Rita Lobo: 'Obsessão por dietas estraga alimentação perfeita do brasileiro':vulcan slots

Rita Lobo
Legenda da foto, 'População foi ficando obesa à medida que se afastou da cozinha', defende apresentadora (Foto: Divulgação/ed. Panelinha)

"Comidavulcan slotsverdade é o que tem origem na natureza, seja animal ou vegetal - todas as frutas, verduras, grãos, cereais, carnes - e derivados desses alimentos, mas sem nenhum tipovulcan slotsaditivo químico. E, para quem mora no Brasil, não tem dieta melhor do que a brasileira", afirma Rita Lobo, que conversou com a BBC Brasil a respeitovulcan slotsalimentação, dietas e hábitos gastronômicos.

Rita traça paralelos entre a combinação clássica do Brasil - o "pê-efe" (prato feito), com arroz, feijão e acompanhamentos - e famosas dietas internacionais, como a mediterrânea, a japonesa ou a francesa.

"São centenasvulcan slotsanos (durante os quais) essa nossa dieta tem sido testada. Não é à toa que o arroz é servido com o feijão. Falta um aminoácido no feijão que justamente o arroz tem, e juntos eles formam uma potência nutricional que quase não precisavulcan slotsmais nada."

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Mas e quanto às calorias dessa combinaçãovulcan slotscarboidratos?

"Essa ideia das calorias é muito americana", critica.. "Como eles (EUA) não têm um padrão nacionalvulcan slotsalimentação, ficam tentando todo ano criar uma dieta nova - uma hora baseadavulcan slotscalorias, outravulcan slotstirar gordura. E não é sustentável, porque ninguém consegue manter esse tipovulcan slotsalimentação."

A apresentadora argumenta que "essa (contagemvulcan slotscalorias) é uma ideia que, no fundo, só é boa para a indústria alimentícia, que vive dos modismos nutricionais e criam produtos para atender essa demanda com grande investimentovulcan slotsmarketing".

Rita tampouco é adepta da ideiavulcan slots"substituir isso por aquilo" - popularizada pela chef Bela Gil e pela ideiavulcan slotstrocar um alimento calórico por um menos calórico. Ficou famoso o tuítevulcan slotsfevereirovulcan slotsRita que, ao ser instada por um leitor a ensinar a preparar "maionesevulcan slotsóleovulcan slotscoco e iogurte", respondeu: "1) Isso não é maionese; 2) Trate seu distúrbio alimentar".

Compartilhado quase 2 mil vezes, o tuíte rendeu tanto elogios por levantar o debate sobre comida real quanto críticas por fazer menção ao sensível temavulcan slotsdistúrbios alimentares.

"É que as pessoas têm essa lógicavulcan slotsquerer substituir, (por exemplo) o hotdog por salsichavulcan slotscouve-flor, e não é isso", explica Rita à BBC Brasil, ao ser questionada pela reportagem sobre como ler rótulos dos alimentos para saber qual escolher.

"Substituição faz sentido quando a pessoa tem uma necessidade especialvulcan slotsalimentação, caso dos diabéticos ou celíacos ou alérgicos a lactose. No entanto, não é disso que as pessoas estão falando, mas simvulcan slotsuma tentativavulcan slotsdriblar a alimentação, sem cozinhar, e substituir o ruim pelo menos pior. É um paliativo. O que funciona é não depender da comida ultraprocessada. (...) É repensar a alimentação e voltar à comidavulcan slotsverdade, e, para isso, aprender a cozinhar é uma ferramenta essencial para quem quer uma alimentação saudávelvulcan slotsverdade."

Vídeo da série 'Comidavulcan slotsVerdade' (Foto: Reprodução)
Legenda da foto, Vídeo da série 'Comidavulcan slotsVerdade' (Foto: Reprodução)

Variação

"A orientação para alimentação saudável é clara: variação é fundamental, porque cada ingrediente tem uma composição nutricional única. O que é melhor, comer todos os dias salada com peixe ou num dia comer peixe, no outro carne, frango, porco, arroz com feijão, lentilha?", questiona.

"É sempre melhor variar. No caso da dieta brasileira, a variação fica por conta das carnes e dos legumes. Mas é excelente manter o arroz com feijão no prato para quem quer manter uma alimentação saudávelvulcan slotsverdade."

Para Carlos Monteiro, que é professor titular do Nupens e que participa do Comidavulcan slotsVerdade, o padrão alimentar brasileiro "acerta no atacado" ao dar as diretrizes básicasvulcan slotscomo deve ser nossa alimentação no dia a dia, com espaço para variações.

Deixarvulcan slotslado os ultraprocessados é importante, diz ele, porque "quando escolhemos nossos alimentos, acabamos escolhendo um pacote".

"Por exemplo, ao usar o cubinhovulcan slotscaldovulcan slotscarne, que tem muito sal e gordura não saudável, você deixavulcan slotscomprar a cebola, o alho, o louro. E daí você deixarávulcan slotster todos esses alimentos frescosvulcan slotscasa. Você passa a adotar um outro padrão alimentar, e a indústria cria essa ideiavulcan slotsque ele é mais conveniente. Também não gostovulcan slotsdizer 'pode com moderação, uma vez por semana', porque isso glamouriza (o alimento não saudável), como se ele fosse indispensável."

