#100Mulheres Por que futebol ainda é esporte 'só para homem' no Brasil?:robo aviator estrela bet
No casorobo aviator estrela betuma meninarobo aviator estrela betDois Riachos (AL), teve tudo isso e um pouco mais. Quando chegou para disputar o campeonato da região com os meninos, acabou barrada: não deixaram inscrever uma menina. Hoje, ela é Marta, cinco vezes eleita a melhor jogadorarobo aviator estrela betfutebol do mundo.
Toda menina que já jogou - ou tentou jogar - bola já vivenciou uma das situações acima. No Brasil, que é conhecido por ser "o país do futebol", as mulheres chegaram até mesmo a serem proibidas por leirobo aviator estrela betparticiparem do jogo. Por quase 40 anos -robo aviator estrela bet1941 a 1979 -, se elas fossem vistas jogando futebol, poderiam ser levadas para a delegacia.
"Às mulheres não se permitirá a práticarobo aviator estrela betdesportos incompatíveis com as condiçõesrobo aviator estrela betsua natureza, devendo, para este efeito, o CND baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país", determinava o Decreto-Lei 3.199 do Conselho Nacionalrobo aviator estrela betDesportos (CND) que proibiu mulheresrobo aviator estrela betpraticarem o futebol, entre outras modalidades.
O que é o #100Mulheres?
A série #100Mulheres, da BBC (100 Women), indica 100 mulheres influentes e inspiradoras por todo o mundo anualmente. Nós criamos documentários, reportagens especiais e entrevistas sobre suas vidas, abrindo mais espaço para histórias com mulheres como personagens centrais.
Neste ano, a BBC está desafiando mulheres ao redor do mundo a proporem soluções para quatro problemas globais relacionados ao sexismo.
No Brasil, o tema trabalhado será "sexismo no esporte", focado principalmente no futebol. A partir desta segunda-feira, o #TeamPlay sediado no Rio terá uma semana para inventar, desenvolver e entregar um protótipo - uma soluçãorobo aviator estrela bettecnologia, um design inovador ou uma campanha - para apoiar as mulheres nos esportes e combater as atitudes sexistas que podem impedir o seu avanço.
Acompanhe a coberturarobo aviator estrela betfacebook.com/BBC100women e aqui no site da BBC Brasil.
Histórico
A justificativa para a proibição teve até embasamento científico, segundo Silvana Goellner, pesquisadorarobo aviator estrela betgênero e educação física na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. "Teve um parecer médico na época que colocava as mulheres no espaço da fragilidade e sobretudo da maternidade - a missãorobo aviator estrela bettoda a mulher na época era ser a mãe do futuro da pátria", explica à BBC Brasil.
"Afirma-se que a 2ª delegacia auxiliar está decidida a acabarrobo aviator estrela betvez com o futebol feminino... Para isso, serão fechados todos os clubes dessa especialidade. Está aí uma notícia magnífica. O futebol feminino, como esporte, é desaconselhável e, como passatempo, perigoso e nocivo", dizia a nota do jornal Diáriorobo aviator estrela betNotícias Esportivo, do Riorobo aviator estrela betJaneiro,robo aviator estrela betfevereirorobo aviator estrela bet1941.
A proibição não significou o fim da prática do futebol por mulheres no Brasil, mas a tornou invisível na história.
"A despeito da proibição, as mulheres continuaram fazendo. Só que não podiam ser registradas suas conquistas, elas não poderiam aparecer oficialmente nos registros das federações. Isso deu uma invisibilidade na história das mulheres no esporte. Elas estavam, mas não aparecem. Só que o silêncio não significa ausência", afirma Goellner, que foi responsável por garimpar a história do futebol feminino no Brasil para inseri-larobo aviator estrela bet2015 no Museu do Futebol, que fica no estádio do Pacaembu,robo aviator estrela betSão Paulo.
"Nós achamos algumas coisasrobo aviator estrela betnotícias do futebol feminino (sendo citado) como espetáculorobo aviator estrela betcirco, algumas coisasrobo aviator estrela betdelegaciarobo aviator estrela betpolícia, casosrobo aviator estrela betque a polícia chegou para encerrar um jogorobo aviator estrela betfutebol. Mas, principalmente, a gente só conseguiu mapear informações por causa das jogadoras", conta.
