanque, no fogão, etc. Eu nunca fui disso, mas tive que ser, porque meu marido tinha sido educado para essa vida, ele não sabia cozinhar um ovo, não sabia preparar um chá", conta.
"Eu tinha que ser donaroleta bingocasa, tinha que cuidar das filhas, tinha que trabalhar, era arquiteta-cheferoleta bingouma grande construtora, era professoraroleta bingouniversidade, enfim. Mas aí na hora do almoço, lá mesmo na UFRJ, eu corria para a escolaroleta bingoeducação física que tinha uma piscina e,roleta bingovezroleta bingoalmoçar, eu nadava. Eu não almoçava para poder nadar."
"Você não pode imaginar a vida que eu tive. Eu não almoçava para poder nadar. Eu conto isso para mostrar que se você realmente quer alguma coisa, você encontra o tempo."
As filhas, Cora e Laura, cresceram vendo a mãe se multiplicarroleta bingomil e admitem terem tido uma ilusão da vida adulta. "A gente via o que ela fazia e achava que toda família era assim, que toda mãe era assim. Que isso era o normal. Mas logo a gente cresceu e viu que ela não é normal. Ela é a mulher maravilha!", diz Laura.
Nenhuma das duas seguiu o exemplo da mãe nas piscinas - ela até tentou incentivá-las nos saltos ornamentais, mas tão logo as meninas cresceram, largaram o esporte e nunca mais voltaram. No entanto, tanto Cora quanto Laura reconhecem que a rotinaroleta bingoNora nas piscinas ajuda a mantê-la ativa e feliz aos 93 anos.
"Ela nunca foi aquelas velhinhas que estão sempre reclamando. Ela é muito ativa, tem uma energia que não acaba. Vive uma vida muito mais leve do que eu", finaliza Laura.