Na mesma linha, Rita Lobo argumenta que "fracassou" a ideiavulcan slotsque poderíamos comer bem mesmo sem saber cozinhar.

"A gente passou por um períodovulcan slotsque acreditou que fosse possível vivervulcan slotscomida comprada pronta,vulcan slotsmacarrão instantâneo, e tudo bem. Só que o resultado disso, passadas cinco décadas desse movimento começado nos EUA, é que as populações foram ficando obesas à medida que foram se afastando da cozinha."

No Brasil, os dados mais recentes do Ministério da Saúde apontam que um terço das criançasvulcan slotscinco a nove anos e um terço dos adolescentesvulcan slots12 a 17 anos têm excessovulcan slotspeso. O sobrepeso também atinge mais da metade da população adulta brasileira.

Monteiro explica que outro impacto dos ultraprocessados sobre o peso é que os corantes e saborizantes usados nos alimentos prontos acabam modificando nosso paladar e eliminando nosso autocontrole - nossa capacidadevulcan slotsentender quando estamos satisfeitos.

'Assunto da casa'

Arroz e feijão

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Padrões alimentares, como o brasileiro, são constituídos ao longovulcan slotscentenasvulcan slotsanos

Só que como conciliar a alimentação saudável com a faltavulcan slotstempo? E como evitar que esse resgate da comidavulcan slotsverdade signifique também uma volta ao passado,vulcan slotsque as mulheres eram as únicas responsáveis por pilotar a cozinha?

Esse é o desafio, diz Monteiro. "A questão atual é como não voltar para trás, conservando nosso padrão alimentar com uma nova roupagem: a divisãovulcan slotstarefasvulcan slotscasa, com a ida ao restaurante ao quilo ao lado do trabalho."

Rita defende que a prática, ao longo do tempo, torna as pessoas mais rápidas na cozinha. E que a alimentação da família requer, necessariamente, uma "divisão estruturadavulcan slotstarefas".

"Não é possível hoje que a alimentação seja assunto da dona da casa - é assunto da casa. Cozinhar envolve muitas etapas: planejamento, compra, preparação, limpeza, porcionar, congelar. Não dá para ser feito por uma pessoa só."

Daí o fatovulcan slotsboa partevulcan slotssuas receitas focarem no básico - no refogado, no preparo do feijão, no corte da cebola.

"Quando lancei o Panelinha, 17 anos atrás, achava que as pessoas queriam variar os pratos do dia a dia e estreamos o site com 200 receitas variadas. E quase imediatamente depois, as pessoas começaram a me escrever: 'nossa, muito bacana, mas qual é o segredo do arroz soltinho? Como faço para o feijão ficar igual ao da minha avó?'. Naquele momento eu entendi que as pessoas não sabiam mais cozinhar mesmo, então a gente tinha que ensinar o básico."

O outro ensinamento principal, diz ela, é aprender a classificar as comidas pelo "grauvulcan slotsprocessamento".

"Entendendo isso, a pessoa vê que não existe alimento bom ou ruim - existe comidavulcan slotsverdade e imitaçãovulcan slotscomida."

Quatro categorias

Segundo o Nupens, da USP, essa divisão se dávulcan slotsquatro categorias:

1) Os alimentos in natura e minimamente processados: legumes, verduras, carnes e frutas, mas também o arroz e o café, que foram refinados e embalados mas não receberam aditivos químicos para chegar ao supermercado.

"É diferente, por exemplo, daquele capuccinovulcan slotspó, que tem aromatizante, ou do achocolatado, que tem uma sérievulcan slotsaditivos e açúcares, para imitar o sabor do chocolate", diz Rita. "Quando você pega uma barrinhavulcan slotscereal industrializada e acha que está fazendo uma escolha supersaudável, pega o rótulo e vê que tem açúcar sob várias denominações, aromatizantes e sal."

Feira livre
Legenda da foto, Alimentação saudável também pressupõe variação (Foto: Cesar Ogata / Secom)

2) Os ingredientes culinários, como óleos, azeites, sal e açúcar, que são as substâncias extraídas dos alimentos e servem para o preparo dos pratos.

3) Os alimentos processados que estão na nossa alimentação há centenasvulcan slotsanos, como pão e queijo - que complementam a refeição. "São uma combinação dos grupos 1 e 2, e os alimentos que antes fazíamosvulcan slotscasa", explica Monteiro.

4) Os ultraprocessados, ou seja, tudo o que tem aditivo químico navulcan slotscomposição - e que, segundo o Nupens, deve perder espaço na nossa alimentação justamente porque "contêm ingredientes que não encontramos na nossa cozinha. É uma fórmula (química)", diz Monteiro.

"Geralmente é a comida comprada pronta, que exclui preparos culinários, ou bebidas adoçadas, os cereais matinais. Isso é que tem que ser excluído da mesa. Todo o resto você pode comer,vulcan slotsforma variada", argumenta Rita, recomendando, a quem quer voltar à comidavulcan slotsverdade: "Aprenda a fazer arroz e feijão, sabendo que o feijão dá para porcionar e congelar, e daí metade do prato está pronta. É só dar um pulinho na feira e ir variando ao longo da semana."