"Os clubes não têm registros, a CBF (Confederação Brasileirarobo aviator estrela betFutebol) não tem registro. A presença da mulher no futebol é anulada, como se ela não existisse. E aí anula também o desejorobo aviator estrela betquem quer se inserir no futebol. Se as meninas não têmrobo aviator estrela betquem se inspirar, fica difícil."
Por tudo isso, não se sabe exatamente quando o futebol feminino começou a existir no Brasil.
O registro mais recorrente sobre a primeira partida noticiada na imprensa érobo aviator estrela bet1921, entre as equipesrobo aviator estrela betTremembé e do Cantareiras (bairrosrobo aviator estrela betSão Paulo).
Mas a modalidade só foi regulamentada oficialmenterobo aviator estrela bet1983 - quatro anos depoisrobo aviator estrela better caído o decreto-lei que proibia a prática.
"Esse decreto só vai cair no fim dos anos 1970, por força das mulheres", conta Goellner.
O que mudou?
A proibição do futebol feminino caiu, mas não acabou com a resistência à modalidade.
Na escola Edem, do Riorobo aviator estrela betJaneiro, a quadra era chamada "dos meninos", já que eram só eles que reinavam ali. Quando as meninas pediam para jogar junto, eles diziam: "isso não é para menina. Vocês deveriam ser líderesrobo aviator estrela bettorcida". Até que um dia, há dois anos, elas se revoltaram e invadiram o local aos gritosrobo aviator estrela bet"Poder Feminino". Esse foi o início daquele que seria o timerobo aviator estrela betfutebol das garotas.
Mas uma vez juntos dentrorobo aviator estrela betquadra, era nítida a diferençarobo aviator estrela bethabilidade entre os meninos e as meninas que hoje estão na sexta série. Em uma tentativarobo aviator estrela bet"altinha" entre os melhores amigos Arthur e Catarina, ele se exibia fazendo embaixadinhas, enquanto ela não conseguia levantar a bola do chão.
"Eles treinam toda hora, não dá para comparar", diz a menina. Arthur concorda: "Eu jogo desde os 3 anos, treino quatro vezes por semana". Catarina começou a jogar aos 9, e não treinarobo aviator estrela betnenhum lugar fora da escola.
Esse, aliás, é outro problema levantado pelas meninas do colégio: não há turmasrobo aviator estrela betfutebol só para meninas. "É muito chato jogar com os meninos, eles não passam a bola pra gente", afirma Isadora.
A escolinha do time francês Paris Saint-Germain na Barra da Tijuca, bairro da zona oeste do Riorobo aviator estrela betJaneiro, é uma das poucas que conseguiu abrir uma turma só com meninas. São 15 as que fazem parte do time - o númerorobo aviator estrela betmeninos matriculados chega a 300.
"Ainda são poucas, mas a procura tem aumentado. Conseguimos abrir uma turma sórobo aviator estrela betmeninas agora. Mas todas as que nos procuram já têm nível intermediário, são meninas que já jogam. Nunca recebemos nenhuma menina iniciante, para aprender mesmo", explica Rodrigo Pian, um dos técnicos da escolinha do PSG.
"As meninas são mais fáceisrobo aviator estrela bettreinar, elas ouvem, são mais focadas. Mas elas não são educadas para ter esse sonho -robo aviator estrela betser jogadorarobo aviator estrela betfutebol", pontua.
Professora da Faculdaderobo aviator estrela betEducação Física e Esporte da USP, Katia Rubio explica que esse é um dos fatores que ainda afastam as garotas do esporte: enquanto os meninos são presenteados com uma bola logo cedo, elas ganham apenas bonecas.
"Os meninos, quando nascem, na porta da maternidade já está a bolarobo aviator estrela betfutebol ou a chuteira. Diferentemente da menina, que tem que provar o direito dela da prática do futebol. Os meninos já ganharam esse direito desde o momento que nasceram", pontua.
Segundo o Diagnóstico Nacional do Esporte, divulgado após estudo do Ministério do Esporterobo aviator estrela bet2013, 41,6% dos meninos começa a praticar esportes entre os 6 e 10 anos - enquanto só 29% das meninas inicia a prática nessa idade.
Além disso, elas têm dificuldaderobo aviator estrela betocupar espaços públicos. Segundo a pesquisa Meninas Fortes, realizada pela agência 65/10robo aviator estrela betparceria com a marca Nescau, 50% das meninasrobo aviator estrela bet8 a 11 anos associam a rua a perigo.
Para a pesquisadora Silvana Goellner, o fato é que a proibição caiu na lei, mas segue existindo na prática. "Os espaços públicos são ocupados por meninos. Hoje há uma proibição simbólica, ela ainda existe. É uma violência simbólica."
"O que mudourobo aviator estrela betlá para cá foi a maior participação das mulheres - aumentou a resiliência delas. A despeitorobo aviator estrela bettodas essas precariedades, elas não desistiram do futebol."
E se antes o argumento para proibir o futebol foi baseado na "fragilidade do seu corpo", hoje a base desse discurso se mantém como argumento para mantê-las longe da bola.
"A diferença é que hoje o argumento é usado como fim estético. O contato do esporte, do futebol, não é bom para a menina porque vai fazê-la perderrobo aviator estrela bet'feminilidade'", explica Goellner.
Esse, aliás, é um dos comentários que Gabriela, do time Poder Feminino da escola Edem, mais ouve quando diz que gostarobo aviator estrela betjogar futebol: "Vai ficar parecendo um menino", conta.
Mas a meninarobo aviator estrela bet12 anos não se intimida: "Ser feminina é ser o que você é, não o que as pessoas pensam".
Visibilidade
O sonhorobo aviator estrela betJuliana Cabralrobo aviator estrela betse tornar jogadorarobo aviator estrela betfutebol não veio do nada. Ela se lembra exatamente do diarobo aviator estrela betque soube que era isso que queria fazer da vida. "Quando eu vi aquelas meninas na Olimpíadarobo aviator estrela betAtlanta (1996), meu sonho era ser como elas. Não tinha nada que me fizesse voltar atrás", conta a ex-atleta, que tinha 15 anos na época e viu na TV a estreia do futebol femininorobo aviator estrela betJogos Olímpicos.
Por isso, Juliana acredita que para mudar a ideiarobo aviator estrela betque "futebol é só para homem", é preciso dar mais visibilidade ao futebol praticado por mulheres. "O meu sonho se concretizou na minha cabeça quando eu consegui ter exemplos femininos - aquela Olimpíada foi um marco. Eu tinha certeza que queria ser aquelas meninas."
Segundo uma pesquisa da Universidade da Carolina do Sul feita na última década, quase 97% da cobertura esportiva nos Estados Unidos é focadarobo aviator estrela betesportes masculinos. No Brasil, a situação não é muito diferente - uma pesquisa da Organização Gênero e Número com dois programas televisivos semanas antes do início da Rio-2016 mostra esportes femininos ocuparam apenas 12,9% do tempo totalrobo aviator estrela bettransmissão no período.
"A visibilidade apareceu agora por causa da Olimpíada, mas é isso e só. Aqui no Rio Grande do Sul tem 16 equipes competindo o estadual (feminino), e não sai uma notícia. O Internacional fez uma peneira para categoriasrobo aviator estrela betbase e 700 meninas apareceram para fazer o teste. Então há uma demanda reprimida aí. E a invisibilidade da mulher no futebol permanece", afirma Goellner.
Outro ponto necessário para mudar o cenário, segundo a professora Katia Rubio, é a união das mulheres para alterar a estruturarobo aviator estrela betpoder do futebol.
Hoje, a CBF não tem nenhuma mulher atuando na gestão do futebol feminino. No ano passado, Emily Lima se tornou a primeira a comandar uma seleção brasileira principal, mas foi demitida dez meses depois - a entidade agumentou "faltarobo aviator estrela betresultados" para a decisão.
"No âmbito do poder, não tem qualquer participação feminina, o que reduz ainda mais as possibilidades das mulheres se aproximarem da prática. Enquanto a estruturarobo aviator estrela betpoder estiver na mãosrobo aviator estrela bethomens, eles dominam", afirma Rubio.
"Ninguém quer a mulher no esporte, então os discursos vão sendo construídos e renovados para validar o argumentorobo aviator estrela betque ela não deve estar ali. Mas quando tiver uma geração empoderada pelo conhecimento, não tem argumento que resista."